LEONARDO MACHADO
leo@leonardomachado.com.br e www.leonardomachado.com.br
Recife, Pernambuco (Brasil)
Dividindo o
tempo e a
energia
“Que é feito do
vosso santo
entusiasmo?” (1)
Certamente, se
se pudesse usar
uma palavra para
caracterizar o
período da
mocidade,
energia cairia
bem. Isto
porque, neste
período, “a
alma, novamente
ligada a um
corpo cujos
elementos são
novos e fortes,
se sente capaz
de empreender
vasta carreira e
se promete a si
mesma grandes
esperanças”. (2)
Neste contexto,
é comum a
juventude se
deixar invadir
por um
sentimento de
“eu vou mudar o
mundo”. Quem, em
já sendo jovem
um dia, nunca se
deixou sonhar
com grandes
feitos em nome
desta mudança?
Particularmente,
lembro-me bem
dos meus treze,
ou quatorze,
anos. Com a
minha velha
guitarra,
compunha baladas
com esta
finalidade. E
sonhava...
sonhava...
Do sonho, porém,
a vida chama à
realidade. E,
quase que
invariavelmente,
os indivíduos
deixam, com o
passar dos anos,
este entusiasmo
juvenil
esvaecer. E,
daquele muito
sonhado outrora,
quase que não
fazem nada no
agora.
Importa,
portanto, nunca
deixar que esta
força interior
do começo se
acabe por
inteiro; que as
obrigações do
mundo jamais
consigam
engessar esta
energia; e que
as decepções da
vida não
direcionem o
olhar para a
tenebrosa senda
do pessimismo.
Por outro lado,
no entanto,
muitas vezes,
enquanto jovem,
é comum observar
a dificuldade em
se medir esta
empolgação. E,
assim,
rotineiramente,
vê-se o moço
indo daqui para
ali, de uma para
outra atividade,
de começo para
um novo
recomeçar, sem
se fixar em um
lugar, ou em uma
tarefa,
dificultando,
assim, a
capacidade de
desempenhar suas
funções com
maior eficácia.
É comum,
portanto,
colegas se
queixarem para
mim desta
dificuldade em
conseguir dosar
a medida certa
para se ter mais
equilíbrio –
“Ah!
Ora, eu
estou na
faculdade a todo
vapor nos
estudos e aí vêm
os problemas,
relaxo no curso
e procuro um
trabalho na
igreja, ou
extra, mas
depois melhoro e
fico neste
vai-e-vem” –
dizem.
Natural, desse
modo, é que, ao
lado desta
energia
criadora,
coloque-se outro
elemento
contra-balanceador:
a disciplina.
Esta tem a
capacidade de
equilibrar a
balança de
nossas vidas. E,
ao contrário do
que se pode
pensar, ela não
é o oposto do
entusiasmo, mas,
na verdade, a
grande
conselheira
dele, que o
santifica e o
ilumina.
Já dizia com
sabedoria, neste
ínterim, o
Dalai-Lama: “a
disciplina é um
supremo
ornamento e,
seja usada pelos
velhos ou pelos
moços, faz
nascer apenas
felicidade”. (3)
Sendo assim, é
importante se
lembrar do
questionamento
de Paulo aos
cristãos da
cidade da
Galícia – “que é
feito do vosso
santo
entusiasmo?” –,
pois, naquela
época, eles
começavam a se
deixar
desempolgar pela
mensagem do
Cristo trazida,
anteriormente,
pelo apóstolo.
Dessa forma,
colega de
juventude, nunca
deixes o teu
entusiasmo
esvaecer com o
passar dos anos
e com o suceder
das decepções,
ainda naturais
neste mundo.
Entretanto,
santifica-o hoje
com o benéfico
auxílio da
disciplina,
dividindo,
assim, teu tempo
e energia, para
que, mesmo não
conseguindo
fazer tudo o que
sonhavas,
possas, ao
menos, realizar
um pouco na
construção da
felicidade em ti
e no mundo.
Fontes:
(1) Epístola de
Paulo aos
Gálatas, 4: 15.
(3) Sua
Santidade, o
Dalai-Lama.
Palavras de
sabedoria.
Rio de Janeiro:
Sextante, 2001,
p.32.