MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
No Mundo
Maior
André Luiz
(9a
Parte)
Damos prosseguimento ao estudo da obra
No Mundo Maior,
de André Luiz, psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier,
publicada em 1947 pela Federação Espírita
Brasileira.
Questões
preliminares
A. Qual a finalidade da existência
terrestre?
R.: Ninguém vem ao mundo simplesmente para
gozar. A existência terrestre é abençoado
colégio de iluminação renovadora, não uma
estação de mero prazer. (No Mundo Maior,
cap. 6, pp. 90 a 92.)
B. De onde se origina a simpatia entre as
pessoas?
R.: O amor e a confiança não constituem
obras de improviso: nascem sob a bênção
divina, crescem com a luta e consolidam-se
nos séculos. A simpatia, na maior parte das
vezes, é realização de milênios. Ninguém se
aproxima de outra pessoa com tamanho apego
se ela já não figurasse em seu pretérito
espiritual. (Obra citada, cap. 6, pp. 92
a 94.)
C. Qual a tarefa que o Criador confiou à
Religião?
R.: A Divina Sabedoria confiou à Religião a
tarefa de velar pelo desenvolvimento da
alma, propiciando-lhe abençoadas luzes para
a jornada de ascensão. A crença religiosa,
todavia, principalmente nos últimos anos,
revelava-se incapaz de tal cometimento.
Enquanto muitas inteligências encarnadas se
dedicavam às realizações da Ciência no
mundo, a Religião dava a idéia de erva
raquítica, a definhar no solo. Além disso,
havia outro senão: se à investigação
científica basta o valor intelectual, o
problema religioso demanda altas
possibilidades de sentimento. A primeira
requer observação e persistência; o segundo,
porém, implica vocação para a renúncia.
(Obra citada, cap. 7, pp. 95 e 96.)
Texto para leitura
48. Paulino é chamado à responsabilidade
- Cipriana disse a Paulino que lhe falava em
nome da Divina Justiça. Inicialmente,
chamou-o aos brios, conclamando-o a
dignificar a sua existência de homem,
honrando o sacerdócio feminino. Não era
possível prosseguir fazendo da mocidade
simples aventura dos sentidos. Na mulher ele
encontraria o vaso dileto para os seus
sonhos de paternidade criadora. Por que
persistir no vaidoso domínio da criança
pobre, que era Julieta, por mero impulso
egoísta e de ostentação? Era preciso
despertar para os compromissos de natureza
superior. Ele não viera ao mundo
simplesmente para gozar. A existência
terrestre é abençoado colégio de iluminação
renovadora, não uma estação de mero prazer.
Paulino, que chorava muito, nada falou, mas
emitiu pensamentos muito claros para as
entidades presentes. Ele não hesitaria
quanto ao casamento (assim pensava), mas
encontrara Julieta fora do lar; conhecera-a
num círculo de pessoas menos responsáveis.
Não era prudente defender-se? não lhe
constituía obrigação organizar o matrimônio
em bases mais sólidas? Ele se aproximara de
Julieta num clube noturno; conhecera-a como
uma moça sem lar, sem família. Cipriana,
captando seus pensamentos, tornou firme,
lembrando-lhe que Julieta não procurara uma
casa de entretenimentos menos dignos com
segundas intenções. Enquanto ele ali estava
por mera distração, a jovem vivia
humilhações, tentando ganhar o remédio
necessário à mãezinha enferma... Como
absolver a si mesmo e condená-la? com que
direito escarnecer da respeitabilidade de
uma jovem que visava a tão sagrados
objetivos? Porventura o Sol torna-se vil
quando seus raios iluminam o pântano? (Cap.
