42. Em sessão realizada
a 13/2/1863, a Sociedade
Espírita de Paris
decidiu, por
unanimidade, não tomar
conhecimento de um
pedido oriundo de
Tonnay-Charente, no qual
o missivista dirige oito
questões diretamente ao
Espírito de Jesus, filho
de Deus. As perguntas
versavam sobre vários
dogmas da Igreja. A
publicação dessa decisão
na Revue objetiva
mostrar a todos a
inutilidade de dirigir
no futuro perguntas
sobre semelhantes
assuntos. (PP. 81 e 82)
43. A
respeito do caso, a
Sociedade Espírita de
Paris lembra ao autor da
carta que o fim
essencial do Espiritismo
é a destruição das
ideias materialistas e o
melhoramento moral do
homem e que, por isso,
ele não se ocupa
absolutamente de
discutir os dogmas
particulares de cada
culto, deixando sua
apreciação à consciência
de cada um. Esclarece,
ainda, a Sociedade: I) O
dever dos verdadeiros
espíritas é, antes de
tudo, aplicar-se ao
combate à incredulidade
e ao egoísmo, que são as
verdadeiras chagas da
humanidade, e a fazer
prevalecer, tanto pelo
exemplo quanto pela
teoria, o sentimento de
caridade, que deve ser a
base de toda religião
racional. II) As
questões de fundo devem
passar à frente da
questões de forma. III)
As questões de fundo são
as que têm por objeto
tornar os homens
melhores, visto que todo
progresso social não
pode ser senão
consequência do
melhoramento das massas.
IV) Querer agir de outra
forma é começar o
edifício pelo telhado,
esquecido dos
alicerces; é semear
antes de preparar o
terreno. (PP. 82 a 84)
44. François-Simon
Louvet, que se suicidou
em 22/7/1857 no Havre,
descreve em comunicação
espontânea, recebida em
12/2/1863, seus
padecimentos em
consequência de seu
gesto impensado. Como
revela a mensagem, uma
das aflições enfrentadas
pelo suicida era ver-se
sempre caindo da torre -
da qual se jogara - e
indo quebrar-se nas
pedras, tal como
ocorrera efetivamente
seis anos antes,
conforme noticiado pelo
Journal du Havre
de 23 de julho de 1857.
(PP. 84 a 86)
45. A
Revue transcreve
a comunicação que foi
dada em Paris pelo
Espírito de Clara Rivier,
desencarnada aos dez
anos de idade, quatro
meses antes. Enferma
desde a idade de quatro
anos, Clara foi um
exemplo notável de
resignação diante da
dor. “Não temo a morte
- dizia ela -
porque depois me está
reservada uma vida
feliz.” Na comunicação,
Clara explicou que fora
seu anjo da guarda quem
a confortou durante toda
a enfermidade e, como os
seus pais enfrentavam na
ocasião um ligeiro
processo obsessivo, ela
acrescentou: I) A
obsessão terminará
quando chegar o momento
necessário. II) A prece
e a fé dão grande força
para dominar a obsessão.
III) A obsessão e a
subjugação são, na
verdade, provas para
quem as sofre, mas
também um caminho aberto
a novas convicções. IV)
É preciso aproximar as
distâncias pela
caridade, introduzindo o
pobre em casa,
encorajando-o e
levantando-o, sem o
humilhar. “Tende -
concluiu Clara,
dirigindo-se aos pais -
resignação,
caridade, amor aos
semelhantes e um dia
sereis felizes.” (PP. 86
a 89)
46. Da mensagem de Clara
Rivier, Kardec destacou
dois pontos: I) a
informação de que, de
uma existência a outra,
o Espírito pode passar
de uma posição social
brilhante a outra
humilde e miserável,
expiando dessa forma o
abuso dos dons que Deus
lhe concedera; e, II) a
revelação de que Deus
castiga os povos como
castiga os indivíduos.
Assim, se todos
praticassem a lei da
caridade, não haveria
mais guerras, nem
grandes misérias, nem
calamidades no mundo.
(P. 90)
47. O Courrier du
Bas-Rhin de 3/1/1863
revelou que em Boston,
Estados Unidos, o Sr.
William Mumbler havia
descoberto, sem querer,
a fotografia de pessoas
falecidas. A
primeira foto obtida
pelo Sr. Mumbler foi do
Espírito de uma prima.
Kardec aconselha, porém,
acolher tal notícia com
prudente reserva, porque
os americanos são
mestres também na arte
de inventar patranhas.
Além disso, o
Codificador cita o fato
ocorrido com um jovem
lorde inglês, apaixonado
pela arte fotográfica,
que pensou haver obtido
a fotografia de uma irmã
falecida, e no entanto
tal ideia não passou de
um equívoco. (N.R.: O
tema fotografia de
Espíritos é tratado com
minúcias por Gabriel
Delanne em seu livro
“O Fenômeno Espírita”,
pp. 149 a 163. A cautela
de Kardec é procedente e
o processo movido contra
o fotógrafo Buguet, em
1875, comprova que todo
cuidado é pouco quando
lidamos com fatos
supostamente atribuídos
a Espíritos.) (PP.
90 a 92)
48. O Sr. bispo de Argel
publicou, para a
quaresma de 1863, uma
instrução pastoral
dedicada ao Espiritismo,
em que acusa o
demônio de ditar a
filósofos ilustres essas
doutrinas malsãs que
pregam a existência de
dois princípios iguais,
o bem e o mal, o
materialismo, o
ceticismo, o fatalismo,
a metempsicose, a magia
e a evocação dos
Espíritos. O documento
da Igreja foi publicado
no jornal Akbar,
de Argel, em 10/2/1863.
Ao dar a notícia, o
jornal argelino lembrou
ao leitor que os que
gostam, em todo litígio,
de ouvir as duas partes,
podiam tirar suas
dúvidas lendo “O
Livro dos Espíritos”
e “O Livro dos
Médiuns”, do Sr.
Allan Kardec, os quais
se encontravam à venda
em todas as livrarias de
Argel. (PP. 92 e 93)
49. Na seção de poesias,
a Revue traz dois
poemas de origem
mediúnica: “Por que
lamentar-se?” e
“Mãe e filho”. No
primeiro, o poeta
desencarnado diz que
Deus fez do homem o
artífice de seu próprio
destino e afirma que o
caminho que conduz ao
bem requer esforço
seguido e trabalho
constante, completa
vigilância e atenta
pesquisa, o instinto
frenado e a razão
operante. “Trabalha,
luta, ora e o céu estará
em ti”, eis como se
encerra o poema. (PP. 94
e 95)
50. O segundo poema fala
de uma mãe que perdeu o
filho em tenra idade e
explica por que o fato
se deu. É que, num
passado distante, ela
fizera morrer o filho
que ia dar à luz e
agora, arrependida, fora
castigada em
circunstâncias parecidas
com a que deu origem à
sua falta. (PP. 96 e 97)
51. A
edição de abril é aberta
com mais um artigo de
Kardec - o quarto
- sobre os possessos de
Morzine. Como já vimos,
o Sr. Constant atribuía
os fatos à constituição
raquítica dos habitantes
e à insalubridade da
região, bem como à má
qualidade e à
insuficiência da
alimentação. O Sr.
Arthaud, médico em Lyon,
foi a Morzine e declarou
exatamente o contrário:
a constituição dos
habitantes era boa e
havia ali apenas um caso
de epilepsia e um de
imbecilidade. Kardec
reproduz outro relatório
que também discorda do
diagnóstico feito pelo
Sr. Constant e, entre
diversos reparos à
conclusão deste último,
diz que, se o Sr.
Constant estivesse
certo, o efeito
observado seria endêmico
e não epidêmico. Os
primeiros sintomas da
epidemia de Morzine -
lembra Kardec - se
verificaram em março de
1857 em apenas duas
meninas adolescentes. Em
novembro seguinte o
número de doentes era de
27, e em 1861 atingiu o
máximo de cento e vinte,
assemelhando-se muito ao
episódio que acometeu a
Judeia, ao tempo do
Cristo. (N.R.:
Epidemia: doença que
surge rápida e acomete
simultaneamente grande
número de pessoas.
Endemia: doença que
existe constantemente em
determinado lugar.)
(PP. 99 a 105)
(Continua no próximo
número.)