Em mensagem enviada à
revista no dia 14 de abril e
publicada na seção de Cartas
da edição passada, o leitor
Afonso Marinho de Araújo
pergunta-nos:
Qual o significado do que
quis dizer Jesus: “Pai, se
possível, afaste de mim este
cálice, mas que se faça a
sua vontade”?
O assunto foge, como se vê,
ao âmbito da doutrina
espírita e certamente por
isso nem chegou a ser
examinado por Allan Kardec
em toda a sua extensa obra.
Trata-se de interpretar uma
frase atribuída a Jesus cuja
veracidade nem mesmo podemos
assegurar, pela simples
razão de que foi relatada
nos chamados evangelhos
sinóticos – por Mateus,
Lucas e Marcos – mas em
nenhum lugar foi mencionada
no Evangelho de autoria do
evangelista João, único
dentre os quatro presente no
episódio em que a frase
supostamente teria sido
dita.
Se alguém argumentar que
talvez João não quisesse
repetir o que os outros
evangelistas haviam escrito,
por que no episódio da
multiplicação dos pães os
três evangelistas e também
ele fizeram o registro dos
fatos?
Dos companheiros que
escrevem regularmente nesta
revista, três entendem que a
frase não é verídica, mas se
trata de uma interpolação
dentre as muitas que foram
feitas, ao longo dos
séculos, na chamada Vulgata
latina.
Jorge Hessen diz-nos: “Na
minha opinião Jesus não
pronunciou tal frase...”
José Reis Chaves, conhecido
estudioso dos textos
bíblicos, declara: “O texto
a que você se refere parece
ser uma interpolação. Aliás,
a Bíblia tem muitas
interpolações e acréscimos.
Por isso, não pode ser
tomada, literalmente, como
sendo a palavra de Deus. A
Igreja já diz hoje que ela é
a palavra de Deus escrita
por homens”.
Eurípedes Kühl, médium e
estudioso dos mais
respeitados no meio
espírita, afirma: “Sempre me
encabulou a frase atribuída
a Jesus e nunca me convenci
de que ele teria mesmo dito
citada frase, motivo da
dúvida do leitor: ‘Pai,
se possível, afaste de mim
este cálice, mas que se faça
a sua vontade’. Jamais
desconsideraria os registros
do Novo Testamento, por isso
coloco a narração nas
prateleiras do Tempo,
aguardando que possam ser
confirmadas. Mas me lembro
de que Jerônimo, por volta
de 386, após o insano
trabalho de distinguir quais
Escrituras estavam de acordo
com o texto grego,
traduzindo-as reclamou ao
Papa Dâmaso que ‘da
velha obra me obrigais a
fazer obra nova’. Essa
versão, oficial, sofreu
novas alterações no Concílio
Ecumênico de Trento, em
1546. Assim, e por isso,
raciocinando como Kardec
tanto sugere, fico na dúvida
se essa frase foi mesmo
pronunciada por Jesus,
porque: a) se Jesus estava
isolado e os discípulos
dormindo, quem ouviu e
reproduziu o que ele
eventualmente dissera, na
sua prece ao Pai, para que
ficasse registrada?...
Ademais, na prece Jesus se
refere a abandono pelo
Pai... Isso é, para mim,
inaceitável; b) considerando
a incomparável elevação
moral e a máxima evolução
espiritual de Jesus, se ele
fosse atendido quanto ao
citado pedido, isso poderia
representar recuo de Sua
sublime missão e certamente
outra seria a história; c)
todos os discípulos dormirem
ao mesmo tempo...
Considerando que era grave a
situação perante as
autoridades, como que eles
poderiam dormir, tão
candidamente, por três
vezes?”
Pelas considerações
expostas, dada a
grandiosidade do Espírito de
Jesus – Modelo e Guia da
Humanidade, conforme nos é
dito na questão 625 d´O
Livro dos Espíritos,
fica realmente difícil
admitir a veracidade do
episódio em questão, fato
que fez até mesmo o erudito
Carlos Torres Pastorino
valer-se de um malabarismo
típico dos teólogos cristãos
tradicionais, em sua
apreciação acerca do tema.
Veja o que ele escreveu a
respeito do assunto:
Mateus cita-lhe as palavras
das três vezes que orou,
pois nas três exprimiu o
mesmo pensamento: “Se é
possível, afasta de mim esta
taça”: é a ânsia da
personagem que teme arrostar
a dor física. Mas logo a
seguir acrescenta: “Mas não
como quero eu, e sim como
queres tu: faça-se a Tua
vontade, não a minha”.
Aqui verificamos nitidamente
a dualidade de vontades,
entre a personagem e a
individualidade, entre o
Filho e o Pai, entre Jesus e
Deus (Melquisedec). Como
pode explicar-se isto, de
quem dissera: “Eu e o Pai
somos um”? e “faço apenas a
vontade do Pai”?
As duas frases, e outras
semelhantes, nós o vimos a
seu tempo, foram proferidas
pelo CRISTO, através de
Jesus, com o qual estava
identificada Sua
individualidade. Não pela
personagem terrena de Jesus,
não por Seus veículos
físicos. Seu Espírito (pneuma)
já identificara, mas não Sua
personagem (psychê) de fato,
“a carne e o sangue não
podem possuir o reino dos
céus” (1.ª Cor. 15:50). Tudo
é claro e luminoso, e não há
contradições nos Evangelhos.
Apesar de tudo isso,
fortemente influenciada e
dominada pelo Espírito a
personagem se conforma e
aceita que a vontade do Pai,
que era também a de Seu Eu
profundo, seja realizada, e
que prevaleça sobre a
vontade fraca e temerosa.
Então essa prece, proferida
três vezes pelo homem Jesus,
demonstra o esforço que Sua
personagem física fazia para
sintonizar e concordar com a
vontade do Espírito e, por
conseguinte, com a vontade
do Pai. Ao falar com os
discípulos, cujo físico se
achava enfraquecido pela
perda de energia, Ele também
esclarece esse mesmo ponto:
“O Espírito tem boa-vontade,
mas a carne é fraca”. Isso
se passava com Ele nesses
momentos e Ele o verificava
em experiência pessoal ali
mesmo vivida e sentida. (Sabedoria
do Evangelho, 8º volume,
p. 58 a 63.)
O 8º volume da coleção
Sabedoria do Evangelho pode
ser baixado, sem custo
algum, clicando-se neste
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