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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 102 - 12 de Abril de 2009
ARÍSIO ANTÔNIO FONSECA JUNIOR
arisiojunior@yahoo.com.br
Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil)

 

Quem conhece o Cristo?

“Ele conhecia o Cristo e Saulo não”. (1)


Narra Emmanuel, no livro Paulo e Estêvão, entre outras histórias, o comovente encontro do Apóstolo dos Gentios com Estêvão, considerado este o primeiro mártir do Cristianismo.

Não se contará aqui a história, para que os leitores possam buscar a obra mencionada, cuja leitura será – acreditem! – verdadeira felicidade para os olhos e para a alma. Entretanto, contextualizar a frase acima citada é de fundamental importância, a fim de se poder evidenciar a profundidade de um dito supostamente simples.

Estêvão era homem israelita cumpridor de suas obrigações, com respeito à lei mosaica, atento aos ensinos recebidos da mãe quando criança, que sempre se lembrava de Deus nas horas difíceis e nos momentos alegres. Após alguns acontecimentos infelizes, que o tiraram de Corinto, Estêvão desembarcou em Jope, de onde, depois, foi para Jerusalém. Chegando à Cidade Santa, conheceu Simão Pedro e os outros do “Caminho”. (2)

Então, em contato com Cefas (3), pôde conhecer Jesus, através, tanto da narrativa do discípulo, quanto do Evangelho de Mateus – ou, ao menos, o que era o esboço desse livro. Convertido voluntariamente ao “Caminho”, porque obtivera na vida de Jesus os exemplos mais sublimes do amor, Estêvão tornou-se grande trabalhador e pregador da doutrina daquela pessoa em quem ele via o verdadeiro Cristo, o Messias anunciado pelos profetas de Israel.

Porque Estêvão fazia chegar a quem quisesse os ensinos de Jesus, através de suas pregações sobre o Evangelho, Paulo, que, naquele momento, chamava-se Saulo, empreendeu contra ele acirrada perseguição, após ter sido derrotado em um debate intelectual na igreja do “Caminho”, pois que o primeiro mártir do cristianismo estava repleto do espírito de Jesus. Nada podendo contra Estêvão, ao menos na discussão das ideias, Saulo o prende. Movimentando seus interesses e sua influência junto ao Sinédrio, ele condena Estêvão à lapidação no altar dos holocaustos.

No dia designado, todos os mais importantes membros do farisaísmo e os mais altos postos da hierarquia religiosa de Israel encontravam-se presentes para ver a morte daquele homem simples, que apenas pregava as benesses do Pai de Amor, como fizera seu Mestre, Jesus. Em posição de destaque, alçava-se Saulo de Tarso, a quem todos cumprimentavam pelo feito grandioso, na visão deles.

Iniciada a lapidação, Estêvão sentia no corpo as dores provocadas pelas pedras, entretanto, em seu íntimo, nenhum sofrimento o assaltava, vez que estava com o Cristo.

Estêvão, na proximidade da morte, percebe a presença de Jesus, no plano espiritual, a olhar para Saulo de modo condoído. Então, neste ponto da narrativa histórica, Emmanuel diz sobre o sentimento de compaixão que tinha Estêvão em relação ao moço de Tarso: “ele (Estêvão) conhecia o Cristo”. E, como se completasse, Estêvão verbaliza o sentimento e pede amorosamente: “Senhor, não lhe imputes este pecado”.

Obviamente, a narrativa de Emmanuel é extremamente mais rica e adornada do que a que se pretendeu neste texto. Porém, não importa, agora, a beleza das palavras e da história, mas a simples reflexão que surge daquela frase do livro.

Quem conhece o Cristo? Aqueles que o viram realizar seus atos chamados miraculosos? Aqueles que privaram de sua companhia nos anos de messianato? Ou os que constataram com seus ouvidos as sublimes palavras do Sermão do Monte?

Certamente, todos esses que se ajustam às hipóteses acima tomaram contato com Jesus. Mas quem dentre eles conheceu verdadeiramente o Cristo?

Se relembrarmos a narrativa de Emmanuel, Estêvão não conviveu com Jesus encarnado. Ouviu sobre Ele por meio das histórias de Pedro e do Evangelho de Mateus. Entretanto, asseverou com a firmeza da alma que conhecia o Mestre, perdoando Saulo de Tarso, ao ponto de desejar felicidade ao futuro enlace de sua irmã Abigail com o seu carrasco. Como pode ser assim?

“Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo, 20.29). Eis aqui a felicidade de Estêvão: não viu, porém acreditou. Acreditou em tudo o que o Divino Mensageiro trouxe como boa nova: somos Espíritos imortais, habitamos em um corpo perecível; Deus é um Pai amoroso e justo; podemos fazer espiritualmente mais do que cremos poder; amar o próximo é o caminho para a própria salvação etc.

Todos esses ensinamentos chegaram até nossa época. Ainda que não tivessem chegado, poderíamos tê-los conhecido em outras passagens por este planeta. Sabemos de tudo isso. Podemos dizer, portanto, que conhecemos o Cristo? Depende!

Se sabemos todos os versículos do Novo Testamento, porém não os aplicamos em nossas vidas, não conhecemos Jesus. Se temos na memória todos os itens de O Evangelho segundo o Espiritismo, mas não vivemos essas lições, não conhecemos o Mestre. Se podemos citar todas as questões de O Livro dos Espíritos, entretanto, não colocamos a perspectiva espiritual como guia de nossos atos, não conhecemos o Cristo.

Conhecer o Mestre Nazareno é andar de acordo com seu mandamento: “O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo, 15.12). É amar nossos inimigos, bendizer os que nos maldizem, fazer o bem aos que nos odeiam, e orar pelos que nos maltratam e nos perseguem (Mt, 5.44), como determinou Jesus no chamado Sermão do Monte.

Em termos práticos para nossa vida cotidiana, significa mudarmos nossas condutas em relação a nós mesmos e aos outros. Sair da clausura material dos desejos imediatistas, perdoar aqueles que tenham agido contrariamente às nossas expectativas, relevar atos e palavras desagradáveis vindos de pessoas que talvez não o façam por mal, mas por ignorância. Conhecer o Cristo é compreender o significado de todo o seu ensinamento, a fim de ser um seguidor d’Ele, sair como os Apóstolos fizeram outrora, pregando o Evangelho, mais com ações que com palavras.

Negarmo-nos a nós mesmos, silenciando nossa vaidade e nossa busca pelo destaque no mundo, tomar cada dia nossas cruzes, carregando com felicidade os fardos das provas e das expiações, e seguir após Jesus, andando nos passos dos exemplos do Messias (Mt 16.24; Mc 8.34; Lc 9.23).

Enfim, exemplificar, como Estêvão o fez na hora de seu testemunho.

 

Referências:

(1) Emmanuel, no capítulo VIII – A morte de Estêvão, do livro Paulo e Estêvão, psicografado por Francisco Cândido Xavier.

(2) Como era chamada a comunidade dos primeiros cristãos, notadamente dos Apóstolos e discípulos diretos de Jesus.

(3) Como também pode ser chamado Simão Pedro.
 
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita