MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Obreiros da Vida Eterna
(Parte 14)
André Luiz
Damos continuidade ao
estudo da obra
Obreiros da Vida Eterna,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e publicada em 1946 pela
editora da Federação
Espírita Brasileira, a
qual integra a série
iniciada com o livro
Nosso Lar.
Questões preliminares
A. Que ambiente
invisível deparou André
no cemitério, por
ocasião do enterro de
Dimas?
R.: Foi com surpresa que
André Luiz viu que as
grades da necrópole
estavam cheias de
entidades desencarnadas,
em gritaria
ensurdecedora.
Verdadeira concentração
de vagabundos sem corpo
físico apinhava-se à
porta, endereçando
ditérios e piadas à
longa fila de amigos do
morto. No entanto, ao
perceberem a presença
dos benfeitores
espirituais, mostraram
carantonhas de enfado, e
um deles, mais decidido,
depois de fitar o grupo
com desapontamento,
bradou: "Não adianta!
É protegido..." O
padre Hipólito explicou:
"Nossa função,
acompanhando os
despojos, não se
verifica apenas no
sentido de exercitar o
desencarnado para os
movimentos iniciais de
libertação. Destina-se
também à sua defesa. Nos
cemitérios costuma
congregar-se compacta
fileira de malfeitores,
atacando vísceras
cadavéricas, para
subtrair-lhes resíduos
vitais".
(Obreiros da Vida
Eterna, cap. 15, pp. 231
a 235.)
B. Por que André não
pôde cortar o grilhão
que prendia uma pobre
mulher ao cadáver já
apodrecido?
R.: André bem que quis
cortar o grilhão, mas o
atendente prontamente
objetou, esclarecendo
que sua equipe tinha
ordens expressas no
sentido de que ainda
isso não poderia ser
feito. "Se
desatássemos a algema
benéfica, ela
regressaria,
intempestiva, à
residência abandonada,
como possessa de
revolta, a destruir o
que encontrasse. Não tem
o direito, como mãe
infiel ao dever, de
flagelar com a sua
paixão desvairada o
corpinho tenro do filho
pequenino e, como esposa
desatenta às obrigações,
não pode perturbar o
serviço de recomposição
psíquica do companheiro
honesto que lhe
ofereceu no mundo o que
possuía de melhor",
disse o amigo
espiritual. E ele mesmo
ajuntou: "É da lei
natural que o lavrador
colha de conformidade
com a semeadura. Quando
acalmar as paixões
vulcânicas que lhe
consomem a alma, quando
humilhar o coração
voluntarioso, de modo a
respeitar a paz dos
entes amados que deixou
no mundo, então será
libertada e dormirá sono
reparador, em estância
de paz que nunca falta
ao necessitado
reconhecido às bênçãos
de Deus". A lição
era dura, mas lógica.
(Livro citado, cap. 15,
pp. 236 a 239.)
C. Por que Dimas, mesmo
depois da desencarnação,
alternava bons e maus
momentos?
R.: Foi Jerônimo quem
explicou esse fato,
lembrando inicialmente
que cada pessoa é um
mundo e que convicções e
realizações constituem
obra nossa. Cada
assembléia de aprendizes
recebe a mesma bagagem
de ensinamentos, mas os
alunos diferenciam-se
quanto ao aproveitamento
pessoal. Dimas foi
destacado discípulo do
Evangelho,
principalmente no setor
de assistência e
difusão, mas, quanto a
si mesmo, não fez
aproveitamento integral
das lições recebidas. "Espalhou
as sementes da luz e da
verdade, dedicou-se
largamente à causa do
bem, merecendo, por isso
mesmo, socorro
especialíssimo. Contudo,
no campo particular, não
se preparou
suficientemente. Qual
ocorre à maioria dos
homens, prendeu-se
demasiadamente às teias
domésticas, sem maior
entendimento. Conferiu
excessivo carinho à roda
familiar, sem noção de
equidade, no caminho
terrestre", informou
Jerônimo. E concluiu
dizendo que Dimas
consagrou-se à
companheira e aos
filhos, mas, se lhes deu
muita ternura, não lhes
proporcionou todo o
esclarecimento de que
dispunha, libertando-os
da esfera pesada de
incompreensão. Agora,
muito naturalmente,
sofria-lhes o assédio. "A
inquietude dos parentes
atinge-o, através dos
fios invisíveis da
sintonia magnética",
resumiu Jerônimo. Dimas
não se preparou
interiormente,
considerando-se as
necessidades do desapego
construtivo. Seria
preciso, portanto, algum
tempo para edificar a
resistência. (Livro
citado, cap. 15 e 16,
pp. 237 a 242.)
