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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 100 – 29 de Março de 2009

WELLINGTON BALBO
wellington_plasvipel@terra.com.br
Bauru, São Paulo (Brasil)

  
Médicos excomungados

 

 
A garota pernambucana de 9 anos estuprada pelo padrasto foi manchete nos mais diversos noticiários do Brasil. Natural a comoção em torno do caso, situações desse quilate envolvendo crianças mexem com todos. Ficam questionamentos, reflexões, não raro até a revolta toma posse dos mais exaltados.

 

Todos sabem o desenrolar do dramático caso: os médicos realizaram o aborto na garota de 9 anos grávida de gêmeos do padrasto.

 

O arcebispo de Recife excomungou os médicos. O Vaticano apoiou a decisão. A população brasileira indignou-se. Interessante: o padrasto não foi excomungado. A visão da Igreja Católica ilustra a impunidade reinante em nosso país. (1)

 

Os responsáveis pelos crimes são sempre absolvidos pela “benevolência” dos homens. As vítimas, não raro são tratadas como culpadas em autêntica inversão. Aliás, o nome correto não é punição, mas, sim, colheita do plantio, ou seja, praticamos o mal e colhemos o mal. Nada de punição, apenas colheita da semeadura. Detalhe importante: a impunidade gera cidadãos irresponsáveis, sem compromissos com suas atitudes. Lembro-me de mãe que dizia amar o filho, e por isso aprovava todas as suas aberrações quando criança e adolescente. O menino mordia os colegas, ela e o pai nada faziam. O garoto cresceu sem limites, achando-se o dono do mundo. Quando adolescente envolveu-se em terrível briga e nada de atitudes dos pais. Tornou-se um adulto irresponsável. Embora filho de família abastada, envolveu-se com organização criminosa, ele e seu bando assaltavam bancos. Os pais lamentavam a escolha do filho e se perguntavam: Em que nós erramos na educação de nosso filho? Erraram em deixá-lo sem limites, não o obrigando a assumir suas responsabilidades. Em um plano macro é assim que caminha nosso país, não impõe limites e responsabilidades a seus filhos. Uma pena!

 

Compreende-se, portanto, que a Igreja Católica, a pretexto de defesa da vida recai em incoerências. Lutam contra o aborto, o que está correto, mas neste caso fazem de forma insensata. Quando as decisões são inflexíveis, os equívocos são inevitáveis. E a vida da garota de 9 anos, quem defende? Quem restituirá os prejuízos advindos da prática violenta cometida pelo padrasto, alguém que deveria, antes de tudo, amá-la e respeitá-la?

 

A Igreja Católica, com todo respeito a seus líderes, necessita rever alguns conceitos, modernizar as ideias e adequar-se ao mundo contemporâneo.

 

O Espiritismo, por exemplo, é doutrina moderna, arejada e, como afirma seu codificador, tem como base o bom senso. Aliás, o Espiritismo também defende a vida e é notadamente contra o aborto. A codificação espírita, segundo consta na obra basilar, O Livro dos Espíritos, consente o aborto apenas quando este coloca em risco a vida da mãe. Este é o caso da garota pernambucana, porquanto ninguém reencarna para sofrer, ou, ainda, para engravidar do padrasto e ter filhos com 9 anos de idade. Nada disso estava programado. O que ocorreu foi um fato lamentável, fruto da estupidez humana, logo, neste caso, o aborto foi a alternativa menos traumática a todos. A propósito, no caso da garota pernambucana foram realizados exames, e o aborto só foi praticado depois da comprovação de que a gravidez poderia imprimir sequelas ou levá-la, inclusive, à morte. A Doutrina Espírita ensina que a vida existente é soberana e não pode ser colocada em risco para o sucesso de outra. A gravidez da garota de 9 anos colocava sua vida em risco. É verdade que esta foi uma situação atípica, fora dos padrões naturais, por isso o aborto não pode ser banalizado a partir do caso da pequena pernambucana. Devemos lutar pela vida, sempre, em qualquer circunstância, mas coerência não faz mal a ninguém.

 

Crianças não possuem condições físicas, psicológicas e, também, financeiras para cuidar de outras crianças. Crianças devem brincar, estudar, aproveitar a fase infantil para o pleno desenvolvimento como Espíritos imortais, portanto, não podem queimar etapas da preciosa oportunidade reencarnatória. No entanto, aproveitamos e repetimos: aquelas e aqueles adolescentes que por ignorância ou irresponsabilidade engravidam na adolescência, devem, naturalmente, assumir suas responsabilidades. Portanto, que o caso da garota pernambucana não sirva de exemplo para irresponsáveis que querem utilizar o aborto como método contraceptivo.

 

Perguntarão alguns:

 

Com o aborto, como ficarão os Espíritos que reencarnariam tendo a garota como genitora?

 

Neste caso, certamente não haverá problemas. Esses Espíritos serão amparados pela Espiritualidade, sustentados pela divina misericórdia. Aguardarão nova oportunidade para reencarnar. Nada de vinganças nem processos obsessivos contra a garota, os benfeitores espirituais estarão no controle de tudo, contribuindo para que a ordem das coisas se restabeleça.

 

Cabe-nos, pois, coerência e bom senso sempre. Ainda bem que Kardec deixou espaço ao raciocínio para que o exercitemos com a finalidade de entender os inúmeros acontecimentos da vida.

 

Pensemos nisso.

 

 

(1) Leia mais sobre o assunto o editorial da edição 99 desta revista, que pode ser visto em http://www.oconsolador.com.br/ano2/99/editorial.html.

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita