(1ª Parte)
O objetivo deste
trabalho é fazer
uma análise da
obra mediúnica
do médium
Wanderley Soares
de Oliveira
(foto),
atribuída a
Espíritos
supostamente
denominados como Ermance Dufaux,
Bezerra de
Menezes, Cícero
Pereira e
outros,
demonstrando as
razões pelas
quais
não referendamos
a referida obra,
uma posição
endossada e
levada ao
Conselho
Federativo
Nacional pela
Federação
Espírita do
Estado de Mato
Grosso.
O nosso intuito
não é o de
denegrir o
trabalho de
ninguém, mas o
de
auxiliar
o esclarecimento
do
Movimento Espírita acerca de um dos processos
de mistificação
dos
mais
bem
urdidos
|
|
nos
últimos
tempos com
o
intuito
de
prejudicar
o
movimento,
mormente
o de unificação,
em conformidade
com as
finalidades da
FEEMT,
estabelecido no
artigo 2º. de
seu estatuto
social. |
Nos
últimos anos
vem ganhando
campo
no Movimento
Espírita
um movimento
denominado “atitudes
de
amor”
lançado através do médium Wanderley
S. de
Oliveira,
cujo
objetivo é
supostamente
renovar o movimento
espírita pelas práticas
do
amor.
Um
movimento assim
seria
muito
nobre
se
não
escondesse no seu bojo a sua real
destinação,
que
é de denegrir o movimento de unificação
e
tornar
as
atividades
mediúnicas
realizadas
nos Centros Espíritas
uma
prática
destituída da
análise
pelo bom senso como nos ensinou Allan Kardec.
Analisamos
três obras
do referido
médium:
“Seara Bendita”,
“Reforma Íntima sem
Martírio” e
“Lírios de
Esperança”
para corroborar a tese que apresentamos acima.
Esse
movimento começa
a
partir
do
lançamento
da
obra
“Seara Bendita”,
que, além do médium Wanderley Soares de Oliveira, traz a
parceria
de Maria José S.
de Oliveira.
Trata-se de uma
obra
com
47
mensagens
assinadas por vários Espíritos, além
de
um
apêndice
que traz outras 10
mensagens,
incluindo uma
que
tem por título “Atitude de Amor”, que posteriormente
foi
lançada
separadamente
num opúsculo. Desta mensagem
surgiu a
idéia
desse movimento.
Os
supostos autores
espirituais tomam o nome de pessoas que,
quando
encarnados,
tiveram
relação direta ou indireta com o movimento de unificação
seja na
Federação
Espírita
Brasileira, dos
quais
seis deles teriam sido supostamente seus
ex-presidentes,
além de
outros
pertencentes à
União
Espírita
Mineira.
O
que chama
muita atenção
do
leitor
é
que
todas as
mensagens,
mesmo
assinadas
por
35
diferentes
Espíritos,
apresentam o
mesmo estilo literário,
fato que
por si
só demonstra o
seu
caráter mistificador. Os
supostos
Espíritos usam os
mesmos
chavões, repetindo-se o mesmo tema
várias
vezes,
como
técnica típica
da
chamada
“lavagem
cerebral”. Todas
elas
apresentam
sofismas
de modo a melhor enganar.
Vamos
nos reportar
a uma
mensagem
especificamente,
considerada
mais
importante
de todas
pelos
autores,
aquela
que
é assinada por Cícero Pereira, que
faz uma
reportagem de
uma
suposta palestra para 5.000 Espíritos, encarnados
e desencarnados,
atribuída a Dr.
Bezerra
de Menezes,
realizada na
noite após o encerramento do Congresso
Espírita Brasileiro em Goiânia em
1999.
Analisemos
alguns trechos:
“Os primeiros
setenta anos do
Espiritismo
constituíram o
período da
consagração das
origens e das
bases em que se
assentam a
Doutrina, que
lhe conferiram
legitimidade.
Heróis da
tenacidade e
fibra moral,
dispostos a
imolar-se pela
causa, venceram
o preconceito do
tempo e a
pressão da
inferioridade
humana no
resguardo e
defesa da
empreitada de
Allan Kardec. O
último lance que
delimitou esse
período foi o
Congresso
Internacional de
Espiritismo
realizado em
Paris (3), onde
o arauto do bem,
Léon Denis,
suportou a
lâmina sutil da
mentira e
consolidou o
perfil
definitivo do
Espiritismo como
Doutrina dos
Espíritos,
eximindo-a de
desfigurações
que em muito
prejudicariam
sua feição
educativa e
conscientizadora.
O
segundo
período de mais
setenta
anos,
que
coincide
com
o
fechamento
do
século
e do
milênio,
foi o
tempo
da
proliferação.
Uma
idéia
universal
jamais poderia
ficar confinada a grupos
de
estudo
ou
experimentos da fenomenologia mediúnica
de
materialização;
fazia-se
necessária
a
intensificação dos
conhecimentos
dentro de um
crescimento ordenado
e
defensivo
na
elaboração
de
um
perfil
filosófico.
Eis
o
mérito
das
entidades
promotoras da unificação e da multiplicação
de
centros
espíritas.
Sob o regime
de
controle
e
zelo
foram
predicados
os
seus
objetivos
primaciais.
A
literatura
subsidiária
provocou o
questionamento,
a discussão, o estudo, e
com
isso
o
aprendizado
dilatou-se.
A
primeira
etapa consagrou o
Espiritismo
como ideário do bem,
atraindo a
simpatia
e superando o preconceito; a segunda
ensejou a
difusão.
Penetramos agora o terceiro
portal de mais
setenta
anos,
etapa
na
qual
pretende-se a maioridade das idéias
espíritas”
Causa
muita estranheza
um Espírito
da
categoria
de Dr.
Bezerra
de Menezes
falando de
períodos estanques. Isso
não é típico
de
Espíritos
Superiores
que sabem que
o
tempo
é
relativo.
Além da falácia
da delimitação
do
tempo,
as definições dos períodos
não correspondem à
realidade
e é
claro
que
Dr.
Bezerra
como
um dos
orientadores
do
movimento
espírita
mundial sabe
disso.
Por
exemplo, o
segundo
período chamado de “tempo
da
proliferação”,
no
que
tange ao
mundo,
aconteceu exatamente o oposto. Sabe-se
que
na Europa
existiam centenas de Centros
Espíritas, que
em sua
maioria desapareceram exatamente nesse período. Somente no Brasil houve uma proliferação
de
Centros
Espíritas,
mesmo assim
de
maneira
ainda
muito incipiente
na
maioria
das
regiões
do
País.
Vejamos mais um trecho: “A diversidade é uma realidade
irremovível da
Seara e
seria
utopia
e
inexperiência
tratá-la como “joio”. Imprescindível propalar a idéia do ecumenismo
afetivo entre
os
seareiros,
para
que a cultura
da
alteridade
seja disseminada
e praticada no
respeito
incondicional
a
todos
os
segmentos.
A
atitude
de
alteridade
será o
termômetro
do progresso das idéias
espíritas no
movimento,
será o “trigo”
vicejante
e plenificado na
ética
da fraternidade vivida.
As
instituições
embebidas desse espírito promoverão o diálogo
franco e transparente
e construirão
através
das relações as transformações. O desafio
está lançado”.
Se uma das características do Espiritismo
é a
universalidade,
isto
é, a confirmação de idéias
novas por
diferentes
médiuns
uma
pergunta que fica sem resposta é: Por
que Dr. Bezerra
não se reporta a essas propostas de “ecumenismo
afetivo” e “cultura
da
alteridade”
na
reunião
do
Conselho
Federativo Nacional na sua
mensagem tradicional ao movimento espírita, através do médium Divaldo P.
Franco?
Já
são seis
anos desde
o
ano
2000
quando
esta
proposta
foi
lançada
no
livro
Seara
Bendita e Dr.
Bezerra
nunca a confirmou
por
Divaldo Franco,
por exemplo. Se
fossem
verdadeiras,
com
certeza já
as teria
confirmado e
conclamado o
movimento
espírita a
segui-las.
Apresenta também
muitas
perguntas
sem respostas, tais como: “A
diretriz insuperável de Jesus continua
como
roteiro de rara
oportunidade. Precisamos “conferir
poder”. Como amar o próximo? Como obter abnegação? Como
treinar a alteridade?
Comprometimento
é
difícil
para
quem? É possível
desenvolver a indulgência?
Como dialogar
em climas
adversos? Como
dialogar? O
que
é
solidariedade
e
parceria?
Como conceber
a
unificação
em
tempos de
pluralismo?
Ela é viável?
Como oferecer
essas
condições
de “poder”
aos
novos
servidores
da
causa
cristã?
Qual
o
poder
de transformação
estamos
viabilizando a homens comuns que encontram esperanças
e
alento
nos
celeiros de paz
da
casa
espírita?
