EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Respeito a todo
ser:
virtude
essencial à
prática da
sustentabilidade
Não há dúvidas:
“a missão do ser
humano como
portador de
consciência,
inteligência,
vontade e amor é
a de ser o
cuidador da
Terra”, explica
Leonardo Boff
(1).
E tal como o
estabeleceu a
Carta da Terra
(*): em
todas as áreas
da ação humana
precisamos
“viver um modo
sustentável de
vida”, pois este
é o novo
princípio
civilizatório
apto a albergar
o futuro.
Mas, para um
‘reajuste’
civilizatório,
pois o que está
em jogo é o
respeito
relativo à
reposição e
resgate dos
ecossistemas, ou
seja, as
próprias
condições da
vida
planetária, a
ética da
sustentabilidade
deve ser movida
por quatro
princípios
fundamentais
(2).
O primeiro
princípio é o “pathos,
que significa a
sensibilidade, a
emoção e a
afetividade.
Esse é o mais
fundamental de
todos, pois tem
a ver com a
estrutura de
base do ser
humano”.
O segundo
princípio é o “cuidado/compaixão.
(...) O cuidado
é um dado
ontológico
prévio,
construtor do
ser humano. A
primeira
manifestação da
sensibilidade e
do pathos
é o cuidado para
com a vida. Toda
vida deve ser
cuidada, senão
morre”.
O terceiro
princípio é a “cooperação.
(...) Todas as
energias e todos
os seres
cooperam uns com
os outros para
que se mantenha
o equilíbrio
dinâmico, se
garanta a
diversidade e
todos possam
co-evoluir”.
O quarto
princípio diz
respeito à “responsabilidade”.
E ser
responsável é
“dar-se conta
das
conseqüências de
nossos atos.
(...) Então,
devemos assumir
nossa
responsabilidade
por nós mesmos,
pela Casa Comum
e pelo futuro
compartilhado”.
Esses quatro
princípios, base
para a regulação
de políticas
públicas
restritivas de
agressões à
natureza,
orientam um novo
processo
civilizatório
associado ao
afeto-respeito
para com a vida
e a natureza.
Contudo, os
princípios não
são suficientes.
O momento
civilizatório é
exigente também
de virtudes que
possam ser
veiculadas na
prática humana
cotidiana. E há
uma, indicada
por Leonardo
Boff, que
reivindica
atenção: “o
respeito a todo
ser” (3).
Certamente, é
esse respeito
pelo outro que
nos convida à
tolerância, tão
enfraquecida nos
dias presentes
tingidos pela
violência (que
deságua no
terrorismo) e
pelo
fundamentalismo,
motivos
condutores de
formas
destrutivas de
resolução de
conflitos. Terry
Eagleton tem
razão quando
afirma que o
fundamentalismo
“é uma espécie
de necrofilia,
apaixonado pela
letra morta de
um texto”. (4)
Sim, a
tolerância é
medida benéfica
à vida de
relação, pois o
indulgente, no
lugar de impor
suas idéias e
crenças, dirige
sua prática pelo
direito
fundamental à
diferença.
Quando ferimos
alguém por lhe
negar o direito
a ser quem é (em
sintonia com
suas dimensões
singulares),
agimos movidos
pela vontade de
poder, que rompe
com a lei da
solidariedade,
sempre associada
à necessidade do
diálogo, que
preza o
entendimento
como resposta
aos conflitos.
Em síntese, à
medida que nos
construímos como
seres portadores
de
subjetividade, a
convivência
harmoniosa só se
consolida no
lastro da ética
do respeito.
Logo, “sem a
tolerância, o
respeito e a
veneração,
perderemos a
memória do
Sagrado e do
Divino que
perpassa todo o
Universo e que
emerge na
consciência
humana. São
valores que
darão
sustentabilidade
à sociedade e à
natureza” (5).
Referências
bibliográficas:
(1)
BOFF,
Leonardo.
Homem: satã ou
anjo bom?
Rio de Janeiro:
Record, 2008, p.
104.
(2)
Cf.
BOFF, Leonardo,
op. cit.,
pp. 105-109.
(3)
BOFF,
Leonardo, op.
cit., p.
110.
(4)
EAGLETON,
Terry. Depois
da teoria: um
olhar sobre os
estudos
culturais e o
pós-modernismo.
Tradução de
Maria Lucia
Oliveira. Rio de
Janeiro:
Civilização
Brasileira,
2005, p. 276.
(5)
BOFF,
Leonardo, op.
cit., p.
111.
(*) Carta da
Terra é uma
declaração de
princípios
fundamentais
para a
construção de
uma sociedade
global no século
XXI, que seja
pacífica, justa
e sustentável.
No começo de
1997, a Comissão
da Carta da
Terra formou
um comitê
internacional
que auxiliou a
condução do
processo de
consulta; a
versão final da
Carta foi
aprovada pela
Comissão na
reunião
celebrada na
sede da UNESCO,
em Paris, em
março de 2000.