6, pp. 90 a 92)
49. Cândida desencarna feliz - As
palavras de Cipriana dirigidas a Paulino
foram incisivas. Era indispensável cooperar
no resgate da jovem mulher que não lhe
surgira no caminho por mero acaso. "O amor e
a confiança não constituem obras de
improviso: nascem sob a bênção divina,
crescem com a luta e consolidam-se nos
séculos", asseverou Cipriana. A simpatia, na
maior parte das vezes, é realização de
milênios. Ele não se aproximaria de Julieta
com tamanho apego se ela já não figurasse em
seu pretérito espiritual. Era preciso, pois,
dedicar-se a ela, salvá-la da loucura e da
inutilidade, oferecendo-lhe o braço de
esposo, honrando a vida, antes que fosse
tarde. Que ele não se importasse com a
crítica do mundo. "É mais nobre dar que
receber, mais belo amar que ser amado, mais
divino sacrificar-se que extorquir alheios
sacrifícios", acrescentou a venerável
entidade, acentuando que a mãe de Julieta
estava vivendo as horas derradeiras de sua
atual existência na carne, sendo importante
lhe fosse restituído o bem-estar, pelo muito
que se mortificou para conservar a filha em
posição respeitável. Cipriana calou-se, mas
de seu coração partiam raios de luz
safirina, que envolviam o rapaz
integralmente. Paulino não resistiu ao seu
apelo: "Recebo a vossa palavra como se fora
a de minha Mãe Celestial. Fazei de mim o que
vos aprouver. Estou pronto...", declarou,
humildemente. Todos volveram a seus
aposentos. Horas depois, às oito da manhã,
Cipriana suprimiu de Cândida a maior parte
das forças. O médico prognosticou a morte
próxima. Chamada às pressas, Julieta foi ao
hospital, seguindo-se-lhe Paulino. A
enferma, fixando o rapaz em atitude
suplicante, dizia de seu receio de deixar a
filha sozinha no mundo, à mercê das
tentações... Falava então com muita
dificuldade. Paulino não a deixou terminar.
De olhos rasos d'água, colocou o indicador
nos lábios da moribunda e disse que
amanhecera naquele dia com um propósito
irremovível: Julieta e ele se casariam em
poucos dias. Cândida chorava copiosamente
e, amparada por Cipriana, uniu as mãos dos
dois jovens, num gesto simbólico,
beijando-as enternecidamente. Foi seu
derradeiro movimento no corpo exausto. Em
poucos minutos, as pálpebras físicas
cerravam-se para sempre, enquanto os olhos
espirituais se abriam para a Eternidade.
(Cap. 6, pp. 92 a 94)
50. A
atividade socorrista é muito grande
- O esforço desenvolvido por Calderaro tinha
por objetivo impedir a consumação dos
processos tendentes à loucura. Não se
incluíam aí os casos puramente fisiológicos.
Calderaro se reportava aos dramas íntimos da
personalidade prisioneira da introversão, do
desequilíbrio, dos fenômenos de involução,
das tragédias passionais, episódios esses
que ocorrem no mundo, aos milhares por
semana. O Instrutor esclareceu, porém, que
são inúmeras as organizações socorristas
dessa natureza, porquanto é imprescindível
amparar a mente humana na Crosta Planetária,
em seus deslocamentos naturais. Por isso, a
Divina Sabedoria não se descuidou da
programação prévia de serviço, nesse
particular. Assim como encarregou a Ciência
e a Filosofia de desenvolver seus papéis no
progresso humano, confiou à Religião a
tarefa de velar pelo desenvolvimento da
alma, propiciando-lhe abençoadas luzes para
a jornada de ascensão. A crença religiosa,
todavia, principalmente nos últimos anos
(1),
revelava-se incapaz de tal cometimento:
faltava-lhe pessoal adequado. Enquanto
muitas inteligências encarnadas se
dedicavam às realizações da Ciência no
mundo, a Religião dava a idéia de erva
raquítica, a definhar no solo. Além disso,
havia outro senão: se à investigação
científica basta o valor intelectual, o
problema religioso demanda altas
possibilidades de sentimento. "A primeira –
disse Calderaro – requer observação e
persistência; o segundo, todavia, implica
vocação para a renúncia". É por esse motivo
que inúmeras legiões de entidades
desencarnadas se desdobram em toda parte,
socorrendo os que sofrem, incentivando os
que esperam firmemente no bem, melhorando
sempre. O esforço, portanto, em torno da
mente encarnada é extenso e múltiplo.
"Forçoso é convir, no entanto, que, se o
programa dá motivo a preocupações, é também
fonte de prazer", acrescentou Calderaro.