Que temos feito
para que as direções abram-se ao espírito
de
simplicidade?
Que
propostas temos a
apresentar
para facilitar um tempo de aproximação pacífica entre as várias tendências
da
Seara?
Por
que é tão
importante essa
aproximação?"
Perguntas
que, na verdade,
escondem a idéia
implícita de se
questionar a
validade do
Movimento de
Unificação.
Em relação ao teor
da
mensagem
como
um todo
basta analisar
a
linguagem
intencionalmente vaga como a que se segue: “Estamos em campanha.
Campanha
pela renovação das
atitudes.
Temos
um
problema
na
Seara:
as más
atitudes.
Temos uma
solução
para a Seara: novas atitudes. Seja essa a
nossa
campanha
no
bem
pelos tempos novos a que todos somos
chamados.
Todos
aqui,
mormente os que
se acostumaram à
docilidade e
ternura
de
meu coração,
não se surpreendam
com
a
franqueza
de
minhas
palavras. Estejam
certos
que o sentimento
é o
mesmo
e
sempre
será.”,
bem
como
a
maneira
como
é reportada.
Basta
comparar
com as recebidas
por
Chico Xavier,
Yvonne A.
Pereira ou Divaldo P. Franco
para perceber que não é
verdadeiramente
de Dr.
Bezerra.
Façamos um
parêntese para
explicar sobre
essa modalidade
de linguagem. A
linguagem
intencionalmente
vaga é uma
técnica de
comunicação
utilizada para
melhor enganar,
pois a pessoa
fala de forma
vaga e cada um
imagina o que
quiser. Por
exemplo, nas
frases: Temos
um
problema na Seara:
as más
atitudes.
Temos uma solução para a
Seara:
novas atitudes.
Poderíamos
questionar que
atitudes,
especificamente,
são essas, tanto
as más, quanto
as novas.
Conforme no diz
Kardec em O
Livro dos
Médiuns o que
caracteriza um
Espírito
Superior é dizer
muito em poucas
palavras devido
a sua sabedoria.
Um Espírito
Superior como
Dr. Bezerra
jamais usaria a
linguagem
intencionalmente
vaga, que é
utilizada com o
fim de enganar e
não de
demonstrar a
real intenção do
Espírito. Os
livros do
referido médium
estão repletos
dessa linguagem,
de modo a
construir
sofismas dos
quais muitas
pessoas acabam
acreditando ser
verdades.
O Espírito que
descreve as
ocorrências,
após a
suposta
palestra, a uma
certa altura relata: “Acompanhando-nos,
discreta como
de
costume,
a
nossa
Ermance Dufaux,
que
tem sido o coração de nossas movimentações
espirituais. Constatei surpreendido que os olhos de
Bezerra dilataram-se com o aproximar de Ermance;
ele, que
sempre ensaiava
um
termo ou
outro na sua
costumeira
ternura,
emudeceu-se,
pegou as
mãos
delicadas da nossa amiga,
beijou-as e
disse: “Filha, suas mãos
representam
troféus
luminosos
da
vitória
do
Espiritismo
nascente, quando
as cedeste
para a
sublime
consecução de “O
Livro
dos
Espíritos”,
e se anseias por torná-las úteis novamente
nos serviços
do
bem,
providenciaremos
rumos
a
teus
inspirados
desejos.”
Ermance
enrubesceu e
lacrimejou,
porque
o
sentimento
elevado
de
Bezerra
lhe
havia sondado as
profundezas da
alma,
percebendo-lhe a
súplica
velada na intensa disposição de contribuir com os destinos novos
da
causa.
Ela,
num
ímpeto
generoso,
mas guardando a
típica
fleuma de uma dama
francesa,
osculou
com um fraterno afago a cabeleira do paladino, e sem
dizer uma só palavra abraçou-o incontinente,
com efusivo
amor”.
Aqui o hábil mistificador prepara
o
terreno
para
os
futuros
livros
que surgiriam
futuramente,
nos quais
provavelmente
ele
próprio
usa o nome
Ermance Dufaux,
que
neste
trecho
é mostrada
como
um
Espírito de alta
envergadura moral
diante do qual
até Dr. Bezerra
se sente
deslumbrado.
Novamente
o suposto Dr. Bezerra
parece
desconhecer
um
dado histórico,
que reporta que
a verdadeira
Ermance Dufaux
não
psicografou O
Livro
dos Espíritos inteiro,
mas apenas
parte dele com
a participação
de outras
médiuns adolescentes e que
Allan Kardec
utilizou
textos enviados por médiuns de mais
de 1.000
núcleos
espíritas
sérios para compor O Livro dos Espíritos.
Acreditamos que,
ardilosamente,
ele usa o nome
Ermance Dufaux
por
se
tratar
de
um
nome
conhecido do
movimento
espírita, do qual
não se tem muitas
referências,
a
não
ser de que ela foi uma
das
médiuns
que
recebeu algumas
questões
de O Livro dos Espíritos.
Com isso
não despertaria
futuramente
indagações sobre
o
suposto
conhecimento
psicológico que
aparentemente demonstra em suas obras.
Analisaremos a
seguir trechos
de duas outras
obras atribuídas
ao
suposto
Espírito Ermance Dufaux: “Reforma íntima sem
martírio” e
“Lírios da
Esperança”,
nos quais o hábil
mistificador
usa
de
um
psicologismo
muito
bem
urdido
para
melhor
enganar. As obras
são inteiramente
carregadas de
sofismas
e algumas frases de efeito
supostamente
superiores,
mas que
se analisadas
profundamente,
percebe-se
nitidamente o
caráter
de mistificação, pois ao lado de frases verdadeiras,
principalmente
que tratam do
amor,
traz
trechos
aberrantes,
especialmente os
que
se reportam ao
suposto
Hospital
Esperança,
conforme
veremos a
seguir:
Já no prefácio (pág. 21) do “Reforma
íntima sem
martírio”, o
Espírito
cita o Hospital Esperança e
coloca o
livro
Tormentos
da Obsessão de M. P. de Miranda, psicografia de
Divaldo P.
Franco,
como
referência para
maiores
informações.
Ao
citar a
obra
de
um
médium
consagrado o
Espírito
tem como objetivo referendar a dele, pois
se sabe
que
a
maioria
das
pessoas
não
vai
até
as
referências
para confrontar os textos, por isso faremos aqui
a comparação
entre
as obras do falso Espírito Ermance Dufaux e a
obra
de Philomeno de
Miranda.
Além dessa obra,
o Espírito usa
trechos das
obras básicas
para justificar
as suas falas de
modo a melhor
enganar.
Os livros “Reforma
íntima sem
martírio” e
“Lírios da
Esperança”
apresentam
diálogos e
características
de Espíritos
como Dr. Ignácio
Ferreira, Maria
Modesto Cravo
que também são
apresentados no
livro “Tormentos
da Obsessão”.
Perceberemos
que são
verdadeiras
caricaturas dos
Espíritos que M.
P. de Miranda
apresenta.
Outra
estranheza
é que o suposto Espírito Ermance Dufaux, que
se apresenta
como
trabalhadora do Hospital Esperança, nem sequer é
mencionado
por
Philomeno de
Miranda. Se o
Espírito
que toma esse
nome fosse verdadeiro e o seu
trabalho tivesse o vulto
que as suas
obras apresentam,
com
certeza M. P. de Miranda teria citado o
trabalho,
que
seria
desenvolvido
mais tarde
pelo médium Wanderley.
(Leia no próximo
número a segunda
parte deste
estudo.)
Alírio de
Cerqueira Filho
é coordenador de
assuntos da
família da
Federação
Espírita do
Estado de Mato
Grosso.
Participa do
movimento
espírita há 27
anos. É escritor
e expositor
espírita.
Realiza
palestras e
seminários por
todo Brasil e
Exterior. Foi
diretor do
Departamento de
Estudo e
Doutrina da
Federação
Espírita do
Estado de Mato
Grosso de 1982 a
1996, quando foi
eleito para
ocupar o cargo
de
vice-presidente
para Assuntos
Doutrinários,
tendo exercido a
função por dois
mandatos
consecutivos.
Profissionalmente,
é médico;
biólogo com
ênfase em
ecologia;
pós-graduado em
psiquiatria;
psicologia e
psicoterapia
transpessoal e
medicina
homeopática. Tem
também formação
em Terapia
Regressiva a
Vivências
Passadas e
Especialização
na Arte de
Programação
Neurolingüística.
Possui larga
experiência no
trabalho com o
psiquismo
humano, tanto
como
psicoterapeuta,
quanto como
educador
transpessoal,
experiência essa
adquirida em 19
anos de prática
clínica e nos
inúmeros cursos,
seminários e
palestras que
tem realizado ao
longo de sua
carreira.