Renato Costa:
É preciso
divulgar a
Doutrina
Espírita para
todos os
cantos do mundo
Roustaing,
violência e
movimento
espírita são
alguns dos
assuntos
tratados na
entrevista pelo
confrade do Rio
de Janeiro, que
enfatiza a
importância do
idioma
inglês na
divulgação da
Doutrina no
exterior
O confrade
Renato Costa
(foto) atua
de forma intensa
na divulgação da
Doutrina
Espírita. Apesar
de não assumir
nenhum cargo nas
atividades
administrativas
em alguma casa
espírita, Costa
possui uma
extensa lista de
ações voltadas,
principalmente,
para o objetivo
de manter leigos
e estudiosos do
Espiritismo
atualizados
quanto às
informações da
Doutrina
codificada por
Allan Kardec.
Natural de
Petrópolis, mas
há muito morando
na capital
fluminense,
Costa é médium
psicógrafo
e
psicofônico
e
|
|
ministra
palestras em
diversas
casas do Rio
de Janeiro.
Ele criou e
mantém o
site da
Instituição
Espírita
Joanna de
Ângelis (www.ieja.org),
à qual é
associado.
Faz parte
também do
Conselho
Editorial do
Grupo de
Estudos
Avançados
Espíritas –
GEAE (www.geae.inf.br),
sendo um dos
responsáveis
pelo seu
boletim
mensal
editado em
inglês, o
Spiritist
Messenger.
Renato
Costa, que é
também
articulista
nesta
revista,
concedeu-nos
a entrevista
que se
segue: |
O Consolador:
Você reside no
Rio de Janeiro
há muito tempo?
Sim. Nasci em
Petrópolis (RJ)
mas mudei-me
para o Rio de
Janeiro ainda
bebê. Minha mãe
era também
natural de
Petrópolis e, ao
casar-se com meu
pai, veio morar
no Rio, onde ele
já morava e
trabalhava. Por
razões que não
vêm ao caso, ela
resolveu ter seu
segundo filho em
Petrópolis.
Somente por isso
nasci lá.
O Consolador:
Qual é sua
formação?
Sou Engenheiro
Eletricista
(PUC-RJ, julho
1977), Mestre em
Sistemas de
Computação (IME,
1980) e tenho
MBA em Ciências
Econômicas (FGV,
1990).
O Consolador:
Além de manter
um site de
conteúdo
espírita, quais
atividades você
exerce
atualmente no
movimento
espírita?
Escrevo artigos
para vários
órgãos da
imprensa
espírita, dou
palestras no Rio
de Janeiro e em
cidades próximas
e trabalho, no
meio espírita,
como médium
psicógrafo e
psicofônico,
além de
passista.
O Consolador:
Quando e como
teve seu
primeiro contato
com o
Espiritismo?
Minha esposa é
médium e desde
criança esteve à
volta com
fenômenos
espíritas. Logo,
meu contato com
a mediunidade
foi anterior ao
contato com o
Espiritismo e
foi através
dela, por
ocasião de um
problema de
saúde que ela
teve, que eu
cheguei a uma
casa espírita, o
Lar de Frei
Luiz, em
Jacarepaguá, no
Rio de Janeiro.
Foi na livraria
do Lar de Frei
Luiz que ocorreu
o fato que me
levou a
tornar-me
espírita.
Perguntei ao
senhor que
tomava conta da
livraria por um
livro "para eu
começar a
conhecer o
Espiritismo" e
ele, após breve
intervalo no
qual certamente
teve inspiração
do alto, me
recomendou
“Nosso Lar”.
Comecei a ler o
livro na mesma
noite e mal
parei até
terminar. Quando
terminei,
voltei-me para a
minha esposa e
lhe disse: "se
metade do que
diz aqui for
verdade, isso
estará dizendo
que eu tenho
muito a estudar
para aprender
sobre o
Espiritismo". O
que eu posso
dizer hoje é que
desde então
venho estudando
o tempo todo e
continuo achando
que nada sei.
