MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Obreiros da Vida Eterna
(Parte 15)
André Luiz
Damos continuidade ao
estudo da obra
Obreiros da Vida Eterna,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e publicada em 1946 pela
editora da Federação
Espírita Brasileira, a
qual integra a série
iniciada com o livro
Nosso Lar.
Questões preliminares
A. Por que a situação de
Fábio, comparada à de
Dimas, era
espiritualmente mais
equilibrada?
R.: Enquanto Dimas ali
estava em porfiada luta
consigo mesmo, para
restaurar seu próprio
equilíbrio, diferente
era a situação de Fábio.
Sua casinha singela
encantava. Ali havia paz
e silêncio, harmonia e
bem-estar. À apreciação
espiritual, parecia
delicioso oásis em meio
de vasto deserto. Fábio
arregimentara todas as
medidas relacionadas com
a próxima libertação,
submetendo-se, dócil,
aos desígnios
superiores. Tivera
existência modesta;
limitara o vôo das
ambições mais nobres, no
culto da espiritualidade
redentora; esforçara-se
suficientemente pela
tranqüilidade familiar;
fora acicatado por
dificuldades sem conta,
no transcurso da
experiência que
terminava; deixava a
esposa e dois filhos
amparados na fé viva, e,
embora não lhes legasse
facilidades econômicas,
afastava-se do corpo
físico, jubiloso e
confortado, com a glória
de haver aproveitado
todos os recursos que a
esfera superior lhe
havia concedido. Além de
haver-se afeiçoado
profundamente ao
Evangelho do Cristo,
vivendo-lhe os
princípios renovadores,
com todas as
possibilidades ao seu
alcance, Fábio
conseguira iluminar a
mente da companheira e
construir bases sólidas
no espírito dos
filhinhos, orientando-os
para o futuro. E,
ademais, Fábio estava
desencarnando na ocasião
prevista, visto que
aproveitara todos os
recursos que lhe foram
conferidos, malgrado o
corpo franzino e doente
desde a infância.
(Obreiros da Vida
Eterna, cap. 16, pp. 242
a 246.)
B. Que medida socorrista
se verificou no banho
que precedeu o
falecimento de Fábio?
R.: Primeiro foram-lhe
aplicados passes
longitudinais. Em
seguida, quando Fábio se
preparava para o banho,
Jerônimo e Aristeu
ministraram à água pura
certos agentes de
absorção e ampararam a
dedicada esposa que,
por sua vez, auxiliava
Fábio a banhar-se. "Notei,
admirado, que a operação
se fizera acompanhar de
salutaríssimos efeitos
– registrou André Luiz
–, surpreendendo-me,
mais uma vez, ante a
capacidade absorvente da
água comum. A matéria
fluídica prejudicial
fora integralmente
retirada das glândulas
sudoríparas".
(Obra citada, cap. 16,
pp. 246 a 251.)
C. Como foi o
despertamento de Fábio
na vida espiritual?
R.: Fábio recobrou as
forças de modo
notavelmente rápido. Os
longos e difíceis
exercícios de
espiritualidade
superior, levados a
efeito por ele na
Crosta, frutificavam
agora, em bênçãos de
serenidade e
compreensão. E, por
isso, experimentava
tranqüilidade. Embora
não fosse um gênio das
alturas, era servo
distinto, em posição
invejável pelos débitos
pagos e pela venturosa
possibilidade de
prosseguir a caminho de
altos e gloriosos cumes
do conhecimento.
(Obra citada, cap. 16 e
17, pp. 251 a 259.)
Texto
para leitura
97. Fábio era um
completista - O
caso Dimas era
esclarecedor. O
dedicado médium, apesar
de cercado da mais
honrosa consideração por
parte das autoridades
espirituais, ali estava
em porfiada luta consigo
mesmo, para restaurar
seu próprio equilíbrio.
Viu-se então, mais uma
vez, que o amor pode
improvisar infinitos
recursos de assistência
e carinho, mas que a lei
divina é sempre a mesma
para todos. Cada homem
se elevará ao céu ou
descerá aos infernos
transitórios, em
obediência às
disposições mentais em
que se prende. Diferente
era a situação de Fábio.
Sua casinha singela
encantava. Ali havia paz
e silêncio, harmonia e
bem-estar. À apreciação
espiritual, parecia
delicioso oásis em meio
de vasto deserto. Três
amigos espirituais
recepcionaram Jerônimo e
André. Um deles, Aristeu
Fraga, velho conhecido
do Assistente,
apresentou-lhes o irmão
Silveira, que fora pai
de Fábio na Terra e
desejava colaborar em
favor do filho querido.
Silveira estava
satisfeito, porque Fábio
arregimentara todas as
medidas relacionadas com
a próxima libertação,
submetendo-se, dócil,
aos desígnios
superiores. Tivera
existência modesta;
limitara o vôo das
ambições mais nobres, no
culto da espiritualidade
redentora; esforçara-se
suficientemente pela
tranqüilidade familiar;
fora acicatado por
dificuldades sem conta,
no transcurso da
experiência que
terminava; deixava a
esposa e dois filhos
amparados na fé viva, e,
embora não lhes legasse
facilidades econômicas,
afastava-se do corpo
físico, jubiloso e
confortado, com a glória
de haver aproveitado
todos os recursos que a
esfera superior lhe
havia concedido. Além de
haver-se afeiçoado
profundamente ao
Evangelho do Cristo,
vivendo-lhe os
princípios renovadores,
com todas as
possibilidades ao seu
alcance, Fábio
conseguira iluminar a
mente da companheira e
construir bases sólidas
no espírito dos
filhinhos, orientando-os
para o futuro. E,
ademais, Fábio estava
desencarnando na ocasião
prevista, visto que
aproveitara todos os
recursos que lhe foram
conferidos, malgrado o
corpo franzino e doente
desde a infância. André
então considerou: "É
lamentável tenha
renascido em semelhante
organismo quem sabe
servir com tanto valor à
causa do bem..." O
genitor de Fábio disse
que também pensara
assim, quando encarnado,
mas esclareceu que a
condição do filho tinha
a sua razão de ser, à
vista dos princípios que
regem a vida do homem na
Terra. (Cap. 16, pp. 242
a 244)
98. O caso Fábio
- O pai de Fábio contou
então que, na existência
que ora findava, o filho
foi atacado de pneumonia
dupla, que quase o
arrebatou de seu
convívio. Contava então
apenas doze anos. Médico
amigo chamou-lhe a
atenção para a
debilidade do rapazinho,
mas eles eram
demasiadamente pobres
para tentar tratamentos
caros em estâncias de
repouso. Antes dos
quatorze anos, terminado
o curso primário,
conduziu-o ao serviço,
pela exigência imperiosa
do ganha-pão. Sabia que
Fábio desejava
continuar estudando,
para o aprimoramento das
faculdades
intelectuais, em face
dos seus pendores para o
desenho e a literatura,
e não poucas vezes o
vira namorando o
educandário vizinho de
casa, ralado de inveja
ao reparar os colegiais
em bandos festivos. As
condições de vida da
família, no entanto,
reclamavam esforço
ingente, e Fábio,
atirado à luta desde
muito cedo, não
encontrou ensejo para as
construções artísticas
que idealizava.
Trabalhando numa oficina
mecânica, em ambiente
pesado demais para a sua
constituição física, ele
não suportou por muito
tempo o esforço,
contraindo com
facilidade a tuberculose
pulmonar. Ao
desencarnar, o pai
procurou saber a causa
da debilidade orgânica
do filho. E, passado
algum tempo, foi
devidamente esclarecido.
Ele e Fábio foram
destacados fazendeiros
na antiga nobreza rural
fluminense. Nessa época,
não muito recuada, foram
também pai e filho.
Educou-o com desvelado
carinho e, por mais de
uma vez, enviou-o à
Europa, ansioso por
elevar-lhe o padrão
intelectual e cioso de
suas possibilidades
financeiras. Ambos,
porém, cometeram graves
erros, sobretudo no
trato direto com seus
escravos. O filho era
sensível e generoso,
mas excessivamente
austero para com os
servidores das tarefas
mais duras.
Congregava-os na
senzala, com severidade
rigorosa, e muitos dos
serviçais morreram, em
virtude do ar viciado
pela construção
deficiente que Fábio
conservara inalterável,
simplesmente para manter
ponto de vista pessoal.
O genitor se comoveu com
a narrativa e pediu
permissão para
interrompê-la. No quarto
ao lado, Fábio,
fundamente abatido,
respirava com
dificuldade, acusando
infinito mal-estar.
Junto dele, a esposa
velava, atenta. (Cap.
16, pp. 244 a 246)
99. A
água do banho é
magnetizada
- O pai de Fábio disse a
Jerônimo que desejava
auxiliar o filho no
derradeiro culto
doméstico que ele faria
ao lado da família. "Regra
geral – disse ele –,
as últimas
conversações dos
moribundos são gravadas
com mais carinho pela
memória dos que ficam.
Em razão disso,
ser-me-ia sumamente
agradável ajudá-lo a
endereçar algumas
palavras de aviso e
estímulo à companheira".
O Assistente concordou
com a proposta. Em
seguida, ele e Aristeu
passaram a aplicar
passes longitudinais no
enfermo, deixando,
porém, as substâncias
nocivas à flor da
epiderme, abstendo-se de
maior esforço para
alijá-las de vez. André
quis saber dos motivos
de semelhante medida. O
Assistente explicou que
Fábio estava muito
enfraquecido e, por
isso, não desejavam
aumentar-lhe o cansaço.
"As substâncias
retidas nas paredes da
pele serão absorvidas
pela água magnetizada do
banho, a ser usado em
breves minutos",
acrescentou Jerônimo.
Dito e feito.
Influenciado pelos
benfeitores espirituais,
Fábio expressou o desejo
de tomar leve banho
morno, no que foi
atendido prontamente.
Jerônimo e Aristeu
ministraram à água pura
certos agentes de
absorção e ampararam a
dedicada esposa, que,
por sua vez, auxiliava
marido a banhar-se. "Notei,
admirado, que a operação
se fizera acompanhar de
salutaríssimos efeitos
– registrou André Luiz
–, surpreendendo-me,
mais uma vez, ante a
capacidade absorvente da
água comum. A matéria
fluídica prejudicial
fora integralmente
retirada das glândulas
sudoríparas". Findo
o banho, Fábio voltou ao
leito, em pijama, de
fisionomia confortada e
espírito bem disposto.
Dentro em pouco, sua
esposa, dona Mercedes,
trouxe ambas as
crianças, e teve início
o culto do Evangelho no
lar. Fábio, auxiliado
pelo pai desencarnado,
abriu o Novo Testamento,
na primeira epístola de
Paulo aos Coríntios e
leu o versículo 44 do
capítulo 15: "Semeia-se
corpo animal,
ressuscitará corpo
espiritual. Há corpo
animal, e há corpo
espiritual". Em
seguida, proferiu a
prece inicial, dirigida
a Deus, em que
reconhecia que a saúde é
tesouro que o Senhor nos
empresta, e não uma
propriedade nossa, como
o homem geralmente
pensa. (Cap. 16, pp. 246
a 248)
100. Fábio
despede-se da esposa
- O genitor de Fábio
colocou a destra em sua
fronte, mantendo-se na
atitude de quem ora com
profunda devoção.
Luminosa corrente se
estabeleceu, então, no
organismo do enfermo,
desde a massa encefálica
até o coração,
inflamando as células
nervosas, que pareciam
minúsculos pontos de luz
condensada e radiante.
Os olhos de Fábio
adquiriram, pouco a
pouco, mais brilho e sua
voz fez-se ouvir, de
novo, com diferente
inflexão. Dirigindo-se à
esposa e aos filhos, ele
comentou a passagem lida
e disse palavras de
despedida aos seus
familiares, pressentindo
que aquela seria a
última noite em que se
reuniria com eles,
naquele corpo... Fábio
referiu-se ao lar
espiritual que ali fora
construído, ponto
indelével de referência
à felicidade
imorredoura. Estimulou a
esposa à busca de
trabalho digno, sem medo
dos obstáculos da
sombra. Lembrou-lhe que
a solidão torna-se
aflitiva para a mulher
jovem, e assim
incentivou-a a aceitar,
como segundo esposo,
aquele que Jesus lhe
enviasse no curso do
tempo. "Se isso
acontecer, querida, não
recuse", disse-lhe o
enfermo, assegurando que
tudo faria para que ela
não ficasse sozinha,
visto que os filhos,
ainda frágeis,
necessitariam de amparo
amigo na orientação da
vida prática. Mercedes,
enxugando os olhos
cheios de lágrimas, ia
protestar, mas Fábio
não permitiu que ela
falasse, adiantando-se:
"Já sei o que dirá.
Nunca duvidei de sua
virtude incorruptível,
de seu desvelado amor".
E acrescentou: "Reconheça,
porém, que temos vivido
em profunda comunhão
espiritual e devemos
encarar, com sinceridade
e lógica, minha partida
próxima". Foram
palavras de raro
desprendimento e
elevação, que mostravam
perfeitamente o caráter
do companheiro prestes a
deixar seus familiares,
em demanda dos páramos
espirituais. (Cap. 16,
pp. 248 a 251)
101. A
desencarnação de Fábio
- O genitor retirou a
destra da fronte de
Fábio, desaparecendo, de
imediato, a corrente
fluídico-luminosa que o
ajudara a pronunciar
aquela impressionante
alocução de amor
acrisolado. Carlindo,
um dos filhos do casal,
fez a prece final. Fábio
sentiu vontade de
beijar os filhos,
pedindo, para isso, que
Mercedes lhe trouxesse
um lenço novo.
Emocionado, o enfermo
aplicou o pano à
cabeleira das crianças
e beijou o tecido, ao
invés de oscular-lhes os
cabelos. Contudo, havia
tanta alma, tanto fervor
afetivo naquele gesto,
que um jato de luz lhe
saiu da boca, atingindo
a mente dos pequeninos.
O beijo saturava-se de
magnetismo santificante.
Jerônimo, presenciando a
cena, comentou com
André, baixinho: "Outros
verão micróbios; nós
vemos amor..." Logo
depois, a família
recolheu-se. As crianças
foram, por Aristeu,
conduzidas, fora do
corpo físico, a uma
paisagem de alegria, de
modo a se entreterem,
descuidadas... Foi
realizado então o
serviço de libertação.
Enquanto Silveira
amparava o filho, com
enorme carinho, Jerônimo
aplicou ao enfermo
passes anestesiantes. Em
seguida, o Assistente
deteve-se em complicada
operação magnética sobre
os órgãos vitais da
respiração e
verificou-se a ruptura
de importante vaso. O
paciente tossiu e, num
átimo, o sangue
fluiu-lhe à boca aos
borbotões. Mercedes
levantou-se, assustada,
mas Fábio, falando com
dificuldade,
tranqüilizou-a: "Pode
chamar o médico...
entretanto, Mercedes...
não se preocupe... é
justamente o fim..."
Alguém chamou o
clínico, enquanto
prosseguia a separação
do corpo perispiritual
do organismo físico.
Quando o médico chegou,
nada mais podia ser
feito. O sangue, em
golfadas rubras, fluía
sempre, sem parar.
Jerônimo repetia em
Fábio o mesmo processo
de libertação praticado
em Dimas, mas com
espantosa facilidade.
Depois da ação
desenvolvida sobre o
plexo solar, o coração e
o cérebro, desatado o
nó, Fábio fora
completamente afastado
do corpo físico. Por
fim, brilhava o cordão
fluídico-prateado, com
formosa luz. Amparado
pelo pai, o
recém-liberto
descansava, sonolento,
sem consciência exata da
situação. Uma hora
depois da desencarnação,
Jerônimo cortou o
apêndice luminoso. Fábio
estava completamente
livre. O pai beijou sua
fronte e entregou-o a
Jerônimo, dizendo: "Não
desejo que ele me
reconheça de pronto. Não
seria aproveitável
levá-lo agora a
recordações do passado.
Encontrá-lo-ei mais
tarde, quando tenha de
partir da instituição
socorrista para as zonas
mais altas". E
acrescentou: "Pode
conduzi-lo sem perda de
tempo. Incumbir-me-ei de
velar pelo cadáver,
inutilizando os
derradeiros resíduos
vitais contra o abuso de
qualquer entidade
inconsciente e perversa".
Jerônimo agradeceu,
emocionado, e partiu
conduzindo, com André, o
sagrado depósito que
lhes fora confiado.
Observando Fábio
adormecido, enquanto
viajavam em direção à
Casa Transitória, André
registrou: "tive a
impressão de que
gloriosos portos do Céu
se iluminavam de sol
para receber aquele
homem, de sublime
exemplo cristão, que
subia vitorioso da
Terra...". (Cap. 16,
pp. 251 a 254)
102. Fábio
encontra a esposa
- Enquanto Dimas se
restaurava
paulatinamente, Fábio
recobrava as forças de
modo notavelmente
rápido. Os longos e
difíceis exercícios de
espiritualidade
superior, levados a
efeito por ele na
Crosta, frutificavam
agora, em bênçãos de
serenidade e
compreensão. Ambos
contavam, na Casa
Transitória, com a
simpatia geral e o
amparo de Zenóbia. O
exemplo de Fábio ajudou
Dimas a criar novo
ânimo. Este reagia agora
com mais calor ante as
exigências da família
terrena e consolidava a
serenidade própria, com
a precisa eficiência.
Fábio, por sua vez,
experimentava
tranqüilidade: embora
não fosse um gênio das
alturas, era servo
distinto, em posição
invejável pelos débitos
pagos e pela venturosa
possibilidade de
prosseguir a caminho de
altos e gloriosos cumes
do conhecimento. Foi
assim que, certa noite,
Jerônimo tomou a
iniciativa de trazer-lhe
a esposa, em visita
ligeira. Mercedes estava
atônita, deslumbrada,
extática, quando
penetrou o pórtico do
instituto. Conduzida à
câmara de Fábio, ela
ajoelhou-se
instintivamente,
sensibilizando a todos,
com seu gesto de
humildade espontânea.
