CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
Colocando a mão
no fogo
Determinadas
notícias evocam
reflexões, ao
passo que também
perplexidade.
Quando o ser
humano se
libertará de
fórmulas
furadas,
falidas, que
decisivamente já
deram mostras de
ineficiência na
melhoria da
qualidade de
vida do ser
humano?
Li no jornal há
pouco que de
nada adiantou a
Lei Seca, porque
já os vendedores
ambulantes a
ignoram
solenemente e
prosseguem
vendendo bebida
alcoólica nas
estradas para
quem quiser
comprar. Claro,
caríssimo
leitor! Venderão
sempre! E querem
saber por quê? A
resposta é
simples, e não
requer nenhum
brilhantismo
intelectual:
porque há gente
à beça que
compra! E compra
a rodo! Para a
churrascada de
carnaval, porque
tem vício, ou
porque debocha
da tal Lei, como
sempre outorgada
sem a devida
fiscalização
maciça que lhe
assegure o
cumprimento...
Ou porque
gosta de colocar
a mão no fogo!
Assim como
acontecerá,
certamente, com
as novas medidas
das Leis de
trânsito para os
limites de
velocidades,
multas e
semelhantes!
O ser humano
parece dotado de
uma tendência
mórbida para
reincidir
insolitamente no
mesmo tipo de
experiência
malsucedida – e
isto está
intimamente
relacionado com
as tão
propaladas leis
da Atração, do
Carma, do
Retorno, como
queiram
rotulá-las, mas,
principalmente,
com o
livre-arbítrio:
a ferramenta
mais poderosa de
que dispomos
para a nossa
evolução, mas
também a mais
traiçoeira.
Justo por causa
desta tendência
do ser humano de
se viciar, de se
nutrir no
cultivo de
muitas atitudes
atestadamente
nocivas ao seu
próprio
bem-estar – a
despeito de
todas as
conseqüências
adversas.
Assim, se viciam
em meter a
mão no fogo,
nada obstante a
queimadura
tormentosa e
certa. Correm
feito loucos nas
estradas apesar
de todo o
assustador
índice de
acidentes a cada
feriado,
elevando todo
ano a triste
estatística das
mortes por
acidentes de
trânsito,
invariavelmente
havidas, em sua
maior
porcentagem,
pela imprudência
do motorista!
Caem dentro da
bebida alcoólica
nestes mesmos
feriados, e
dentre eles o do
Carnaval – o
mais susceptível
gerador de
excessos devido
ao clima de
desregramentos e
de euforia
descontrolada a
que se entregam
os foliões
durante os
quatro dias de
festividades.
E, via círculo
vicioso, tome
coma alcoólico,
atendimento em
hospitais,
brigas, mais
acidentes nas
ruas e estradas
devido ao índice
elevado da taxa
de álcool no
sangue... e
outras
conseqüências
inimagináveis e
nefastas.
Assim também com
o uso da
camisinha como
recurso
indispensável à
preservação da
saúde, que
continua
solenemente
ignorada por
grande fatia de
jovens
inconseqüentes –
já que não há
que se alegar
aqui
inconsciência ou
ignorância,
devido ao
massacre das
campanhas
incansáveis
veiculadas pela
mídia acessada
por todos hoje
em dia; e assim
também – ainda!
– com o uso
renitente do
cigarro como
fator de status
para algumas
mentes
resistentes na
assimilação de
valores tão
nocivos quanto
já caducos e
ultrapassados...
E também,
finalmente,
relativamente à
noção desoladora
da vida única –
a maior
responsável,
certamente, por
toda esta
distorção sem
sentido em
pensamentos e
atitudes! Pois
já que a vida
vale o
equivalente ao
curto período de
sessenta a
oitenta anos,
num mundo cheio
de
desigualdades,
onde quem leva a
melhor (no
quesito
exclusivo
material!) é o
bem-nascido
financeiramente,
ou o mais
esperto na hora
de amealhar
dinheiro, ou o
mais bonitinho,
ou o mais
sarado, ou o que
usa a roupa de
grife e
freqüenta
autódromos
enquanto a massa
esmagadora
possui como
única válvula de
escape o
churrasquinho do
carnaval regado
a secular
cervejinha... Se
a isto a vida e
os seus
objetivos se
resumem, e se o
fato de se
colocar a mão no
fogo queima, mas
proporciona um
certo alento
masoquista – na
medida em que as
conseqüências
prejudiciais de
tais excessos
não pagam o
ilusório prazer
–, por que
cargas dágua
alguém se
incomodará com
Leis Secas
impostas por
autoridades que,
em não
oferecendo no
processo a
devida
fiscalização do
seu cumprimento,
parecem elas
mesmas não estar
nem aí para os
seus resultados,
aplicando-as a
cada ano com
esta ou aquela
nova roupagem,
num mero ato
mecânico,
repetitivo, sem
maiores
repercussões
para o bem-estar
da população?!
Lembro-me de que
quando meu filho
contava apenas
uns dois anos,
tinha a mania
de, quando se
irritava com
seus brinquedos
ou com qualquer
outra coisa,
meter a testa
raivosamente no
que quer que
estivesse em
torno: no sofá,
na parede, nos
próprios
brinquedos...
Era visível que,
estranhamente,
aquilo lhe
proporcionava
algum desafogo
da irritação que
momentaneamente
sentia. Eu,
preocupada,
advertia,
brigava,
aplicava-lhe
pequenas
punições para
que cessasse com
o hábito
prejudicial – em
vão, para o meu
desalento. Até
um dia em que,
colhendo-me de
surpresa, em
razão de alguma
nova malcriação
que promoveu
enquanto
brincava sozinho
em seu quarto,
meteu a
testinha,
raivoso, na
quina do berço
em que dormia –
fez isto num
segundo em que
eu olhava para o
lado; e, quando
me voltei em
razão do
chorinho frouxo,
em choque, dei
com ele,
literalmente
banhado de
sangue da cabeça
aos pés, por
causa do
ferimento na
região
vascularizada
acima do
supercílio.
Nunca mais
repetiu o
extravasamento
irascível a que
sempre se
entregava ao
sinal da menor
contrariedade!
Caríssimos, é
isso: enquanto
as pessoas se
abandonarem,
displicentes, a
este
desnorteamento
inconsciente
imposto pela
banalização
crassa do
verdadeiro
sentido da vida
humana, pode-se
aplicar quantas
Leis Secas,
Códigos de
Trânsito e
correlatos
quiserem, porque
somente o
amadurecimento
do Espírito – em
conjunto com o
quantum
das vivências
adversas –
conseguirá,
algum dia,
convencer as
têmperas mais
empedernidas de
que a fugaz
catarse
oferecida por um
prazer
questionável,
qual o de se
beber até as
comportas para
depois amargar
não sei quantas
horas de
enxaqueca, de
náuseas e de
horror orgânico,
não paga a
plenitude
proporcionada
pela convicção
de que, tendo em
conta a
eternidade
vindoura, dentre
os prazeres
oferecidos pela
vida, o melhor
deles, sem
engano e sem
concorrente
digno, é a
própria vida –
saudavelmente
vivida,
apreciada e
aproveitada!...
Mas com
sobriedade,
elegância,
responsabilidade!
Abraços a todos!
Carpe Diem!