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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 58 - 1° de Junho de 2008

LEONARDO MACHADO
leo@leonardomachado.com.br
www.leonardomachado.com.br
Recife, Pernambuco (Brasil)

O mito da parelha alada e
o além-túmulo

O sábio Sócrates conta, conforme anotações de Platão, em o livro “Fedro” (tópico 8), um mito muito interessante a respeito do ser e da morte. 

Diz ele que o ser pode-se comparar com uma força natural e ativa, e é constituído de uma carroça puxada por uma parelha (par de animais, como cavalos) e conduzido por um cocheiro.  

Quando a carroça encontra-se avariada, o guia não tem mais necessidade desta para continuar a sua viagem. Aí, então, toma da parelha e continua a sua viagem, apenas, com ela.  

Indo, ainda mais, além, o filósofo diz que os cavalos e os cocheiros das almas divinas são bons e de boa raça, mas os dos outros seres não divinos são mestiços, já que, nestes, o cocheiro que governa rege uma parelha na qual um dos cavalos é belo, bom e de boa raça, enquanto o outro é de raça ruim e de natureza arrevesada. As almas divinas, então, conseguem adquirir asas para a sua parelha, que faz com que o que era pesado possa ter forças de subir às alturas, onde habita a raça dos deuses. As outras, porém, com muita dificuldade sobem, pois que o cavalo de má raça inclina e puxa o cocheiro para a terra.  

Excelente alegoria esta, característica, realmente, do sábio que consegue dizer conceitos complexos através de comparações simples. Pois bem, analisemos semelhante alegoria socrática. 

Na primeira parte, o grego mostra que a carroça equivale ao nosso corpo material. O cavalo é o modelador e o sustentador do movimento do carro, portanto, intermediário entre a ação deste e a vontade do cocheiro, é, em suma, o que Kardec chamou de perispírito. E o cocheiro, por sua vez, é o próprio Espírito, é o agente motivador de tudo, é o guia. 

O que acontece na segunda parte equivale à desencarnação, quando, então, o Espírito, não mais podendo usufruir um corpo saudável, toma do perispírito e prossegue a jornada, agora, no além. Com isso, pois, a imortalidade da alma fica evidenciada. 

Entretanto, indo além, o filósofo evidencia que os Espíritos divinos são aqueles que conseguiram subir na escala da evolução, e, devido à perfeição dos mesmos, são chamados de deuses pelo grego. Os perispíritos deles, pois, já estão quintessenciados e puros, e, por isso, dão a leveza capaz de fazer com que eles possam adentrar em esferas superiores da criação. Sócrates utilizou a figura das asas para poder falar dessa pouca densidade capaz de fazer desprender do plano inferior. Os outros Espíritos não possuem essas asas, ou seja, essa leveza em seus perispíritos, já que o corpo espiritual que os reveste, ainda, possui manchas, impurezas – caracterizado por Sócrates como sendo o cavalo ruim –, as quais o deixa mais pesado e com menos capacidade de ascender às esferas mais felizes.  

Em resumo, pode-se dizer que, quando “vivos”, ou seja, reencarnados, os seres possuem o “eu” real motor de suas ações que é o Espírito (cocheiro); o intermediário que o reveste e o liga ao corpo, que é o perispírito (parelha de cavalos); e o corpo que o coloca em relação com o mundo das formas mais densas (carroça). Quando o corpo não mais tem condições de prosseguir a vida, o espírito revestido pelo perispírito prossegue sua jornada em outras paragens, agora, no além-túmulo. Nesse ponto, então, a viagem será mais fácil e mais ascensional para aqueles que conseguiram purificar seu corpo espiritual (que conseguiram, no dizer do filósofo, dar asas aos seus cavalos, tornando-os todos bons e de boa raça), e mais difícil para aqueles que, ainda, possuem impurezas no mesmo (que possuem cavalos de raça ruim, ainda), pois que essas os prendem à inferioridade.  

Com o Espiritismo conseguimos dar essa explicação bela para esse mito de tão alta significância e de tão grande profundidade.  

