LUIS ROBERTO
SCHOLL
robertoscholl@terra.com.br
Santo Ângelo,
Rio Grande do
Sul (Brasil)
Lei do progresso
e destino
Dionísio era um
jovem sem juízo
e irresponsável
quando subiu ao
trono da
Sicília.
Convencido de
que seu
comportamento
era fruto da
educação
descuidada da
infância, seu
tio o incentivou
a se aproximar
dos sábios e
filósofos.
Dionísio,
entusiasmado,
chegou a trazer
Platão duas
vezes em
Siracusa, para
conviver,
durante alguns
meses, com
aquele que foi
um dos maiores
pensadores de
todos os tempos.
Riqueza
imensurável,
poderio militar
extraordinário,
temeridade dos
povos vizinhos,
poucos
imperadores
tiveram tanto
poder quanto
ele. Foi assim,
no auge do
poder, que sua
vida teve uma
reviravolta
espetacular: o
povo de Siracusa,
cansado de tanta
tirania,
revoltou-se e o
destituiu do
trono. Viu sua
família ser
barbaramente
executada e a
sua própria vida
poupada no
exílio, para
que, na miséria
e humilhação,
sofresse mais
duro castigo do
que a morte.
Dionísio foi
enviado a
Corinto, onde,
na
miserabilidade,
se tornou
atração aos
gregos,
impressionados
com o que o
destino pode
fazer com o
homem: antes rei
poderoso,
tremido por
todos e dono de
palácios, e
hoje,
deplorável,
digno de
piedade,
convivendo com
prostitutas e
bêbados no porto
da cidade.
Alguns mais
afoitos o
interrogavam de
que servira a
convivência com
Platão e os
demais filósofos
se sua vida só
andara para
trás. Para
estes, Dionísio
respondia que,
se não fosse a
filosofia, ele
não teria
suportado tanto
revés na sua
vida. Sentia
ainda a dor da
perda da
família, do seu
reino, e não se
tornara um
submisso sem
capacidade de
reação. Mas a
filosofia lhe
havia ensinado
que a felicidade
do mundo é
efêmera e
precária e que é
inútil o
desespero quando
aquilo que
acontece não
depende só de
nós. Como um cão
amarrado por uma
longa corda a
uma carroça em
movimento, não
temos muita
escolha: ou
tentamos nos
opor à tração
irresistível do
veículo, ou
trotamos no
mesmo sentido,
aproveitando,
como pudermos, a
relativa
liberdade que o
cumprimento da
corda nos dá.
Entendeu a
condição humana
quem consente
com as leis
divinas, guiadas
pelo destino que
nós mesmos
traçamos; quem
resiste, termina
sendo levado de
arrasto.
Na Doutrina
Espírita
compreendemos
que o destino
que estamos
vivendo no
presente é
resultado de
livres escolhas
feitas no
passado, assim
como a escolhas
que fazemos hoje
nos remetem a um
futuro que
estamos
semeando.
A lei natural e
irresistível é a
lei do
progresso
(1): Sendo o
progresso uma
condição da
natureza humana,
ninguém tem o
poder de opor-se
a ele. É uma
força viva, que
as más leis
podem retardar,
mas não sufocar.
Quando estas
leis forem
incompatíveis
com o progresso,
serão
aniquiladas
juntamente com
os que se
esforçam por
mantê-las. E
assim será, até
que o homem
tenha posto suas
leis em
conformidade com
a justiça
divina, que quer
o bem para todos
e não a
imposição de
leis feitas pelo
forte em
detrimento do
fraco.
(1) KARDEC,
Allan. O
Livro dos
Espíritos.
1ª ed.
Comemorativa do
Sesquicentenário.
Rio de Janeiro:
FEB. Comentário
de Kardec à
questão 781-a.