(Cap. 7, pp. 95 e 96)
51. O caso do paralítico - André
indagou ao Instrutor como se opera a
administração de tais auxílios, e Calderaro
explicou que o senso da ordem lhes preside à
atividade em todas as circunstâncias. "Quase
sempre é a força intercessória que
determina os processos de ajuda. A prece,
representada pelo desejo não manifestado,
pelas aspirações íntimas ou pelas petições
declaradas, proveniente da zona superior ou
surgida do fundo vale, onde se agitam as
paixões humanas, é, a rigor, o ascendente de
nossas atividades", esclareceu o Instrutor.
Não havia, porém, preferência por correntes
religiosas. Quando assim falavam, eis que
chegaram a uma residência de aspecto
simples, ladeada por um jardim bem cuidado.
Ali, informou o Instrutor, residia um
incansável companheiro de outras épocas,
reencarnado em condições dolorosas. Já
havia algumas semanas que Calderaro
assistia a mãe daquele irmão, através de
passes reconfortantes. Mãe e filho estavam
ligados por grilhões de graves compromissos,
mas o estado do menino fazia com que a razão
da mãe periclitasse. Daí o auxílio prestado
por Calderaro, que, considerando o costume
da oração em horário prefixado, observado
naquele lar, valia-se dessas ocasiões para
vir-lhe ao amparo. Num pequeno quarto, um
menino enfermo inspirava piedade. Duas
entidades tão infelizes quanto ele mesmo o
cercavam. Era paralítico de nascença,
primogênito de um casal aparentemente
feliz. Aos oito anos de idade, não falava,
não andava, não chegava a sentar-se, via
muito mal e quase nada ouvia da esfera
humana. Psiquicamente, porém, tinha a vida
de um sentenciado sensível, a cumprir severa
pena, lavrada, em verdade, por ele próprio.
Quase dois séculos atrás, ele decretara a
morte de muitos compatriotas numa
insurreição civil. Valeu-se então da
desordem político-administrativa para
vingar-se de desafetos pessoais, semeando
ódio e ruínas. No mundo espiritual suportara
inomináveis suplícios. Inúmeras vítimas já
lhe haviam perdoado os crimes; muitas,
porém, seguiram-no, anos afora... A malta,
que era densa, foi-se rareando, até que se
reduzira aos dois últimos inimigos, em
processo final de transformação. O Espírito
daquele menino preparou-se, pois, para a
fase conclusiva do resgate e conseguiu,
assim, aquela reencarnação com o propósito
de completar a cura efetiva. (Cap. 7, pp. 97
e 98)
52. Mais de cem anos de sombras e dor
- O menino mais se assemelhava a descendente
de símios aperfeiçoados. Calderaro explicou
a André que o Espírito não retrocede em
hipótese alguma, mas "as forças de
manifestação podem sofrer degenerescência,
de modo a facilitar os processos
regenerativos". A entidade ali reencarnada
envenenara por muito tempo os centros ativos
da organização perispiritual. Cercado de
inimigos, permanecia quase embotado pelas
sombras resultantes de seus erros. No campo
consciencial, chorava e debatia-se, sob o
aguilhão de lembranças torturantes que lhe
pareciam sem fim. "Os pensamentos de revolta
e de vingança, emitidos por todos aqueles
aos quais deliberadamente ofendeu,
vergastaram-lhe o corpo perispiritual por
mais de cem anos consecutivos, como choques
de desintegração da personalidade",
esclareceu o Instrutor. Em face disso, o
infeliz, distante do acesso à zona mais alta
do ser, onde situamos o "castelo das noções
superiores", em vão se debateu no "campo do
esforço presente", ou seja, à altura da
região em que localizamos as energias
motoras, visto que os adversários
implacáveis, apegando-se a ele,
compeliram-lhe a mente a fixar-se nos
impulsos automáticos, no império dos
instintos. A Lei Divina assim o permitia,
porque os abusos da razão e da autoridade
constituem faltas graves ante o Eterno
Governo de nossos destinos. O menino,
envergando outro corpo, semeara o mal e
colhia-o agora. (Cap. 7, pp. 99 e 100)
(Continua no próximo número.)
(1)
Lembremo-nos de que este livro foi escrito
no início de 1947, logo depois de finda a 2a
Guerra Mundial.