MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
No Mundo Maior
André Luiz
(1a
Parte)
Iniciamos hoje o estudo
da obra
No Mundo Maior,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier,
publicada em 1947 pela
Federação Espírita
Brasileira. O estudo
será aqui apresentado em
20 partes.
Questões preliminares
A. Ao regressar à pátria
espiritual, que bagagem
nós transportaremos?
R.: É Emmanuel quem
assevera, no prefácio do
livro ora estudado, que
o batismo simbólico ou o
tardio arrependimento no
leito da morte não
bastam para garantir o
futuro espiritual de
ninguém. Cada criatura
transporá a aduana da
eternidade com a
exclusiva bagagem do que
houver semeado, e
aprenderá que a ordem, a
hierarquia e a paz do
trabalho edificante são
característicos
imutáveis da Lei, em
toda parte. (No Mundo
Maior, prefácio de
Emmanuel, pp. 9 a 12.)
B. Que é preciso para
que o homem físico se
converta em homem
espiritual?
R.: A lição vem do
assistente Calderaro: "O
acaso não opera
prodígios. Qualquer
realização há que
planejar, atacar, pôr a
termo. Para que o homem
físico se converta em
homem espiritual, o
milagre exige muita
colaboração de nossa
parte". "As asas
sublimes da alma eterna
não se expandem nos
acanhados escaninhos de
uma chocadeira. Há que
trabalhar, brunir,
sofrer." (Obra
citada, cap. 1, pp. 19 e
20.)
C. A prece é apenas um
ato de adoração?
R.: Não apenas isso. A
prece é, além de uma
manifestação de
reverência religiosa,
valioso recurso de
acesso aos inesgotáveis
mananciais do Divino
Poder. (Obra citada,
cap. 1, pp. 20 a 23.)
Texto
para leitura
1. A
insuficiência do batismo
e do arrependimento
- No prefácio deste
livro, Emmanuel
refere-se às multidões
que, diariamente, partem
da Crosta em demanda do
país da Morte. Raros
viveram aqui nos montes
da sublimação,
vinculados aos deveres
nobilitantes. "A maioria
– assevera o Benfeitor
– constitui-se de
menores de espírito, em
lutas pela outorga de
títulos que lhes exaltem
a personalidade. Não
chegaram a ser homens
completos". Não raro,
acomodaram-se com os
vícios de toda a sorte
e, curiosamente, muitos
deles se atribuíam a
indébita condição de
"eleitos da
Providência",
julgando-se aptos a
aplicar a justiça ao
próximo, sem se darem
conta das próprias
faltas, esperando um
paraíso de graças para
si e um inferno de
tormentos para os
outros. Dessa caravana,
que parte continuamente
em direção à vida
post-mortem, participam
santos e malfeitores,
homens diligentes e
homens preguiçosos. Onde
albergá-los? Como
designar a mesma estação
de destino a pessoas de
cultura, posição e
bagagem tão diversas?
Emmanuel nos faz
refletir então sobre a
questão do merecimento,
as diferentes situações
que nos aguardam no
além-túmulo e a
necessidade do
aperfeiçoamento da alma,
visto que o batismo
simbólico ou o tardio
arrependimento no leito
da morte não bastam para
garantir o futuro
espiritual de ninguém.
"A vida nunca interrompe
atividades naturais, por
imposição de dogmas
estatuídos de
artifício", afirma o
Benfeitor Espiritual,
indagando, por sua vez:
"se mera obra de arte
humana, cujo termo é a
bolorenta placidez dos
museus, exige a
paciência de anos para
ser empreendida e
realizada, que dizer da
obra sublime do
aperfeiçoamento da alma,
destinada a glórias
imarcescíveis?"
(Prefácio, pp. 9 e 10)
2. A
morte não garante a
ninguém a ventura
celeste
- Emmanuel esclarece que
a missão de André Luiz,
ao escrever esta série
de livros, consiste em
nos "revelar os tesouros
de que somos herdeiros
felizes na Eternidade,
riquezas imperecíveis,
em cuja posse jamais
entraremos sem a
indispensável aquisição
de Sabedoria e de Amor".
"Somos filhos de Deus,
em crescimento", ensina
o Benfeitor Espiritual.
Os ascendentes que nos
presidem os destinos são
de ordem evolutiva, pura
e simples, com infalível
justiça a seguir-nos de
perto. "A morte – lembra
o mentor de Chico
Xavier – a ninguém
propiciará passaporte
gratuito para a ventura
celeste. Nunca promoverá
compulsoriamente homens
a anjos. Cada criatura
transporá essa aduana da
eternidade com a
exclusiva bagagem do que
houver semeado, e
aprenderá que a ordem e
a hierarquia, a paz do
trabalho edificante, são
característicos
imutáveis da Lei, em
toda parte". Em seguida,
lembrando-nos que,
depois do sepulcro,
ninguém gozará de um
descanso a que não tenha
feito jus, porque "o
Reino do Senhor não vem
com aparências
exteriores", diz que os
companheiros que
compreendem a
necessidade do trabalho
e do esforço individual
para a ascensão não se
surpreenderão com as
narrativas de André
Luiz. "Sabem eles que
não teriam recebido o
dom da vida para matar o
tempo, nem a dádiva da
fé para confundir os
semelhantes." E conclui:
"cada lavrador respira o
ar do campo que
escolheu". (Prefácio,
pp. 11 e 12)
3. O Instrutor
Eusébio - André Luiz
refere-se a um memorável
encontro que ele e o
Assistente Calderaro
teriam com o Instrutor
Eusébio, abnegado
paladino do amor
cristão, em serviço de
auxílio a companheiros
necessitados. Há muito,
Eusébio se dedicara ao
ministério do socorro
espiritual. Seus
créditos espirituais
eram vastíssimos. O
Instrutor renunciara a
posições de realce a
adiara realizações
pessoais importantes,
para consagrar-se
inteiramente aos
famintos de luz.
Superintendia
prestigiosa organização
de assistência em zona
intermediária, atendendo
a estudantes
relativamente
espiritualizados, ainda
jungidos à Crosta, bem
como a discípulos
recém-libertos do campo
físico. Não obstante o
constante acúmulo de
serviços complexos,
Eusébio encontrava tempo
para semanalmente descer
à Crosta, satisfazendo
interesses imediatos de
aprendizes que se
candidatavam ao
discipulado, mas não
reuniam recursos de
elevação para ir ao seu
encontro, na sede
superior. André Luiz não
o conhecia pessoalmente.
Calderaro, contudo,
recebia-lhe a orientação
e a ele se referia com o
entusiasmo do
subordinado que se liga
ao chefe, guardando o
amor acima da
obediência. (Cap. 1, pp.
13 a 15)
4. O Assistente
Calderaro -
Calderaro prestava
serviço ativo na
própria Crosta,
atendendo de modo direto
aos irmãos encarnados.
Especializara-se na
ciência do socorro
espiritual, que entre os
estudiosos do mundo
poderia ser chamada
"psiquiatria iluminada".
Como dispunha de uma
semana sem obrigações
definidas, André Luiz
solicitara ingresso na
turma de adestramento
orientada pelo
Assistente, que o
aceitou de boa vontade.
Os casos atendidos por
Calderaro não
apresentavam
continuidade
substancial;
desdobravam-se;
constituíam obra de
improviso; obedeciam ao
inopinado das ordens de
serviço ou das
situações. Em face
disso, o Assistente não
traçava, a rigor,
programas quanto a
particularidades.
Executava seus deveres
onde, como e quando
determinassem os
desígnios superiores. O
objetivo fundamental da
tarefa circunscrevia-se
ao socorro imediato aos
infelizes, evitando-se,
quanto possível, a
loucura, o suicídio e os
extremos desastres
morais. Para tal mister,
o missionário precisa
conhecer profundamente o
jogo das forças
psíquicas, com
acendrado devotamento ao
bem do próximo. Era esse
precisamente o seu
caso. A bondade
espontânea lhe era
indício da virtude, e a
inquebrantável
serenidade revelava-lhe
a sabedoria. (Cap. 1,
pp. 15 e 16)
5. A
assistência aos
companheiros hesitantes
- Em torno do local do
encontro com Eusébio,
árvores robustas, de
copas farfalhantes,
alinhavam-se,
imponentes. O vento
passava cantando, em
surdina. No recinto
iluminado de claridades
inacessíveis às
percepções humanas,
aglomeravam-se
aproximadamente mil e
duzentas pessoas. Deste
número, oitenta por
cento eram aprendizes de
templos espiritualistas
diversos,
temporariamente
afastados do corpo
físico pela força
liberativa do sono. Os
demais eram
colaboradores do plano
espiritual em tarefa de
auxílio. Muitos ali se
mantinham de pé; outros,
porém, se acomodavam nas
protuberâncias do solo
alcatifado de relva
macia. O Instrutor
Eusébio falaria,
naquela reunião, a
estudantes do
espiritualismo em suas
correntes diversas,
candidatos aos serviços
de vanguarda. Ainda
inaptos aos grandes vôos
do conhecimento,
conquanto nutrissem
fervorosas aspirações
de colaboração no Plano
Divino, eram eles
companheiros de elevado
potencial de virtudes.
Exemplificavam a boa
vontade, exercitavam-se
na iluminação interior,
mas não haviam ainda
criado o cerne da
confiança para uso
próprio. Ante as
tempestades naturais do
caminho, tremiam. Em
face das provas
necessárias ao
enriquecimento da alma,
hesitavam. Isso exigia
dos benfeitores
espirituais particular
cuidado, visto como se
constituíam nos futuros
instrumentos para os
serviços da frente.
Calderaro explicou então
que, apesar da claridade
que lhes assinalava as
diretrizes, esses
companheiros padeciam
ainda desarmonias e
angústias que ameaçavam
seu equilíbrio
incipiente. Gozavam, por
isso, de toda a
assistência das
instituições
socorristas. A
libertação pelo sono era
o recurso imediato
dessas manifestações de
amparo fraterno. "A
princípio – informou
Calderaro – recebem-nos
a influência
inconscientemente; em
seguida, porém,
fortalecem a mente,
devagarinho,
gravando-nos o concurso
na memória, apresentando
idéias, alvitres,
sugestões, pareceres e
inspirações beneficentes
e salvadoras, através
de recordações
imprecisas". (Cap. 1,
pp. 16 a 18)
6. O acaso não opera
prodígios - A
comunidade de trabalho a
que Calderaro era
vinculado se dedica,
essencialmente, à
manutenção do
equilíbrio, pois a
modificação do plano
mental das criaturas não
pode ser imposta a
ninguém: é fruto de
tempo, esforço,
evolução. Certo,
imprevistas renovações
se dão à força dos
abalos que vez por outra
sacodem os alicerces do
mundo; mas, a própria
razão periclita em face
do surto da inteligência
moderna, conjugada com a
paralisia do sentimento.
"O progresso material –
asseverou Calderaro –
atordoa a alma do homem
desatento". "Grandes
massas, há séculos,
permanecem distanciadas
da luz espiritual",
esclareceu. "A
civilização puramente
científica é um Saturno
devorador, e a
humanidade de agora se
defronta com implacáveis
exigências de acelerado
crescer mental. Daí o
agravo de nossas
obrigações no setor da
assistência." Em
conseqüência, as
necessidades de
preparação do espírito
intensificavam-se em
ritmo assustador, o que
para Calderaro parecia
coisa natural: "O acaso
não opera prodígios.
Qualquer realização há
que planejar, atacar,
pôr a termo. Para que o
homem físico se converta
em homem espiritual, o
milagre exige muita
colaboração de nossa
parte". E ele concluiu;
"As asas sublimes da
alma eterna não se
expandem nos acanhados
escaninhos de uma
chocadeira. Há que
trabalhar, brunir,
sofrer". (Cap. 1, pp. 19
e 20)
7. Sem Deus somos
frondes decepadas -
Eusébio penetrou o
recinto, ladeado por
seis assessores, todos
eles envoltos em halos
de intensa luz. O
Instrutor não exibia os
traços de senectude que
geralmente imaginamos
nos apóstolos das
revelações divinas. Sua
figura era de um homem
robusto, em plena
madureza espiritual, e
seus olhos escuros e
tranqüilos pareciam
fontes de imenso poder
magnético. Eusébio
contemplava a todos,
sorridente, qual simples
colega, e sua presença
fez com que cessassem
todas as conversações
que aqui e ali se
entretinham, enquanto
fios de luz eram tecidos
por trabalhadores do
plano espiritual em
torno do agrupamento de
Espíritos, isolando-os
de qualquer assédio
eventual das forças
inferiores. De pé ante a
assembléia, Eusébio
respirava segurança e
beleza. De seu rosto
imperturbável, a
bondade, a compreensão,
a tolerância e a doçura
irradiavam simpatia
inexcedível. A túnica
ampla, de tom
verde-claro, emitia
cintilações
esmeraldinas. Eusébio
infundia veneração e
carinho, confiança e
paz. Foi então que,
erguendo a destra para o
Alto, ele orou com
inflexão comovedora,
rogando bênçãos e
proteção ao Senhor da
Vida. "De nós mesmos,
Senhor, nada podemos.
Sem Ti, somos frondes
decepadas", eis um
trecho da oração com
que o Instrutor abriu o
singular encontro.
Concluída a rogativa, o
amorável amigo baixou os
olhos enevoados de
pranto, e viu-se então
que das alturas uma
claridade diferente caía
sobre todos, em jorros
cristalinos. Partículas
semelhantes a prata
eterizada choviam no
recinto, infiltrando-se
nas raízes das árvores
mais próximas. Ao
contacto dos eflúvios
divinos, André Luiz
reparou que suas forças
gradualmente serenavam
e, em torno, pairavam as
mesmas notas de alegria
e de beleza, pois a
calma e a ventura
transpareciam de todos
os rostos, voltados,
extáticos, para o
Instrutor, em redor do
qual se mostravam mais
intensas as ondas de luz
celeste. Comprovava-se
mais uma vez que a prece
não é apenas uma
manifestação de
reverência religiosa,
senão também recurso de
acesso aos inesgotáveis
mananciais do Divino
Poder. (Cap. 1, pp. 20 a
23)
8. Um século é um
cenário veloz - Com
o tórax afogueado de
suave luz, Eusébio
dirigiu-se aos ouvintes,
sob leve e incessante
chuva de raios
argênteos. Inicialmente,
explicou-lhes que os
encarnados ali presentes
não poderiam guardar
plena recordação daquele
encontro, ao retomarem o
envoltório carnal, dada
a incapacidade do
cérebro humano de
suportar a carga de duas
vidas simultaneamente. A
lembrança do que ali se
falaria persistiria,
porém, no fundo de cada
ser, orientando-lhes as
tendências superiores
para o terreno da
elevação e abrindo-lhes
a porta intuitiva para
a percepção de
pensamentos fraternos
emanados dos protetores
invisíveis. Foi uma
preleção extensa,
repleta de ensinamentos
valiosos. Eusébio pediu
inicialmente que ninguém
olvidasse que a chama do
próprio coração,
convertido em santuário
de claridade divina, é a
única lâmpada capaz de
iluminar o mistério
espiritual, em nossa
marcha pela senda
redentora e evolutiva.
"Ao lado de cada homem e
de cada mulher, no
mundo, permanece viva a
Vontade de Deus,
relativamente aos
deveres que lhes
cumprem", asseverou
Eusébio. Todos temos à
frente o serviço que nos
compete. Se o Universo
se enquadra na ordem
absoluta, nós – aves
livres em limitados céus
– interferimos no plano
divino, criando prisões
e liames, libertação e
enriquecimento para nós
mesmos. "Insta, pois,
nos adaptemos ao
equilíbrio divino,
atendendo à função
insulada que nos cabe em
plena colmeia da vida",
conclamou o
palestrante,
considerando que todos
somos, no palco da
Crosta Planetária, os
mesmos atores do drama
evolutivo. "Cada milênio
é ato breve, cada século
um cenário veloz.
Utilizando corpos
sagrados, perdemos,
entretanto, quais
despreocupadas crianças,
entretidas apenas em
jogos infantis, o
ensejo santificante da
existência." (Cap. 2,
pp. 24 e 25)
(Continua no próximo
número.)