ORSON PETER
CARRARA
orsonpeter@yahoo.com.br
Matão, São Paulo
(Brasil)
Liberdade
Duas edições
sequenciais da
revista Veja
(1915, de
27/07/05, e
1916, de
03/08/05,
Editora Abril)
trouxeram
entrevistas que
abordam um tema
comum: a
liberdade. Na
primeira delas,
o entrevistado é
Raúl Rivero,
considerado o
maior poeta de
Cuba, atualmente
exilado na
Espanha; a
segunda traz
entrevista com
Carmen bin Laden,
cunhada de Osama
bin Laden.
Ambos relatam
experiências
vividas nos
países
envolvidos, com
restrições à
liberdade
individual, que
podemos analisar
à luz dos
ensinamentos
espíritas.
Desconsideremos
os fatores
culturais e
temporais de
cada povo (que
influem
decisivamente
nos hábitos e
costumes) e
adiantemos que o
objetivo aqui
não é criticar
ou analisar
posturas
pessoais. O
próprio Jesus
recomendou que
não julgássemos
e efetivamente
não temos esse
direito, pois as
Leis Divinas
determinam que
cada um é
responsável pela
própria conduta
que adote. E
devemos
considerar ainda
o estágio
espiritual
divergente que
assinala os
povos e as
pessoas,
individual e
coletivamente
considerando.
Analisemos,
porém, o
assunto.
Allan Kardec
destinou um
capítulo
inteiro, o X
– Da lei de
liberdade,
integrante da
parte terceira
de O Livro
dos Espíritos,
com 47 perguntas
(825 a 872) para
abordar o
importante tema.
Das respostas
oferecidas pelos
Espíritos,
extraímos
parcialmente
alguns trechos,
a título de
estudo:
a) “É
contrária à lei
de Deus toda
sujeição
absoluta de um
homem a outro
homem (...)”
(829)
b) “O mal é
sempre o mal e
não há sofisma
que faça se
torne boa uma
ação má. A
responsabilidade,
porém, do mal é
relativa aos
meios de que o
homem disponha
para
compreendê-lo.
Aquele que tira
proveito da lei
da escravidão é
sempre culpado
de violação da
Lei da Natureza.
Mas, aí, com em
tudo, a
culpabilidade é
relativa.
Tendo-se a
escravidão
introduzida nos
costumes de
certos povos,
possível se
tornou que, de
boa-fé, o homem
se aproveitasse
dela como de uma
coisa que lhe
parecia natural.
Entretanto,
desde que, mais
desenvolvida e,
sobretudo,
esclarecida
pelas luzes do
Cristianismo,
sua razão lhe
mostrou que o
escravo era um
seu igual
perante Deus,
nenhuma desculpa
mais ele tem.”
(830)
c) “(...) os
atos que pratica
não foram
previamente
determinados; os
crimes que
comete não
resultam de uma
sentença do
destino. Ele
pode, por prova
ou expiação,
escolher uma
existência em
que seja
arrastado ao
crime, quer pelo
meio onde se
ache colocado,
quer pelas
circunstâncias
que sobrevenham,
mas será sempre
livre de agir ou
não agir
(...)”. (872)
Sugerimos aos
leitores
consultarem o
capítulo X,
acima referido,
na íntegra. Suas
47 questões
culminam no
Resumo teórico
do móvel das
ações humanas
(destaque deste
autor), mas o
capítulo analisa
ainda
Liberdade de
pensar,
Liberdade de
Consciência,
Livre-arbítrio,
Fatalidade e
Conhecimento do
Futuro. Ora,
isto envolve
crenças,
motivações,
pensamentos,
consciência,
iniciativas e
ações, num
assunto de
grandes e graves
reflexões para a
conduta
individual. E
que direito
temos para
impor, sujeitar,
constranger,
senão sob força
da Lei? Eis,
pois, o alcance
do tema,
inclusive nas
questões
internacionais.
Na Revista
Espírita*
encontramos
notáveis
referências:
a) No exemplar
de outubro de
1863, em
mensagem
assinada por
Espírito
familiar, na
mensagem
Livre-arbítrio e
Presciência
Divina,
vamos ler: “Há
uma grande lei
que domina tudo
no Universo: a
lei do
progresso. É em
virtude dessa
lei que o homem,
criatura
essencialmente
imperfeita,
deve, como tudo
quanto existe em
nosso globo,
percorrer todas
as fases que o
separam da
perfeição. (...)
Como, porém,
todo progresso
deve resultar de
um esforço
tentado para o
realizar, não
haveria nenhum
mérito se o
homem não
tivesse a
liberdade de
tomar este ou
aquele caminho.
(...) Os
infelizes expiam
sempre, tanto
uma vida
anterior mal
empregada,
quanto sua
recusa a seguir
o bom caminho,
quando este lhe
era mostrado
claramente.
Assim depende de
cada um abreviar
a prova que deve
sofrer; e, por
isto, os guias
seguros,
bastante
numerosos, lhe
são concedidos,
para que seja
inteiramente
responsável por
sua recusa de
seguir os seus
conselhos. (...)
O livre-arbítrio
existe, pois,
muito realmente
no homem, mas
com um guia: a
consciência.
(...)”
b) Por sua vez,
Allan Kardec, no
exemplo de
fevereiro de
1867, comentando
matéria
veiculada no
Libre Conscience,
assevera (em
matéria que
intitulou
Livre Pensamento
e Livre
Consciência):
“(...) Como
aquele que
concentra o
pensamento sobre
uma determinada
ordem de fatos,
que assim põe um
ponto de parada
em seus
movimentos
intelectuais, em
suas
investigações,
pode pretender
emancipar aquele
que se move sem
entraves, e cujo
pensamento sonda
as profundezas
do infinito?
Restringir o
campo de
exploração do
pensamento é
restringir a
liberdade (...).
Aquele que
acredita que uma
coisa é
vermelha, porque
a vê vermelha,
não é livre de a
julgar verde.
Desde que o
pensamento é
detido por uma
convicção
qualquer, não é
mais livre.
(...) Toda
opinião
raciocinada, que
nem é imposta,
nem encadeada
cegamente à de
outrem, mas que
é
voluntariamente
adotada em
virtude do
exercício do
raciocínio
pessoal, é um
pensamento
livre, quer seja
religioso, quer
político, ou
filosófico. Em
sua concepção
mais larga, o
livre pensamento
significa: livre
exame, liberdade
de consciência,
fé raciocinada;
simboliza a
emancipação
intelectual, a
independência
moral,
complemento da
independência
física; não quer
mais escravos do
pensamento,
quanto não os
quer do corpo,
porque o que
caracteriza o
livre-pensador é
que ele pensa
por si mesmo, e
não pelos
outros, em
outros termos,
sua opinião lhe
é própria.
Assim, pode
haver
livres-pensadores
em todas as
opiniões e em
todas as
crenças. Neste
sentido, o livre
pensamento eleva
a dignidade do
homem; ela dele
faz um ser
ativo,
inteligente, em
vez de uma
máquina de crer.
(...)”
Notável, não é
mesmo?
Dispensamos
quaisquer outros
comentários,
para concluir
com a direção
dada por aqueles
que lutam por
privar a
liberdade
alheia, em texto
apresentado pelo
próprio
Codificador, na
continuidade dos
argumentos e no
mesmo texto
acima referido,
e que contraria
toda a essência
dos ensinos de
Jesus e da
própria Doutrina
Espírita
(importante
frisar que trata
de direção dada
pelos que lutam
contra a
liberdade):
“(...) Vosso
Espírito só é
livre com a
condição de não
crer no que
quer, o que
significa para o
indivíduo: Tu és
o mais livre de
todos os homens,
com a condição
de não ir mais
longe do que a
ponta da corda a
que te amarramos
(...)”
Um autêntico
paradoxo para
nossa condição
de filhos de
Deus!
(*) Publicação
fundada por
Allan Kardec, em
1858, e por ele
dirigida até sua
desencarnação,
em 1869;
continua sendo
editada, e
atualmente em
diversos
idiomas, pelo
Conselho
Espírita
Internacional.