O Consolador:
Qual foi a
reação de sua
família ante sua
adesão à
Doutrina
Espírita?
Meus pais já
haviam
desencarnado,
tinha pouco
contato com meu
irmão e, além
disso, toda a
família de minha
esposa era
espírita ou
espiritualista.
Logo, a reação
foi da mais
completa
naturalidade.
O Consolador:
Qual
dos três
aspectos do
Espiritismo –
científico,
filosófico e
religioso – lhe
interessa mais?
O científico,
por ser o que os
espíritas menos
estudam e por
ser científica a
minha formação.
Não o coloco,
porém, como o
mais importante
dentre os três.
Pelo contrário,
são o filosófico
e o religioso os
que orientam meu
comportamento
nesta vida e,
pelo que
entendo, os mais
importantes para
todos os
espíritas. Só
lamento o pouco
caso que tantos
irmãos e irmãs
dão ao lado
científico da
Doutrina.
O Consolador:
Quais autores
espíritas mais
lhe agradam?
São muitos e,
por isso, não
seria correto de
minha parte
mencionar alguns
e esquecer
outros. Para
citar apenas um
dentre os muitos
que eu aprecio,
escolho o
Hermínio Miranda
pela sua
erudição, sua
simplicidade,
seu estilo
sempre agradável
e o interesse
que me despertam
todos os
assuntos que ele
aborda.
O Consolador:
Que livros
espíritas você
considera de
leitura
indispensável
aos que se
iniciam no
Espiritismo?
Penso que cada
pessoa terá seu
interesse
capturado por
uma obra
diferente. Não
existe, a meu
ver, um livro
indispensável
para iniciantes.
Já para os
estudiosos
indispensáveis
são, a meu ver,
as cinco obras
principais que
compõem a
Codificação,
Obras Póstumas,
a Revista
Espírita e a
coleção André
Luiz.
O Consolador:
Se fosse para um
local distante,
sem acesso às
atividades e
trabalhos
espíritas, que
livros você
levaria?
Se pudesse levar
apenas dois,
levaria “O Livro
dos Espíritos” e
“O Evangelho
segundo o
Espiritismo”. Se
não houvesse
limite, levaria
todos os meus
livros espíritas
de estudo e
pediria um
acesso à
internet para
continuar
adquirindo tudo
o mais que
despertasse meu
interesse.
O Consolador:
As divergências
doutrinárias em
nosso meio
reduzem-se a
poucos assuntos.
Um deles diz
respeito ao
chamado
Espiritismo
laico. Para
você, o
Espiritismo é
uma religião?
Não tenho dúvida
de que é. É uma
religião
diferente das
outras, pois não
possui cultos
nem rituais, mas
nem por isso
deixa de ser uma
religião. O
Espiritismo é
religião em seu
sentido mais
puro, pois
incentiva o
homem a se
melhorar a cada
dia, explica
qual seu
objetivo na vida
e o que ocorrerá
com ele após a
chamada morte,
além de
esclarecer quais
são as leis de
Deus e o que
fazer para viver
em conformidade
com elas.
O Consolador:
Outro tema que
suscita
geralmente
grandes debates
diz respeito à
obra publicada
na França por J.
B. Roustaing.
Qual é sua
apreciação dessa
obra?
A confiabilidade
da Doutrina
Espírita está no
ensino universal
e concordante
dos Espíritos e
não na
importância
assumida pelo
comunicante.
Allan Kardec, na
introdução de “A
Gênese”, afirma:
"Generalidade e
concordância no
ensino, tal é a
característica
essencial da
Doutrina, a
própria condição
de sua
existência; daí
resulta que todo
princípio que
não recebeu a
consagração do
controle e da
generalidade não
pode ser
considerado
parte integrante
dessa mesma
Doutrina, mas
como uma simples
opinião isolada,
da qual o
Espiritismo não
pode assumir
responsabilidade".
Assim sendo, o
fato de as
comunicações que
deram origem à
obra "Os Quatro
Evangelhos"
terem sido
obtidas através
de uma única
médium e cada
uma delas ter
tratado de um só
assunto (cada
evangelista, do
seu evangelho)
faz com que a
obra se
configure como o
que Kardec
chamou de
"opinião
pessoal", não
podendo,
portanto, ser
entendida como
parte da
Doutrina
Espírita. No
entanto,
considerando,
como estamos, a
forma como a
obra foi obtida,
ela é tão
espírita como as
obras de André
Luiz, Emmanuel
ou Joanna de
Ângelis. Todas
são obras
espíritas, mas
não fazem parte
da Doutrina
Espírita. É tão
simples isso.
Logo, não vejo
razão para tanta
celeuma sobre
Roustaing e sua
obra. Uma vez
entendido que
"Os Quatro
Evangelhos" não
fazem parte da
Doutrina
Espírita, assim
como também não
faz parte dela a
obra dos outros
autores
mencionados, que
cada espírita
seja livre para
analisar a obra,
do mesmo modo
como analisa
qualquer obra
espírita, isto
é, com o crivo
da razão e do
bom senso, para
concluir o que
pode e o que não
pode ser aceito
como compatível
com a Doutrina
Espírita.
O Consolador: No
tocante ao tema
passe, qual é
sua opinião sobre
os passes
padronizados,
propostos na
obra de Edgard
Armond?
Desde tempos
imemoriais
sabe-se que há
no corpo sutil,
chamado na
Doutrina
Espírita de
perispírito,
centros de força
e canais ligando
esses centros de
força,
correspondendo
aos órgãos e
sistemas do
corpo físico. Em
se levando esse
conhecimento em
consideração, é
evidente que a
movimentação das
mãos, aplicada
conscientemente
sobre tais
elementos, terá
um efeito
positivo. Quando
digo
conscientemente,
quero que se
entenda que os
movimentos não
podem ser
"padronizados",
sendo essencial,
como em tudo o
mais, que o
médium saiba o
que está
fazendo. Não
quero dizer com
isso que a
imposição
simples das mãos
não tenha seu
efeito.
Certamente terá,
mas requererá,
pelo que
entendo, maior
trabalho das
entidades
participantes. A
despeito de tudo
isso, no
entanto, a
técnica
utilizada não é
o que faz a
grande
diferença. O
principal é a
postura mental
do passista, as
vibrações de
amor que coloca
no trabalho e,
obviamente, a
postura
receptiva do
beneficiado.
Devemos nos
lembrar do
episódio da cura
da mulher
hemorroíssa, que
apenas por se
encostar nas
vestes de Jesus,
ficou curada.
Quanto a uma
entidade
federativa
querer
padronizar a
forma de se dar
passes, não
acho,
definitivamente,
que esse seja o
melhor caminho.
O Consolador:
Como você vê a
discussão em
torno do aborto?
Acha que os
espíritas
deveriam ser
mais ousados na
defesa da vida
como tem feito a
Igreja?
Me parece que o
movimento
espírita tem
sido bastante
corajoso e ativo
na defesa da
vida. Veja-se,
por exemplo, a
criação do
movimento
parlamentar em
defesa da vida,
obra do deputado
espírita Luiz
Bassuma, e as
diversas
campanhas da FEB
e de outras
entidades sobre
o tema.
O Consolador:
A eutanásia,
como sabemos, é
uma prática que
não tem o apoio
da Doutrina
Espírita. Kardec
e outros
autores, como
Joanna de
Ângelis, já se
posicionaram
sobre esse tema.
Surgiu, no
entanto,
ultimamente a
idéia da
ortotanásia,
defendida até
mesmo por
médicos
espíritas. Qual
é sua opinião a
respeito?
