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Estudando a série André Luiz
Ano 2 - N° 55 - 11 de Maio de 2008

MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)  

Obreiros da Vida Eterna

(Parte 11)

André Luiz

Damos continuidade ao estudo da obra Obreiros da Vida Eterna, de André Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada em 1946 pela editora da Federação Espírita Brasileira, a qual integra a série iniciada com o livro Nosso Lar.  

Questões preliminares

A. Por que não é difícil aos enfermos que se aproximam da desencarnação ausentar-se do corpo?

R.: Os que se aproximam da desencarnação, nas moléstias prolongadas, comumente se ausentam do corpo, em ação quase mecânica, o que é facilitado pelo fato de que seus familiares, cansados de vigílias, tudo fazem por rodear os enfermos de silêncio e cuidado. (Obreiros da Vida Eterna, cap. 12, pp. 191 a 195.)

B. Que é que socorre as pessoas nas supremas horas evolutivas?

R.: O que socorre as pessoas nesses momentos não é a rotulagem externa, mas a sementeira do esforço próprio nos serviços da sabedoria e do amor, que frutifica, no instante oportuno, através de providências intercessórias ou de compensações espontâneas da lei que manda entregar as respostas do Céu a cada um por suas obras. (Obra citada, cap. 12, pp. 195 a 198.)

C. Por que Dimas, embora desencarnasse antes da hora, recebeu tão alta consideração dos Benfeitores espirituais?

R.: Dimas, segundo o assistente Jerônimo, não chegou realmente a aproveitar todo o tempo prefixado, mas não era um suicida. O assistente explicou o que realmente aconteceu. Dimas não conseguira preencher toda a cota de tempo que lhe era lícito utilizar, em virtude do ambiente de sacrifício que lhe dominou os dias, na existência recém-finda. Acostumado, desde a infância, à luta sem mimos, desenvolveu o corpo, entre deveres e abnegações incessantes. Desfavorecido de qualquer vantagem material, conheceu ásperas obrigações para ganhar a intimidade com as leituras mais simples. Entregue ao serviço rude, no verdor da mocidade, constituiu a família, pingando suor no sacrifício diário. Passou a vida em submissão a regulamentos, conquistando a subsistência com enorme despesa de energia. Mesmo assim, encontrou recursos para dedicar-se aos que gemem e sofrem nos planos mais baixos que o dele. Recebendo a mediunidade, colocou-a a serviço do bem coletivo. Conviveu com os desalentados e aflitos de toda sorte. E porque seu espírito sensível encontrava prazer em ser útil e em razão dos necessitados guardarem raramente a noção do equilíbrio, sua existência converteu-se em refúgio de enfermos do corpo e da alma. Ele  perdera quase integralmente o conforto da vida social, privou-se de estudos edificantes que lhe poderiam prodigalizar mais amplas realizações ao idealismo de homem de bem e prejudicou as células físicas, no acúmulo de serviço obrigatório e acelerado na causa do sofrimento humano. Pelas vigílias compulsórias, noite adentro, atenuou-se-lhe a resistência nervosa; pela inevitável irregularidade das refeições, distanciou-se da saúde harmoniosa do estômago; pelas perseguições gratuitas de que foi objeto, gastou fosfato excessivamente e, pelos choques reiterados com a dor alheia, que sempre lhe repercutiu amargamente no coração, alojou destruidoras vibrações no fígado. A enfermidade que pôs fim aos seus dias foi, por isso, uma mera conseqüência. (Obra citada, cap. 13, pp. 199 a 203.) 

Texto para leitura

74. Os enfermos reúnem-se no instituto - A explanação de Irene encantou André Luiz, que percebeu enfim que a difusão da luz espiritual na Crosta Terrestre não é ação milagrosa, mas edificação paciente e progressiva. As casas de benemerência social, sobre as águas pesadas do pensamento humano, funcionam como grandes navios de abastecimento à coletividade faminta de luz e necessitada de princípios renovadores. "Passei a ver o estômago dos pequeninos em plano secundário, porque era a claridade positiva do Evangelho que inundava agora minhalma, convidando-me à contemplação feliz do futuro maior", disse André. Os serviços programados para a noite próxima eram inúmeros. Aqui, cuidadosas preceptoras desencarnadas reuniriam as crianças nos momentos de sono físico, em ensinos benéficos. Acolá, benfeitores diversos buscariam irmãos para experiências e dádivas preciosas, nos círculos espirituais. André revela ter refundido sua apreciação inicial, enxergando então, naquele instituto, abençoada escola de espiritualidade superior, pelo ensejo de semeadura divina que proporcionava aos missionários da luz. Já era noite fechada quando Jerônimo convocou o grupo ao serviço. Os enfermos deveriam ser trazidos à instituição espírita dirigida por Adelaide, de onde todos sairiam para a Casa Transitória de Fabiano, em excursão de aprendizado e adestramento. Luciana e Irene trariam a irmã Albina. André e padre Hipólito trariam Cavalcante, Dimas e Fábio. No trajeto, utilizando a volitação, André e o padre conversaram animadamente sobre a tarefa, que, segundo Hipólito, seria fácil. "Os que se aproximam da desencarnação, nas moléstias prolongadas, comumente se ausentam do corpo, em ação quase mecânica. Os familiares terrestres, por sua vez, cansados de vigílias, tudo fazem por rodear os enfermos de silêncio e cuidado. Desse modo, não é difícil afastá-los para a tarefa de preparação", disse o ex-sacerdote. "Geralmente, estão hesitantes, enfraquecidos, semi-inconscientes, mas nosso auxílio magnético resolverá o problema. Conservar-nos-emos nas extremidades, segurando-lhes as mãos e, impulsionados por nossa energia, volitarão conosco, sem maiores impedimentos", acrescentou Hipólito. Dimas notou desde logo a presença dos visitantes e, de mãos dadas os três, com André à frente, rumaram para o Rio de Janeiro, em busca de Fábio. (Cap. 12, pp. 191 a 193)

75. A viagem até à Casa Transitória - Fábio, sem qualquer dificuldade, ligou-se, prazeroso, à pequena caravana. Depois de deixar os dois enfermos na instituição dirigida por Adelaide, André e Hipólito foram ao grande hospital, à procura de Cavalcante. O doente mostrava-se muito aflito. Apesar de Bonifácio, ao lado dele, cooperar para desprendê-lo, Cavalcante se deixara tomar por horríveis impressões de medo, dificultando os esforços do grupo. Foi só após ingente trabalho de magnetização do vago e depois da ministração de certos agentes anestesiantes, destinados a propiciar-lhe brando sono, que Cavalcante pôde ser afastado do corpo, que ficou sob os cuidados de Bonifácio. Em poucos minutos eles já estavam no instituto, reunidos aos demais. A caravana dirigir-se-ia então à Casa Transitória de Fabiano. Dos enfermos, apenas Adelaide e Fábio revelavam consciência mais nítida da situação. Os outros titubeavam, enfraquecidos, baldos de noção clara do que ocorria. Jerônimo organizou a corrente magnética, tomando posição guiadora. Cada irmão encarnado localizava-se entre dois Espíritos: o grupo fora enriquecido com a presença de outras entidades desencarnadas amigas dos enfermos. De mãos entrelaçadas, para permutar energias em assistência mútua, a caravana utilizou intensamente a volitação, ganhando altura. Adelaide e Fábio, habituados ao desdobramento, assumiram discreta atitude de observação e silêncio. Os outros, porém, comentavam o acontecimento em altos brados: – "O' grande Deus! – exclamava Albina – estaremos nós no glorioso carro de Elias?" – "Dai-me forças, ó Pai de Misericórdia! – expressava-se Cavalcante, de alma opressa – falta-me a confissão geral! Ainda não recebi o Viático! Oh! não me deixeis enfrentar os vossos juízos com a consciência mergulhada no mal!..." ([1]) Dimas, por sua vez, balbuciava frases ininteligíveis. Atravessada a região estratosférica, a ionosfera surgia à vista de todos, apresentando enorme diferença, por causa do afluxo intenso dos raios cósmicos em combinação com as emanações lunares. Espantado, Dimas perguntou em voz alta: "Que rio é este? Ah! tenho medo! não posso atravessá-lo, não posso, não posso!" O impulso magnético inicial fornecido por Jerônimo era, no entanto, excessivamente forte para sofrer solução de continuidade, ante tão débil resistência, de modo que o grupo avançou sem recuos, alcançando, muito além, o abrigo de Fabiano, onde Zenóbia os acolheu de braços carinhosos. (Cap. 12, pp. 193 a 195)

76. Cavalcante pensa que está no céu - Em pequena sala, Gotuzo aplicou vigorosos recursos fluídicos nos cinco enfermos, que os receberam como crianças incapacitadas de imediato julgamento, exceção de Adelaide e Fábio, que estavam cônscios do fenômeno. Em seguida, Jerônimo dirigiu-se a eles, comentando: "Amigos, o concurso desta noite não se destina à cura do corpo grosseiro, posto agora a distância pelas necessidades do momento. Tentamos revigorar-vos o organismo espiritual, preparando-vos o desligamento definitivo, sem alarmes de dor alucinatória. Devo confessar-vos que, retomando o vaso físico, experimentareis natural piora de vossas sensações, agravando-se-vos a tortura, porque os remédios para a alma, na presente situação, intensificam os males da carne. Certificai-vos, portanto, de que as providências desta hora constituem ajuda efetiva à libertação. De retorno ao antigo ninho doméstico, encerrada esta primeira excursão de adestramento, encontrareis mais tristeza no terreno da Crosta, mais angústia nas células físicas, mais inquietude no coração, porque a vossa mente, no processo das recordações instintivas, terá fixado, com maior ou menor intensidade, o contentamento sublime deste instante. Preparai-vos, pois, para vir até nós; solucionai os derradeiros problemas terrestres e confiai na Proteção Divina!". Findas as explicações do Assistente, todos permaneceram à vontade. Viu-se então que as idéias que os enfermos faziam do acontecimento eram muito diversas entre si. Cavalcante, por exemplo, perguntou se ali seria o céu. André Luiz não conseguiu mudar-lhe tal idéia. Albina lembrava cenas bíblicas, em suas interpretações literais do texto sagrado. Depois de observar o nevoeiro exterior, perguntou a Luciana se aquela era a casa do Senhor, mencionada no capítulo 8 do 1o Livro dos Reis. Adelaide e Fábio oravam, felizes, mas Dimas inquiriu se aquela zona representava alguma dependência venturosa de Marte. Jerônimo aproveitou o ensejo para esclarecer que o plano impressivo da mente grava as imagens dos preconceitos e dogmas religiosos com singular consistência. A morte corpórea reintegra a criatura no patrimônio de suas faculdades superiores, mas esse trabalho não pode ser brusco, sob pena de ocasionar desastres emocionais de graves conseqüências. Urge considerar a necessidade da gradação. (Cap. 12, pp. 195 a 197)

77. A importância da sementeira do esforço próprio - O Assistente chamou a atenção de todos para um ponto importante. "Como vemos" – disse ele – "não é a rotulagem externa que socorre o crente nas supremas horas evolutivas. É justamente a sementeira do esforço próprio, nos serviços da sabedoria e do amor, que frutifica, no instante oportuno, através de providências intercessórias ou de compensações espontâneas da lei que manda entregar as respostas do Céu `a cada um por suas obras'. Todo lugar do Universo, portanto, pode ser convertido em santuário de luz eterna, desde que a execução dos Divinos Desígnios seja a alegria de nossa própria vontade". Finda a colheita de preciosos ensinamentos, os enfermos foram conduzidos pelo grupo socorrista aos leitos de origem. Fábio demonstrava infinito conforto no campo íntimo. Cavalcante acordou, no corpo físico, pensando em recorrer à eucaristia pela manhã, e Dimas, ao despertar, chamou a esposa e afirmou em voz fraca: – "Oh! como foi maravilhoso meu sonho de agora! Vi-me à beira de rio caudaloso e brilhante, que atravessei com o auxílio de benfeitores invisíveis, chegando, em seguida, a grande casa, cheia de luz!". A recordação, no entanto, findava-se aí. Estava concluída a primeira excursão de adestramento com os amigos que, dentro em breve, partiriam para o além-túmulo. André e seus companheiros voltaram então à Casa Transitória, para descansar e servir em outros setores. (Cap. 12, pp. 197 e 198)

78. O caso Dimas - Jerônimo, depois de inúmeros preparativos, articulava providências referentes à desencarnação de Dimas, cuja posição era das mais precárias. Via-se, assim, que há tempo de morrer, como há tempo de nascer. Dimas alcançara o período de renovação e, por isso, seria subtraído à forma grosseira, de modo a transformar-se para o novo aprendizado. Não fora determinado dia exato. Atingira-se o tempo próprio. André estava, todavia, curioso por saber se Dimas desencarnaria em ocasião adequada, ou seja, se ele vivera toda a cota de tempo suscetível de ser aproveitada por seu Espírito na Crosta da Terra. Jerônimo respondeu que não. Dimas não chegou a aproveitar todo o tempo prefixado. Teria ele sido então um suicida inconsciente? – indagou André Luiz, intrigado com a consideração recebida por Dimas, incompatível com a situação de suicida. O Assistente, lendo fundo na alma de André, abstendo-se de longas explicações, disse-lhe simplesmente: "Não, André, nosso amigo não é suicida". André perguntou então se Dimas, não havendo aproveitado todo o tempo de que dispunha, não teria também desperdiçado a oportunidade, tal como acontece a muita gente e aconteceu com ele mesmo. A explicação de Jerônimo foi imediata: "Não conheço seu passado, André, e acredito que as melhores intenções terão movido suas atividades no pretérito. A situação do amigo a que nos referimos, porém, é muito clara. Dimas não conseguiu preencher toda a cota de tempo que lhe era lícito utilizar, em virtude do ambiente de sacrifício que lhe dominou os dias, na existência a termo. Acostumado, desde a infância, à luta sem mimos, desenvolveu o corpo, entre deveres e abnegações incessantes. Desfavorecido de qualquer vantagem material no princípio, conheceu ásperas obrigações para ganhar a intimidade com as leituras mais simples. Entregue ao serviço rude, no verdor da mocidade, constituiu a família, pingando suor no sacrifício diário. Passou a vida em submissão a regulamentos, conquistando a subsistência com enorme despesa de energia. Mesmo assim, encontrou recursos para dedicar-se aos que gemem e sofrem nos planos mais baixos que o dele. Recebendo a mediunidade, colocou-a a serviço do bem coletivo. Conviveu com os desalentados e aflitos de toda sorte. E porque seu espírito sensível encontrava prazer em ser útil e em razão dos necessitados guardarem raramente a noção do equilíbrio, sua existência converteu-se em refúgio de enfermos do corpo e da alma". E o Assistente continuou: "Perdeu, quase integralmente, o conforto da vida social, privou-se de estudos edificantes que lhe poderiam prodigalizar mais amplas realizações ao idealismo de homem de bem e prejudicou as células físicas, no acúmulo de serviço obrigatório e acelerado na causa do sofrimento humano. Pelas vigílias compulsórias, noite adentro, atenuou-se-lhe a resistência nervosa; pela inevitável irregularidade das refeições, distanciou-se da saúde harmoniosa do estômago; pelas perseguições gratuitas de que foi objeto, gastou fosfato excessivamente e, pelos choques reiterados com a dor alheia, que sempre lhe repercutiu amargamente no coração, alojou destruidoras vibrações no fígado, criando afeições morais que o incapacitaram para as funções regeneradoras do sangue". (Cap. 13, pp. 199 a 201)

79. André contempla o próprio passado  -  Jerônimo, resumido o caso Dimas, ressalvou que o aludido companheiro poderia ter recebido, com naturalidade, semelhantes emissões destrutivas, mantendo-se na serenidade intangível do legítimo apóstolo do Evangelho. Mas, era preciso considerar as circunstâncias. Não se organiza de um dia para outro o anteparo psíquico contra o bombardeio dos raios perturbadores da mente alheia, como não é fácil improvisar cais seguro ante o oceano em ressaca. Cercado de exigências sentimentais, subalimentado, maldormido, teve ele as reiteradas congestões hepáticas convertidas na cirrose hipertrófica, portadora da desintegração do corpo. O Assistente, dito isto, acentuou: "Segundo observamos, há existências que perdem pela extensão, ganhando, porém, pela intensidade". André calou-se, humilhado. O hábito de analisar pessoas e ocorrências, unilateralmente, mais uma vez lhe impunha proveitosa decepção. Assomaram-lhe recordações do passado, mais nítidas e esclarecedoras. Ele conduzira sua última existência como melhor lhe pareceu. Fizera refeições calmas e substanciosas, a horas certas. Dedicara-se a estudos prediletos. Dispusera de seu tempo com rigorosa independência. Cerrara a porta aos clientes antipáticos, quando lhe faltava disposição para suportá-los. Mas nunca molestara o fígado por sofrimentos alheios, porque ele já era pequeno para conter as vibrações destruidoras de suas próprias irritações. E, sobretudo, aniquilara o aparelho gastrintestinal pelo excesso de comestíveis e bebedices aliados à sífilis a que ele mesmo dera guarida, levianamente. Havia, portanto, muita diferença entre o caso Dimas e o seu. Dimas empregara as possibilidades que o Céu lhe confiara em benefício de outrem. Quanto a ele, gozara essas possibilidades até ao clímax, centralizado em si mesmo e perdendo-se pela abusiva saciedade. (Cap. 13, pp. 201 a 203) (Continua no próximo número.)  


[1] Viático é o nome que se dá ao sacramento da Eucaristia administrado aos enfermos impossibilitados de sair de casa.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita