RENATO COSTA
rsncosta@terra.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
Por que sentem
dor
os animais
Há uma questão
que deixa vários
irmãos e irmãs
espíritas
intrigados, por
mais que sejam
estudiosos
dedicados da
Codificação. É o
porquê de
animais,
particularmente
os domésticos
que convivem com
o homem,
passarem às
vezes por tanto
sofrimento.
Nem os
estudiosos
espíritas nem os
cientistas que
estudam os
animais viram
até hoje
qualquer
evidência
apontando para a
existência neles
de consciência
moral. Os
animais
superiores,
aqueles que
estão mais
adiantados na
senda evolutiva,
já possuem uma
forma de
consciência do
eu, segundo as
experiências
feitas com
algumas espécies
de primatas,
cetáceos e aves
têm demonstrado.
Mesmo essa
consciência do
eu, no entanto,
talvez não seja
tão complexa
quanto à do
homem, que
possui a chamada
“teoria da
mente”, que, em
poucas palavras,
é essa
habilidade que
temos de
reconhecer nos
outros a mesma
consciência que
sabemos existir
em nós,
permitindo que
nos comportemos
de modo
compatível com
aquilo que nossa
mente informa
sobre a mente
alheia. Os
estudiosos não
dizem que os
animais
superiores por
eles estudados
não possuam tal
estágio de
consciência do
eu, mas
reconhecem ainda
não ter idéia de
como fazer tal
avaliação.
Um terceiro
estágio da
evolução da
consciência é a
consciência
moral, a
capacidade de
julgar se
determinada ação
é certa ou
errada de acordo
com as leis de
Deus, também
entendidas como
as leis da
natureza.
Segundo se
depreende da
Codificação e de
obras
subsidiárias, a
conquista da
consciência
moral ocorre
quando a alma
entra no reino
hominal, o que
está de acordo
com o estágio de
conhecimento da
ciência, apesar
do uso de
linguagens
diferentes
utilizadas para
descrever o
fato. Na Bíblia,
a conquista da
consciência
moral é descrita
no mito de Adão
e Eva, quando o
casal primevo
come do fruto da
árvore da
ciência do bem e
do mal. Ora,
consciência
moral é
justamente a
ciência do bem e
do mal. A
alegoria bíblica
pode ser
entendida,
portanto, como
um relato de
como as almas
que habitavam o
Éden da
ingenuidade
alcançaram a
consciência
moral,
ingressando no
reino hominal e,
assim, se
sujeitaram à Lei
da Causalidade.
Ora, partindo-se
da premissa de
que os animais
não têm
consciência
moral, isto é, o
conhecimento do
bem e do mal, é
forçoso concluir
que eles não são
responsáveis
pelos seus atos.
Sendo assim,
eles não estão
sujeitos à Lei
da Causalidade
(Causa e Efeito)
e, por
conseguinte, um
deles não pode
estar, ao
sofrer,
resgatando, por
exemplo, a morte
que causou em
outros animais
para se
alimentar.
Antes de nos
aprofundarmos na
questão,
gostaríamos de
deixar claro uma
diferença que
passa
despercebida por
muita gente. Que
os animais na
natureza sintam
dor, no sentido
restrito do
termo, disso não
há a menor
dúvida. Dor, em
seu sentido
restrito, é um
efeito físico
que serve para
alertar o animal
de que algo está
errado em alguma
parte do seu
corpo, exigindo
dele cuidados
especiais com
essa parte que é
a fonte da dor.
A dor incomoda e
todo animal faz
o possível para
se livrar dela.
Sofrimento, por
outro lado, é um
efeito
emocional.
Assim, quando
falamos de dor
em um ser
humano, sempre
associamos à dor
a idéia de
sofrimento,
dando ao termo
dor um sentido
mais amplo. Na
verdade, porém,
o único “animal”
que conhecemos
um pouco melhor
é o ser humano
e, por isso,
temos a
tendência de
interpretar o
comportamento
das espécies
animais com base
naquilo que
conhecemos de
nós mesmos.
Quando sentimos
dor, nosso rosto
se contrai,
nosso corpo se
contorce, nossa
testa se enruga,
os olhos se
entristecem.
Esses mesmos
sintomas sendo
por nós
percebidos em um
animal,
imediatamente
nos fazem
concluir que o
mesmo está
sofrendo. Mas
será que ele
sofre do mesmo
modo que nós?
Saber se um
animal sofre ou
não é uma
questão complexa
e que os
profissionais
que estudam as
diversas
espécies animais
pesquisam com
interesse, sem
terem, até hoje,
chegado a
qualquer
conclusão
definitiva.
Mesmo sem
estarmos certos
quanto ao que
sente o animal
com a dor, ainda
nos resta
entender a razão
da dor sofrida
por um animal. A
única resposta
que nos vem à
mente é
“aprendizado”, a
eterna resposta
para as
dificuldades da
vida.
Tendo em mente
que o objetivo
da dor é
aprendizado,
podemos daí
depreender que,
ao sentir dor ou
ao ter uma parte
do corpo
inabilitada, o
animal está
desenvolvendo
suas emoções,
aprendendo a
lidar com
limitações,
preparando-se
para seu porvir
no reino
hominal. Uma
comparação que
nos ocorre é com
a vida
profissional
como a
conhecemos.
Seria justo que
o CRM (Conselho
Regional de
Medicina), por
exemplo,
cobrasse
responsabilidade
profissional ao
estudante do
primeiro ou
segundo ano do
curso de
Medicina ou que
o CREA (Conselho
Regional de
Engenharia,
Arquitetura e
Urbanismo) o
fizesse ao
estudante do
primeiro ou
segundo ano de
Engenharia? É
certo que não.
Com base nessa
comparação, é
fácil ver que
não é justo que
as Leis de Deus
cobrem
responsabilidade
aos animais, que
estão apenas
aprendendo a
lidar com suas
emoções. Por
melhores e mais
adiantados que
sejam, ainda são
alunos e, como
tal, devem ser
tratados.
Levando adiante
nossa
comparação,
veremos que ao
estudante de
Medicina ou
Engenharia é
dada a
oportunidade de
estágio onde,
sem
responsabilidade
profissional
pelo que faz,
lhe é dado
exercer algumas
funções dos
profissionais
formados, sob a
supervisão
destes, a fim de
se preparar para
o exercício
pleno e
responsável que
se espera dele
após a
formatura.
Assim, como
nenhum
profissional
liberal se forma
sem ter feito
estágio, não é
de se esperar
que uma alma
entre no reino
hominal sem ter
antes estagiado
em experiências
similares às que
viverá mais
tarde,
desenvolvendo
habilidades
básicas de como
se comportar
durante elas.
O amigo leitor
pode perguntar,
nesse ponto, por
que um animal
específico pode
ser submetido à
dor mais que um
outro da mesma
espécie e da
mesma raça, às
vezes mesmo da
mesma família
nuclear. A
resposta é
simples: porque
as espécies
animais mais
evoluídas já
estão
individualizadas.
Cada cão, gato
ou cavalo é um
indivíduo, em
estágio
específico de
evolução,
necessitando,
portanto, de
experiências
próprias, não
necessariamente
iguais às de que
necessitam seus
pares.
Por ora, cremos
ser o que se
pode afirmar
sobre o assunto.
Esperemos os
avanços da
ciência em seus
estudos sobre o
comportamento
animal para que
novas
informações nos
permitam melhor
entendimento
sobre a questão
em pauta. Até
lá, estejamos
certos de que
nada,
absolutamente
nada, na
natureza ocorre
sem um
propósito. Desse
modo, onde quer
que vejamos uma
ocorrência cuja
razão de ser nos
escape, saibamos
que isso se deve
apenas à nossa
ignorância.