MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Libertação
André Luiz
(Parte
11)
Damos continuidade ao estudo da obra
Libertação,
de André Luiz, psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier e
publicada em 1949 pela Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Como eram as edificações na região trevosa em que André se
encontrava?
R.: Tanto a paisagem quanto as edificações
deixavam muito a desejar. Excetuados os
palácios da praça governativa, as
construções desapontavam pelo aspecto e
condições em que se mantinham. Além disso,
as paredes, revestidas de matéria semelhante
ao lodo, mostravam-se repelentes à visão e
ao olfato, devido às exalações
desagradáveis. (Libertação, cap. VII, pp.
90 e 91.)
B. Que impressão o ambiente naquela região causou a André Luiz?
R.: Depois de caminhar através de compridos
labirintos, até chegar diante de extensa
edificação, que André designou como "asilo
de Espíritos desamparados", ele anotou:
"Enquanto encarnado, ser-me-ia extremamente
difícil acreditar numa cena igual à que se
nos desdobrou à visão inquieta". "Nenhum
sofrimento, depois da morte do corpo, me
tocara tão fundo o coração." A gritaria em
torno era de espantar. Mais à frente, numa
distância de dezenas de quilômetros,
sucediam-se furnas e abismos, qual se fosse
imensa cratera de vulcão vivo alimentado
pela dor humana, visto que, lá dentro,
turbilhões de vozes explodiam sem cessar,
parecendo estranha mistura de lamentos de
homens e animais. André e Elói tremeram, e
sua vontade era de recuo instintivo.
(Obra citada, cap. VII, pp. 92 e 93.)
C. Que significavam os ovoides jungidos ao Espírito de uma
ex-fazendeira?
R.: Eram entidades que prometiam vingar-se.
A vítima fora tirânica senhora de escravos
no século 19. Fora jovem e bela, mas
desposou, consoante o programa de provas
salvadoras, um cavalheiro de idade madura,
que, a seu turno, já assumira compromissos
sentimentais com humilde filha do cativeiro.
Embora a mudança natural de vida em face do
casamento, não abandonou ele o débito
contraído. Um dia, a esposa conheceu toda a
extensão do assunto e revelou a
irascibilidade que lhe povoava a alma. Fez
com que o marido se dobrasse aos seus
caprichos. A escrava foi separada dos dois
filhos e vendida para uma região palustre,
onde encontrou logo depois a morte pela
febre maligna. Os filhos, metidos no tronco,
padeceram vexames e flagelações em frente da
senzala. Acusados de ladrões pelo capataz, a
mando da senhora, passaram a exibir pesada
corrente no pescoço ferido. Viveram então
debaixo de humilhações incessantes; em
poucos meses, minados pela tuberculose,
desencarnaram e foram reunir-se à genitora
revoltada, formando um trio perturbador que
sustentava sinistros propósitos de desforço.
Eram eles que se apresentavam ali, na
condição de ovoides. (Obra citada, cap.
VII, pp. 95 a 97.)
Texto para
leitura
45. Lodo nas paredes - A noite
tinha sido simplesmente aflitiva, pelo menos
para André Luiz, que não conseguira qualquer
quietação no repouso. Lá fora o ruído se
fizera contínuo e desagradável, e a
atmosfera era pesada, asfixiante. Além
disso, conversações alucinadoras o
perturbaram e feriram. De manhã, o pequeno
grupo foi autorizado por Gregório a sair do
cubículo onde pernoitara. A rua estava
repleta de tipos característicos da
anormalidade deprimente: aleijados de todos
os matizes, idiotas de máscaras variadas,
homens e mulheres de fisionomia
torturada... Ofereciam tais entidades
perfeita impressão de alienação mental.
Exceção de uns poucos que tinham um olhar
suspeitoso e cruel, com manifesta expressão
de maldade, a maior parte situava-se entre a
ignorância e o primitivismo, entre a amnésia
e o desespero. Muitos faziam-se irritadiços
ante a calma do grupo. A conversação ociosa
era, ali, o traço dominante. Gúbio explicou
então que, de modo geral, as mentes
extraviadas lutam com ideias fixas,
implacáveis e obcecantes, gastando, assim,
longo tempo para se reajustarem. Rebaixadas
pelas próprias ações, perdem a noção do
bom-gosto, do conforto construtivo, da
beleza santificante, e se entregam a
lastimável relaxamento. Era o que ali se
via, pois a paisagem, sob o ponto de vista
de ordem, deixava muito a desejar. As
edificações, exceto os palácios da praça
governativa, onde se viam muitos escravos,
desapontavam pelo aspecto e condições em
que se mantinham. As paredes, revestidas de
matéria semelhante ao lodo, mostravam-se
repelentes à visão e ao olfato, devido às
exalações desagradáveis. A vegetação, em
todos os ângulos, era escassa e mirrada.
Gritos humanos, filhos da dor e da
inconsciência, eram frequentes. E como a
cidade era constituída por milhares de
loucos declarados, tornava-se impraticável
qualquer organização beneficente de
assistência individual. (Cap. VII, pp. 90 e
91)
46. Uma cena jamais vista -
Além das perturbações reinantes, um
sufocante nevoeiro abatia-se sobre a
cidade, mal deixando que se visse o
horizonte distante. O Sol, através de
espessa cortina de fumo, era visto como se
fosse uma bola de sangue afogueado. Via-se
ali a importância das criações mentais na
própria vida... O pequeno grupo foi
caminhando através de compridos labirintos,
até que se viu diante de extensa
edificação, a que André designou como "asilo
de Espíritos desamparados". André anotou:
"Enquanto encarnado, ser-me-ia extremamente
difícil acreditar numa cena igual à que se
nos desdobrou à visão inquieta". "Nenhum
sofrimento, depois da morte do corpo, me
tocara tão fundo o coração." A gritaria, em
torno, era de espantar. O grupo varou lodosa
muralha e, depois de alguns passos, viu que
um largo e profundo vale se estendia,
habitado por toda a espécie de padecimentos
imagináveis. Parecia que eles estavam na
extremidade de um planalto que se quebrava
em abrupto despenhadeiro. À sua frente, numa
distância de dezenas de quilômetros,
sucediam-se furnas e abismos, qual se fosse
imensa cratera de vulcão vivo, alimentado
pela dor humana, visto que, lá dentro,
turbilhões de vozes explodiam, sem cessar,
parecendo estranha mistura de lamentos de
homens e animais. André e Elói tremeram, e
sua vontade era de recuo instintivo... Gúbio,
no entanto, estava firme, e fez de conta que
não percebera a fraqueza de seus pupilos.
Asseverou então, com toda a calma:
"Amontoam-se aqui, como se fossem lenhos
secos, milhares de criaturas que abusaram de
sagrados dons da vida. São réus da própria
consciência, personalidades que alcançaram a
sobrevivência sobre as ruínas do próprio `eu',
confinados em escuro setor de alienação
mental. Esgotam resíduos envenenados que
acumularam na esfera íntima, através de
longos anos vazios de trabalho edificante,
no mundo físico, entregando-se,
presentemente, a infindáveis dias de tortura
redentora". E, diante dos companheiros
espantados, ajuntou: "Não estamos
contemplando senão a superfície de trevosos
cárceres a se confundirem com os
precipícios subcrostais". (Cap. VII, pp. 92
e 93)
47. Imantação do ódio - Elói,
consternado pela dor reinante, perguntou ao
Instrutor se não haveria recurso para tanto
desamparo. Gúbio refletiu por alguns
momentos e respondeu: "Quando encontramos um
morto de cada vez, é fácil conceder-lhe
sepultura condigna, mas, se os cadáveres
são contados por multidões, nada nos resta
senão adotar a vala comum". O Instrutor
lembrou então que, embora renasçamos na
carne para destruirmos os ídolos da mentira
e da sombra e entronizarmos em nós mesmos os
princípios da sublimação vitoriosa para a
eternidade, muitos de nós preferimos, na
maioria das ocasiões, adorar a morte na
ociosidade, na ignorância agressiva ou no
crime disfarçado, ignorando a gloriosa
imortalidade que nos compete atingir.
Menosprezamos oportunidades de crescimento,
fugimos ao aprendizado salutar e contraímos
débitos clamorosos, retardando a obra de
elevação própria. Era preciso, pois, ter
paciência. Aquela paisagem era, sim,
inquietante e angustiosa, mas compreensível
e necessária. Gúbio informou então que, por
misericórdia do Pai, havia naquele meio
companheiros amigos, a serviço do auxílio e
do bem. "A renúncia opera com Jesus, em toda
parte", enfatizou o Instrutor. Em seguida,
eles desceram alguns metros e depararam com
esquálida mulher estendida no solo. A
infeliz se cercava de três formas ovoides,
diferençadas entre si nas disposições e nas
cores, que seriam, contudo, imperceptíveis
aos olhos de André, caso este não
desenvolvesse, ali, todo o seu potencial de
atenção. Os ovoides se justapunham ao
perispírito e se expressavam por intermédio
de matéria que pareceu a André leve
gelatina, fluida e amorfa. Gúbio elucidou,
de imediato: "São entidades infortunadas,
entregues aos propósitos de vingança e que
perderam grandes patrimônios de tempo, em
virtude da revolta que lhes atormenta o ser.
Gastaram o perispírito, sob inenarráveis
tormentas de desesperação, e imantam-se,
naturalmente, à mulher que odeiam, irmã esta
que, por sua vez, ainda não descobriu que a
ciência de amar é a ciência de libertar,
iluminar e redimir". (Cap. VII, pp. 93 a
95)
48. O caso da fazendeira - O
Instrutor assumiu a atitude de médico ante a
paciente e seus aprendizes. A mulher
sofredora, envolvida num halo de "força
cinzento-escura", registrou-lhes a presença
e gritou, aflita: "Joaquim! onde está
Joaquim? digam-me, por piedade! para onde o
levaram? ajudem-me! ajudem-me!" Gúbio
tranquilizou-a com algumas palavras e pediu
aos pupilos que examinassem os ovoides,
sondando-os, magneticamente, com as mãos.
André tocou o primeiro, que reagiu
positivamente. Relata André: "Liguei, num
ato de vontade, minha capacidade de ouvir
ao campo íntimo da forma e, assombrado, ouvi
gemidos e frases, como que longínquos, pelo
fio do pensamento: -- Vingança! vingança!
Não descansarei até ao fim... Esta mulher
infame me pagará..." Repetiu a experiência
com os outros dois e os resultados foram
idênticos. Afagando-a com fraternal
carinho, Gúbio esclareceu que Joaquim era o
companheiro que a havia precedido nas lides
da reencarnação. A pobrezinha esperava
ensejo de retorno à luta benéfica. O
Instrutor informou: "Foi tirânica senhora
de escravos no século que findou.
Percebo-lhe as recordações da fazenda
próspera e feliz, nos arquivos mentais. Foi
jovem e bela, mas desposou, consoante o
programa de provas salvadoras, um
cavalheiro de idade madura, que, a seu
turno, já assumira compromissos
sentimentais com humilde filha do cativeiro.
Embora a mudança natural de vida, à face do
casamento, não abandonou ele o débito
contraído". Relatou então que a pobre mãe
escrava, ainda moça, prosseguira agregada à
fazenda, com os rebentos de seu amor menos
feliz. Um dia, a esposa conheceu toda a
extensão do assunto e revelou a
irascibilidade que lhe povoava a alma. Fez
com que o marido se dobrasse aos seus
caprichos. A escrava foi separada dos dois
filhos e vendida para uma região palustre,
onde encontrou logo depois a morte pela
febre maligna. Os filhos, metidos no
tronco, padeceram vexames e flagelações em
frente da senzala. Acusados de ladrões pelo
capataz, a mando da senhora, passaram a
exibir pesada corrente no pescoço ferido.
Viveram então debaixo de humilhações
incessantes; em poucos meses, minados pela
tuberculose, desencarnaram e foram reunir-se
à genitora revoltada, formando um trio
perturbador que sustentava sinistros
propósitos de desforço. (Cap. VII, pp. 95 a
97)
(Continua no próximo número.)