Repercute
internacionalmente
a questão
ocorrida na
Áustria sobre o
pai que
encarcerou a
própria filha
por mais de
vinte anos e
ainda teve
filhos com ela.
Fato incomum,
atraiu a atenção
de toda a
imprensa e, com
a velocidade da
Internet, a
notícia
espalhou-se com
rapidez e
gerando
comentários de
todo tipo, desde
a indignidade à
compaixão e até
mesmo à
constante
revisão dos
valores a que
estamos
submetidos numa
sociedade
marcada por
dramas que se
sucedem, com o
agravante de
sempre
aparecerem fatos
que nunca se
esperam,
demonstrando a
fragilidade de
nossa condição.
Sim,
fragilidade,
porque temos
atitudes,
trazemos
tendências e
manifestamos
nossa
instabilidade
interior de
diferentes
formas,
agredindo-nos
muitas vezes de
maneiras
inconcebíveis
por uma
mentalidade
sadia e digna.
O fato do pai
escravizar a
própria filha e
ser avô e pai ao
mesmo tempo, dos
próprios filhos,
é algo que
balança nossas
referências.
Onde estão as
raízes de um
fato como este?
Como entender
tais
comportamentos?
Distúrbios
mentais
simplesmente? Um
psicopata?
O assunto
caminha
primeiramente
pela escravidão,
abuso de força,
exploração da
mulher, ainda
que praticado
pelo próprio
pai. O tema
também passeia
pelos ares do
livre-arbítrio e
mesmo de uma
imensa carência
e fragilidade
interior.
O convite de não
julgarmos deve
sempre estar
presente,
todavia. Apesar
de ser um fato
que foge a todas
as referências
de dignidade e
civilidade,
convenhamos que
não temos
conhecimento
completo da
história da
família. Isso já
é um ponto que
deve nortear
nossos
comentários e
reflexões,
evitando
precipitações.
Podemos dar
credibilidade
absoluta à
versão da
imprensa? Qual o
passado de
ambos, na
vivência
familiar?
Somente um
estudo
aprofundado de
toda
historicidade da
família, à luz
da psicologia,
inclusive,
poderá
referendar
qualquer
comentário.
Para usar o
conhecimento
espírita na
análise da
questão, podemos
recorrer às
questões 817 a
822 de O
Livro dos
Espíritos,
que tratam da
Igualdade de
Direitos do
Homem e da
Mulher, onde
enquadramos a
inferioridade
moral a que se
acha a mulher
submetida em
alguns países
(no caso não é
no país, mas no
fato ocorrido)
como fruto do
predomínio
injusto e cruel
que sobre ela
assumiu o homem.
É resultado das
instituições
sociais e do
abuso da força
sobre a fraqueza
(questão 818).
Também podemos
buscar a questão
822, na íntegra:
Sendo iguais
perante a lei de
Deus, devem os
homens ser
iguais também
perante as leis
humanas? E a
resposta: O
primeiro
princípio de
justiça é este:
Não façais aos
outros o que não
quereríeis que
vos fizessem.
É todavia, aqui,
que podemos
encaminhar o
assunto para a
questão da
escravidão a que
o pai,
supostamente,
submeteu a
filha. Neste
ponto recorremos
à questão 829 do
livro citado. A
resposta dos
Espíritos é
sumária: É
contrária à lei
de Deus toda
sujeição
absoluta de um
homem a outro
homem. A
escravidão é um
abuso da força.
Apesar das
citações dos
parágrafos
acima, não
podemos
dispensar
novamente o
mesmo critério
que devemos
aplicar no
doloroso caso
Isabella, de São
Paulo.
Ensinam os
Espíritos:
“(...) não é
proibido ver o
mal quando o mal
existe; haveria
mesmo
inconveniente em
não ver por toda
parte senão o
bem: essa ilusão
prejudicaria o
progresso. O
erro está em
fazer resultar
essa observação
em detrimento do
próximo,
depreciando-o
sem necessidade
na opinião
pública.
(...)”1.
E também: “(...)
sede severos
para convosco,
indulgentes para
com as fraquezas
dos outros; é
ainda uma
prática da santa
caridade que bem
poucas pessoas
observam. Todos
tendes más
tendências a
vencer, defeitos
a corrigir,
hábitos a
modificar; todos
tendes um fardo
mais ou menos
pesado a depor
para escalar o
cume da montanha
do progresso.
Por que, pois,
serdes tão
clarividentes
para com o
próximo e cegos
em relação a vós
mesmos?
(...)”2.
É, caro leitor,
vivemos tempos
difíceis, que
desafiam nossas
referências. O
que precisamos é
raciocinar,
pensar,
analisar, com
bondade e
justiça, nunca
com
precipitação.
Pois há um outro
item,
fundamental, em
toda a questão e
noutras
semelhantes: a
reencarnação é a
chave. Não
sabemos a
bagagem que tais
personagens
trazem em sua
história
evolutiva. Não
sabemos quais os
laços do passado
embutidos nesse
drama todo, o
que novamente
nos desautoriza
julgar...
Bibliografia:
(1) O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
de Allan Kardec,
capítulo X, item
20, 252ª edição
IDE, tradução de
Salvador Gentile.
(2) O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
de Allan Kardec,
capítulo X, item
18, 252ª edição
IDE, tradução de
Salvador Gentile.