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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 56 - 18 de Maio de 2008

EUGÊNIA PICKINA 
eugeniamva@yahoo.com.br 
Londrina, Paraná (Brasil)
 
 

Respeito a todo ser: virtude essencial à prática da sustentabilidade


Não há dúvidas: “a missão do ser humano como portador de consciência, inteligência, vontade e amor é a de ser o cuidador da Terra”, explica Leonardo Boff (1). 

E tal como o estabeleceu a Carta da Terra (*): em todas as áreas da ação humana precisamos “viver um modo sustentável de vida”, pois este é o novo princípio civilizatório apto a albergar o futuro. 

Mas, para um ‘reajuste’ civilizatório, pois o que está em jogo é o respeito relativo à reposição e resgate dos ecossistemas, ou seja, as próprias condições da vida planetária,  a ética da sustentabilidade deve ser movida por quatro princípios fundamentais (2). 

O primeiro princípio é o “pathos, que significa a sensibilidade, a emoção e a afetividade. Esse é o mais fundamental de todos, pois tem a ver com a estrutura de base do ser humano”. 

O segundo princípio é o “cuidado/compaixão. (...) O cuidado é um dado ontológico prévio, construtor do ser humano. A primeira manifestação da sensibilidade e do pathos é o cuidado para com a vida. Toda vida deve ser cuidada, senão morre”.  

O terceiro princípio é a “cooperação. (...) Todas as energias e todos os seres cooperam uns com os outros para que se mantenha o equilíbrio dinâmico, se garanta a diversidade e todos possam co-evoluir”. 

O quarto princípio diz respeito à “responsabilidade”. E ser responsável é “dar-se conta das conseqüências de nossos atos. (...) Então, devemos assumir nossa responsabilidade por nós mesmos, pela Casa Comum e pelo futuro compartilhado”. 

Esses quatro princípios, base para a regulação de políticas públicas restritivas de agressões à natureza, orientam um novo processo civilizatório associado ao afeto-respeito para com a vida e a natureza. 

Contudo, os princípios não são suficientes. O momento civilizatório é exigente também de virtudes que possam ser veiculadas  na prática humana cotidiana. E há uma, indicada por Leonardo Boff, que reivindica atenção: “o respeito a todo ser” (3).  

Certamente, é esse respeito pelo outro que nos convida à tolerância, tão enfraquecida nos dias presentes tingidos pela violência (que deságua no terrorismo) e pelo fundamentalismo, motivos condutores de formas destrutivas de resolução de conflitos. Terry Eagleton tem razão quando afirma que o fundamentalismo “é uma espécie de necrofilia, apaixonado pela letra morta de um texto”. (4) 

Sim, a tolerância é medida benéfica à vida de relação, pois o indulgente, no lugar de impor suas idéias e crenças, dirige sua prática pelo direito fundamental à diferença.  

Quando ferimos alguém por lhe negar o direito a ser quem é (em sintonia com suas dimensões singulares), agimos movidos pela vontade de poder, que rompe com a lei da solidariedade, sempre associada à necessidade do diálogo, que preza o entendimento como resposta aos conflitos. 

Em síntese, à medida que nos construímos como seres portadores de subjetividade, a convivência harmoniosa só se consolida no lastro da ética do respeito.  

Logo, “sem a tolerância, o respeito e a veneração, perderemos a memória do Sagrado e do Divino que perpassa todo o Universo e que emerge na consciência humana. São valores que darão sustentabilidade à sociedade e à natureza” (5). 

Referências bibliográficas:

(1)               BOFF, Leonardo. Homem: satã ou anjo bom? Rio de Janeiro: Record, 2008, p. 104.

(2)               Cf. BOFF, Leonardo, op. cit., pp. 105-109.

(3)               BOFF, Leonardo, op. cit., p. 110.

(4)               EAGLETON, Terry. Depois da teoria: um olhar sobre os estudos culturais e o pós-modernismo. Tradução de Maria Lucia Oliveira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, p. 276.

(5)               BOFF, Leonardo, op. cit., p. 111.  

(*) Carta da Terra é uma declaração de princípios fundamentais para a construção de uma sociedade global no século XXI, que seja pacífica, justa e sustentável. No começo de 1997, a Comissão da Carta da Terra formou um comitê internacional que auxiliou a condução do processo de consulta; a versão final da Carta foi aprovada pela Comissão na reunião celebrada na sede da UNESCO, em Paris, em março de 2000.
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita