Se a busca pela
espiritualidade é uma
constante nos dias
atuais, os jovens não
ficam atrás nestes
anseios. E há uma
vantagem: hoje, os
universitários da área
da saúde tentam inserir
o componente espiritual
também em suas
carreiras,
proporcionando respostas
aos seus desejos e
também preenchendo
lacunas até então
abertas nos cuidados de
saúde. Confira, sobre o
assunto, a visão do
médico generalista
Alberto Gorayeb de
Carvalho, coordenador do
Departamento Acadêmico
da AME-Brasil.
Como está a relação do
jovem com a
espiritualidade no meio
acadêmico?
O cenário de
transformações éticas,
sociais, relacionais e
políticas que
vivenciamos de forma tão
intensa reflete de forma
especial no jovem de
hoje. Como seres do
nosso tempo, buscamos a
velocidade e a
resolutividade como
meios de manutenção e
cumprimento de metas de
vida esquecendo que,
muitas vezes, essas
estratégias nos
afastarão da essência
das nossas práticas. No
tocante à nossa educação
profissional para a
saúde, esse cenário
parece reforçar-se ainda
mais. Nesse ínterim,
enxergo a
espiritualidade como uma
oportunidade de resgatar
o sentido, o propósito e
o significado da nossa
atuação essencial de
‘seres cuidadores’.
O cuidado pressupõe
entrega e dedicações
integrais, condições que
podem contrariar os
ditames sociais e os
modelos de saúde
predominantes.
O meio acadêmico que,
por vezes, é ilustrado
por tantos tons de cinza
tem-se aberto, cada vez
mais, às iniciativas que
abraçam objetivos
educacionais que
contemplam o contingente
de espiritualidade. São
ligas acadêmicas,
programas de extensão e
pesquisa, núcleos de
estudo etc. A relação do
estudante com essas
iniciativas tende a ser
próxima e essas
estratégias acabam por
extrapolar o intento
inicial de serem espaços
de formação
complementar, acolhendo
o estudante e suas
angústias de forma
integral e estimulando –
além de um remodelamento
da práxis profissional –
práticas de autocuidado
e autoconhecimento, e
munindo, assim, o
estudante de
competências
ético-humanísticas para
o cuidado integral da
saúde do homem.
Por que é importante
esta relação?
As evidências
científicas nos oferecem
cada vez mais motivos
para nos dedicarmos ao
estudo da inter-relação
saúde-espiritualidade.
São estudos com
metodologias complexas,
com grandes contingentes
amostrais etc. Acredito
que os meus anos de
estudos em saúde e
espiritualidade,
reforçados pelas
mudanças de atitudes e
posturas pessoais e
profissionais que já
enxergo em mim, me fazem
ter uma opinião mais
‘complexa’ a respeito
desta importância. Tento
passar a seguinte ideia:
por um lado precisamos
estimular a
espiritualidade enquanto
uma competência
profissional a ser
atingida (incluindo-a
nos atendimentos
multiprofissionais e
respeitando-a como um
componente da
multidimensionalidade
das pessoas); e por
outro lado precisamos
valorizar a
espiritualidade enquanto
uma estratégia de
preparo e crescimento
pessoal que propiciará o
encontro do estudante
com sua essência e,
consequentemente, o
cumprimento daquele
objetivo primordial do
‘ser cuidador’ ao
qual me referi
anteriormente.
Existe a prevalência de
algum curso sobre os
demais nesta busca pela
espiritualização na área
da saúde?
Ainda carecemos de
levantamentos que
esclareçam sobre esses
números. Analisamos
maiores números de
iniciativas acadêmicas
por parte de estudantes
dos cursos médicos, mas
que, na maioria das
vezes, tomam uma postura
multiprofissional em
suas atividades. Indo
além, conheço dois
projetos de
extensão/atividades
complementares na área e
que nasceram de
faculdades de
Enfermagem, a saber: a
Liga Acadêmica de
Cuidado Espiritual em
Saúde (LACES) do
Departamento de
Enfermagem da
Universidade Federal do
Ceará, em Fortaleza
(CE); e o Grupo de
Estudos em
Espiritualidade e
Cuidado Integral, da
Faculdade ASCES, em
Caruaru (PE).
No tocante aos cursos
médicos, o principal
estudo que objetivou
analisar o cenário
brasileiro sobre as
iniciativas acadêmicas
em saúde e
espiritualidade foi
realizado em 2012,
evidenciando que uma
média de 40% do total de
instituições analisadas
já contemplava a
espiritualidade de
alguma forma em seus
currículos de graduação
(contrariando índices
ingleses e americanos,
em que esses números
chegam aos 70 e 80%).
No âmbito universitário,
qual é o olhar do
professor sobre esta
busca pela
espiritualidade?
Percebo uma ‘evolução’
na perspectiva do corpo
docente das nossas
universidades quando o
assunto é ‘saúde e
espiritualidade’.
