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Clássicos do Espiritismo
Ano 11 - N° 512 - 16 de Abril de 2017
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

 

Comunicações mediúnicas entre vivos

 Ernesto Bozzano

 (Parte 22) 

Continuamos o estudo do livro Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires. 

Questões preliminares

A. Um ou dois fatos são suficientes para que tiremos conclusões definitivas acerca da explicação de um fenômeno como as “correspondências cruzadas”? 

Claro que não. Pelo menos é isso que investigadores respeitados como o Dr. Geley pensam. Sobre o assunto, Dr. Geley escreveu: “Mais do que nunca eu creio que a explicação isolada de um fato ou de um grupo de fatos, no domínio da Metapsíquica, é coisa de pouca importância e quase sempre ilusória. Mais do que nunca eu creio na necessidade de uma interpretação sintética ou global dos fatos, a única filosoficamente concebível”. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) 

B. Que consideração Bozzano faz acerca dos erros de pequena monta que se verificam em comunicações entre vivos autênticas?  

Tais erros não têm, segundo Bozzano, nenhum valor teórico, porque não chegam a invalidar o conteúdo da mensagem e são perfeitamente explicáveis. Aliás, erros assim verificam-se às vezes nas mensagens mediúnicas, visto que, para se realizarem, devem elas passar, necessariamente, através do “comutador” cerebral de uma terceira pessoa. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) 

C. Pode um médium destro, sem nenhuma habilidade com a mão esquerda, psicografar uma mensagem como se fosse canhoto? 

Pode, sem dúvida. Foi o que aconteceu com a médium Mary H. Jacob, citada por Bozzano nesta obra (caso 33). Ela havia recebido uma mensagem do seu falecido filho e, referindo-se a isso, deu a seguinte declaração: “Note-se que o meu falecido filho, que se serviu de minha mão esquerda para escrever a mensagem, era canhoto em vida, e que eu nunca fui capaz de escrever, normalmente, com a mão esquerda”. Comentando o fato, Bozzano viu nisso um elemento importante a favor da comprovação da identidade pessoal do comunicante desencarnado. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) 

Texto para leitura 

312. Depois de inúmeras considerações sobre os fenômenos a que se referiu no item anterior, Dr. Geley assim concluiu: 

Perguntar-me-ão: quais são, então, as suas conclusões? Ei-las: eu concluo, observando que, de qualquer modo, as experiências de Wimereux constituem um documento metapsíquico de primeiríssima ordem, que faz honra à questão das “correspondências cruzadas”, questão caída em descrédito. A respeito da interpretação precisa a extrair-se das mesmas experiências, acho supérfluo indicar quais são as minhas preferências pessoais, tanto mais que elas não poderiam ser formuladas, no momento, com suficiente caráter de certeza. Pouco importa, aliás. Mais do que nunca eu creio que a explicação isolada de um fato ou de um grupo de fatos, no domínio da Metapsíquica, é coisa de pouca importância e quase sempre ilusória. Mais do que nunca eu creio na necessidade de uma interpretação sintética ou global dos fatos, a única filosoficamente concebível. Mais do que nunca eu creio que tal interpretação sintética seja profunda e inabalavelmente idealista. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)

 

313. Estas são as principais considerações que os fatos expostos sugerem ao Dr. Geley e folgo muito - diz Bozzano - em achar-me de acordo com uma das inteligências mais rigorosamente lógicas que têm honrado o campo das pesquisas metapsíquicas. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) 

314. Caso 32 – Transcrevo-o dos Annales des Sciences Psychiques (1917, págs. 29/30). O Sr. Bredmester-Maurer envia de Giromagny (Belfort) a seguinte carta ao diretor da supracitada revista, Sr. C. de Vesme: 

Ilmo. Sr. Diretor:

Como assinante dos Annales, submeto à sua apreciação o caso que se segue:

– Há algumas semanas, por ocasião da partida de um nosso amigo com o qual eu realizava experiências psíquicas e que designarei pela inicial Y., nós lhe pedimos que nos enviasse uma mensagem por meio da mesinha mediúnica, no dia seguinte à sua chegada na nova residência, que dista de Giromagny cerca de 17 quilômetros.

No dia e hora marcados (9 da noite), minha esposa e eu nos sentamos à mesa e aguardamos. Convém notar que, sem o Sr. Y., nunca tínhamos conseguido fazer mover-se a mesa. Ao contrário, desta vez, quase imediatamente uma forte pancada fez-se ouvir no interior da mesa, que depois disso deu meio giro. Então perguntamos:

– Está presente algum espírito?

– Sim.

– Quem o envia?

– Y.

– Porventura estás encarregado de alguma mensagem para nós?

– Sim.

– Qual é a mensagem?

– “Jacqueline” está apaixonada pelos “dragões”.

– Onde se encontra Y.?

– Em um café em X.

– Em companhia de quem?

– De três oficiais.

– Quantos galões têm os oficiais?

– O primeiro um, o segundo e o terceiro, dois.

– Acham-se à mesa para começar experiências mediúnicas?

– Não.

– Que fazem?

– Bebem.

– Que bebem?

– Cerveja.

Na manhã seguinte recebemos do Sr. Y. uma carta em que ele nos comunicava a mensagem que nos havia remetido na noite precedente, a qual era literalmente idêntica à que recebemos mediunicamente.

