ORSON PETER
CARRARA
orsonpeter@yahoo.com.br
Matão, São Paulo
(Brasil)
Ausência de
compaixão
Lamentável o
escândalo que a
mídia está
fazendo com o
caso da menina
assassinada e
supostamente
jogada do quinto
andar de um
prédio em São
Paulo.
Independente dos
resultados da
investigação, da
ocorrência
lamentável do
assassinato, da
violência
perpetrada
contra uma
criança, não se
justifica o
assédio da
imprensa, a
valorização
exagerada do
infeliz
acontecimento.
Apesar de tudo,
a família merece
compaixão. Já
enfrentam, por
si só, os
envolvidos na
questão, um
drama onde não
podemos
imaginar, nem
julgar, a
origem, o fato
em si e os
desdobramentos
que virão da
violência, com
morte, contra a
menina.
Precipitamo-nos
em julgar,
condenar,
massacrar. A
mídia, por sua
vez, exagerando
no noticiário,
com inserções,
várias vezes ao
dia, do
andamento de
prisões,
depoimentos,
libertação,
testemunhas
etc., apenas
tornam o fato
mais cruel do
que já é.
Para que tudo
isso? Fico a
pensar... Para
que divulgar o
mal? Para exigir
justiça? Para
valorizar o
momento infeliz
vivido pelos
personagens do
difícil drama?
O mal não merece
comentário.
Claro que os
fatos geram
notícias, que
são necessárias
até para que nos
preservemos da
violência, para
que vigiemos o
próprio
comportamento
para igualmente
não nos
envolvermos
nesses
lamentáveis
acontecimentos.
Todavia, para
que infernizar
ainda mais a
vida dessa
família?
Para que
alimentar um
clima de
violência,
exercendo
pressões sobre o
já conturbado
ambiente do
planeta? Já não
é hora de
voltarmos os
olhos com
compaixão para
esses sofridos
personagens?
É verdade,
violaram a lei.
Alguém cometeu a
violência de um
assassinato. A
lei humana tem o
dever de
esclarecer o
caso. As leis
morais já
possuem
mecanismos
próprios de
reparação. Mas o
inconcebível é
mesmo o exagero
da informação
como se esse
fosse o mais
importante
assunto do país
e da atualidade.
Milhares de
crianças morrem
diariamente de
fome no mundo;
violências são
perpetradas
contra mulheres;
a dengue virou
epidemia no Rio
de Janeiro,
igualmente
causando mortes.
Por outro lado,
porém,
igualmente
nascem
diariamente
milhares de
crianças no
Brasil, trazendo
o cuidado e
competência de
profissionais da
medicina e de
instituições
hospitalares,
que oferecem
estrutura para
que mais seres
humanos sejam
recepcionados no
país, apesar de
todas as
dificuldades que
o país enfrenta
na área da
saúde.
Não é melhor
buscar,
selecionar e
divulgar o
quanto de bom
acontece
diariamente? Não
seria bom
mostrar
reportagens e
fazer inserções
de salas de
aula, de
crianças
especiais
amparadas pelas
APAEs, do
cotidiano das
empresas com
seus
funcionários em
atividades? Não
seria muito mais
motivador para a
mentalidade
brasileira
assistir
diariamente aos
eventos de
cultura, de
arte? Não seria
mais saudável
que a TV e os
jornais
destacassem
nobres
iniciativas de
diferentes
profissionais e
voluntários em
todo o país,
trabalhando para
o bem da
coletividade?
Ah! Nossa
tendência humana
de valorizar o
lado ruim dos
acontecimentos!
E nesse
lamentável fato,
existe um lado
bom? Não seria
hora de pensar
nisso? Há algum
lado positivo a
extrair dessa
história toda?
Se o Mestre da
Humanidade se
defrontasse com
a ocorrência,
como reagiria?
Ele não
abraçaria o
autor da
desdita, com
olhos de
compaixão e
tolerância,
convidando-o à
reparação do mal
e à melhora de
si mesmo? Como
procedeu com a
mulher adúltera,
não julgaria e
nos convidaria
igualmente a não
julgar...
Afinal, não
conhecemos a
íntegra da
história, razões
que, embora não
justifiquem,
expressam a
carência e
fragilidade de
nossa condição
humana,
aprendizes da
ciência de
viver.