Em “O Espiritismo em sua mais simples expressão”, Allan Kardec mostra que a “vida espiritual é a vida normal do Espírito: ela é eterna; a vida corpórea é transitória e passageira: não é senão um instante na eternidade” (ponto 15). 

Em “O Livro dos Espíritos”, vê-se que os Espíritos são os seres inteligentes da criação (pergunta 76), e que eles são envolvidos por uma substância vaporosa para os olhos humanos, entretanto, grosseira, ainda, para os Espíritos, e, por isso, “semimaterial”, a qual Kardec chamou de perispírito (perguntas 93 e 94). Além disso, os seres espirituais não estão em um mesmo patamar evolutivo, ao contrário, “são de diferentes ordens, conforme o grau de perfeição que tenham alcançado” (pergunta 96). 

Em “A Gênese”, por outro lado, o ínclito codificador faz um estudo aprofundado acerca desse envoltório espiritual, no capítulo 14, evidenciando que esse corpo fluídico é uma condensação do fluído cósmico universal em torno de um foco inteligente, que é o Espírito (ponto 7), e é, justamente, do meio onde este último se encontra que ele extrai o seu perispírito, resultando, daí, o fato de os elementos constitutivos desse envoltório variarem conforme os mundos (ponto 8). Sendo assim, “conforme seja mais ou menos depurado o Espírito, seu perispírito se formará das partes mais puras ou das mais grosseiras do fluído peculiar ao mundo onde ele encarna”, e, desse modo, “a constituição íntima do perispírito não é idêntica em todos os Espíritos encarnados ou desencarnados que povoam a Terra ou o espaço que a circunda”, já que esse “envoltório perispirítico se modifica de acordo com o progresso moral que o Espírito realiza” (ponto 10).  

Por fim, neste tópico, há de se fazer alusão às asas mencionadas por Sócrates, que poderiam remontar à teoria dos anjos, levando a uma interpretação, errônea, de que os seres divinos possuem asas e são eleitos por Deus. Contudo, a Doutrina Espírita, em a pergunta 128 de “O Livro dos Espíritos”, diz-nos que esses “são Espíritos puros que se acham no mais alto grau da escala e reúnem todas as perfeições”, mas que percorreram um dia a escala da evolução até atingirem a perfeição relativa, a condição de “deuses” (perg. 129). Dessa maneira, esses seres não são Espíritos criados perfeitos e alados, mas que evoluíram até a perfeição relativa e, por isso, possuem um perispírito menos denso. (*)

A esta altura, faz-se natural, então, o surgimento da questão formulada acima, que Sócrates não tratara em sua alegoria brilhante: como fazer com que o perispírito fique mais leve, ou seja, com que a parelha fique alada ganhando asas? 

Se bem que a resposta já esteja, mais ou menos, desenhada nas partes do texto, faz-se mister anotar que a ação no bem eleva o Espírito; essa elevação faz com que o perispírito retire do fluido cósmico universal os elementos mais similares, e, portanto, mais elevados para a sua constituição. Sendo assim, “o aperfeiçoamento do Espírito é o fruto do seu próprio trabalho” (Allan Kardec, “O Espiritismo em sua mais simples expressão”, ponto 12).  

O mito da parelha alada de Sócrates, pois, está em perfeita consonância com os ensinamentos do Espiritismo acima anotados, e todos juntos só confirmam o que, há muito, desde épocas inimagináveis, o ser tem como intuição, que é a existência de algo além-túmulo e da imortalidade da alma, sobrevivendo essa, pois, à morte.

É por isso que podemos dizer, como falara Paulo de Tarso, “onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1 Coríntios 15: 55).
 

(*)Nota do autor: Neste ponto, pois, faz-se mister frisar que, com o conhecimento espírita, sabemos que os seres puros não possuem asas, a palavra foi usada como alegoria por Sócrates, apenas para se fazer entendido acerca da sutileza perispiritual. (Para maior entendimento ler “O Céu e o Inferno”, capítulo VIII, parte I, e “O Livro dos Espíritos”, perguntas 128 a 131, ambos de Allan Kardec.)
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita