EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Amor e culpa são
excludentes
“Numa
palavra, a
‘deficiência’
lembra-nos da
nossa própria
fragilidade e
vulnerabilidade,
e traz-nos de
volta para o
mundo cotidiano,
fazendo-nos
acordar do sonho
ilusório de uma
vida perfeita.”
(Juvenal
Savian)
Muitos anos se
passaram antes
que pudesse
entender a
nocividade da
culpa.
Embrenhando-me
nos lugares
vazios da alma,
consegui
reconhecer a
presença de
fardos
silenciosos,
abandonados sob
o escuro.
Arrisquei e me
misturei a eles
para entender,
na condição de
intérprete, o
quanto o passado
pode nos iludir
e aprisionar.
Eu sei. Sentir
remorso
participa do
aprendizado,
embora não seja
errado errar.
Mas o remorso só
tem uma função:
servir de aviso,
ou seja, nos
alertar que algo
está errado e
reivindica
correção. Nada
mais. Além
disso, a culpa,
considerada por
muitos como um
nobre
sentimento, pois
nascida do
remorso, na
verdade, é mais
apta a nos
corroer do que
educar.
Uma vida boa
exige trabalho
árduo e
inspiração. Mas,
com um mínimo de
reflexão, logo
reconhecemos que
as lembranças
brutas,
enraizadas nas
culpas, podem
colapsar a razão
e atrasar o
processo
evolutivo. Com
isso, liberar-se
do status
de culpado é
requisito
essencial para a
transformação de
algo menor
(sentimento de
inércia) em algo
maior (força
criativa). Isso
é pessoal e
necessita ser
realizado para
que o entusiasmo
e a gratidão
pela vida tomem
lugar no
existir.
Para ver o mundo
pelos olhos de
um aprendiz,
temos que
cultivar o
descostume do
julgamento,
desembaraçar-se
das concepções
obtusas da
realidade e, com
isso, vencer o
comportamento
neurótico,
adestrado para
medir, avaliar,
condenar.
Uma atitude que
dialoga com o
erro ajuda o
indivíduo a
investir no
cuidado com a
alma e com a
vida de relação.
Ainda, essa
atitude
pressupõe abrir
mão do hábito
antigo de
castigar-se
para, em outra
direção, admitir
os próprios
erros e seguir
em frente
procurando
melhorar.
Em certo
sentido, e não
seria ousado
dizer isso, o
mundo se
modifica sempre
que um de nós
expande a
consciência e se
trata com mais
bondade. Com
isso, o trabalho
individual
depende da
aceitação de um
fato simples:
não somos
coerentes e pôr
uma etiqueta
moral de
ruindade em nós
mesmos só serve
para retardar
nosso caminhar.
Logo, não
conheço ninguém
que consiga
respeitar seu
próximo sem
antes se
respeitar, o que
exige amor
próprio em
primeiro lugar.
A mudança é a
base da
existência. E
todos nós
passamos pelo
processo de
evolução e
diferenciação;
se cometemos
equívocos, são
eles que
servirão de
matéria-prima
para os acertos
futuros. Logo,
perdoe-se, seja
indulgente com
aqueles que não
têm consciência
e acredite: o
ato de ser
gentil (com si
próprio e com o
outro) dá
significado
precioso à
vida.
Além do mais,
“os agoras” são
sempre convites
a uma
interpretação
amorosa da
realidade, porém
somente se
alinhada a uma
regra simples:
viva a vida com
o coração
aberto, pois é
dele que o amor
e as alegrias
são emanados –
sentimentos
felizes que nos
possibilitam
celebrar a
existência para,
em lugar de
maldizê-la,
abençoar a si
mesmo e aquele
que passa.