Atos
consequenciais
humanos
Oportunamente,
ao encerrar um
seminário sobre
Sexualidade
humana, fui
procurado por
uma jovem que,
timidamente,
apresentou-me a
seguinte
indagação:
“Assistir a
filmes
pornográficos é
pecado?”
Imagino que o
conceito de
pecado na
cabecinha da
jovem iniciante
do movimento
espírita se
identifique com
o que sempre se
pensou de
pecado,
como uma
infração das
leis divinas, ou
seja, fazer o
que é errado ou
injusto do ponto
de vista de Deus
e que pode
trazer
consequências
ruins para quem
o faz.
Tal
questionamento
nos faz refletir
sobre a
intrigante
questão do certo
e do errado, do
bem e do mal.
Existem muitas
coisas que são
notoriamente
erradas, como
matar ou roubar,
mas existem
outras coisas,
que, sem ser
necessariamente
erradas (sob o
ponto de vista
de lesar a
outrem), não são
boas, ou não são
as melhores, ou,
ainda, podem não
ser as ideais,
ou as mais
apropriadas.
Como uma
motivação para
um
aprofundamento
ao tema,
propomos uma
categorização
evolucionista
dos atos
humanos,
classificando-os
em três classes:
morais,
higiênicos
e iluminantes.
Referimo-nos,
obviamente, aos
atos
consequenciais
humanos, ou
seja, aqueles
que implicam em
consequências
para o agente ou
para as pessoas
relacionadas com
ele. Muitos atos
humanos são
eticamente
neutros, como
ler um romance,
ver um
noticiário na
TV, ou
desenvolver as
tarefas
corriqueiras do
dia a dia.
Ao propor essa
classificação
não pretendemos
– e afirmamos
isso de forma
enfática – criar
regras ou
pontuar de
valores os atos
humanos. Eles só
podem ser
valorados pela
consciência de
cada um, pois se
objetivam em um
contexto
particular de
vida, onde
agravantes e
atenuantes serão
sempre
considerados.
Ademais, somos
seres
singulares, com
uma história que
nos é pessoal,
com resistências
e limites que
nos são
próprios.
Vamos então à
nossa proposta.
1 - Atos
morais.
Segundo Allan
Kardec, a moral
consiste na
regra de bem
proceder. O
homem procede
bem quando faz
tudo pelo bem de
todos.[i]
O conceito de
moral, pelo
visto, implica
obrigatoriamente
em uma relação
com outra
pessoa, relação
esta que
interfere no
bem-estar do
outro. A ética
filosófica
define ato moral
como os atos
conscientes e
voluntários dos
indivíduos que
afetam outros
indivíduos,
determinados
grupos sociais
ou a sociedade
em seu conjunto.[ii]
Assim, o
objetivo da
moralidade
encontra-se em
se viver uma
vida plena com
as outras
pessoas.
Sofrimento e
felicidade
(definidos da
forma mais ampla
possível) são as
únicas coisas
com as quais
vale a pena se
importar e a
moralidade diz
respeito à
maneira como
tratamos uns aos
outros. Nossos
atos são imorais
quando lesam,
desconsideram,
prejudicam,
humilham etc.,
outra pessoa, ou
de forma mais
planetária, os
seres sencientes.
Estes atos
inserem o
faltoso na lei
de causa e
efeito,
mecanismo
divino, que tem
como finalidade
a educação da
alma em trânsito
para projetos
superiores de
vida.
2 - Atos
higiênicos.
Os atos
higiênicos,
em nossa
proposta,
não interferem
diretamente com
o bem-estar de
outrem, mas se
relacionam com
nossa relação
com nosso corpo
e nossa mente.
São atos que, de
uma forma ou de
outra, podem
prejudicar nossa
saúde,
predispondo-nos
a enfermidades
diversas, e
privando-nos de
uma vida mais
plena e
realizadora.
Comer e beber
compulsivamente,
fumar ou usar
outras drogas
podem ser
classificados
como atos
anti-higiênicos.
Os atos
anti-higiênicos
podem ser
consequenciais
porque produzem,
muitas vezes,
desequilíbrios
no cosmo
orgânico do
agente,
decorrendo daí
uma série de
condições
mórbidas.
3 - Atos
iluminantes.
Proponho
esse termo para
os atos humanos
que não
interferem
diretamente no
bem-estar de
outrem, nem
tampouco
prejudicam
diretamente a
saúde, mas podem
obstaculizar o
desenvolvimento
espiritual do
agente. Assistir
a filmes
pornográficos,
ou que incitem à
violência,
dedicar tempo
expressivo em
discussões
estéreis sobre
corrupção na
política e
quejandos não
são atos morais
(não implicam em
prejuízo para
terceiros), nem
tampouco
higiênicos (não
adoecem o
corpo). Talvez
possam ser classificados
como atitudes
não iluminantes,
pois conduzem a
um status
psíquico que
coloca barreiras
ao
desenvolvimento
iluminativo da
consciência
reencarnada.
Tais atitudes
levam à vivência
de um estado
mental que
mantém o
Espírito
vinculado à
matéria,
afastando-o dos
ideais nobres de
construção de
uma
personalidade
sadia. Não
acredito que os
atos não
iluminantes
impliquem em uma
resposta da lei
de causalidade.
Imaginar que
assistir a um
filme de guerra,
ou envolver-se
em uma discussão
apaixonada (mas
não ofensiva)
sobre futebol,
possa acarretar
um carma
negativo, não me
parece racional.
Esses atos
seriam
consequenciais
porque, na
medida em que
focam o
interesse do
agente nesse
tipo de imagem
mental, o privam
de painéis
mentais mais
adequados a uma
vida focada em
interesses
espirituais.
Lembrando, com
Kardec, que a
superexcitação
dos instintos
materiais
sufoca, por
assim dizer, o
senso moral,
como o
desenvolvimento
do senso moral
enfraquece,
pouco a pouco,
as faculdades
puramente
selvagens.[iii]
[i]
O Livro
dos
Espíritos,
item
629.
[ii]
Ética,
Adolfo
Sanches.
[iii]
O Livro
dos
Espíritos,
item
754.
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