LUIS ROBERTO
SCHOLL
robertoscholl@terra.com.br
Santo Ângelo,
Rio Grande do
Sul (Brasil)
Aprendendo com
as
diferenças
“Dize-me o que
pensas,
dir-te-ei com
quem andas”
(1). Allan
Kardec.
Um assunto muito
atual não só no
meio espírita
como na
sociedade em
geral é a
alteridade,
ou seja, “a
qualidade do que
é outro”
(2).
É na alteridade
que se
desenvolve, é
nas diferenças
de qualidades
com o outro que
se aprende, é na
variedade de
aptidões que se
complementa uma
tarefa. Aceitar,
conviver,
aprender e amar
a diversidade
denota a
presença de um
ser mais
evoluído, seja
individual ou
coletivamente.
O predomínio que
a vaidade e o
orgulho ainda
exercem sobre as
pessoas impede,
muitas vezes, de
crescerem
somando
qualidades e
esta atitude
facilita o
acesso dos
Espíritos
inferiores para
a influenciação
negativa,
exacerbando as
mazelas internas
de cada um,
provocando
embates, cisões,
rupturas no
trabalho.
Quando isto
ocorre nas Casas
Espíritas, o
prejuízo se
torna inda
maior, porque
ali é o local
onde a causa
única e suprema
deve ser o
desenvolvimento
da caridade e da
tolerância como
ferramenta de
renovação íntima
individual.
Allan Kardec,
no seu discurso
de encerramento
do ano social da
Sociedade
Parisiense de
Estudos
Espíritas do ano
de 1858/59,
tecia
comentários de
outras
sociedades que
surgiram
desejando
rivalizar com
aquela a qual
ele pertencia.
Contava-se de
sociedades com
grandes números
de
participantes,
com muitos
recursos
financeiros,
sendo para ele
um motivo de
regozijo,
ressaltando,
apenas, que elas
tivessem uma
“unicidade de
sentimentos para
frustrar as
influências de
maus Espíritos e
consolidar a sua
existência”
(3).
Naquela época,
nos Estados
Unidos, na
Europa,
especialmente em
Paris, ocorria o
surgimento de
inúmeras
reuniões
íntimas, como
outrora fora a
própria
Sociedade
Parisiense, fato
normal devido ao
então crescente
interesse pelos
assuntos
espíritas e ao
surgimento de
vários médiuns.
Denotavam-se os
mais variados
resultados
possíveis, desde
reuniões sérias
com resultados
notáveis, até de
fanfarronices e
brincadeiras
fúteis, de
acordo com os
interesses e
intenções de
cada uma. A
despeito disso,
Kardec ressaltou
que poucas
constituíam uma
sociedade
propriamente
dita, pois lhes
faltavam
condições de
vitalidade em
razão do escasso
número de
componentes, de
sua
estabilidade,
permanência e
persistência.
A primeira
condição,
preconizada pelo
mestre francês,
é a de
homogeneidade
de princípios e
maneira de ver.
Toda sociedade
formada de
elementos
heterogêneos
traz em si o
germe da
dissolução,
podendo
considerá-la
natimorta.
Mais adiante o
Codificador
explica a
homogeneidade
como comunhão
de pensamentos.
Sem a calma e o
recolhimento,
dificilmente os
bons Espíritos
se apresentarão,
pois não
encontrarão as
condições
necessárias para
dar assistência
à sociedade.
Eles desejam
ardentemente
esclarecer para
o bem, não
participando em
reuniões onde
impera o
espírito da
oposição
sistemática, da
discórdia e da
controvérsia.
A homogeneidade
propagada por
Kardec é a de
ideais nobres,
da vivência
ético-moral e do
estudo
doutrinário com
seriedade.
As diferentes
maneiras de
agir, de
conduzir e de
pensar são
saudavelmente
administradas
para o
crescimento do
grupo e dos seus
componentes,
quando não
comprometem o
corpo
doutrinário.
Neste ideal,
Bezerra de
Menezes
levanta a
bandeira da
unificação não
como a
uniformização de
procedimentos,
mas como a união
afetiva em torno
da prática da
moral de Jesus à
luz dos
esclarecimentos
espíritas.
Para unir
deve-se ter o
trabalho
consistente, a
ação correta, a
vivência do
discurso
cristão.
São Luís,
Espírito
protetor da
Sociedade
Parisiense de
Estudos
Espíritas,
fornece o meio
infalível para
não temer os
conflitos:
“Compreendei-vos
e amai-vos” (4).
O trabalho da
compreensão
exige caridade e
abnegação.
“Que o amor ao
próximo esteja
inscrito em
nossa bandeira e
seja a nossa
divisa” (5).
Kardec
considerava
todas as outras
sociedades como
irmãs e jamais
como
concorrentes. A
inveja, o ciúme
e a rivalidade
indicam a
assistência dos
maus Espíritos e
um
direcionamento
equivocado. A
boa intenção, a
benevolência, a
vontade de
servir e o
pensamento reto
revelam a
natureza
superior dos
Espíritos que
presidem a
sociedade,
procurando
conduzi-la, por
meio dos homens
que a servem, ao
trabalho no bem.
Aos grupos que
se sintam
melindrados pelo
crescimento de
outro, Kardec
instiga que
depende somente
dele não ser
ultrapassado. A
Doutrina
Espírita, sendo
acessível a
todos, depende
do esforço
próprio, do
trabalho em
equipe e da
dedicação para
que a Sociedade
evolua e cumpra
o seu papel na
comunidade.
Neste
particular,
outras poderão
igualar-se,
tanto melhor,
pois serão
irmãos que
crescem juntos.
O laço de união
dos homens de
bem, sejam quais
forem as
divergências, é
o amor ao bem, a
abnegação, a
abjuração de
todo sentimento
de inveja e
ciúme.
Na alteridade,
em vista de
diversidade
humana, importa
seu enfoque
prático de
convivência
fraterna.
O codificador
encerra seu
discurso com a
convicção de que
a finalidade do
Espiritismo é
melhorar aqueles
que o
compreendem,
buscando através
do exemplo
demonstrar a
vivacidade da
Doutrina e a sua
praticidade na
vida cotidiana.
“Numa
palavra, sejamos
dignos dos bons
Espíritos se
quisermos que
eles nos
assistam. O bem
é uma couraça
contra a qual
virão sempre
quebrar-se as
armas da
malevolência”
(6).
Referências:
(1) KARDEC,
Allan.
Revista Espírita
1859.
Sobradinho, DF:
EDICEL, Discurso
de encerramento
do ano social
(1858-1859), p.
196.
(2) Novo
Dicionário
Aurélio.
(3) KARDEC,
Allan. Idem, p.
200.
(4) Idem, p.
20.1
(5) Idem.
(6) Idem, p.
202.