Imagens
sagradas
Há poucos dias, o
Jornal Nacional
exibiu matéria sobre um
prefeito recém-empossado
que teria determinado a
retirada de todos os
quadros e imagens
sagrados dos prédios que
ora se encontram sob a
sua administração,
inclusive das escolas
públicas municipais.
Chamou-nos a atenção a
matéria por dois
motivos: em primeiro
lugar, pela atitude
inusitada e por
pertencer o município à
nossa Zona da Mata
mineira; depois, pela
informação de que se
trata de um “espírita”.
Espíritas, segundo o
Aurélio, “são os
pertencentes ao
Espiritismo, doutrina
baseada na crença da
sobrevivência da alma e
da existência de
comunicações, por meio
da mediunidade, entre
vivos e mortos, entre os
Espíritos encarnados e
os desencarnados”. Tal
doutrina foi codificada
por Allan Kardec,
pensador francês, autor
de O Livro dos
Espíritos, pedra
fundamental e de
sustentação de todo o
edifício do Espiritismo.
Portanto, aquele que se
diz adepto do
Espiritismo deveria
conduzir-se, em crença e
procedimentos, de acordo
com os preceitos
expostos nesse livro.
A respeito da adoração
exterior, manifestada,
por exemplo, pelo uso de
imagens santas, Kardec
esclarece que a
verdadeira adoração é a
do coração. Segundo ele,
Deus teria preferência
pelos que O adoram do
fundo do coração, com
sinceridade, e que
tenham uma conduta
condizente, em favor do
bem – eis a manifestação
que mais Lhe agradaria.
Contudo, Kardec alerta
que a adoração exterior,
se não for um
fingimento, também é
útil. A adoração é a
elevação do pensamento a
Deus; se as imagens
sagradas sugerem-nos
essa atitude, por que
condená-las?
Considerando que essa é
a posição doutrinária do
Espiritismo, não tem
cabimento atribuir
àquele prefeito o
adjetivo espírita.
Afinal de contas, ele
não estaria agindo
conforme os ensinamentos
da Doutrina. A
determinação que teria
tomado contraria a
liberdade de consciência
preconizada por Kardec.
Ademais, pelos preceitos
espíritas, não podemos
ignorar a história de
nossa sociedade,
amplamente dominada pelo
Catolicismo, com seus
dogmas e imagens
sagradas; como também
não podemos impor nossas
crenças, sob pena de
desrespeitarmos a
liberdade de
consciência. A
propósito, Kardec
assevera que toda crença
merece respeito quando é
sincera e conduz à
prática do bem.
Constranger os homens a
agir de maneira diversa
ao seu modo de pensar,
opondo entraves à sua
liberdade de
consciência, somente os
tornará hipócritas.
O que podemos e devemos
é tentar conduzir para o
caminho do bem e da
fraternidade os que se
desviaram para doutrinas
perniciosas, de falsos
princípios. Mas isso só
será possível mediante a
doçura e a persuasão,
jamais pela força. A
convicção não se impõe.