ROGÉRIO MIGUEZ
rogmig55@gmail.com
São José dos
Campos, SP
(Brasil)
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Há de fato uma
moral espírita?
Está bem
consolidada a
visão de que a
Doutrina
espírita
compreende
aspectos
científicos,
filosóficos e
morais, sendo o
último
basicamente
desenvolvido em O
Evangelho
segundo o
Espiritismo e
na terceira
parte de O
Livro dos
Espíritos.
Interessante
notar, contudo,
embora Allan
Kardec tenha
registrado
inúmeras páginas
explicando como
funcionam os
aspectos morais
dentro do corpo
doutrinário,
exemplificando
este
entendimento de
diversas formas,
a rigor, o
Codificador não
criou uma moral
espírita, ou por
outra, uma moral
elaborada
especificamente
para o
Espiritismo.
Todos os
conceitos morais
básicos
descritos no
Pentateuco
espírita, sem
exceção, não são
novos, tampouco
apresentam
informações
revolucionárias
sobre o tema.
Muitos ainda não
se deram conta
desta realidade,
pois desconhecem
certas posições
doutrinárias
contempladas nas
obras
fundamentais,
obras estas
geralmente
esquecidas pelos
espíritas.
As leis morais
hão de ter sido
reveladas à
Humanidade em
todas as épocas,
em muitas
civilizações,
por diversos
mensageiros,
iniciados ou
missionários.
Tome-se, por
exemplo, estes
conceitos
emitidos por
Jesus: Ele [Jesus] respondeu:
Amarás ao Senhor
teu Deus de todo
o teu coração,
de toda a tua
alma e de todo o
teu espírito.
Esse é o maior e
o primeiro
mandamento. O
segundo é
semelhante a
esse: Amarás o
teu próximo como
a ti mesmo.
Desses dois
mandamentos
dependem toda a
Lei e os
Profetas (Mateus
22:37-40).
Entretanto,
estes dois
significativos e
fundamentais
ensinos já
haviam sido
registrados há
séculos atrás no Antigo
Testamento:
1. A
instrução de
amar a Deus está
registrada no
último livro do
Pentateuco de
Moisés – Portanto,
amarás a Iahweh,
teu Deus, com
todo o teu
coração, com
toda a tua alma
e com toda a tua
força - Deuteronômio 6:5;
2. Enquanto
o segundo
mandamento vem
de permeio a uma
lista de
orientações
sobre condutas
morais em
sociedade - Não
te vingarás e
não guardarás
rancor contra os
filhos do teu
povo. Amarás o
teu próximo como
a ti mesmo. Eu
sou Iahweh - Levítico 19:18.
Como se observa
nem mesmo
conceitos
consagrados
emitidos por
Jesus são
originais,
assim, não nos
surpreendamos,
pois não poderia
ser diferente,
porquanto, as
leis divinas são
únicas e
imutáveis e
foram divulgadas
por emissários
diversos em
diferentes
momentos, em
diversas
culturas, de
maneira peculiar
a cada grupo, é
fato, às vezes
também de forma
parcial, mas a
essência só
poderia ser e
foi realmente a
mesma.
E foi o próprio
mestre de Lyon
quem por mais de
uma vez
confirmou esta
realidade: Perguntam
algumas pessoas:
Ensinam os
Espíritos
qualquer moral
nova, qualquer
coisa superior
ao que disse o
Cristo? Se a
moral deles não
é senão a do
Evangelho, de
que serve o
Espiritismo?
[...] Não,
o Espiritismo
não traz moral
diferente da de
Jesus.1 (Negritamos.)
Mais à frente,
na mesma
referência,
acrescenta: Jesus
veio mostrar aos
homens o caminho
do verdadeiro
bem. Por que,
tendo-o enviado
para fazer
lembrada sua lei
que estava
esquecida,
não havia Deus
de enviar hoje
os Espíritos, a
fim de a
lembrarem
novamente aos
homens, e com
maior precisão,
quando eles a
olvidam, para
tudo sacrificar
ao orgulho e à
cobiça?2(Negritamos.)
Observe-se nesta
última passagem,
Allan Kardec
informando ter
Jesus vindo para
lembrar a lei
divina, desta
forma, só se
pode concluir
que ela já havia
sido revelada no
passado, senão
não faria
sentido dizer
ser necessário
recordá-la. E
mais, esclarece
que agora vem o
Espiritismo para
relembrar mais
uma vez os
conceitos
divinos, através
dos depoimentos
e mensagens
ditadas por uma
multidão de
Espíritos
desencarnados,
ou seja, pela
voz dos chamados
mortos.
Passaram-se oito
anos, e o
Codificador,
agora em 1865,
com
conhecimentos
ainda mais
aprofundados
sobre as leis de
Deus, enfatiza
na terceira obra
do Pentateuco3: Jesus
não veio
destruir a lei,
isto é, a Lei de
Deus; veio
cumpri-la, isto
é,
desenvolvê-la,
dar-lhe o
verdadeiro
sentido e
adaptá-la ao
grau de
adiantamento dos
homens. Por isso
é que se nos
depara, nessa
lei, o princípio
dos deveres para
com Deus e para
com o próximo,
base da sua
doutrina.
Complementando
na mesma fonte4: O
Cristo foi o
iniciador da
mais pura, da
mais sublime
moral, da moral
evangélico-cristã,
que há de
renovar o mundo,
aproximar os
homens e
torná-los irmãos [...].
De fato, a
Doutrina dos
Espíritos foi
ditada a Allan
Kardec por
Espíritos em sua
grande maioria,
ou talvez na
totalidade,
pertencentes à
segunda classe
da segunda
ordem, a dos
Espíritos
superiores,
conforme escala
espírita contida
em O
Livro dos
Espíritos,
apenas uma
classe
antecedendo a
dos Espíritos
puros. Basta
observar em
Prolegômenos,
segundo prefácio
da abertura de O
Livro dos
Espíritos,
quais entidades
assinaram a
comunicação
registrada
naquele introito.
Além disso,
segundo o nosso
entendimento e
conhecimento,
participou
também da
elaboração da
obra um único
Espírito puro,
ou seja, o
próprio Jesus,
assim, nada a
estranhar,
porquanto estes
Espíritos
conheciam e
conhecem
perfeitamente as
leis da vida,
comunicando este
cabedal de
conhecimentos a
Allan Kardec, e
este, por sua
vez, soube
sabiamente bem
registrar o que
lhe foi
revelado.
Contudo, de modo
a não haver a
menor sombra de
dúvida sobre
esta tese,
pode-se
relembrar de
igual modo o que
Allan Kardec
escreveu, três
anos mais tarde,
em 1868, quando
publicou a
última obra
fundamental: A
moral que os
Espíritos
ensinam é a do
Cristo, pela
razão de que não
há outra melhor.5
Vale observar
também Allan
Kardec, ao
proferir a sua
célebre máxima: Fora
da caridade não
há salvação, o
fez quando
desenvolvia o
capítulo XV de O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
após comentar a Parábola
do bom
samaritano e
o Mandamento
maior,
passagens da
vida de Jesus
onde o Nazareno
esclareceu seus
seguidores sobre
a imperiosa
necessidade do
exercício da
caridade, como
prática única
para se ter
acesso ao reino
de Deus. Além
desta
referência, usou
também este lema
em uma obra
pouco conhecida, O
que é o
Espiritismo6,
que foi
publicada após o
lançamento da
pedra
fundamental do
Pentateuco
espírita, O
Livro dos
Espíritos.
Contudo, nesta
outra citação
faz menção
direta ao
Cristo, como
sendo o
inspirador da
máxima: “eles
[os Espíritos]
não nos pregam
que fora do
Espiritismo não
possa haver
salvação, mas,
sim, como o
Cristo: Fora
da caridade não
há salvação.”
Referências:
1 KARDEC,
Allan. O
Livro dos
Espíritos.
Trad. Guillon
Ribeiro. 93. ed.
2. imp. (Edição
Histórica).
Brasília: FEB,
2016. Conclusão
VIII.
2 ____.____.
Conclusão VIII.
3 KARDEC,
Allan. O
Evangelho
segundo o
Espiritismo.
Trad. Guillon
Ribeiro. 97. ed.
Rio de Janeiro:
FEB, 1987. cap.
1, item 3, p.
57.
4 ____.
____. cap.1,
item 9, p. 62.
5 ____. A
gênese.
Trad. Evandro
Noleto Bezerra.
2. ed. 1. imp.
Brasília: FEB,
2013. Caráter da
revelação
espírita, item
56.
6 ____. O
que é o
Espiritismo.
Não consta o
tradutor. 15.
ed. Rio de
Janeiro: FEB,
1973. cap. 1,
Pequena
conferência
espírita –
Terceiro diálogo
– O padre.
Nota: As
citações do Novo
Testamento foram
retiradas da
Bíblia de
Jerusalém. Trad.
Gilberto da
Silva Gorgulho et
al. [6.
imp.] São Paulo:
Paulus Editora,
2010.