EDUARDO AUGUSTO
LOURENÇO
eduardoalourenco@hotmail.com
Americana, São
Paulo (Brasil)
Anencefalia e
Espiritismo
O homem tem o
direito de
interromper a
vida humana? Até
aonde vai o
vínculo entre o
Espírito e a
matéria? O
individuo é
somente um
aglomerado de
células?
A polêmica sobre
a existência e a
pré-existência
do Espírito e o
momento de sua
concepção, em
relação ao corpo
físico, perturba
a ciência, a
religião e a
filosofia
terrena. Os
indivíduos
materialistas
dizem que o
homem é apenas
um composto de
matéria densa,
iniciando a vida
no berço e
terminando no
túmulo e nada
mais.
As religiões
dogmáticas
impõem e
acreditam que
"Deus" cria a
alma a partir da
concepção do
fenômeno
fisiológico, a
filosofia divaga
sobre idéias
passageiras de
acordo com os
modismos criados
por seus
adeptos.
Todos estes
questionamentos,
que assolam a
mente humana, e
dizem respeito
ao nascimento, à
vida, à morte e,
principalmente,
ao aborto
provocam
discussões
acaloradas nas
religiões.
A ciência
embriogenista
identificou a
presença no
zigoto de
registros ("imprints")
mnemônicos
próprios que
evidenciam a
riqueza da
personalidade
humana,
manifestando-se,
muito cedo, na
embriogênese, ou
seja, o zigoto e
o embrião
inicial são
organismos
humanos vivos,
nos quais já
estão
pré-fixadas e
determinadas
todas as
características
do indivíduo
adulto. Sendo
assim, não dá
para romper
qualquer ponto
da trajetória do
zigoto, do feto,
da criança, do
adulto e do
velho sem causar
danos
irreversíveis ao
bem maior, que é
a própria vida.
Allan Kardec
indaga dos
Espíritos na
questão 344: "Em
que momento a
alma se une ao
corpo?" E a
resposta em toda
sua clareza é:
"... desde o
instante da
concepção, o
Espírito
designado a
habitar certo
corpo a este se
liga por um laço
fluídico".
Os Espíritos nos
esclarecem na
questão 360: "É
racional ter
pelos fetos o
mesmo respeito
que se tem pelo
corpo de uma
criança que
tivesse vivido?”
Resposta: "Em
tudo isto vede a
vontade de Deus
e a sua obra, e
não trateis
levianamente as
coisas que
deveis
respeitar".
Quais são os
motivos que nos
levam à
desistência dos
nossos próprios
semelhantes?
Quais são os
parâmetros da
verdadeira
felicidade? O
que nos leva a
definir o
estereotipo
perfeito? Por
que descartamos
seres indefesos
como se fossem
sucatas?
A anencefalia
(ausência de
cérebro) hoje é
um dos temas que
nos faz pensar e
indagar o porquê
de tantos
sofrimentos e
diferenças, esta
má-formação que
resulta na
ausência parcial
do cérebro
físico do bebê
que está sendo
gerado. Logo,
sabemos que
esses fetos
possuem alguma
estrutura do
encéfalo, como o
tronco
encefálico, o
diencéfalo e, em
alguns casos,
presença de
hemisfério
cerebral e
córtex.
O feto chamado
erroneamente de
"anencéfalo" tem
preservada a
parcela mais
entranhada do
encéfalo que é
considerada pela
ciência como
cérebro
primitivo; é o
que controla
atividades
vitais do
organismo como:
batimentos
cardíacos e
capacidade de
respirar por si
próprio, ao
nascer.
Podemos citar o
caso da
recém-nascida
chamada Marcela
de Jesus Galante
Ferreira. É um
caso de
anencefalia,
tendo somente
uma parte do
encéfalo e o
tronco cerebral;
ela pesa 3,8 kg
e mede 58
centímetros,
batendo todos os
recordes de
sobrevivência e
chegando a
vários meses de
vida. Esta
criança virou um
símbolo da luta
pela vida.
Interrogando a
nossa
consciência,
questionamos: o
que fazer nestes
casos?
Diz O Livro
dos Espíritos,
de Allan Kardec,
na questão 347:
"Que utilidade
pode haver para
um Espírito a
sua encarnação
num corpo que
morre poucos
dias após o
nascimento?
Resposta: "O ser
não tem alta
consciência de
sua existência:
a importância da
morte é quase
nula: como já o
dissemos, é
muitas vezes uma
prova para os
pais".
Também vem nos
esclarecer a
questão 355:
"Há, como indica
a ciência,
crianças que
desde o ventre
da mãe não têm
possibilidades
de viver? E com
que fim acontece
isso?"
Resposta: "Isto
acontece
freqüentemente,
e Deus o permite
como prova, seja
para os pais,
seja para o
Espírito
destinado a
encarnar".
O aborto
praticado para
evitar o
nascimento de
uma criança
portadora de
anomalia física
(malformações
como os
anencéfalos) ou
psíquica, é
chamado pela
ciência de
aborto eugênico
ou eugenésico e
seu significado
etimológico é
bom nascimento,
do grego: eu
(bem, bom, belo)
+ gênesis
(geração,
produção,
criação).
Alguns médicos
que juraram
proteger a vida
humana defendem
a realização do
aborto
eugenésico,
principalmente
nas ocorrências
de malformação
de fetos,
naqueles que não
tenham condições
de sobreviver.
Em O Livro
dos Espíritos,
na questão 359,
a
espiritualidade
diz ser
"preferível que
se sacrifique o
ser que ainda
não existe a
sacrificar-se o
que já existe";
valendo somente
se a vida da mãe
corre perigo
pela proximidade
do parto.
A ciência, a
sociedade e os
homens que regem
as leis terrenas
podem se
comprometer e
muito se
permitirem o
aborto no caso
da anencefalia,
em que o feto
morre horas ou
dias após o
parto, quando
não ocorre
aborto
espontâneo
durante a
gravidez. Será
que não estamos
arrumando uma
desculpa ou uma
justificativa
para liberarmos
o aborto?
Os homens
insistem em
negar a verdade
revelada pela
Doutrina dos
Espíritos,
ensinando que o
individuo não é
somente um corpo
de matéria
orgânica
animada, e sim
um Espírito
imortal,
composto de um
instrumento
psicossomático
para a sua
evolução.
O Espiritismo
nos mostra que a
malformação do
feto está ligada
a débitos
anteriores da
entidade
reencarnante, e
os pais muitas
vezes
colaboraram com
a queda desta
alma, tendo
agora o
compromisso de
assumir os seus
reajustes
perante as leis
divinas.
O aborto
eugênico ou
eugenésico não
deve ser
praticado e nem
incentivado em
qualquer
circunstância, é
uma maneira que
algumas pessoas
encontraram de
não assumir suas
próprias
responsabilidades,
incluindo esta
barbaridade na
categoria dos
abortos que não
são delituosos
nas reformas do
código penal
brasileiro.
Na questão 358,
novamente em
O Livro dos
Espíritos,
os Espíritos nos
dizem que o
aborto é um
crime, porque
transgride as
leis de Deus,
seja a mãe – ou
qualquer peço –
cometerá um
crime ao tirar a
vida humana,
impedindo a alma
de passar pelas
provas.
Alguns Espíritos
necessitados,
com graves
comprometimentos
cármicos,
principalmente o
suicídio, buscam
para o seu
equilíbrio esse
tipo de processo
chamado
anencefalia; são
submetidos à
ligação
provisória com o
embrião, e eles
sentem a fusão
do Espírito com
a matéria, mesmo
que seja rápido,
e com o amor dos
pais e,
principalmente
da mãe,
readquirem pouco
a pouco a
inteira
consciência,
entorpecida às
vezes anos a fio
nas sombras da
escuridão.
O aborto
criminoso tira a
chance do
individuo de
apaziguar com
sua própria
consciência os
dissabores
criados em suas
vidas
anteriores, e o
tratamento do
Espírito para
aliviar suas
aflições é dado
somente através
da bendita
reencarnação,
reconstituindo o
seu perispírito
e refazendo com
sua consciência
o autoperdão e o
amor-próprio sem
o exagero do
sentimento de
culpa.
Deus, sendo
perfeito, não
iria falhar no
seu atributo de
soberana bondade
e justiça; o
nascimento de
criaturas
disformes ou
monstruosas,
como o
nascimento de
seres com saúde
e vigor, vem da
célebre frase do
Cristo: "A
plantação é
livre mais a
colheita é
sempre
obrigatória".
Antes de
qualquer decisão
a que venhamos
tomar, cabe a
todos nós seguir
os ensinamentos
cristãos do amor
ao próximo e a
nós mesmos,
orando e
vigiando,
pedindo ao
Criador que
possa atuar da
melhor maneira
possível,
oferecendo
oportunidades de
resgate e
evolução para
todos, como o
filho pródigo
que retorna à
casa do pai.