Fábio, adiantando-se,
ergueu-a e abraçou com
infinito carinho,
dizendo-lhe que não se
amedrontasse com a
viuvez, pois eles
estariam sempre juntos,
como prometido no seu
encontro derradeiro,
antes da morte corpórea.
Pediu-lhe depois
notícias dos filhos.
Mercedes fez um sinal
mostrando que se
lembrava da promessa.
Fixou nele, com mais
atenção, seus olhos
meigos e brilhantes e
disse, chorando de
júbilo, que estava feliz
por vê-lo... Lágrimas
copiosas corriam-lhe das
faces. Informou então
que os meninos iam bem e
que todas as noites
reuniam-se em oração,
implorando a Deus
concedesse a ele alegria
e paz na nova vida. Em
seguida, após curta
pausa em que tentou
conter o pranto,
Mercedes avisou-o de que
já estava trabalhando.
Carlindo cuidava do
irmão menor, enquanto
ela se ausentava do lar.
Nada lhes faltava em
sentido material, apenas
saudades. "Não se
zangará – disse Mercedes
– se eu reclamar contra
as saudades imensas? Em
nossas refeições e
preces, há um lugar
vazio, que ‚é o seu.
Creia, porém, que faço o
possível por não
feri-lo. Coloquei
mentalmente a presença
de Jesus, o nosso Mestre
invisível, onde você
sempre esteve. Desse
modo, sua ausência em
casa está cheia da
confiança fervorosa
nesse Amigo Certo que
você me ensinou a
encontrar...". (Cap.
17, pp. 255 a 257)
103. A
morte não opera milagres
- Fábio fez visível
esforço para não chorar,
ante o carinho da
esposa. Mas, otimista,
disse-lhe: "Não
apague a luz da
esperança. Não me zango
em sabê-los saudosos,
pois também eu sinto
falta de sua presença,
de sua ternura, da
carícia de nossos
filhos, mas ficaria
contrariado se soubesse
que a tristeza absorveu
nosso ninho alegre.
Tenha coragem e não
desfaleça. Logo que for
possível, retomarei meu
lugar, em espírito.
Estarei com você no
ganha-pão, assisti-la-ei
nos exercícios da prece
e respirarei a atmosfera
de seu carinho".
Contou-lhe então que
estava cercado de bons
amigos e que, em breve,
teria ingresso em
colônia de trabalho
santificador, a fim de
prosseguir em seus
serviços de elevação. "Poderei
talvez tecer diferente e
mais belo ninho para
aguarda-la",
prometeu-lhe Fábio, que
acrescentou: "Ouço
dizer, Mercedes, que o
Sol é muito mais lindo
nessa paisagem de
encantadora luz e que, à
noite, as árvores
floridas assemelham-se a
formosos lampadários,
porque as flores
maravilhosas retêm o
luar divino..."
André Luiz, que a tudo
assistia, estava
perplexo. Se Fábio tinha
tantos amigos em "Nosso
Lar", desde outro tempo,
como se mostrava
adventício a respeito da
vida na Colônia,
ignorando aspectos tão
simples, como se fosse
um iniciante na vida
espiritual? Jerônimo o
socorreu: "A morte
não faz milagres.
Retomar a lembrança ‚
também serviço gradual,
como qualquer outro que
envolva atividades
divinas da Natureza".
A conversa entre Fábio e
sua esposa continuava.
Ele falava agora da
transitoriedade da vida
carnal, dizendo que
valia a pena sofrer, de
algum modo, na Terra,
para conseguir o sagrado
patrimônio espiritual,
que se avizinhava.
Mercedes mostrava um
semblante feliz e
manteve-se, por alguns
instantes, de mãos
postas, como a agradecer
a Deus o imenso júbilo
daquela hora. Chegara ao
fim o tempo da visita.
Zenóbia tomou de uma
flor semelhante a uma
grande camélia dourada e
deu-a a Fábio, para que
presenteasse a
companheira. Esta
recebeu a dá diva,
conchegando-a ao
coração. Mercedes
despediu-se e, em breve,
foi reconduzida por
André ao seu lar.
Estranha felicidade a
viúva sentiu, no dia
seguinte, ao despertar
com a perfeita impressão
de guardar a delicada
flor entre os dedos.
(Cap. 17, pp. 257 a 259)
(Continua no próximo
número.)