ALTAMIRANDO
CARNEIRO
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São Paulo, SP
(Brasil)
140 anos
sem a presença
física de
Allan Kardec
Hippolyte Léon Denizard
Rivail – Allan Kardec –
desencarnou em Paris, em
31 de março de 1869, aos
65 anos, devido à
ruptura de um
aneurisma.
São 140 anos sem a sua
presença física, mas em
todo esse tempo contamos
com a sua assistência
espiritual. A Doutrina
Espírita, por ele
codificada,
engrandeceu-se durante
todo esse tempo,
conquistando o respeito
e a credibilidade, pela
firmeza de seus
postulados, instituindo
a ligação do homem com o
Universo, dando-lhe as
chaves para a
compreensão dos
mistérios da chamada
morte e esclarecendo, de
maneira clara e
objetiva, as perguntas
seculares: "Quem eu
sou?"; "De onde eu
venho?"; "Para onde eu
vou?"
Personalidade ímpar,
tornou-se respeitado
pela retidão de caráter
e pela coerência de suas
ações, tendo sido
cognominado por Camille
Flammarion como O
Bom Senso Encarnado.
Corajoso e altivo,
nunca esmoreceu diante
da tarefa, bastante
árdua, como ele próprio
dizia em nota de
primeiro de janeiro de
1867, quando se referia
às ingratidões de
amigos, ódios de
inimigos, injúrias e
calúnias dos fanáticos.
Ao observar o fenômeno
das mesas girantes, ou
falantes, não teve a
atitude covarde de
alguns pesquisadores
que, em nome de
convicções absurdas, têm
a pretensão de acharem
que são especialistas em
assuntos que não
conhecem. A dedução de
Allan Kardec foi a mais
lógica e sensata
possível: se uma mesa
não tem boca para falar,
cérebro para pensar e
nervos para sentir, as
respostas inteligentes
às perguntas formuladas
somente podem vir de uma
inteligência que não
vemos, ou seja, os
Espíritos. Esta foi a
conclusão do grande
Mestre.
Figura de respeito,
tinha o "semblante
severo quando estudava
ou magnetizava, mas
cheio de vivacidade
amena e sedutora quando
ensinava ou palestrava.
O que nele mais
impressionava era o
olhar estranho e
misterioso, cativante
pela brandura das
pupilas pardas,
autoritário pela
penetração a fundo na
alma do interlocutor.
Pousava sobre o ouvinte
como suave farol e não
se desviava abstrato
para o vago senão quando
meditava, a sós. E o que
mais personalidade lhe
dava era a voz, clara e
firme, de tonalidade
agradável e oracional,
que podia mesclar
agradavelmente desde o
murmúrio acariciante até
as explosões de
eloquência parlamentar.
Sua gesticulação era
sóbria, educada".
Era exemplar o seu
comportamento diante das
pessoas: "Quando
ouvia uma pessoa,
enfiava o polegar
direito no espaço entre
dois botões do colete, a
fim de não aparentar
impaciência e, ao
contrário, convencer de
sua tolerância e
atenção. Conversando com
discípulos ou amigos
íntimos, apunha algumas
vezes a destra (mão
direita) no ombro do
ouvinte, num gesto da
familiaridade. Mantinha
rigorosa etiqueta social
diante das damas" (Grandes
Vultos do Espiritismo,
de Paulo Alves
Godoy – Edições FEESP).
Colocado na galeria dos
grandes missionários e
benfeitores da
Humanidade, a morte de
Allan Kardec foi assim
anunciada pelo
Le Journal Paris,
em 3 de abril
de 1869: "... Vimo-lo
deitado num simples
colchão, no meio daquela
sala das sessões que há
longos anos presidia;
vimo-lo com o rosto
calmo, como se extinguem
aqueles a quem a morte
não surpreende, e que,
tranquilos quanto ao
resultado de uma vida
honesta laboriosa,
deixam como que um
reflexo da pureza de sua
alma sobre o corpo que
abandonam à matéria.
Resignados pela fé em
uma vida melhor e pela
convicção na
imortalidade da alma,
numerosos discípulos
foram dar um último
olhar a esses lábios
descorados que, ainda
ontem, lhes falavam a
linguagem da Terra...
Que adianta contar
detalhes da sua morte?
Que importa a maneira
pela qual o instrumento
se quebrou e porque
consagrar uma linha a
esses restos integrados
no imenso movimento das
moléculas? Allan Kardec
morreu na sua hora. Com
ele fechou-se o prólogo
de uma religião vivaz
que, irradiando a cada
dia, em breve terá
iluminado a Humanidade.
Ninguém melhor que Allan
Kardec poderia levar a
bom termo essa obra, à
qual era preciso
sacrificar as longas
vigílias que nutrem o
Espírito, a paciência
que ensina
continuamente, a
abnegação que desafia a
tolice do presente para
só ver a radiação do
futuro.
... Seu nome, estimado
como o de um homem de
bem, é desde muito tempo
vulgarizado pelos que
creem e pelos que temem.
É difícil realizar o bem
sem chocar os interesses
estabelecidos.
O Espiritismo destrói
muitos abusos; também
ergue muitas
consciências doloridas,
dando-lhes a convicção
da prova e a consolação
do futuro.
Hoje, os espíritas
choram o amigo que os
deixa, porque o nosso
entendimento, demasiado
material, por assim
dizer, não se pode
dobrar a essa idéia da
passagem.
Mas, pago o primeiro
tributo à inferioridade
do nosso organismo, o
pensador ergue a cabeça,
e para esse mundo
invisível, que sente
existir além do túmulo,
estende a mão ao amigo
que se foi, convencido
de que seu Espírito nos
protege sempre.
Essa morte, que o vulgo
deixará passar
indiferente, é um grande
fato na história da
Humanidade. Este não é
apenas o sepulcro de um
homem; é a pedra tumular
enchendo o vazio imenso
que o materialismo havia
cavado sob os nossos
pés, e sobre o qual o
Espiritismo espalha as
flores da esperança".