MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
No Mundo Maior
André Luiz
(7a
Parte)
Damos prosseguimento ao
estudo da obra
No Mundo Maior,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier,
publicada em 1947 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Que lição acerca do
valor do dinheiro Pedro
aprendeu com sua própria
experiência?
R.: Pedro, anos depois
do crime cometido, fazia
agora o possível para
erguer-se, mas sabia
também, por experiência
própria, que o dinheiro
não soluciona os
problemas fundamentais
do destino e que o
elevado conceito que
possamos conseguir dos
outros nem sempre
corresponde à realidade.
Não obstante todas as
vantagens conquistadas
no âmbito material,
vivia enfermo,
infortunado, aflito.
(No Mundo Maior, cap. 5,
pp. 73 a 75.)
B. Em que consiste, para
os homens, a verdadeira
liberdade?
R.: Segundo Cipriana,
foi o Senhor quem nos
ensinou que a verdadeira
liberdade é a que nasce
da perfeita obediência
às suas leis sublimes e
que só o amor tem o
suficiente poder para
salvar, elevar e remir.
(Obra citada, cap. 5,
pp. 75 a 77.)
C. Que provas ajudaram
Cipriana a crescer
espiritualmente?
R.: Resumidamente,
podemos dizer que
Cipriana, em sua última
existência, perdeu seus
sonhos, o lar, o esposo
e os filhos. Seus dois
rapazes foram
assassinados numa guerra
civil, em nome de
princípios legais; as
duas filhas, seduzidas
pelo fascínio do prazer
e do ouro, escarneceram
de suas esperanças e
permaneciam, então, na
esfera sombria,
emaranhadas em perigosas
ilusões. O esposo, que
era o único amigo que
lhe restava, abandonou-a
logo que a lepra
acometeu sua carne,
empolgado por visível
horror. Desprezaram-na
todas as afeições e lhe
fugiram os favores do
mundo; contudo, enquanto
seus membros se
desatavam do corpo que
se corrompia e quando se
achava relegada ao
extremo desamparo dos
que lhe eram caros,
robustecia-se dentro
dela o cântico da
esperança e sua alma,
apesar de todos os
sofrimentos, glorificava
o Senhor da Vida.
(Obra citada, cap. 5,
pp. 77 e 78.)
Texto
para leitura
37. O ódio e a
vingança não têm sentido
- O enfermo
hospitalizado estava
aliviado. Nunca ninguém
lhe falara assim, disse
ele a Cipriana. André e
Calderaro também se
comoveram até às
lágrimas com a cena.
"Praza a Deus, André,
possamos também aprender
a amar, adquirindo o
poder de transformar os
corações", falou-lhe o
Assistente. Cipriana
agora, sustentando Pedro
nos braços, dirigia-se
ao verdugo
desencarnado, que
permanecera
aparentemente insensível
às palavras que tanta
comoção produziram nos
circunstantes. A
missionária, sem
intimidar-se,
aproximou-se, tocando-o
quase, e falou-lhe
humilde: "Que fazes tu,
Camilo, cerrado à
comiseração?" O algoz,
com frieza, retorquiu:
"Que pode fazer uma
vítima como eu, senão
odiar sem piedade?"
Cipriana, sem se
alterar, replicou:
"Odiar? Sabes a
significação de tal
atitude? As vítimas
inacessíveis ao perdão e
ao entendimento soem
ultrapassar a dureza e a
maldade dos precitos,
provocando horror e
compaixão. Quantos se
valem desse título, para
pôr de manifesto as
monstruosidades que lhes
povoam o ser! quantos se
aproveitam da hora de
irreflexão de um amigo
ignorante ou infeliz,
para encetar séculos de
perseguição no inferno
da ira! A condição de
vítima não te confere
santidade; vales-te dela
para semear, na própria
senda, ruína e miséria,
treva e destroços". A
missionária do bem
prosseguiu falando a
Camilo, lembrando-lhe
que ele, embora
aparentasse ser um homem
prudente, não encontrara
no espírito mínima
réstia de piedade
fraternal para desculpar
o homicida. Há vinte
anos instilava em torno
de si mesmo a peçonha da
víbora, como famulento
chacal. Podendo
conquistar a láurea dos
vencedores com o
Cristo, preferira o
punhal da vingança,
ombreando-se com os
malfeitores
endurecidos... "Onde
esbarrarás, meu filho,
com teus sentimentos
desprezíveis? em que
muralha de angústias
serás algemado pela
Justiça de Deus?",
indagou-lhe Cipriana.
(Cap. 5, pp. 72 e 73)
38. No lar de Pedro
- Ante as palavras de
Cipriana, Camilo
vacilava entre a
inflexibilidade e a
capitulação. Extrema
palidez cobria-lhe o
rosto e, quando parecia
que ia proferir uma
resposta a esmo,
Cipriana pediu a
Calderaro ajudá-la a
conduzi-los até ao lar
de Pedro, onde Camilo
atenderia aos seus
rogos. A missionária
transportou Pedro com os
próprios recursos, mas
Camilo, terrivelmente
escravizado aos
pensamentos inferiores
e às intenções
criminosas, estava muito
pesado, e foi assim
conduzido por André e
Calderaro. O paciente
não reagiu; todos
puseram-se em viagem e
em breves minutos
penetravam confortável
residência, onde uma
senhora, na sala de
estar, tricotava, junto
de dois filhos
pequeninos. A
conversação doméstica
era doce, cristalina. O
filho menor disse que
queria orar por seu pai.
"A senhora reparou,
ontem à noite, como
estava aflito e
abatido?", indagou-lhe o
menino. A cena era
comovente. A mãe logo
abandonou o tricô, para
ir chorar num quarto, a
distância. Cipriana
aproveitou o ensejo e se
dirigiu a Camilo,
desapontado,
dizendo-lhe:
"Efetivamente, nosso
amigo subtraiu-te a vida
física, noutro tempo,
contraindo assim
dolorosa dívida;
entretanto, a voz deste
menino devotado à prece
não te sensibiliza o
espírito endurecido?" E
explicou-lhe que aquele
era o lar que o Pedro
criminoso instituiu
para criar o Pedro
renovado... Se cometeu
falta grave, estava
fazendo agora o possível
para erguer-se, numa
vida nobre e útil.
Amparou devotada mulher,
deu refúgio a cinco
filhinhos, cresceu no
conceito dos amigos,
galgou posição de
abastança material, mas
sabia também agora, por
experiência própria, que
o dinheiro não
soluciona problemas
fundamentais do destino
e que o elevado conceito
que possamos conseguir
dos outros nem sempre
corresponde à realidade.
Não obstante todas as
vantagens conquistadas
no âmbito material, ele
vivia enfermo,
infortunado, aflito...
(Cap. 5, pp. 73 a 75)
39. Objetivo das
provas - Após
referir-se a Pedro,
Cipriana indagou a
Camilo o que ele fizera
em todo esse tempo. "Faz
precisamente vinte anos
que não abrigas outro
propósito senão o de
extermínio. O desforço
detestável tem sido o
objeto exclusivo de teus
instintos destruidores.
Teu sofrimento, agora,
nasce da volúpia da
vingança", disse-lhe a
missionária. E ela lhe
perguntou: "Vale a pena
ser vítima, receber a
palma santificante da
dor, para descer tanto
na escala da vida?"
Depois disso,
esclareceu que o
objetivo de sua visita
era ajudá-lo, não
julgá-lo. O Senhor nos
ensinou, disse ela, que
a verdadeira liberdade é
a que nasce da perfeita
obediência às suas leis
sublimes e que só o amor
tem o suficiente poder
para salvar, elevar e
remir. Somos todos
irmãos, suscetíveis das
mesmas quedas, filhos do
mesmo Pai... "Não te
falamos, pois, como
anjos, senão como seres
humanos regenerados, em
peregrinação aos
Círculos Maiores!",
complementou Cipriana.
Havia tanto carinho
naquelas palavras, que
Camilo, antes frio e
impassível, prorrompeu
em pranto e, indicando
Pedro, exclamou: "Quero
ser bom e, todavia,
sofro! Confrangem-me
atrozes padecimentos. Se
Deus é compassivo, por
que me deixou ao
desamparo?!". A cena era
comovente e Cipriana
assim lhe respondeu:
"Quem de nós, meu amigo,
poderá apreender toda a
significação do
sofrimento? Indagas a
razão por que permitiu o
Senhor atravessasses tão
dura prova... Não será o
mesmo que interrogar o
oleiro pelos motivos que
o compelem a cozer o
delicado vaso em calor
ardente, ou inquirir do
artista os propósitos
que o levam a martelar a
pedra bruta, para a
obra-prima da
estatuária?" A
missionária falou-lhe
então que a dor expande
a vida, o sacrifício
liberta-a. O martírio é
problema de origem
divina. Procurando
solvê-lo, pode o
espírito elevar-se ao
píncaro de luz ou
precipitar-se em abismo
tenebroso, visto que
muitos retiram do
sofrimento o óleo da
paciência, com que
acendem a luz para
vencer as próprias
trevas, ao passo que
outros dele extraem
pedras e acúleos da
revolta, com que se
precipitam na sombra.
(Cap. 5, pp. 75 a 77)
40. O caso Cipriana
- Notando que Camilo
chorava amargamente,
Cipriana continuou,
depois de breve
silêncio: "Chora!
Desabafa-te! O pranto de
compunção tem miraculoso
poder sobre a alma
ferida". Calou-se então
e recolheu o algoz de
Pedro em seus braços,
conservando os
contendores conchegados
ao peito, qual se lhes
fora mãe comum. Depois
de algum tempo,
dirigindo carinhoso
olhar para Camilo,
prosseguiu: "Comentas o
mal que te feriu,
invocas a Providência
com expressões
desrespeitosas... O'
meu filho, cala o dom de
falar quando não puderes
servir ao bem. Vivi
igualmente na Terra e
não padeci quanto devia,
considerado o tesouro da
iluminação espiritual
que recebi do Céu pela
dor. Perdi meus sonhos,
meu lar, meu esposo,
meus filhos! O Senhor
mos deu, o Senhor mos
retomou. Meus dois
rapazes foram
assassinados numa guerra
civil, em nome de
princípios legais;
minhas duas filhas,
seduzidas pelo fascínio
do prazer e do ouro,
escarneceram de minhas
esperanças e permanecem
na esfera sombria,
emaranhadas em perigosas
ilusões. O esposo era o
único amigo que me
restava; entretanto,
quando a lepra acometeu
minha carne,
abandonou-me também,
empolgado por visível
horror. Desprezaram-me
todas as afeições,
fugiram os favores do
mundo; contudo,
enquanto meus membros se
desatavam do corpo que
se corrompia, quando me
achava relegada ao
extremo desamparo dos
que me eram caros,
robustecia-se dentro em
mim o cântico da
esperança". Cipriana
disse então que sua alma
glorificava o Senhor da
Vida, que lhe concedera,
um dia, todas as graças
da saúde e da mocidade,
retomando, em seguida,
esses bens, que ela
guardava por empréstimo.
Deus a privara dos entes
queridos, desfizera seu
equilíbrio orgânico,
enviou-lhe a fome e a
dor; no entanto, quando
a sua solidão se fez
amarga e completa, sua
fé elevou-se mais clara
e mais viva... "Que
necessitava eu,
miserável mulher, senão
padecer, para santificar
a esperança? que não
precisarei ainda, para
lograr o acesso às
fontes superiores? quem
somos nós, senão
vaidosos vermes com
inteligência mal
aplicada, aos quais se
tem de mil modos
manifestado a
Misericórdia Infinita,
mas em vão?" (Cap. 5,
pp. 77 e 78)
41. Camilo se liberta
- Ouvindo o relato de
Cipriana, Camilo sentiu
a necessidade de
ajoelhar-se. Do tórax da
missionária partia
radioso feixe de luz,
que lhe atravessava o
coração, qual venábulo
de luar cristalino. O
desventurado Camilo
beijava-lhe a destra,
comovido. O amor de
Cipriana o convencera
por completo, e ele
então clamou: "Mãe do
Céu, libertai-me de
minhas próprias paixões!
Desfechai-me as algemas
que eu mesmo forjei...,
quero fugir, esquecer,
empenhar-me na luta
regeneradora,
recomeçando a
trabalhar!" Cipriana
vencera mais uma vez...
Em poucos minutos, a
venerável entidade,
abraçando-se a Camilo,
partiu com o
ex-perseguidor de Pedro,
a quem ela localizaria
em terreno de atividade
restauradora. Pedro
ficou confiado a André
Luiz e Calderaro, que
observou: "O coração que
ama está cheio de poder
renovador. Certa feita,
disse Jesus que existem
demônios somente
suscetíveis de
regeneração ‘pelo
jejum e pela prece'.
Às vezes, André, como
neste caso, o
conhecimento não basta:
há que ser o homem
animado da força divina,
que flui do jejum pela
renúncia, e da luz da
oração, que nasce do
amor universal". O
enfermo foi conduzido ao
hospital, onde despertou
sorrindo, melhorado,
quase feliz. Não sentia
mais a dor persistente
no peito. Pouco tempo
depois, a esposa e os
filhos o visitaram no
aposento. Foi então que
Pedro, chorando de
júbilo, contou-lhes que
tivera um sonho
iluminativo. Ele
assegurava ter sido
visitado pela Mãe
Santíssima, que lhe
estendera as divinas
mãos. A intervenção de
Cipriana mostrara a
André Luiz, com sua
atuação salvadora, que a
mulher, santificada
pelo sacrifício e pelo
sofrimento, se converte
em portadora do Divino
Amor Maternal, que
intervém no mundo para
enobrecer o sentimento
das criaturas. (Cap. 5,
pp. 78 a 80)
(Continua no próximo
número.)