Pescador
de ilusões
Uma música em moda nos
dias de hoje tem um
refrão que diz assim:...
Valeu a pena, eh, eh!
“Valeu a pena, eh, eh,
pescador de ilusões...”
De todo o DVD acústico
só me chama a atenção
esse refrão e a batida
rítmica desta musica.
Nada contra os que são
fãs como minhas filhas,
que me fazem ouvir em
alto e bom som todo o
repertório.
Elas sabem todas as
letras sem errar um só
refrão. Interessante,
pois eu e a mãe temos
que repetir as tarefas
várias vezes ao dia e
elas sempre se esquecem
da segunda em diante.
Talvez porque nos ouçam
com toda aquela boa
vontade e disposição,
que levam tanto tempo
para fazer a primeira
tarefa e, da segunda,
nem se lembram mais? E
olha que é ao vivo!
Já fui pescador de rio,
lá no Mato Grosso. Não!
Não vivia da pesca. Ia
pescar com um grupo,
duas vezes por ano,
tinha credenciamento e
pagava taxa anual. Coisa
seria. Ficávamos
acampados em vários
locais dos rios Miranda,
Vermelho, Salobra e
outros, bem próximo a
Corumbá, longe pra
caramba daqui de casa,
mas uma maravilha de
lugar, um cenário de
paraíso.
“Era tão bão que inté
esquecia do mundo!”
Verdade, esquecia até
das contas a pagar!
Viajar mais de 30 horas,
acampar à beira do rio,
10 dias longe da
civilização, comendo
mal, dormindo mal, ser
devorados por mosquitos
mais ferozes que o da
dengue, sem água
potável, sem banheiro, e
fazer 6 horas de barco
só para fazer uma boa
pesca.
Quanta saudade! Me vêm
lágrimas aos olhos e um
nó na garganta só de
lembrar! Grandes
histórias e muita
satisfação. Chegávamos a
trazer mais de 400
quilos de peixe e não é
mentira, tem tudo
registrado, fotografado,
certificado e pesado,
pois tudo era checado
quando passávamos na
fronteira do Estado.
Aventuras de montão para
guardar na mente e no
coração. E quando
acabava tudo isso,
dirigir por 30 horas e
retornar a casa. Dez
dias de pesca,
sofrimento, cansado,
renovado e feliz.
Hoje, de segunda a
sexta, faço normalmente
um mesmo trajeto para ir
ao trabalho, levo
aproximadamente uma hora
e trinta minutos para
percorrer 70 km. Uma
rotina só!
Certa vez fui rebelde à
rotina, alterei o
caminho e fui pela
praia. Lembrei que temos
praia, absurdo! E me
deparei com uma
maravilha, “o mar”!
Agradeci os limitadores
de velocidade que me
fizeram reduzir e me
manter a 60 km por hora,
fui literalmente
obrigado a apreciar o
mar.
Fiquei com vergonha de
mim mesmo! Primeiro, por
não ter esse hábito,
morando tão perto. E,
segundo, por estar ali e
não parar de pensar nos
problemas que deveria já
estar adiantando pelo
celular para quando
chegar à empresa ter
mais coisa pra fazer.
Olhei para o mar, pedi
perdão a Deus e fui por
todo o trajeto
agradecendo.
Reparei no mar, nas
ondas, na areia,
reclamei da boa vida do
surfista e a consciência
me devolveu com: Oh,
mané, em vez de criticar
o cara, acorda mais
cedo, vai malhar, perder
a barriga, pega uma
prancha e aprende a
surfar! Depois desse
sabão imaginei a cena de
um surfista de cabelos
longos, barba, com uma
bela prancha, me
dizendo: ...Quer ser
como eu? Pegue a sua
prancha e siga-me! Ele
se vira e sai caminhando
sobre as águas!
Covardemente tirei umas
fotos do mar pelo
celular e enviei para a
equipe do escritório!
Que horrível! Nunca mais
fiz isso, agora só
telefono.
O dia-a-dia começa mais
ou menos assim, trabalho
num bairro muito pobre e
sem muitos recursos, a
comunidade é tão carente
que pode se comparar às
comunidades da África ou
do nosso Nordeste.
O que no nosso bairro é
considerado lixo e
descartado ou reciclado
pelos catadores, lá é
considerado item de
valor. Um choque
socioeconômico, todos os
dias.
Pescador de ilusões! O
que quer dizer? Só um
título de música ou uma
possibilidade real?
E a nossa rotina, dá
para mudar? O que pensa
o pescador? O que faz o
pescador?
Como vivem os que têm
doenças incuráveis,
depressão, abandono,
problemas domésticos,
conflitos familiares,
violência doméstica,
falta de recursos, falta
de escola, falta de
material para ir à
escola, falta de roupa,
falta de sapato, sem
comida suficiente, sem
moradia adequada e
tantas outras
situações...? No que
será que acreditam? O
que sonham?
Reclamamos do calor
morando por aqui,
imagine aqueles que
habitam por necessidade
em construções tipo
abrigos, construídos com
placas de madeira e
cobertura de zinco... Já
experimentaram algo
parecido?
Quando faz calor é um
forno e quando chove é
uma ducha!
Mesmo sem praia ou
montanha, existem
grandes possibilidades
ou no máximo
entendimento dessas
possibilidades.
A bênção Divina nos dá
oportunidades!
Será que simplesmente
nos dá? Ou Ele espera
que façamos com ela algo
para nós mesmos como
para os outros?
Reflexão para pescador
de ilusão!
Reclamar então seria uma
grande injustiça com
Ele, não é mesmo?
Agradecer sempre, já
seria um grande começo!
E olha que todo começo é
pequeno.
Como se comporta um
pescador? Alguém aí já
pescou? Pesque-pague e
festa junina não vale!
Pra pescar tem que se
preparar. Tem que
escolher o local, usar a
vara de pescar correta,
a isca apropriada,
conhecer o tempo e ter
paciência, muita
paciência. Pois, às
vezes, somos obrigados a
ficar muito tempo em uma
mesma posição e os
peixes nem sempre se
interessam pela isca.
Tudo isso toma tempo,
técnica, perseverança e
disciplina. Tudo com
muita fé!
Quem ainda não sabe como
se faz e quer aprender?
Olha, tem um grande
pescador por aí! Ele é
da antiga, mas por
incrível que pareça está
sempre atual e suas
“dicas” valem muito até
hoje! O cara sabe tudo!
Tem até um manual que
uma galera, que esteve
com ele, escreveu. Dá
todas as dicas; local,
iscas, tipos de peixes e
tudo mais, vale muito a
pena!
Ensina-nos até a nos
descobrirmos, pescador,
no sorriso de uma
criança, pode?
O texto se estendeu
demais, mas é que às
vezes me percebo como um
pescador a serviço do
patrão, estar à beira do
rio e observar a sua
beleza, as águas
cristalinas passando
diante mim, cheio de
peixes e como se todo o
tempo do mundo estivesse
à minha disposição ou
ficasse parado ao meu
desejo.
Precisa usar o anzol
adequado, a isca
adequada, dar muita,
muita linha, e aguardar
pacientemente o peixe
fisgar... E revejo a
cena, como um filme que
se repete... Observando
o rio passar, as águas
cristalinas, os peixes,
o anzol, a linha e...
Não aconteceu, mas podia
ter acontecido de surgir
à minha frente, no vidro
traseiro de um carro, um
adesivo escrito assim:
“Tá estressado? Eu
acrescentaria:
depressivo, sem grana,
devendo, separado,
sozinho, enrolado, com
problemas e outros
bichos? Vai pescar”!