Responsabilidade
sexual
“(...) Quis Deus
que os seres se
unissem não só
pelos laços da
carne, mas
também pelos da
alma (...).”
(1)
Vivemos um
período difícil
na história de
nossa
civilização;
estamos
atravessando um
ponto de
mudança, de
crise, em que
ainda caminham
lado a lado, na
paisagem social,
avanços e
descompassos nas
áreas da
inteligência e
da moralidade.
Inseridos num
processo
transformador,
somos almas
atreladas a
programas
reparadores,
como, também,
criaturas que
dão vazão às
suas
inferioridades,
às paixões
descontroladas
na busca
irrefletida do
prazer,
sobretudo na
área do sexo.
Não é de graça
que a má conduta
sexual tem
ganhado estatuto
nos meios de
comunicação e o
apelo ao
intercâmbio
sexual
irresponsável
vem recebendo o
aplauso de
grande parcela
de nossa
sociedade.
A coletividade
de Espíritos que
estagiam junto
aos fluidos
terrestres está
enferma nesse
sentido e, de
fato, são raros
os que hoje ou
ontem não
desviaram as
forças criativas
do sexo em
posturas menos
dignas.
Ademais,
Emmanuel,
mediante a
psicografia de
Chico Xavier,
chega a anotar
que: “(...)
diminuta é,
ainda, no
Planeta, a
percentagem de
pessoas, em
qualquer idade
física,
habilitadas a
pensar em termos
de autoanálise,
quando o
instinto sexual
se lhes derrama
do ser”. (2)
Alguns querem
permanecer
jugulados à
sombra do
homem
velho,
repetindo
teimosamente
comportamentos
infelizes e,
cada vez mais,
insatisfatórios.
Outros, cansados
das ilusões e do
vazio
decorrente,
buscam caminhar
na direção de
rumos
libertadores,
através da
disciplina
saudável, a fim
de estarem no
controle da sua
energia sexual,
canalizando-a
alegremente, sem
culpa ou outros
transtornos
emocionais de
qualquer ordem.
Cabe ressaltar
que o sexo não é
coisa feia nem
vil, como tem
sido tratado por
aqueles que o
desenham de modo
pejorativo nos
discursos
mofados e
“igrejeiros”, ou
tão animalizado
como vivem e
apregoam os
defensores da
libertinagem,
arraigados aos
conteúdos
reducionistas do
materialismo.
As energias
criativas do
sexo,
transcendendo a
fisiologia da
aparelhagem
genésica, são
“criação
esplêndida de
Deus para
propiciar a
proliferação dos
seres vivos na
Terra, e para a
manutenção da
alegria de
viver, da
harmonia
psíquica e pela
nutrição
emocional a que
as trocas
hormonais do
sexo dão azo!”
(3)
Em face do
sofrimento
ocasionado pelo
desconhecimento
do nobre valor
do sexo e pela
confusão que se
faz entre desejo
e amor, a
revisão de
conceitos e
atitudes em
torno da
sexualidade,
aproveitando-se
o enfoque
espírita da
questão, se
configura numa
necessidade
premente.
A relação sexual
é um encontro
sagrado entre os
seres que se
unem. Nela
acontece uma
permuta
emocional,
fluídica e
hormonal que
consiste numa
verdadeira
complementação
psíquica e
física, quando
experimentada
por almas que se
amam – no
sentido profundo
do termo –,
gerando
bem-estar e
contentamento
interior em cada
parceiro. Dada a
sua gravidade,
precisa ser
considerada
parte da
realização
afetiva e não a
sua única razão.
Então, a
interação sexual
deve ser
compreendida
como elemento
resultante de
uma afeição
madura,
estabelecida a
partir da
convivência
regida pelo
amor, onde
aqueles que
estão vinculados
já se conhecem
bem,
compartilham as
suas histórias
de vida e se
comprometem com
a felicidade um
do outro.
Na convivência
amorosa – em
virtude de
nossas
conquistas
evolutivas no
campo do
sentimento –
surge a
atitude de
cuidado que
lhe é inerente.
E, sendo o
cuidado também
uma
característica
essencial do
Espírito, pode
ser significado
como “a
atitude de
desvelo, de
solicitude e de
atenção para com
o outro”, ou
ainda, “de
preocupação e de
inquietação,
porque a pessoa
que tem cuidado
se sente
envolvida e
afetivamente
ligada ao
outro”. (4)
Mas, no
“ilusionismo” da
sociedade
consumista,
internalizamos
seu modus
operandi,
inclusive na
vida conjugal e
no âmbito
familiar,
descuidando-nos
daquela pessoa
que está ao
nosso lado,
comungando a
existência
conosco.
Em geral, não
dialogamos,
gritamos e
sequer ouvimos
atentamente o
outro, passando
a perder o elo
de comunicação
com o nosso par.
Assim,
produzimos
distanciamento
afetivo, solidão
e sofrimento,
quando
deveríamos falar
a linguagem do
verdadeiro amor,
via escuta
profunda e fala
amável,
objetivando
edificar o
entendimento e a
paz no lar.
Egoisticamente,
queremos
carinho,
abnegação e
prazer, o que é
compreensível
até certo
limite.
Entretanto, o
bom senso nos
orienta que a
felicidade mora
no coração
daquele que
procura fazer o
outro feliz,
anulando, pouco
a pouco, as
exigências do
ego infantil,
amadurecendo
espiritualmente
na medida em que
se entrega a um
relacionamento
orientado pelos
valores éticos
sedimentados na
própria
consciência.
Amando-se, o
casal é capaz de
estender esse
amor aos filhos
e de aprender,
na renúncia que
a convivência
familiar
suscita, ou
seja, a caridade
na sua
modalidade
doméstica.
Atendendo aos
desafios da vida
em família,
educamo-nos uns
aos outros e
descobrimos o
amor em função
do sacrifício
sistemático dos
desejos
animalizados, na
promoção do
carinho, do
respeito e da
solicitude que a
co-existência
nos leva a
empreender pelos
nossos entes.
Responsabilidade
sexual é
diretriz de
felicidade que
pode ser
alcançada no
momento em que
abrimos mão da
sensualidade e
do desequilíbrio
para vivermos o
amor, a
disciplina e o
cuidado.
Desse modo,
observemos a
necessidade de
alicerçarmos as
ligações
afetivas no
reconhecimento
da nossa
verdadeira
natureza
espiritual, no
mútuo apoio, na
ausência de
dominação e na
mais manifesta
gratidão.
Referências:
(1) O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
Cap. XXII, item
3.
(3) TEIXEIRA, J.
Raul. Nos
passos da vida
terrestre. Pelo
Espírito Camilo.
Niterói, RJ:
Fráter Livros
Espíritas, 2005,
p. 120.
(4) BOFF,
Leonardo.
Saber cuidar:
ética do humano
– compaixão pela
Terra.
Petrópolis, RJ:
Vozes, 1999, p.
92.
O
autor é
educador,
escritor e
palestrante
espírita
residente em
Porto Alegre
(RS).