Sensibilidade
artístico-musical
Neste mundo,
ainda, de provas
e de expiações,
muitas coisas
faltam. Porém,
dentre elas, a
sensibilidade se
afigura como
sendo uma das
mais escassas em
a humanidade.
Tal afirmativa
não se encerra
tão-somente no
campo artístico,
mas em todos os
âmbitos da
sociedade. É a
ausência dela,
por exemplo, que
faz com que o
ser não perceba
a necessidade de
um olhar mais
abrangente,
quando alguém,
muitas vezes
muito próximo,
está segurando
toneladas à
surdina, mas,
mesmo assim,
nós,
insensíveis,
colocamos mais
pesos em suas
mãos, fazendo-o
escutar lamúrias
intermináveis,
porque
insaciáveis são
as nossas visões
egóicas.
Filha do
egoísmo, a
insensibilidade
torna as pessoas
quase como
máquinas,
tirando delas o
que possuem,
talvez, de mais
belo, que é a
capacidade de
sentir.
Se no meio
social a
escassez de
percepção
sensível é algo
problemático, em
o meio artístico
ela se torna
muito mais
grave,
especialmente na
música, já que
ela, no dizer de
Léon Denis, em
seu livro “O
Espiritismo na
Arte”, “é a voz
dos céus
profundos”.
Tem-se dado
muitas
definições
acerca dessa
musa de Euterpe.
Ludwig Van
Beethoven chegou
a dizer que a
“música é o
pressentimento
de coisas
celestiais”. E
com essa frase
aproximou-se
ele, por certo,
da essência
musical,
dizendo, em
outras palavras,
da ascendência
luminosa da
mesma, que o
Espiritismo
enuncia, como se
viu, por exemplo,
por intermédio
do eminente
poeta da
filosofia e da
Doutrina
Espírita, Léon
Denis.
Bebendo-se na
fonte límpida de
Kardec, vê-se
que “o que há de
sublime na arte
é a poesia do
ideal, que nos
transporta para
fora da esfera
acanhada de
nossas
atividades”
(“Obras
Póstumas”, em
“Influência do
pensamento
materialista nas
artes”). E a
mediunidade de
Chico Xavier
vem-nos falar,
igualmente,
dessa capacidade
que a arte tem,
quando em seus
livros achamos
que “a arte pura
é a mais elevada
contemplação
espiritual por
parte das
criaturas” (“O
Consolador”, de
Emmanuel, Parte
II, pergunta
161.)
Com essa visão
da arte, em
especial, da
música, pergunta-se
como entrar em
sintonia com
essa esfera
celeste da
criação?
Por certo vários
fatores
convergem para
tal, contudo, a
sensibilidade é
fundamental. Sem
ela não se é
capaz de fazer
com que o
pensamento
adentre por
recantos
iluminados, pois
que em sua
ausência o
psiquismo do ser
fica impregnado
de inferioridade
e de mesquinhez,
coisas não
compatíveis com
o amor dos céus
de onde advém a
real harmonia.
Sendo assim, o
que é preciso
para se levar o
nome de artista
e de músico?
Mais uma vez, a
sensibilidade se
apresenta como
primordial. Sem
ela, concebe-se,
até, tentativas
artísticas,
gritos opacos de
beleza.
Entretanto, só
com ela, pode-se
chegar a ser, de
fato, artista.
Ora, uma vez que
a música vem de
paragens
siderais
benfazejas, a
arte de Euterpe
feita na Terra
deve tentar se
aproximar, ao
máximo, da
beleza real. E,
desse modo, o
ser que a faz no
planeta só
conseguirá
retratar com
maior
fidedignidade o
que existe no
horizonte maior
do espaço, se
for sensível,
realmente, ao
belo.
Como toda
evolução, a
parte
intelectual,
igualmente, tem
seu valor.
Porém, ela é
mais fácil de
ser feita, já
que lida com o
exterior do ser,
por meio de
matérias
cognitivas. É
claro que com
uma vida não se
consegue chegar
à categoria
intelectual que,
por exemplo,
Wolfgang Amadeus
Mozart tinha. No
entanto, pelos
milênios,
aprende-se as
lições da teoria
musical.
Porém, o que
diferencia um
gênio da
categoria do
compositor
austríaco de um
ser que atingiu
o conhecimento
de ser capaz de
fazer críticas
terrenas sobre o
contraponto de
suas partituras
não é,
propriamente, a
carga
intelectual
dessas
criaturas, mas,
com certeza, o
aspecto interior
de Mozart,
especialmente a
sua
sensibilidade,
que lhe dava
condições de ver
além das regras
de pentagrama
terreno
perfeito,
possibilitando-o
entrever as
melodias
celestes e
retratá-las, à
sua maneira
sensível, nas
pautas
musicais.
Com certeza, o
estudo faz com
que o ser
consiga, aos
poucos,
adentrar
o campo da
sensibilidade,
por despertar
nele o desejo de
sair da
mediocridade da
criticidade do
planeta.
Entretanto,
geralmente, essa
conquista íntima
da
sensibilidade,
só tardiamente
se faz. O
processo é
semelhante aos
outros tipos de
evolução
intelectual e
moral do ser,
tão bem expostos
em “O Livro dos
Espíritos”, do
querido Allan
Kardec, em as
questões 779 a
785.
A diferença,
porém,
vale ressaltar,
é que no aspecto
da evolução
artística mais
moral, mais
íntima, não
estamos querendo
dizer que é
preciso o estado
de angelitude, a
reunião de todas
as virtudes, mas
que, nesse
âmbito, pelo
menos, o
progresso de ter
adquirido a
sensibilidade é
fundamental.
A sensibilidade
desperta a
emoção, e esta
faz com que as
energias mais
sutis do “eu”,
Espírito,
vibrem,
reverberando,
assim, as teias
do perispírito
que fazem com
que as sinapses
mais elaboradas
das
neurotransmissões
cerebrais sejam
ativadas e levem
o ser ao estado
de êxtase, que o
faz capaz de
entrever, mesmo
na Terra, as
belezas do
além.
No cerne da
diferenciação da
mediocridade com
a genialidade se
afigura a
sensibilidade
como divisora de
águas. Eis por
que o mestre
Beethoven disse:
“o erro não está
em tocar uma
nota errada, mas
em executá-la
sem emoção”,
evidenciando,
mais uma vez, as
tramas sutis
dessa virtude
como figura de
destaque.
E a importância
da sensibilidade
se torna ainda
mais patente
quando se vê
músicos que
conseguiram a
graduação na
faculdade, mas
que não
conseguem
entender a
abrangência da
arte, compondo
melodias
esdrúxulas, ao
lado de outros
que, quase
ignorantes
musicais nesta
vida, conseguem
escrever notas
que tocam a
alma.
É porque os
primeiros
conquistaram o
conhecimento
exterior nesta
existência, e
terão que ir à
busca da
sabedoria da
sensibilidade
depois. Enquanto
os segundos,
Espíritos
milenares,
fizeram as suas
universidades
por meio
das
reencarnações,
vindo, no leito
do esquecimento
de uma nova
vida, despertar
a sensibilidade
tão necessária.
Quando, pois,
aqueles que
lidam com arte
despertarem a
sensibilidade,
poderão ser
chamados de
artistas.
E isso é, ainda
mais, importante
para aqueles
seres que
conhecem a arte
e os
ensinamentos de
Jesus sob a
ótica espírita.
Para esses a
necessidade de
uma auto-análise
é muito maior,
pois que não
poderão dizer
que não sabiam.
Assim, devem
esses buscar,
cada vez mais, o
conhecimento,
mas nunca devem
esquecer que sem
a real
sensibilidade,
não aquela
piegas, mas a
que coloca o ser
mais perto de
Deus, serão
músicos sem ou
com muito pouca
musicalidade,
artistas
carentes de “artisticidade”,
ou poetas
deficientes de
poesia.
Quando no mundo
a arte se
corrompe através
de melodias
sexuais e
aterrorizantes,
exprimindo o
primitivismo de
muitos seres,
sejam as nossas
lides espíritas
cheias de artes
e de música. Mas
não a do mundo,
parafraseando as
palavras de
Jesus acerca da
paz que trazia à
Terra, e sim
aquela que
retrate o amor
em sons,
despertando –
naqueles que
ouvem – a
sensibilidade,
já que, como
dissera um amigo
espiritual
nosso, “a música
tem o poder de
despertar a
sensibilidade” (Sâmio).