EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Criativo e
crítico são
coisas distintas
“Por favor,
entre, meu Eu.
Não há lugar
nesta casa para
dois.”
(Rumi)
O poema existe
antes do poeta,
eu sei e sinto.
Cabe ao poeta,
então, pôr-se
num estado de
“atenção
flutuante” para
acolher o poema
que quer
fazer-se
conhecer. Logo,
o poeta
permanece
acessível à
inspiração e,
conseqüentemente,
alinha-se ao seu
ofício criativo.
Conto isso para
explicar um fato
simples: o
potencial humano
de florescer
apenas se
manifesta quando
o sujeito
escolhe criar em
vez de criticar.
O que pretendo
dizer com isso?
Os temperamentos
ácidos,
acostumados à
crítica,
esquecem do
cuidado com a
própria trilha
e, insistindo na
ação do julgar,
associam-se à
lei de causa e
efeito, que
trará dor, no
lugar de saldo
positivo. Além
disso, nesse
exercício,
perdem tempo e
paralisam, pois
ninguém avança
interessado na
vigilância da
ação alheia.
Jesus disse:
“vigiai e orai”
e nunca pediu
para que
vigiássemos uns
aos outros!
Ora, julgar (e
condenar) pode
ser entendido
como um não
saber
discriminar com
os sentidos,
pois o
indivíduo, nesse
caso, se coloca
‘inspirado’
somente para ser
agente de
difusão dos
equívocos
alheios,
distraído,
infelizmente, à
própria
imperfeição.
Sem dúvida,
aquele que
deseja crescer,
necessita
praticar o
estado de
desatenção
(distanciamento
consciente) em
relação ao agir
dos outros,
decidindo ser
criativo, no
lugar de
crítico.
Em vez de
maldizer,
acolher.
Procurar
relacionar-se
disposto ao
entendimento,
atitude inerente
a um coração
hospitaleiro.
Perdurar na ação
“sem memória”,
que não absorve
o defeito, mas
persistir na
captura
qualitativa, que
considera todo
ser humano em
processo e a
caminho da
perfeição.
Não amamos por
dever. Não seria
amor, nesse
caso. Mas, em
direção à
conquista de um
comportamento
compassivo,
podemos
praticar, no
mínimo, a
polidez de alma,
que consegue
discriminar o
que vem do
externo para
guardar somente
o que é bom e
abençoado.
Sem hesitar,
podemos buscar
nos melhorar e,
desse modo, no
lugar de julgar
ou maldizer,
cuidar do
próprio destino,
pois esta é a
grande tarefa.
E, honestamente,
buscar construir
nossa existência
de forma
harmoniosa,
desembaraçada do
vício de
criticar (e
ferir). Afinal,
podemos escolher
as maneiras de
ver uma mesma
situação – de
forma sombria
(crítica e
ácida) ou de
forma iluminada
(criativa e
otimista),
conforme nos
conta a
história:
Um homem
trabalhava com
indiferença, o
mau humor
estampado no
rosto, enquanto
outro, cantando,
carregava pedra.
“O que você está
fazendo?”,
perguntou este
ao sisudo
trabalhador.
“Assentando
pedras”, foi a
resposta. “E
você?”,
perguntou ele ao
animado
trabalhador.
“Construindo uma
catedral”.