Texto
para leitura
92. No cemitério
- O cortejo foi seguido
por mais de vinte
entidades desencarnadas,
inclusive Dimas, que ia
abraçado à genitora,
ouvindo-lhe discretas
exortações e sábios
conselhos. Se entre os
amigos do círculo carnal
havia profundo
constrangimento, entre
os Espíritos imperava
tranqüilidade efetiva e
espontânea. Ao se
aproximar o cortejo do
cemitério, André teve
estranha surpresa. As
grades da necrópole
estavam cheias de
entidades desencarnadas,
em gritaria
ensurdecedora.
Verdadeira concentração
de vagabundos sem corpo
físico apinhava-se à
porta, endereçando
ditérios e piadas à
longa fila de amigos do
morto. No entanto, ao
perceberem a presença
dos benfeitores
espirituais, mostraram
carantonhas de enfado, e
um deles, mais decidido,
depois de fitar o grupo
com desapontamento,
bradou: "Não adianta!
É protegido..." O
padre Hipólito acudiu
André, esclarecendo: "Nossa
função, acompanhando os
despojos, não se
verifica apenas no
sentido de exercitar o
desencarnado para os
movimentos iniciais de
libertação. Destina-se
também à sua defesa. Nos
cemitérios costuma
congregar-se compacta
fileira de malfeitores,
atacando vísceras
cadavéricas, para
subtrair-lhes resíduos
vitais". O
ex-sacerdote lembrou
então que o Evangelho já
se referia aos Espíritos
perturbados que habitam
entre os sepulcros.
Disse também que as
igrejas dogmáticas da
Terra possuem erradas
noções acerca do diabo,
mas, inegavelmente, os
diabos existem. "Somos
nós mesmos, quando,
desviados dos divinos
desígnios, pervertemos o
coração e a
inteligência, na
satisfação de criminosos
caprichos..." Logo
depois, quando o ataúde
foi momentaneamente
aberto, antes da
inumação, Jerônimo
inclinou-se piedosamente
sobre o cadáver e,
através de passes
magnéticos
longitudinais, extraiu
todos os resíduos de
vitalidade,
dispersando-os, em
seguida, na atmosfera
comum, através de
processo indescritível
na linguagem humana. O
objetivo era impedir que
entidades
inescrupulosas se
apropriassem deles.
(Cap. 15, pp. 231 e 232)
93. A
gestante volúvel
- Terminada a curiosa
operação magnética,
André teve sua atenção
voltada para gemidos
lancinantes, emitidos de
zonas diversas do
cemitério. Em sepulcro
próximo, ele encontrou o
Espírito de uma mulher
que ignorava a própria
morte e tinha o cordão
fluídico, que lhe pendia
da cabeça, ligado aos
despojos, a penetrar
chão adentro. A
desventurada mulher,
jovem ainda nos seus
trinta e seis anos,
sentia todos os
fenômenos da
decomposição cadavérica.
Sua única lembrança era
ter sido internada numa
casa de saúde... Depois
disso, tudo era
constante pesadelo,
julgava ela, pois
tentava erguer-se do
chão e não conseguia.
André sugeriu-lhe que
orasse, mas ela
protestou: "Quero um
médico, depressa! só
ouço padres!" A
jovem mulher parecia
distanciada de qualquer
noção de
espiritualidade. Quando
André ia exortá-la de
novo à oração, uma
entidade espiritual se
aproximou. Pertencia ao
posto de assistência
espiritual à necrópole,
que, juntamente com mais
três companheiros,
zelava pela solução dos
problemas fundamentais
existentes naquele
campo. "Apesar de
nosso cuidado –
disse o amigo espiritual
– não podemos
esquecer o imperativo de
sofrimento benéfico para
todos aqueles que vêm
dar até aqui, após
deliberado desprezo
pelos sublimes
patrimônios da vida
humana". André
entendeu a mensagem. O
companheiro queria
dizer, naturalmente, que
a presença ali de
malfeitores e ociosos
desencarnados se
justificava em face do
grande número de ociosos
e malfeitores que se
afastam diariamente da
Crosta da Terra. Aquela
desventurada irmã
permanecia sob alta
desordem emocional,
porque vivera trinta e
poucos anos na carne,
absolutamente distraída
dos problemas
espirituais que deveriam
interessar a todos. "Gozou,
à saciedade, na taça da
vida física. Após feliz
casamento, realizado sem
qualquer preparo de
ordem moral, contraiu
gravidez, situação esta
que lhe mereceu
menosprezo integral",
informou o atendente
espiritual.
Precipitando-se em
extravagâncias e
atitudes volúveis,
sequiosa de novidades
efêmeras, o resultado
foi funesto. Findo o
parto difícil,
sobrevieram infecções e
uma febre maligna, que a
levaram ao túmulo, de
forma inesperada,
debaixo de um estado
crônico de negação e
inconformação. (Cap. 15,
pp. 232 a 235)
94. Cada um colhe
de acordo com a
semeadura - O
assistente espiritual da
necrópole contou então
que vários amigos
visitadores tinham vindo
à necrópole, tentando
libertar a infeliz
companheira. A
pobrezinha, porém, após
atravessar existências
de sólido materialismo,
não sabia assumir a
menor atitude favorável
ao estado receptivo do
auxílio superior.
Exigia que o cadáver se
reavivasse, supondo-se
em atroz pesadelo, o
que só agravava a
desesperação. Os
benfeitores, desse modo,
estavam à espera da
manifestação de melhoras
íntimas, porque seria
perigoso forçar a
libertação, pela
probabilidade de
entregar-se a infeliz
aos malfeitores
desencarnados. Condoído
com o sofrimento da
jovem mulher, André Luiz
fez menção de cortar o
grilhão que a prendia ao
corpo em putrefação, mas
o atendente prontamente
objetou, surpreso,
esclarecendo que sua
equipe tinha ordens
expressas no sentido de
que ainda isso não
poderia ser feito. "Se
desatássemos a algema
benéfica, ela
regressaria,
intempestiva, à
residência abandonada,
como possessa de
revolta, a destruir o
que encontrasse. Não tem
o direito, como mãe
infiel ao dever, de
flagelar com a sua
paixão desvairada o
corpinho tenro do filho
pequenino e, como esposa
desatenta às obrigações,
não pode perturbar o
serviço de recomposição
psíquica do companheiro
honesto que lhe
ofereceu no mundo o que
possuía de melhor",
disse o amigo
espiritual. E ele mesmo
ajuntou: "É da lei
natural que o lavrador
colha de conformidade
com a semeadura. Quando
acalmar as paixões
vulcânicas que lhe
consomem a alma, quando
humilhar o coração
voluntarioso, de modo a
respeitar a paz dos
entes amados que deixou
no mundo, então será
libertada e dormirá sono
reparador, em estância
de paz que nunca falta
ao necessitado
reconhecido às bênçãos
de Deus". A lição
era dura, mas lógica.
(Cap. 15, pp. 236 e 237)
95. Não há duas
desencarnações
rigorosamente iguais
- Havia muitos
infelizes na necrópole,
como um velhote
desencarnado, de cócoras
sobre a própria campa,
que, igualmente em
ligação com o fundo,
dizia: "Ai, meu Deus!
quem me guardará o
dinheiro? Quem me
guardará o dinheiro?"
André endereçou-lhe
palavras de consolo e
coragem, mas ele nada
ouviu, pois sua mente
estava cheia de imagens
de moedas, letras,
cédulas e cifrões. "Vai
demorar-se bastante na
presente situação –
disse o benfeitor
espiritual – e, como
vê, não podemos em sã
consciência
facilitar-lhe a
retirada, porque iria
castigar os herdeiros e
zurzi-los diariamente".
E ele mesmo comentou: "Segundo
concluímos, se há
alegria para todos os
gostos, há também
sofrimento para todas as
necessidades".
Nesse ínterim, Jerônimo
chamou André: o
cemitério já estava
vazio de encarnados e
chegara a hora de
partir. Foi comovente o
adeus entre Dimas e sua
mãe, que prometeu
visitá-lo sempre que
possível. Autorizado
por Jerônimo, André pôde
dirigir a Dimas algumas
perguntas, necessárias
ao próprio
esclarecimento.
