Cego
Bastos Tigre
Sempre que nega o ateu
que Deus exista,
Contra a blasfêmia se
revolta o crente.
Mostra-lhe a “obra” que
requer o “Artista”,
Mundos e sóis onde o
Criador se sente!
– Fita o mar! Para o céu
estende a vista!
Olha em ti! Não
descobres Deus
presente?...
Mas o ateu nada vê:
materialista,
Com a matéria se afaz e
está contente.
Não me revolta o ateu.
Se ele diz: – Nego!
Lamento-o como se
lamenta a um cego
Que nem sabe para onde
se conduz.
Nasceu sem vista: é
justa essa descrença,
Não tem, acaso, o cego
de nascença
Direito de negar que
exista a luz?
Bastos Tigre nasceu em
Recife, no ano de 1882.
Este soneto, ele
improvisou-o em
homenagem a Frederico
Figner e foi publicado
na revista Reformador,
em 1933.