MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Obreiros da Vida Eterna
(Parte 10)
André Luiz
Damos continuidade ao
estudo da obra
Obreiros da Vida Eterna,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e publicada em 1946 pela
editora da Federação
Espírita Brasileira, a
qual integra a série
iniciada com o livro
Nosso Lar.
Questões preliminares
A. Que fato impressionou
a André ao visitar
Cavalcante num dos
hospitais da Crosta?
R.: Impressionou a André
o fato de ser aquele
hospital defendido por
grandes turmas de
trabalhadores
espirituais. Havia ali
tanta atividade por
parte dos encarnados,
como por parte dos
desencarnados. A maioria
dos leitos ocupados
mostrava o doente e as
entidades espirituais
que o rodeavam, umas em
caráter de assistência
defensiva, outras em
acirrada perseguição.
(Obreiros da Vida
Eterna, cap. 11, pp. 181
a 184.)
B. Que instituição era
dirigida por Adelaide e
qual a sua função no
trabalho a ser
desenvolvido por
Jerônimo e seus pupilos?
R.: Era uma instituição
espírita que abrigava
numerosas criancinhas e
onde se sediava compacta
legião de trabalhadores
desencarnados. Aquele
instituto de amparo à
criança era vasto
celeiro de bênçãos e
constituiria um ponto de
apoio importante para o
trabalho a ser realizado
por Jerônimo e André.
Encontrava-se ali um dos
raros edifícios da
Crosta sem criaturas
perversas da esfera
invisível. (Obra
citada, cap. 11 e 12,
pp. 184 a 189.)
C. Ao explanar para
André e seus
companheiros quais os
objetivos da instituição
dirigida por Adelaide,
que lições lhes
transmitiu Irene a
respeito do trabalho que
devemos realizar no
campo da benemerência
social?
R.: Primeiro, Irene
explicou que aquela obra
não se dedicava
exclusivamente às
necessidades do estômago
e do intelecto da
infância desamparada. "Os
imperativos da
evangelização
preponderam aqui sobre
os demais", disse
Irene, e essa deve ser a
finalidade principal das
instituições de igual
natureza. "Para
infundir espiritualidade
superior à mente humana
urge aproveitar
realizações como esta,
já que é muito difícil
obter espontâneo
arejamento da esfera
sentimental. Valemo-nos
da casa, venerável em
seus fundamentos de
solidariedade cristã,
como núcleo difusor de
idéias salutares. A
fundação é muito mais de
almas que de corpos,
muito mais de
pensamentos eternos que
de coisas transitórias.
O diretor, o cooperador
e o abrigado, recebendo
as responsabilidades
inerentes ao programa de
Jesus, instintivamente
se convertem nos
instrumentos vivos da
Luz de Mais Alto.
Satisfazendo
necessidades corporais,
solucionamos problemas
espirituais.
Entrelaçando deveres e
dividindo-os com os
nossos irmãos
encarnados, no setor de
assistência, conseguimos
criar bases mais sólidas
à semeadura das verdades
imorredouras",
acrescentou a
colaboradora espiritual
da casa. Concluindo,
Irene disse: "Como
vêem, a luz divina
prevalece sobre a
benemerência humana,
porque esta, sem aquela,
pode muitas vezes
degenerar em
personalismo devastador,
compreendendo-se,
todavia, em qualquer
tempo, que a fé sem
obras é irmã das obras
sem fé". (Obra
citada, cap. 12, pp. 189
a 191. )
Texto
para leitura
69. Conseqüências
da deficiência na
educação da fé -
André Luiz aplicou
passes de reconforto em
Albina, observando-lhe a
insuficiência cardíaca,
oriunda de aneurisma em
condições ameaçadoras.
Foi então que bondosa
entidade assomou à
porta: era uma amiga
dedicada que vinha velar
à cabeceira e que, ao
ver Jerônimo, informou
existir forte pedido de
prorrogação em favor da
enferma. Havia razões
ponderosas para que
Albina fosse amparada
convenientemente, a fim
de permanecer com a
família consangüínea por
mais alguns meses. O
grupo dirigiu-se, em
seguida, a um
movimentado hospital,
onde se encontrava
internado o irmão
Cavalcante, espírito
abnegado e valoroso nos
serviços do bem ao
próximo, procedente
também da colônia "Nosso
Lar". Filiado às lides
católicas, Cavalcante
tinha à cabeceira a
companhia de Bonifácio,
excelente companheiro
espiritual, que ajudava
o doente. Impressionou a
André o fato de ser
aquele hospital
defendido por grandes
turmas de trabalhadores
espirituais. Havia ali
tanta atividade por
parte dos encarnados,
como por parte dos
desencarnados. A maioria
dos leitos ocupados
mostrava o doente e as
entidades espirituais
que o rodeavam, umas em
caráter de assistência
defensiva, outras em
acirrada perseguição.
Cavalcante possuía
grande círculo de amigos
pelos seus dotes morais.
Sua existência, cheia de
belos sacrifícios,
falava diretamente ao
coração. Ali se
encontrava, junto dos
filhos da indigência,
abandonado da parentela,
em virtude de suas
idéias de renúncia às
riquezas materiais; mas
não se achava
desamparado pela Divina
Misericórdia. André
fez-lhe aplicações
magnéticas e observou,
além da ulceração
duodenal, a inflamação
adiantada do apêndice,
quase a romper-se. O
dedicado servidor do
bem, apesar de suas
elevadas qualidades
morais, tinha
dificuldade para
manter-se tranqüilo, em
vista dos parentes
desencarnados que o
assediavam de modo
incessante. Como não se
preparara
convenientemente para
libertar-se do jugo da
carne, sofria muito
pelos exageros da
sensibilidade, mantendo
o pensamento
excessivamente ligado
com aqueles a quem
amava, embora o abandono
a que fora votado.
Semelhante situação
dificultava os esforços
dos protetores, informou
Bonifácio, com o que
concordou Jerônimo. "A
deficiência de educação
da fé, ainda mesmo nos
caracteres mais
admiráveis, origina
deploráveis
desequilíbrios da alma,
em circunstâncias como
esta", esclareceu o
Assistente. (Cap. 11,
pp. 181 a 184)
70. Bezerra de
Menezes ali estava, em
pessoa - Dali, o
grupo rumou a um
confortável edifício, em
que se abrigavam
numerosas criancinhas,
em nome de Jesus.
Tratava-se de louvável
instituição
espiritista-cristã, onde
se sediava compacta
legião de trabalhadores
desencarnados. Bondoso
ancião recebeu-os
afavelmente. André logo
o reconheceu. Era
Bezerra de Menezes, o
dedicado irmão dos que
sofrem, em pessoa.
Bezerra abraçou-os, um a
um, e contou que já
esperava a comissão,
informando que Adelaide
não daria nenhum
trabalho, devido ao seu
preparo espiritual. "O
ministério mediúnico, o
serviço incessante em
benefício dos enfermos,
o amparo materno aos
órfãos nesta casa de
paz, aliados aos
profundos desgostos e
duras pedradas que
constituem abençoado
ônus das missões do bem,
prepararam-lhe a alma
para esta hora...",
esclareceu Bezerra, que
conduziu o grupo a um
compartimento modesto,
onde a médium repousava.
Não havia no quarto
nenhum irmão encarnado;
contudo, duas jovens
cercadas de prateada luz
permaneciam ali,
acariciando-a. Adelaide,
segundo Bezerra de
Menezes, "sempre foi
leal discípula do Mestre
dos Mestres. Apesar das
dificuldades, dos
espinhos e aflições,
perseverou até o fim".
A digna senhora entrou
em oração. De sua mente
equilibrada, emanavam
raios brilhantes. Não
enxergou os visitantes
espirituais a seu lado,
exceção de Bezerra de
Menezes, a quem se unia
por sublimes cadeias do
coração. O médico dos
pobres saudou-a, afável
e bondoso,
endereçando-lhe palavras
reconfortantes e
carinhosas. Adelaide lhe
disse saber que chegara
ao termo da jornada e
que estava pronta, mas
não pôde continuar,
porquanto profunda
emoção embargou-lhe a
voz e copioso pranto
começou a brotar-lhe dos
olhos encovados. Bezerra
acomodou-se junto dela,
com intimidade paternal,
afagou-lhe com a destra
a fronte abatida e
falou, otimista: "Já
sei. Você pensa nos
parentes, nos amigos,
nos orfãozinhos e nos
trabalhos que ficarão.
O' Adelaide! compreendo
seu devotamento materno
à obra de amor que lhe
consumiu a vida.
Entretanto, você está
cansada, muito cansada e
Jesus, Médico Divino de
nossa alma, autorizou o
seu repouso. Confie a
Ele as penas que lhe
oprimem o espírito
afetuoso. Deponha o
precioso fardo de suas
responsabilidades em
outras mãos, esvazie o
cálice de sua alma,
alijando amarguras e
preocupações. Converta
saudades em esperanças e
desate os elos mais
fortes, atendendo a
ordem divina".
Adelaide pousou os olhos
no benfeitor,
revelando-se confortada
e, após breve pausa,
Bezerra prosseguiu: "Sua
grande batalha está
terminando. Você é
feliz, minha amiga,
muito feliz, porque seu
Espírito virá
condecorado de
cicatrizes, depois de
resistir ao mal durante
muitos anos, como
sentinela fiel, na
fortaleza da fé viva...
Ensinou aos que lhe
cercaram o caminho todas
as lições do bem e da
verdade possíveis ao seu
esforço... Entregue
parentes e afeições a
Jesus e medite, agora,
na Humanidade, nossa
abençoada e grande
família". E o
inolvidável campeão do
Evangelho concluiu: "Quanto
aos serviços confiados
por algum tempo à sua
guarda, estão
fundamentalmente afetos
ao Cristo, que
providenciará as
modificações que julgue
oportunas e necessárias.
Baste a você o júbilo do
dever bem cumprido.
Arregimente, pois, as
suas forças e não se
entristeça, porque é
chegado para seu coração
o prélio final...
Coragem, muita coragem e
fé!" (Cap. 11, pp.
184 a 186)
71. Uma
instituição sem
entidades perversas
- Jerônimo sediara a
tarefa do grupo na Casa
Transitória de Fabiano,
deliberando, porém, que
as atividades
desenvolvidas na Crosta
tomassem como ponto de
referência o lar
coletivo de Adelaide,
onde os fatores
espirituais eram mais
valiosos. De fato,
aquele instituto de
amparo à criança era,
sem dúvida, vasto
celeiro de bênçãos.
Diversas entidades
amigas operavam na
instituição, prestando
assistência e cuidados.
Encontrava-se ali um dos
raros edifícios da
Crosta, de tão largas
proporções, sem
criaturas perversas da
esfera invisível.
Semelhando-se à Casa
Transitória, a
vigilância funcionava
severa. André observara
que vários sofredores,
imbuídos de bons
sentimentos, penetravam
o asilo com prévia
autorização. Em todos os
compartimentos havia luz
espiritual, indicando a
abundância de
pensamentos salutares e
construtivos de todas as
mentes que ali se
entrelaçavam na mesma
comunhão de ideal. Ao
visitar a sala das
reuniões populares,
Irene, uma das
colaboradoras
desencarnadas da casa,
explicou que aquele
recinto era o lugar do
abrigo que exigia dos
Espíritos o serviço mais
árduo. Terminadas as
reuniões, as entidades
realizavam minuciosas
atividades de limpeza,
porquanto se fazia
imprescindível isolar os
colaboradores da tarefa
no bem de certos
princípios destruidores
ou dissolventes
decorrentes das
emanações mentais e dos
pedidos silenciosos das
pessoas que ali
participavam das
reuniões públicas. O
grupo de colaboradores
espirituais, que se
revezavam dia e noite,
em turmas alternadas,
era muito grande. Havia
ali seções de
assistência aos adultos
e às criancinhas. André
ficou intrigado. "Tanta
gente a contribuir,
apenas no sentido de
amparar algumas dezenas
de crianças
desfavorecidas no campo
material?",
perguntou a si mesmo,
fazendo um paralelo
entre o instituto de
Adelaide e a Casa
Transitória de Fabiano.
Ora, a cada dirigida na
erraticidade por Zenóbia
atendia a infelizes
desencarnados, para os
quais a caridade
constituía lâmpada
acesa, indispensável à
transformação interior.
Ali, porém, ele via
apenas criaturinhas
tenras que reclamavam de
imediato, acima de
qualquer outra medida,
leite e pão, primeiras
letras e bons conselhos.
Valeria, assim, o
dispêndio de tanta
energia por parte dos
Espíritos? (Cap. 12, pp.
187 a 189)
72. Não basta dar
o pão material -
Irene parece ter ouvido
as reflexões de André
Luiz, porque passou a
explicar ao grupo que
aquela obra não se
dedicava exclusivamente
às necessidades do
estômago e do intelecto
da infância desamparada.
"Os imperativos da
evangelização
preponderam aqui sobre
os demais", disse
Irene. "Para infundir
espiritualidade superior
à mente humana urge
aproveitar realizações
como esta, já que é
muito difícil obter
espontâneo arejamento da
esfera sentimental.
Valemo-nos da casa,
venerável em seus
fundamentos de
solidariedade cristã,
como núcleo difusor de
idéias salutares. A
fundação é muito mais de
almas que de corpos,
muito mais de
pensamentos eternos que
de coisas transitórias.
O diretor, o cooperador
e o abrigado, recebendo
as responsabilidades
inerentes ao programa de
Jesus, instintivamente
se convertem nos
instrumentos vivos da
Luz de Mais Alto.
Satisfazendo
necessidades corporais,
solucionamos problemas
espirituais.
Entrelaçando deveres e
dividindo-os com os
nossos irmãos
encarnados, no setor de
assistência, conseguimos
criar bases mais sólidas
à semeadura das verdades
imorredouras",
acrescentou a
colaboradora espiritual
da casa. Com efeito, as
demais escolas
religiosas possuem as
suas instituições de
assistência e amparo; no
entanto, aí as
concepções espirituais
não se desenvolvem,
acanhadas que ficam nos
moldes tirânicos dos
dogmas obsoletos. O
trabalho se limita,
pois, na maioria dos
casos, ao fornecimento
de pão efêmero. Essas
organizações baseiam-se,
quase sempre, "mais
na letra dos conceitos
evangélicos que nos
conceitos evangélicos da
letra...", acentuou
Irene. (Cap. 12, pp. 189
e 190)
73. Fé sem obras é
irmã das obras sem fé
- Irene reconhecia que
os serviços dos
aprendizes do Evangelho,
nos variados campos
religiosos, são
respeitáveis, se levados
a efeito pelo
devotamento do coração.
Mas, ela pretendia
destacar, com sua
observação, os valores
iluminativos desses
serviços, lembrando que,
nos primórdios da obra
cristã, não faltavam
providências da política
imperial de Roma a fim
de que os famintos e
esfarrapados recebessem
trigo e agasalho e até
mesmo preceptores
seletos, filiados a
famosos centros
culturais de gregos e
egípcios. Porém, no
intuito de incentivar a
obra de legítima
iluminação do espírito,
Simão Pedro e os
companheiros de
apostolado obrigaram-se
a longo programa de
socorro aos infortunados
de toda sorte. Nem todos
os seguidores do
Evangelho procediam das
altas camadas sociais do
Judaísmo, como Gamaliel.
"A maioria dos
necessitados entraria em
contacto com Jesus
através da sopa humilde
ou do teto acolhedor.
Lavando leprosos,
tratando loucos,
assistindo órfãos e
velhinhos desamparados,
os continuadores do
Cristo davam trabalho a
si próprios,
dedicavam-se aos
infelizes,
esclarecendo-lhes a
mente, e ofereciam
lições de substancial
interesse aos leigos da
fé viva", esclareceu
Irene, que completou: "Como
não ignoram, estamos
fazendo no Espiritismo
evangélico a
recapitulação do
Cristianismo". Padre
Hipólito, que a tudo
ouvia com interesse,
aprovou o que a
colaboradora
desencarnada dissera: "Sim,
inegavelmente;
precisamos estimular a
formação de serviços que
libertem o raciocínio
para vôos mais altos".
Irene, retomando a
palavra, prosseguiu: "Dentro
de nosso esforço, o
imperativo primordial
consiste na iluminação
do espírito humano com
vistas à eternidade.
Urge, no entanto,
compreender que, para a
obtenção do desiderato,
é imprescindível `fazer
alguma coisa'. Onde
todos analisam, admiram
ou discutem, não se
levantam obras úteis
para atestar a
superioridade das
idéias. Por isso, nossos
Mentores da Vida Divina
apreciam o servo pela
dedicação que manifeste
à responsabilidade. O
necessitado, o
beneficiário, o crente e
o investigador virão
sempre aos nossos
centros de organização
da doutrina. E toda vez
que exercitem o serviço
cristão pela mediunidade
ativa, pela assistência
fraterna, pelos
trabalhos de
solidariedade comum,
quaisquer que sejam,
apresentam caracteres
mais positivos de
renovação, porque a
responsabilidade na
realização do bem,
voluntariamente aceita,
transforma-os em traços
animados entre dois
mundos – o que dá e o
que recebe". "Como
vêem" – concluiu
Irene – "a luz divina
prevalece sobre a
benemerência humana,
porque esta, sem aquela,
pode muitas vezes
degenerar em
personalismo devastador,
compreendendo-se,
todavia, em qualquer
tempo, que a fé sem
obras é irmã das obras
sem fé". (Cap. 12,
pp. 190 e 191)
(Continua no próximo
número.)