Em junho de 1964, Chico, com
o aval de Emmanuel e com o
apoio de Waldo Vieira,
decidiu ceder à Comunhão
Espírita Cristã os direitos
de livros escritos por ele e
seu parceiro. Pela primeira
vez, ele seria beneficiado,
embora indiretamente. O
centro, cada vez maior,
contraía dívidas e já não
podia contar apenas com a
ajuda esporádica e
voluntária de amigos ricos e
de gente grata a Chico
Xavier.
O prédio crescia a cada ano.
O barraco de cinco anos
antes já era acompanhado por
galpão, sala de refeições,
livraria, depósito. Um
afilhado de Chico, Hermínio
Cassemiro, filho de José
Felizardo Sobrinho, de Pedro
Leopoldo, visitou o prédio e
ficou impressionado com a
quantidade de cobertores,
remédios e alimentos
acumulados.
Chico garantiu ao
conterrâneo: - Uberaba tem
mais campo para mim.
Na despedida, parou diante
de algumas flores e afirmou:
- O sonho de sua mãe, Júlia,
era ter na janela do quarto
um canteiro para plantar as
damas-da-noite. Eu plantei
as flores aqui e ela me
visita toda noite.
Escurecia. Hermínio voltou
para casa com uma das flores
no bolso.
Os generais tomavam conta do
país e Chico Xavier, com a
ajuda do jovem Waldo Vieira,
promovia mais uma
distribuição de Natal. No
dia 13 de janeiro de 1965,
uma fila de 11.765 pessoas
se estendeu diante da
Comunhão Espírita para
buscar sacolas com roupas e
alimentos. Com a ajuda de
seus amigos de São Paulo e
de outros estados,
conseguiram arrecadar 8.337
peças de roupas, 993 pares
de sapatos, 311 enxovais
infantis, 1.926 brinquedos,
4.320 lápis, 500 livros, 335
sacas de arroz, 218 quilos
de balas, 11.815 sanduíches.
Eram raros os que agradeciam
ao receber as doações.
Alguns assistentes de Chico,
de vez em quando, citavam um
bilhete que teria sido
enviado por São Vicente de
Paulo aos auxiliares nas
campanhas de atendimento aos
pobres: - Muita tolerância
com os hóspedes de Jesus,
pois eles são impacientes e
exigentes.
Entre os "hóspedes de Jesus"
não estavam apenas os
pobres. Comerciantes,
acompanhados de amigos e
parentes, também enfrentavam
o calor para buscar os
donativos, enfiá-los em
Kombis e transformá-los em
lucro. Um amigo de Chico
denunciou a presença
constante na fila de uma
mulher rica, conhecida na
cidade. Todo fim de ano, ela
fazia questão de levar
sacolas para casa. Era um
roubo. Havia gente passando
fome em todo canto e ela
tirava comida da boca de
quem precisava.
Chico escapou da polêmica
mais uma vez:
- Que humildade a desta
senhora! Enfrenta uma fila
com sol ou chuva e,
pacientemente, aguarda sua
vez para pegar mantimentos.
As distribuições anuais às
vezes terminavam em briga e
sempre provocavam confusão.
Pobres de cidades vizinhas
chegavam a Uberaba e ficavam
por ali mesmo. Afinal de
contas, os centros espíritas
também distribuíam sopa todo
dia ou toda semana e ainda
providenciavam atendimento
médico e dentário gratuitos.
Chico nem respondia a quem o
acusava de atrair miseráveis
à cidade. Fazia caridade a
qualquer preço.
Os adversários reclamavam e
Chico estudava, de acordo
com orientação ouvida de
Emmanuel, estatísticas sobre
suicídios publicadas pelas
Nações Unidas no Demographic
Year-Book, em 1964. A
Áustria liderava o número de
suicidas (1.598 em 1962) e
era seguida pela Alemanha,
Suíça, Japão, França,
Bélgica, Inglaterra, Estados
Unidos, Polônia e Portugal.
Nenhum país subdesenvolvido
entrava na lista. Conclusão:
o suicídio teria ligações
com o vazio provocado pelo
materialismo. Ou seja:
faltava espiritualidade
naqueles países. Chico e
Waldo começaram a arrumar as
malas para viajar ao
exterior. (Continua
na próxima semana.)
Do livro As
vidas de Chico Xavier , de
Marcel Souto Maior.
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