Na minha
opinião, deve
ser dado ao
doente lúcido o
direito de ir
para casa e
recusar um
tratamento
paliativo no
hospital que em
nada lhe
aumentará nem a
qualidade nem a
duração da vida.
O Consolador:
O movimento
espírita em
nosso País lhe
agrada ou falta
algo nele que
favoreça uma
melhor
divulgação da
Doutrina?
O movimento
espírita me
agrada, mas me
entristece um
pouco quando
vejo falta de
unidade. É
triste ver que
existem no
movimento grupos
que não se
integram e mesmo
se rejeitam por
pensarem
diferente sobre
esse ou aquele
tema. Seria bom
se todos
compreendessem
que pensar
diferente é da
natureza humana
e os grupos se
unissem. Custo a
crer que alguém
que estude o
Espiritismo
ignore que cada
Espírito está em
um estágio
evolutivo
específico e
possui uma
bagagem cultural
que lhe é
própria, sendo
impossível que
dois pensem
igual. A
desunião é uma
propaganda
extremamente
negativa e
precisa ser
superada.
O Consolador:
Como você vê o
nível da
criminalidade e
da violência que
parece aumentar
em todo o País?
Na sua opinião,
como nós,
espíritas,
podemos cooperar
para que essa
situação seja
revertida?
Você disse bem:
"parece
aumentar". O que
aumentou, penso
eu, foi a
conscientização
do povo sobre a
violência, o
primeiro passo
para que ela
seja
corretamente
enfrentada.
Podemos cooperar
educando
corretamente
nossos filhos
para fazer deles
homens de bem,
dando bons
exemplos com
nosso
comportamento no
trabalho, na rua
e na casa
espírita e nos
esforçando para
sermos melhores
a cada dia,
tornando-nos
mais caridosos,
pacientes e
atuantes no bem.
O Consolador:
Daqui a quantos
anos você
acredita que a
Terra deixará de
ser um mundo de
provas e
expiações,
passando
plenamente à
condição de um
mundo de
regeneração, em
que, segundo
Santo Agostinho,
a palavra amor
estará escrita
em todas as
frontes e uma
eqüidade
perfeita
regulará as
relações
sociais?
Temos visto que
os hábitos da
sociedade têm
mudado de trinta
em trinta anos,
mais ou menos.
Fala-se dos anos
trinta, dos anos
sessenta, dos
anos noventa. Lá
pelo ano 2020,
portanto,
devermos nos dar
conta de uma
nova mudança de
hábitos sociais.
Quem sabe, tal
mudança
sinalizará mais
claramente
quanto tempo
faltará para o
bem predominar
sobre o mal em
nossa amada
Terra?
O Consolador:
Quanto aos
problemas que a
sociedade
terrena está
enfrentando, o
que você acha
que deve ser a
prioridade
máxima dos que
dirigem
atualmente o
movimento
espírita no
Brasil e no
mundo?
Divulgar a
Doutrina
Espírita para
todos os cantos
do mundo. A
prioridade
máxima,
portanto, é
traduzir para o
inglês o maior
número possível
de boas obras
espíritas. O
inglês é a
língua franca
atual e o será
por muitas
décadas ainda,
provavelmente
séculos. Ignorar
isso é ir contra
as evidências. O
inglês é falado
pelas elites
intelectuais do
mundo todo. Que
se deixe a essas
elites a tarefa
de traduzir cada
obra do inglês
para o idioma do
povo ao qual
pertence. Sair
traduzindo uma
única obra para
vários idiomas é
trabalhoso e
desnecessário,
atrasando a
divulgação da
Doutrina pelo
mundo. Em nível
nacional, penso
que as
iniciativas
existentes
deveriam se
apoiar umas às
outras, trocar
experiências,
divulgarem umas
as outras. Mais
valem poucas
iniciativas
fortes que uma
infinidade de
iniciativas
pequenas. |