Inicialmente são olhares
de descrença e dúvida,
que dão origem à
curiosidade e que os
levam, por conseguinte,
a querer saber do que se
trata, cabendo ao corpo
discente, por sua vez, a
conquista dos
professores, tutores e
gerentes dos cursos.
Lembro que as primeiras
atividades do Grupo de
Estudos em Saúde e
Espiritualidade (GESESP),
grupo que ‘me criou’ ao
longo da minha educação
médica no Recife entre
2011 e 2016, suscitaram
uma série de comentários
entre os tutores da
faculdade. Era como se
não entendessem o que
estávamos fazendo ali.
Ao longo dos anos a
iniciativa foi
consolidando-se,
passamos a sempre
convidar alguns tutores
a fazer parte das
atividades do grupo. Por
fim, chegamos a ter a
aprovação de um Módulo
Transversal em Saúde e
Espiritualidade pelo
próprio colegiado
discente da instituição
em 2015.
E os alunos? Estão vendo
a espiritualidade como
um diferenciador na
qualificação e
humanização
profissional?
Sem sombra de dúvidas!
Percebemos cada vez mais
olhares atentos e
posturas próximas por
parte dos estudantes. No
geral, eles nunca chegam
a lotar as salas,
entretanto participam
cada vez de forma mais
intensa. Algo que sempre
costumo falar é que é
preciso adequar as
propostas educacionais
em saúde e
espiritualidade à
demanda da vida dos
estudantes e ao avanço
do ensino em saúde, é
preciso de metodologias
inovadoras,
participativas e
inclusivas! Passou o
tempo das salas de aulas
com intermináveis
exposições e educação
transmissiva. O jovem
quer troca, quer
ensinar, atuar e
praticar – essa é a
educação que
transformará o mundo.
O Departamento Acadêmico
da AME Brasil tem
incentivado essa busca?
Como?
O Departamento Acadêmico
da AME Brasil sempre foi
um grande parceiro das
iniciativas em saúde e
espiritualidade. Muitas
das pessoas que
capitaneiam esse
movimento nas
universidades Brasil
afora são também
colaboradores do
departamento. Este
intercâmbio traz muitos
frutos para todos nós,
estamos sempre em
contato e compartilhando
tanto as vitórias quanto
as angústias, buscando
sempre o
compartilhamento de
estratégias e ideias.
Algumas iniciativas
universitárias acabam
por configurar-se
enquanto Grupos
Assistidos de algum
Departamento Acadêmico
regional, o que facilita
ainda mais esse contato.
O que o jovem acadêmico
poderá encontrar nas
atividades do DA que
acontecem pelo Brasil?
São diversas atividades!
De modo geral, cada
Departamento Acadêmico
(existem 18 DAs no
Brasil, espalhados pelas
cinco regiões)
estabelece as suas
atividades em paralelo
com as atividades da AME
à qual está vinculado.
São grupos de estudos
sobre as obras básicas
da Doutrina Espírita,
estudos sobre
importantes escritores
como André Luiz e
Bezerra de Menezes e até
atividades de
Assistência à Saúde e
Benemerência, a exemplo
da assistência exercida
a um Lar de Idosos
prestada pelo
Departamento Acadêmico
da AME Carioca, no Rio
de Janeiro (RJ).
Todas as atividades, bem
como as suas agendas,
estão disponíveis no
Cadastramento 2016 –
2017 do DA AME Brasil,
presente no site da AME
Brasil (www.amebrasil.org.br)
E no MEDNESP? O que o DA
trará para o público?
O Mednesp é
sempre uma grande
oportunidade de
ampliarmos as nossas
fronteiras, e desta vez
não será diferente!
Preparamos a segunda
edição do Simpósio do DA
AME Brasil (a primeira
edição foi realizada no
Mednesp Goiânia, em
2015) que ocorrerá
durante um dos turnos do
evento. A novidade para
este ano é que o
simpósio propõe
contemplar as 10 facetas
do Decálogo
Médico-Espírita, escrito
por Dr. Bezerra de
Menezes em 1968, e será
realizado por
palestrantes acadêmicos
dos quatro cantos do
Brasil! Contaremos
também com a submissão
de Trabalhos
Científicos, uma
oportunidade única de
troca de experiências
com grandes referências
que estudam ‘saúde e
espiritualidade’ e que
estarão no evento.
Ademais, o DA AME Brasil
e o DA AME Carioca estão
organizando o Alojamento
Estudantil, uma
estratégia que visa
facilitar a ida de
estudantes (estão sendo
esperados mais de cem
participantes no
Alojamento) através da
redução dos custos de
hospedagem na cidade
(maiores informações
sobre o Alojamento
Estudantil do Mednesp
2017 podem ser obtidas
através do email
comunicacaodepamebr@gmail.com).
Aguardamos todos neste
que é o maior evento de
saúde e espiritualidade
do planeta!