WEB

BUSCA NO SITE

Página Inicial
Capa desta edição
Edições Anteriores
Quem somos
Estudos Espíritas
Biblioteca Virtual
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English Livres Spirites en Français  
Jornal O Imortal
Vocabulário Espírita
Biografias
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English Livres Spirites en Français Spiritisma Libroj en Esperanto 
Mensagens de Voz
Filmes Espiritualistas
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English    
Efemérides
Esperanto sem mestre
Links
Fale Conosco
Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 55 - 11 de Maio de 2008

JORGE HESSEN
jorgehessen@gmail.com
Brasília, Distrito Federal (Brasil)

Diante do mal, o bem é a meta


Antes de expormos algumas ponderações doutrinárias acerca do mal e do bem, é interessante sabermos os seus significados. Filosoficamente, a primeira (mal) define-se como privação ou imperfeição, ou aquilo que é nocivo, prejudicial, que se opõe ao bem, à virtude, à probidade, à honra. No que reporta ao bem, são atribuídas ações e obras humanas que lhes conferem um caráter moral. (1) E para não incorrer no maniqueísmo (2) inócuo, consignamos que "a evolução para Deus pode ser comparada a uma viagem divina. O bem constitui sinal de passagem livre aos cimos da Vida Superior, enquanto o mal significa sentença de interdição, constrangendo-nos a paradas mais ou menos difíceis de reajuste".(3)

A maldade dos homens sempre inquietou os pensadores dos mais diversos campos do saber e da ação humana: filosofia, ciência, arte, religião, a exemplo de Hanna Arendt, filósofa judia, que estudou as questões do mal e suas teses estão ínsitas no livro Eichmann em Jerusalém, que analisa o julgamento do verdugo nazista, mentor da morte de milhares de pessoas. Tendo como referencial o caso Eichmann, Hanna Arendt justifica que o mal pode tornar-se banal e difundir-se pela sociedade como um fungo, porém apenas em sua superfície. Para ela, as raízes do mal não estão definitivamente instaladas no coração do homem e, por não conseguirem penetrá-lo profundamente a ponto de fazer nele morada, podem ser extirpadas.

Para muitos, o mal seria mais forte que o Bem, e que os Espíritos do mal estariam conseguindo derrotar os Benfeitores espirituais, frustrando-lhes os desígnios superiores. Em que pese a antiga tradição de tais conceitos, são insustentáveis e falsos, diríamos mesmo, absurdos. Admitir o triunfo do maligno, a prejuízo da humanidade, é o mesmo que negar ao Senhor da Vida os atributos da onisciência e da onipotência, sem os quais não poderia ser verdadeiramente Deus.

O mal não é criação do Todo-Poderoso como imaginam algumas pessoas, especialmente aquelas que vivem distanciadas do entendimento evangélico. O mal é transitório, não tem raízes; o bem é permanente. O mal definha à medida que o bem se estabelece. Foi por isso que Jesus dizia que o Reino dos Céus começa em nosso coração e compara-o ao fermento que transforma e engrandece a massa; o Reino dos Céus é como a semente de mostarda cuja árvore é múltipla em benefícios.

A humanidade vem nos últimos anos passando por transformações preocupantes. A influência da matéria sobre a vida social cresce incessantemente. Os valores morais estão sendo corrompidos com espantosa velocidade. Nunca o mundo precisou tanto dos ensinos espíritas como nestes tempos atuais.

Vivenciamos instantes em que se aguça o individualismo, enodoando o tecido social, e nos vendavais da tecnologia somos remetidos aos acirramentos das desigualdades e isolamentos, estabelecendo-se níveis de conforto e exclusão sociais nunca antes experimentados. Atualmente, consegue-se a compra pela Internet, assiste-se ao filme no shopping, trafega-se pelas avenidas em veículos luxuosos. Vive-se sem convivência fraterna, numa doentia soledade a despeito de um mundo superpovoado de encarnados. Em que pese para os mais otimistas a convicção do alvorecer da Nova Era espiritual que vem chegando, ocupando espaço, no contexto dos avanços da ciência que impulsiona a massa humana para a conquista da paz. E ante os paradoxos acredita-se na existência do elo entre a fé e a razão, entre a ciência e a religião, entre verdade física e verdade metafísica, em que o instinto cede em face da razão, e a sábia consciência direciona os sentimentos sublimes de amor, justiça e caridade.

Mas não há como se desconhecer a luta pela subsistência. São as enfermidades. As insatisfações. Os conflitos emocionais. Os desenganos. As imperfeições próprias daqueles com os quais convivemos. Enfim, as mil e uma vicissitudes da existência. Nesse autêntico amálgama, usando e abusando do livre arbítrio, cada qual vai colhendo vitórias ou amargando derrotas, segundo o grau de experiência conquistada. Uns riem hoje, para chorarem amanhã, e outros que agora se exaltam, serão humilhados depois.

Devemos interrogar a própria consciência, passando em revista os atos cotidianos, para a identificação dos desvios dos deveres que deveriam ter sido cumpridos e dos motivos alheios de queixa por conta dos nossos atos. Revisemos periodicamente nossas quedas e deslizes no campo moral, ativando a memória para nos lembrarmos dos tantos espinhos que já trazemos cravados na "carne do espírito"(4), tal como ensina Paulo de Tarso. Estes espinhos nos lembrarão a nossa condição de enfermos em estágio de longa recuperação, necessitados de cautela. O mal não é invencível, pelo contrário. O homem possui na sua natureza a flama do bem. Somente quando se distancia da sua origem divina é que se compraz com o mal. Para se livrar das ações negativas dos malfeitores espirituais, basta sintonizar-se com seu lado superior, buscando fazer o bem aos outros: em pensamentos, palavras e ações. E, claro, não se deve transferir a responsabilidade dos próprios erros à intervenção do verdugo do Além, que só exerce a sua influência porque encontra campo fértil para isso.

Allan Kardec registra em Obras Póstumas: "Deus não criou o mal; foi o homem que o produziu pelo abuso que fez dos dons de Deus, em virtude de seu livre-arbítrio. (6)" Não é simples, porém, nos livrarmos do mal que praticamos. Mal que nasce em nós, nos impregna e temporariamente passa a fazer parte de nossa personalidade. Paulo de Tarso na sua carta aos romanos tece comentários sobre as lutas que se deve travar para combater o mal em nós mesmos, em frase já célebre: "Porque não faço o bem que quero, mas, o mal que não quero, esse faço"(6). O mal a que se refere Paulo em suas epístolas é o mal trivial que subsiste em nós e é alimentado por nossa vontade. E que, em certa medida, nos proporciona prazer pelo torpor de consciência. Daí a nossa dificuldade de nos desembaraçarmos dele.

Diante da banalização do mal, conforme anota Arendt, que se espalha pelo mundo dos homens, resta-nos individual e coletivamente nos lançarmos ao bom combate, conforme o Apóstolo dos gentios (7), que é constante, exigindo-nos disciplina e perseverança. E uma das questões cruciais que funciona como um divisor de águas da Doutrina Espírita em relação a outras religiões é a necessidade de se praticar o bem para o crescimento espiritual.

O Espírito encarnado ou não, é um ser inteligente, desta forma, o bem para ser bem, para ter eficácia, não prescinde de um conteúdo pedagógico cujo fundamento está justamente no por que fazer o bem. O homem tem recursos de distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu racionalidade para distinguir um do outro. Mas, urge meditarmos que o bem não nos imunizará do sofrimento, resolvendo todos os problemas, mas ajudar-nos-á a arrostar os momentos cruciais com ânimo robusto, evitando que nos cristalizemos no pessimismo e oferecendo-nos resistência para vencer dificuldades e não contrair novos compromissos morais negativos.

Joanna de Ângelis induz-nos a lembrar para nunca desistirmos de fazer o bem, face do aparente triunfo do mal em desgoverno, em torno de nossas vidas. Passada a tempestade, a luz volta a fulgir. A sombra é somente ausência da claridade. Não é real. Só Deus é Vida; somente o Bem é meta. (8)

Para que possamos vislumbrar um mundo sem angústias e nem problemas sociais, livres das misérias econômicas e políticas, apelemos para o amor incondicional, que possui os recursos eficazes para a conciliação, o perdão, a transformação moral, fomentando o bem para o progresso, o que concorre para enriquecer nossa sensibilidade, aprimorar nosso caráter, fazer que se nos desabrochem novas faculdades, o que vale dizer, se dilatem nossos gozos e aumente nossa felicidade. (9)

FONTES:

(1) Esta qualidade se anuncia através de fatores subjetivos (o sentimento de aprovação, o sentimento de dever) que levam à busca e à definição de um fundamento que os possa explicar.

(2) Filos. Doutrina do persa Mani ou Manes (séc. III), sobre a qual se criou uma seita religiosa que teve adeptos na Índia, China, África, Itália e S. da Espanha, e segundo a qual o Universo foi criado e é dominado por dois princípios antagônicos e irredutíveis: Deus ou o bem absoluto, e o mal absoluto ou o Diabo. 2. P. ext. Doutrina que se funda em princípios opostos, bem e mal.

(3) Xavier, Francisco Cândido. Ação e Reação, ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed FEB, 2001, cap. 19.

(4) 2ª Epístola De S. Paulo aos Coríntios: 7 - E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar.

(5) Kardec, Allan. Obras Póstumas. RJ: Ed. FEB, 1999.

(6) Romanos 7:19.

(7) (2 Tm 4,7) "Combati o bom combate, percorri o caminho e guardei a fé".

(8) Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Momentos Enriquecedores. Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador, BA: LEAL, 1994.

(9) Fonte: Reformador (Janeiro, 1966), in: O Problema do Mal, de Rodolfo Calligaris.


Voltar à página anterior


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita