ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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A necessidade da
coerência
O Papa Francisco
continua
marcando o seu
pontificado por
posições firmes
e destemidas.
Como cristão e
líder da mais
expressiva
agremiação
religiosa do
mundo, ele não
se furta a
tratar com
desenvoltura
certos temas
espinhosos. É
verdade que aqui
e ali se lê
alguns
jornalistas
criticando a sua
suposta falta de
refinamento
intelectual. Há
também vozes
discordantes
dentro da
própria
estrutura
hierárquica da
Igreja Católica
que questionam o
seu estilo e
prioridades.
Mesmo assim, ele
tem tido a
coragem moral de
enfrentar
problemas
delicadíssimos.
É
inquestionavelmente
um líder
pragmático que
não se rende a
hipocrisias.
Recentemente,
ele tocou num
tópico que, se
bem observado,
extrapola os
redutos do
Catolicismo, ou
seja, aquelas
pessoas que
demonstram falta
de coerência
doutrinária.
Segundo as suas
palavras, “É um
escândalo dizer
uma coisa e
fazer outra.
Isto é uma vida
dupla". Ele
afirmou ainda
que algumas
dessas pessoas
deveriam
simplesmente
dizer: "minha
vida não é
cristã, eu não
pago aos meus
funcionários
salários
apropriados, eu
exploro pessoas,
eu faço negócios
sujos, eu lavo
dinheiro, [eu
levo] uma vida
dupla".
Creio que a
crítica emitida
por Francisco,
embora
circunscrita ao
seu rebanho,
ecoa por toda a
parte. A
humanidade ainda
tateia no campo
da ética, apesar
dos avanços
legislatórios.
Em razão disso,
a maioria ainda
tem grande
dificuldade para
se ajustar
plenamente à
moral cristã que
é límpida e
transparente.
Ademais, é
notório que as
religiões têm
sido palco de
grandes
“escândalos”,
que acabam por
arrefecer os
ímpetos da fé,
especialmente
nas almas ainda
vacilantes. As
falhas
atreladas, de
uma forma ou de
outra, às
religiões sempre
produzem
considerável
decepção. Também
é fato que
muitos líderes
religiosos têm
fracassado
dramaticamente.
E a tibieza
nessa área
desperta dúvidas
e receios
justificados.
Ao professarmos
o padrão cristão
de entendimento
– independente
da corrente
religiosa à qual
estamos ligados
–, é imperioso
nos
questionarmos
como estamos
exercendo o
nosso mandato
diário. Desse
modo, a pergunta
vital é: estou
me comportando,
de fato, como um
cristão? Estou
cumprindo o
desafio de ser
melhor? Consegui
incorporar ao
meu eu esses
valores
universais? Tais
indagações são
pertinentes,
pois como bem
esclareceu
Jesus, “Ninguém
pode servir a
dois senhores;
porque ou há de
odiar um e amar
o outro, ou se
dedicará a um e
desprezará o
outro. Não
podeis servir a
Deus e a Mamon”
(Mateus, 6: 24).
Se, de fato,
tomamos Jesus
por modelo e
guia, então, é
forçoso
trabalhar para
que haja
sintonia entre
os nossos
discursos e os
nossos atos.
Jesus, é
verdade, não nos
pediu pouco. A
sua recomendação
foi a de que
buscássemos nada
mais nada menos
do que a
perfeição
absoluta.
Todavia, ele
também nos
acenou com
recompensas
inimagináveis: “Eu
sou a
ressurreição e a
vida; quem crê
em mim, ainda
que esteja
morto, viverá” (João,
11: 25). Com
efeito, muitos
dos males que
atingem o
planeta na
atualidade
decorrem do
pífio
entendimento do
significado da
vida. Para
muitos,
infelizmente, a
existência
corporal
continua sendo
um processo
irrefreável de
ajuntamento e
acúmulo de
tesouros
perecíveis que,
em muitas
ocasiões, são
conquistados
através da
exploração e
falta de
escrúpulos.
Para esses
indivíduos,
aliás, a
religião
representa
apenas um meio
para atingir
objetivos
sinistros. Por
essa razão, eles
apresentam um
grau de
espiritualidade
extremamente
baixo e/ou
inexpressivo.
São religiosos
na acepção da
palavra, embora
espiritualmente
analfabetos.
Falta-lhes, em
suma, um
pensamento mais
profundo, um
raciocínio mais
elevado, um
desejo
transcendente
que lhes
ajudariam a
abdicar das
coisas
transitórias
ainda abundantes
nesse mundo. No
entanto, as suas
conquistas nesse
particular são
tão rasas que
eles não
conseguem atinar
para a
advertência do
Mestre nazareno:
“E
os que fizeram o
bem sairão para
a ressurreição
da vida; e os
que fizeram o
mal, para a
ressurreição da
condenação” (João,
5: 29).
Portanto, sem a
prática da
coerência não se
pode aspirar
algo melhor do
outro lado onde
a vida continua,
sim, estuante
para alguns,
enquanto para
outros
(rebeldes) é
repleta de
pesadelos
aparentemente
sem-fim. Nesse
sentido, cumpre
reconhecer que
enquanto o Papa
Francisco alerta
com acerto sobre
o deslize da
vida dupla, o
Espiritismo (o
Cristianismo
redivivo), por
sua vez, nos
informa sobre as
dolorosas
consequências
daí advindas e
que deverão ser
enfrentadas
posteriormente.