Primeiramente, ele quis
saber se Dimas ainda
sentia dores físicas. "Guardo
integral impressão do
corpo que acabei de
deixar – respondeu
Dimas. – Noto, porém,
que, ao desejar
permanecer ao lado dos
meus, e continuar onde
sempre estive durante
muitos anos, volto a
experimentar os
padecimentos que sofri;
entretanto, ao
conformar-me com os
superiores desígnios,
sinto-me logo mais leve
e reconfortado". Em
seguida, ele esclareceu
que conservava os cinco
sentidos perfeitamente.
Quanto à sensação de
fome, esclareceu Dimas:
"Chego a notar o
estômago vazio e ficaria
satisfeito se recebesse
algo de comer, mas esse
desejo não é incômodo ou
torturante". Por
fim, explicou que tinha
sede, mas não sofria por
isso. O Assistente
Jerônimo, após essa
breve entrevista,
interveio para dizer a
André que "não se
verificam duas
desencarnações
rigorosamente iguais. O
plano impressivo depende
da posição espiritual de
cada um". (Cap. 15,
pp. 237 a 239)
96. Inquietude dos
parentes envolve Dimas
- Na Casa Transitória de
Fabiano, Dimas
mostrava-se em
lastimável abatimento.
Apesar da fé que lhe
aquecia o espírito, as
saudades do lar
infundiam-lhe
inexprimível angústia.
Às vezes, finda a
conversação serena em
que se revelava calmo e
seguro nas palavras,
punha-se a gemer
doridamente, chamando a
esposa e os filhos,
inquieto. Em tais
momentos, tornava aos
sintomas da moléstia que
lhe vitimara o corpo
denso e, com
dificuldade, os
benfeitores espirituais
conseguiam subtraí-lo à
estranha psicose. Dimas
tentava então
desvencilhar-se da
influência espiritual
amiga, como se houvera
enlouquecido de repente,
no propósito de fugir
sem rumo certo. Gritava,
gesticulava, afligia-se,
como sonâmbulo
inconsciente. André
estava surpreso com essa
situação. Afinal, Dimas
fora instrumento
dedicado do Espiritismo
evangélico, consagrara
sua existência às
benditas realizações da
consoladora doutrina. De
antemão, sabia na esfera
carnal que seria
submetido às lições da
morte e que não lhe
faltariam ricas
possibilidades de
continuar junto da
parentela. Por que
semelhantes distúrbios?
Não recebera ele
excepcional atenção de
entidades superiores?
Jerônimo, sem denotar
pelo fato qualquer
surpresa, respondeu
dizendo que cada pessoa
é um mundo.
Esclarecimentos e
consolações são dádivas
de Deus, Nosso Pai, mas
convicções e realizações
constituem obra nossa.
Cada assembléia de
aprendizes recebe a
mesma bagagem de
ensinamentos, organizada
de modo geral para todos
os indivíduos que a
integram.
Diferenciam-se, porém,
os alunos, na série do
aproveitamento
particular. O mérito não
é patrimônio comum,
embora seja a glória do
cume, a desafiar todos
os caminheiros da vida
para a suprema elevação.
Dimas foi destacado
discípulo do Evangelho,
principalmente no setor
de assistência e
difusão, mas, quanto a
si mesmo, não fez
aproveitamento integral
das lições recebidas. "Espalhou
as sementes da luz e da
verdade, dedicou-se
largamente à causa do
bem, merecendo, por isso
mesmo, socorro
especialíssimo. Contudo,
no campo particular, não
se preparou
suficientemente. Qual
ocorre à maioria dos
homens, prendeu-se
demasiadamente às teias
domésticas, sem maior
entendimento. Conferiu
excessivo carinho à roda
familiar, sem noção de
equidade, no caminho
terrestre", informou
Jerônimo. E o Assistente
concluiu dizendo que
Dimas consagrou-se à
companheira e aos
filhos, mas, se lhes deu
muita ternura, não lhes
proporcionou todo o
esclarecimento de que
dispunha, libertando-os
da esfera pesada de
incompreensão. Agora,
muito naturalmente,
sofria-lhes o assédio. "A
inquietude dos parentes
atinge-o, através dos
fios invisíveis da
sintonia magnética",
resumiu Jerônimo. Dimas
não se preparou
interiormente,
considerando-se as
necessidades do
desapego construtivo.
Seria preciso, portanto,
algum tempo para
edificar a resistência.
(Cap. 16, pp. 240 a 242)
(Continua no próximo
número.)