EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Sobre a razão
cordial
Bem lembrado que
ninguém vive
sozinho: toda
vida humana
reclama outras,
que a seguem,
que a
fortificam.
Ninguém vive só,
ninguém age só.
E talvez por
isso mais e mais
se conclua que o
individualismo
seja um defeito
que deva ser
superado por
outra forma de
convívio social:
a que buscará a
promoção de toda
a vida em
respeito aos
ciclos da
natureza e ao
sentido de
justiça, tal
como está
expressa na
Carta da Terra.
A Carta da
Terra,
assumida pela
UNESCO em 2000,
é um documento
que propõe uma
aliança de
cuidado
universal entre
todos humanos e
para com a
Terra. Uma
proposta que
renuncia ao peso
dos egoísmos e
solicita de
governos e de
povos a coragem
cotidiana de
cada um, a
vigilância de
cada um para
fazer o resgate
da razão
sensível e
cordial no lugar
da razão
instrumental,
que orientou uma
economia
produtora de
desigualdades
sociais
vergonhosas e de
depleção dos
recursos
naturais,
ignorando o fato
da
interdependência
entre o ser
humano e os
ecossistemas.
A Carta da
Terra
elucida um
paradigma de
inclusão e
articulação,
cujo objetivo,
embasado no novo
modo sustentável
de ser, está
implicado com as
nossas urgentes
indagações sobre
hospitalidade,
convivência,
tolerância e
comensalidade.
Haverá uma Terra
multicivilizacional?
Respeitadas as
incontáveis
diferenças, é
possível um
consenso de que
os povos da
Terra possam
conviver
pacificamente
como irmãos e
irmãs,
respeitando a
integridade dos
ambientes, mas
sem desprezar a
meta principal
de que sejam
criadas, pelas
nações da Terra,
condições para
que todos possam
evoluir humana e
espiritualmente.
Não seria esse o
desejo do
Cristo?
O desejo do
Cristo de amor e
fraternidade é
exigente da
substituição da
sociedade
industrial
impessoal das
massas, que
torna os
destinos
biográficos das
pessoas comuns
insignificantes.
Esta sociedade,
infelizmente, é
marcada pela
forma de viver
competitiva e
estandardizada –
basta observar
os meios de
comunicação
massivos e
recordar os
incentivos ao
consumo. Aqui, a
competição
corrói a
cooperação, pois
vige a lei do
mais forte,
segundo as
regras do
mercado.
Além disso,
livrar-se da
posição de
poder-dominação
sobre a Terra
leva-nos a
reconhecer a
necessidade da
cultura do
respeito de uns
para com os
outros e para
com a Terra,
morada comum.
Esse
reconhecimento
nos solicita a
prática da
tolerância para
com as
diferenças e o
exercício da
compaixão pelos
que sofrem,
ajudando-os da
maneira que nos
for possível.
A razão cordial.
Quanto mais
amamos a nós
mesmos, mas
temos
necessidade dos
outros. Conviver
acende
esperanças
diante da
fragilidade do
mundo, mas
também de suas
belezas e
possibilidades
de avanço. O
caminho? Juntos.