Pedimos esclarecimentos ao Sr. Y. sobre as respostas dadas ao nosso interrogatório e ficamos sabendo que todas eram verdadeiras, salvo uma inexatidão sobre a qual o Sr. Y. nos escreveu: “Os três oficiais falaram realmente em mandar vir cerveja e demorar mais, porém eu me despedi e fui-me deitar. O caso parece tanto mais estranho, porquanto recebestes informações independentes de minha vontade, isto é, as que se referem ao lugar em que me achava.”

(O diretor da revista acrescenta: “A meu pedido, o Sr. Bredemester-Maurer teve a gentileza de enviar-me os papéis referentes ao caso narrado, isto é, os dois bilhetes postais e as notas tomadas durante a sessão”.) (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)

 

315. O episódio supracitado é interessante do ponto de vista das “comunicações mediúnicas entre vivos”, mas é, ao contrário, um tanto fraco do ponto de vista da intervenção, na mensagem aqui considerada, de uma entidade espiritual extrínseca. Em favor desta última interpretação, notam-se duas circunstâncias, porém, que são de ordem resolutiva: uma, que a personalidade comunicante não disse ser o Sr. Y. e sim o seu mensageiro espiritual, afirmação que só adquire certo valor pelo fato de existirem realmente os mensageiros espirituais de tal natureza, como já vimos; e outra, que o Sr. Y. se havia proposto enviar somente uma breve mensagem, enquanto que os destinatários submetem a entidade comunicante a um interrogatório longo, obtendo informações suplementares verídicas que o agente não havia pensado enviar e que não teria podido mandar na forma do interrogatório que se desenvolveu, a menos que ele se achasse presente em espírito ou houvesse conversação a distância entre duas personalidades integrais subconscientes.(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) 

316. Ora, em ambos os casos, o agente deveria ter caído em estado de sono claro ou disfarçado durante o período inteiro da conversação que se desenvolveu, pois que, se houvesse permanecido todo o tempo em estado de completa vigília, então o caso em exame deveria ser considerado como espírita, mas infelizmente faltam a tal propósito os informes necessários e, portanto, não é possível chegar-se a uma conclusão. Quanto à pequena inexatidão ocorrida na transmissão telepática da mensagem, em que o fato de mandar vircerveja para beber no local se transformou no outro fato de beber cerveja não apresenta valor teórico, pois que se trata, evidentemente, de um dos erros comuns de transmissão, dos quais não podem escapar as mensagens mediúnicas, porque, para se realizarem, devem, necessariamente, passar através do “comutador” cerebral de uma terceira pessoa. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) 

317. Caso 33 – Extraio do Journal of the American S. P. R. (1919, pág. 276) este caso que Mary H. Jacob relatou ao diretor da citada associação, nos seguintes termos: 

Quando meu filho partiu, como soldado, para a França, eu não podia saber a data de sua partida, nem de sua chegada, até que o governo dos Estados Unidos houvesse recebido um telegrama do comando militar anunciando a chegada, a salvo, do transporte em que ele embarcara. Depois desse telegrama é que deixariam sair os postais para as famílias, escritos pelos soldados antes da partida e nos quais eles próprios anunciavam sua chegada à França.

Depois que meu filho partira, estava eu sentada certa noite na biblioteca, quando a minha mão esquerda pôs-se a fazer curiosos movimentos automáticos semelhantes aos dos telegrafistas no exercício das suas funções. Minha filha trouxe logo papel, lápis e a mesinha, e minha mão começou imediatamente a escrever. Era um aviso de que o meu filho havia chegado, são e salvo, naquele momento, à França e o tal aviso era assinado por um outro filho meu, já falecido.

Tomamos logo nota do dia e da hora em que havíamos recebido e mensagem e, no devido tempo, recebemos cartão postal de meu filho, que, como disse acima, escrevera e entregara ao comando militar, antes de partir. Algumas semanas após chegou uma carta dele, na qual descrevia as peripécias da viagem e nos informava haver chegado são e salvo à França, justamente na hora em que recebêramos a mensagem mediúnica.

Note-se que o meu falecido filho, que se serviu de minha mão esquerdapara escrever a mensagem, era canhoto em vida, e que eu nunca fui capaz de escrever, normalmente, com a mão esquerda. A mensagem do Além fora mais rápida do que a mensagem do Aquém.

(Assinado) Mary H. Jacob.

(A filha da relatora confirma assim: “A mensagem, de que trata a narração de minha mãe, foi recebida nas condições exatas por ela descritas. (Assinado) Mary K. Jacob.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
 

318. Também o caso exposto é teoricamente fraco do ponto de vista da intervenção presumível de uma entidade de morto na comunicação mediúnica entre vivos e, naturalmente, eu não o teria classificado neste subgrupo se não existissem outros tantos episódios desse gênero, genuinamente espíritas, que nos induzem a presumir o mesmo também para os casos menos notoriamente espíritas. De qualquer modo, o episódio da médium que, na ocasião, escreve com a mão esquerda, o que coincide com o fato de ser o seu falecido filho canhoto, não é privado de certo valor, do ponto de vista da identificação pessoal do morto comunicante. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) (Continua no próximo número.)



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita