WILSON CZERSKI
wilsonczerski@brturbo.com.br
Curitiba, Paraná
(Brasil)
A
corrupção e a lei de
causa
e efeito
A sociedade vive
atualmente uma crise de
valores. Discute-se do
tecnológico ao
econômico; do político
ao social; do religioso
ao ético.
Particularmente neste
campo, o moral, temos
instalado aqui no Brasil
uma crise que repercute
nos demais,
especialmente o político
e o social. Muito já se
falou sobre “o jeitinho
brasileiro”, onde para
qualquer situação
incômoda há uma
artimanha, uma esperteza
para dela escapar; sobre
“a lei do Gerson”, onde
sempre se tem que levar
vantagem; sobre “o dando
é que se recebe”, em que
a máxima franciscana foi
aviltada para significar
a troca inescrupulosa de
favores na política
brasileira.
O questionamento passa
pelo terreno educacional
onde o modelo de ensino
vigente, principalmente
o universitário, tem
lançado no mercado de
trabalho grande número
de profissionais
despreparados. Outro
contingente deles, que
deveria dar exemplo de
caráter e respeito aos
princípios básicos da
profissão, compromete o
início da carreira pela
incoerência e mau
exemplo, como é o caso
de estudantes de Direito
ou Medicina envolvidos
com drogas, assunto que
foi alvo de recente
pesquisa com os alunos
da USP.
Erro de base plantado
nos primeiros degraus do
ensino onde se teima
confundir instrução com
educação. Pena que
não lêem Kardec, o
discípulo de Pestalozzi,
e aprenderiam que o
conhecimento puro e
simples deixa um vazio
imenso atrás de si
porque cuida somente do
intelecto, porém,
educação é muito mais
que isso, devendo, para
ser completa, abarcar
também o físico, o moral
e o espiritual. Mas a
escola pública
massificada e mesmo a
particular não estão
aparelhadas para
oferecer esse tipo de
educação. No mínimo,
seria de se esperar que
o grupo mais elementar
da sociedade, que é a
família, fornecesse o
suporte moral, por sua
vez assentado na força
da religião.
Mas a família está
diferente, já não possui
a mesma estrutura.
Algumas boas mudanças,
como a mulher que
adquiriu sua
independência e trabalha
fora do lar. Mas e a que
custo? Como ficam os
filhos? E a chamada
dupla jornada de
trabalho para aquelas
que têm necessidade de
contribuir, às vezes,
como titulares no
orçamento doméstico, e
não podem contar com os
serviços de uma
empregada doméstica, não
raro, elas próprias
fazendo esse trabalho?
Os hábitos e costumes
sociais mudaram, veio a
liberação sexual levando
tantos ao abuso. As
jovenzinhas iniciam-se
sexualmente cada vez
mais cedo e,
conseqüência natural, na
mesma cronologia, também
engravidam, imaturas
física e
psicologicamente,
crianças, elas próprias.
Muitas abortam. Milhares
e milhares de ambos os
sexos enveredam pelos
descaminhos das drogas,
trazendo a reboque
tantas vezes a desgraça
da AIDS.
A instituição que
deveria apoiar e
orientar sem reprimir ou
amedrontar é a religião.
Caberia a ela manter
incólume a expressão
perante os homens das
leis divinas. Mas ela
também está falhando,
especialmente as
dominantes. Domínio no
número de adeptos, mas
vulneráveis,
enfraquecidas em seu
poder de influência pela
insatisfação dentro e
fora de seu seio umas;
outras apenas se
mantendo pelo relho do
fanatismo e do interesse
material. Decretada a
falência moral da nossa
sociedade? Nem tanto.
Como afirmou Jesus,
há necessidade dos
escândalos, mas ai
daqueles por quem vêm os
escândalos. E os
Espíritos Superiores
completam: às vezes
há necessidade de se
atingir o excesso do Mal
para que se insurja
contra ele,
compreenda-se que ele
não interessa a ninguém,
ou, pelo menos, à
maioria, porque é em
detrimento desta maioria
que a minoria a ele se
entrega. No linguajar
popular, dir-se-ia que
se chega ao fundo do
poço. De tão ruim e por
não se ter como descer
mais, torna-se
obrigatória a tentativa
de subida.
Exemplos recentes desta
afirmativa observamos em
relação aos índices da
violência
urbana e a avalanche de
corrupção que assola
o país. Infelizmente as
mudanças não são como se
desejariam. Em ambos os
casos, testemunhamos
algo mais próximo de
reações espasmódicas do
que a cura propriamente
dita. Não faz muito
tempo, diante de tanta
insegurança e
iniqüidades,
especialmente a
criminalidade,
instituições sociais dos
mais variados segmentos
uniram-se e mobilizaram
algumas centenas de
milhares de pessoas,
principalmente nas
grandes cidades, num
movimento pela paz.
Houve manifestações
diversas, a mídia deu
cobertura, lideranças
contribuíram com planos
e sugestões, o governo
prometeu verbas para
conter a onda de
rebeliões nos presídios
e aparelhamento dos
órgãos repressores.
Quanto à corrupção,
quando o clamor popular
derrubou um presidente
da República,
parecia ser o sinal da
grande virada. Estão aí
os fatos para nos
desmentir. E, de certa
forma, nos
desesperançar. Um Senado
conspurcado por fraudes,
intrigas e muitas
mentiras, onde o próprio
presidente da casa
esteve envolvido. E a
roubalheira da SUDAM e
da SUDENE? E o ministro
que teve que renunciar
sob o peso de acusações
de desvio de verbas e
favorecimento ilícito a
parentes e amigos? E o
TRT de São Paulo e o Sr.
Paulo Estevão? E o
cassado Sérgio Nahia?
Mas estes escândalos já
são velhos e por muitos
esquecidos. Outros os
substituíram e tomam
conta da mídia. Membros
do Executivo,
Legislativo e
Judiciário, respeitáveis
“excelências” que, em
geral, pertencem à
classe econômica mais
bem aquinhoada da
sociedade pela posição
que ocupam e cargos que
exercem, mas em especial
pelos salários que
recebem, passando o
péssimo exemplo à classe
média que se arvora em
direitos de imitá-los,
sonegando, subornando,
explorando para também
usufruir facilidades.
Pior para o povo
sofrido, com pouca ou
nenhuma perspectiva, que
trabalha muito – quando
tem emprego – e ganha
pouco, e para quem a lei
e a “justiça” mostram
suas garras e dentes
diante do menor deslize.
Manobras espúrias
sepultam CPIs esboçadas
para investigar a fundo
a corrupção. Por que
tanto empenho
(vergonhosa compra de
desistências com
liberação de verbas na
véspera da entrega das
assinaturas) em
abortá-las? Medo de quê?
Crise moral profetizada
por Rui Barbosa
quando disse que o homem
um dia sentiria vergonha
de ser honesto. Crise
moral originada pela
chaga do egoísmo,
alastrando-se como uma
peste epidêmica pelo
corpo social, e
referenciada em O
Evangelho segundo o
Espiritismo de que a
perseverança dos bons
seria tão duramente
testada que a caridade
de muitos esfriaria.
Tem remédio?
Tem cura? É claro que
sim. Basta termos
humildade e voltarmos as
atenções para a
verdadeira natureza do
ser. Olhando para dentro
e vendo-nos como
Espíritos imortais,
temporariamente
revestidos de um corpo
de carne e matriculados
no grande educandário da
Vida como aprendizes do
Cristo, entenderemos que
dinheiro, fama, poder,
sexo, beleza física são
talentos de valor
relativo cujo pouco
brilho está
artificialmente
aumentado pelas lentes
da ilusão. Ao cruzarmos
a fronteira da morte,
não nos perguntarão
quais títulos possuíamos
ou quanto de riqueza
monetária ajuntamos.
Teremos a nosso favor
somente o conteúdo da
bagagem de nossas ações
firmadas no Bem, no Amor
e na Justiça. O resto,
todo o entulho, terá
ficado irremediavelmente
perdido.
Quanto aos promotores
das desigualdades e das
injustiças, dos agentes
ativos e passivos da
corrupção, dos
usurpadores do bem
público e da paz alheia,
dos exploradores da fé,
dos aproveitadores de
toda ordem, dos maus
ricos e pobres
revoltados, dos
assassinos de coração de
gelo e gênios da tirania
de todos tipos, estes,
mãos vazias e
consciências aferroadas
pelo remorso,
recomeçarão – porque a
bondade de Deus não lhes
negará tantas quantas
oportunidades se fizerem
necessárias através da
reencarnação para
avançarem –, mas sob a
guante da dor para que
resgatem seus débitos
contraídos junto aos
indivíduos e à
coletividade e aprendam
a valorizar cada coisa
de maneira justa e
precisa.
E a primeira lição que
terão que recapitular
será a ensinada há 2000
anos e que o homem
recusa-se obstinadamente
a assimilar: “Amar ao
próximo como a si mesmo
e somente fazer aos
outros o que gostaria
que estes lhe fizessem”.