Realizou-se com grande
êxito no dia 31 de
agosto, no Teatro da
Federação Espírita do
Paraná, em Curitiba, o
3º Seminário sobre o
Sesquicentenário da
Revista Espírita,
coordenado pelo
estudioso Cosme Massi
(fotos).
Fizeram-se presentes ao
Seminário, confrades de
diversas regiões do
Paraná, entre os quais
os presidentes das
Uniões Regionais
Espíritas e conselheiros
da FEP que, no dia
anterior, haviam
participado da Reunião
do Conselho Federativo
Estadual.
Escrita e publicada por
Allan Kardec de 1º de
janeiro de 1858 a abril
de 1869, a Revista
Espírita foi reunida em
doze volumes, um por
ano, reunindo 136
fascículos mensais.
Apesar da riqueza de
conteúdo, fundamental
para quem deseje
efetivamente conhecer o
Espiritismo, a obra
ainda é pouco estudada
pelos espíritas, razão
pela qual Cosme Massi
vem dedicando a maior
parte dos seminários que
coordena neste ano por
todo o Brasil para sua
divulgação.
O próprio Codificador,
em O Livro dos
Médiuns, capítulo
III, Do Método,
aconselhou seu estudo,
na seguinte ordem: 1º O
que é o Espiritismo; 2º
O Livro dos Espíritos;
3º O Livro dos Médiuns,
e, 4º A Revue Spirite, a
qual descreveu como
sendo variada “coletânea
de fatos, de explicações
teóricas e de trechos
isolados, que completam
o que se encontra nas
duas obras precedentes,
formando-lhes, de certo
modo, a aplicação. Sua
leitura pode
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fazer-se simultaneamente
com a daquelas obras,
porém, mais proveitosa
será, e sobretudo, mais
inteligível, se for
feita depois de O
Livro dos Espíritos.”
Dando seqüência aos
seminários anteriormente
realizados, foram
enfocados desta feita
dois artigos da Revista
Espírita: “Primeira
Carta Ao Padre Marouzeau”
(julho de 1863) e “O Que
Ensina O Espiritismo”
(agosto de 1865).
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Carta ao Padre Marouzeau
Ao discorrer sobre o
texto “Primeira Carta Ao
Padre Marouzeau”, Cosme
Massi destaca o bom
senso e equilíbrio do
insigne Codificador,
revelados já nas suas
primeiras linhas. Tendo
o Padre Marouzeau
afirmado em sua brochura
contra o Espiritismo que
a mesma enterraria vivos
os espíritas, Kardec
aguardou o transcurso de
dois anos para
responder, a fim de
possibilitar que se
demonstrasse nesse
interregno de tempo o
que o Padre previra.
Porém, transcorrido o
período, o Espiritismo
mostrava-se mais vivaz
que antes e apesar das
ofensivas e ameaças,
durante os ataques o
Espiritismo mais
cresceu, como se esses
ataques, ao invés de
denegrir, acabassem por
polir a Doutrina
Espírita, conferindo-lhe
maior brilho. Nas
palavras de Allan
Kardec: “o
medo pode deter
momentaneamente, mas é
um laço frágil, que se
parte no primeiro
momento; os únicos laços
sólidos são os do
coração, cimentados pela
convicção. Ora, a
convicção não se impõe
pela força.”
Cosme Massi ponderou que
à medida que se aprende
a refletir o
conhecimento toma lugar
e as pessoas vão
perdendo o medo, porque
o medo é fruto da
ignorância. Assim, o
compromisso de Kardec
era com o ensino e não
ficar polemizando
questões estéreis.
A tática de atacar o
Espiritismo de fora para
dentro não deu certo, o
que foi percebido pelas
trevas, que passaram
então a fazer como a
ferrugem que corrói por
dentro, levando pessoas
com propostas
estapafúrdias tentar
dominá-la, esconder a
verdade colocando em seu
lugar uma pretensa
verdade, que esconde o
diamante e realça a
bijuteria. Foi o que
aconteceu com o
Cristianismo.
A verdade, se for
realmente verdade,
resistirá sempre. Quando
Kardec trata das
questões levantadas por
alguém não é para
convencer ninguém. Isso
é orgulho nosso, a
convicção não se impõe,
seria desrespeito ao
livre-arbítrio, o que
nenhum espírita lúcido
pode fazer – mas para
esclarecer os espíritas,
o argumento contrário é
que dá solidez à
verdade, quando não se é
convencido de uma idéia,
não se vive conforme
ela, vive como qualquer
materialista.
Recorda ainda Cosme
Massi que Allan Kardec
fez questão de
esclarecer que o que se
refuta são os
princípios, não o homem,
enquanto que atualmente,
muitas vezes, para
mostrar a racionalidade
da tese tenta
destacar-se o homem, ou
para combater a tese se
ofende a pessoa.
Combater um princípio
atacando pessoas é muito
frágil, pois os
princípios ficam, os
indivíduos desaparecem.
A transformação moral
que a Doutrina Espírita
opera é o que lhe
confere valor infinito,
e, passados 150 anos,
ainda não se viu crítico
sério que tivesse bem
fundamentado e refutado
com lógica o que o
Espiritismo ofereceu.
Cosme Massi encerra a
primeira parte do
seminário conclamando os
espíritas a impedir que
esse diamante desapareça
porque o expediente da
ferrugem é insidioso,
entra sem que se perceba
e essa é a atual tática
das sombras, deturpando
por dentro o pensamento
kardequiano. Esse o
maior perigo, com
deturpações, invenções,
propostas superficiais,
mágicas, ritualistas.
Solução para os
espíritas é o combate
aos nossos vícios e não
mecanismos fáceis que só
tapeiam. Ressalta a
importância de manter os
trabalhos de Allan
Kardec, na íntegra e em
francês, tal como
preservado pela
Federação Espírita do
Paraná, a qual
disponibiliza em sua
página eletrônica a
imagem da Revista
Espírita, em seu
original, fotografada,
para que não paire
qualquer dúvida mesmo
com traduções que podem
deturpá-la, para
preservação da solidez
da Doutrina Espírita.
O que o Espiritismo
ensina
Na segunda parte do
seminário, Cosme Massi
analisa o artigo
publicado na Revista
Espírita de agosto de
1865, intitulado “O que
ensina o Espiritismo”.
Nessa matéria Kardec
discorre sobre duas
críticas recebidas: que
o Espiritismo não
apresentava nada novo,
feita por indivíduos que
não o conheciam, e, dos
adeptos, que o
Espiritismo era muito
lento.
Embora a verdade seja a
mesma, às vezes precisa
ser repetida de
diferentes formas.
Exatamente por ser
verdade, apareceu em
todas as épocas, logo,
tal argumento passa a
ser um argumento
favorável e não o
contrário.
“Nada há de novo debaixo
do sol” (Eclesiastes
1:9), porém, o
Espiritismo se destaca
por reunir idéias
esparsas e construir um
sistema científico.
O expositor compara a
idéia em germe com o
pégaso, criatura
mitológica que possuía
asas de pássaro e corpo
de cavalo. Estes,
isolados, não constituem
novidades, porém, não se
havia falado em pégaso
antes, uma figura que
reunisse a uma só vez
tais elementos.
Antes esses fatos não se
reuniram de forma a
construir um sistema
científico como feito
por Allan Kardec e visto
em 1857. Portanto, a
Doutrina Espírita
apresentou, sim, algo
novo.
Adverte, porém, Kardec
que, antes de procurar
coisas novas tem-se que
fazer aplicação daquilo
que se sabe. Passados
150 anos pouco se
contribuiu, pouco se
avançou. As novas idéias
precisam de um tempo de
maturação. Antes de
adotar qualquer
novidade, há que ler de
novo Allan Kardec para
daí extrair o que ainda
não se conseguiu.
Quer-se novidades,
revolucionar, mas não há
como alcançá-las sem
avançar moralmente. Como
bem exemplificou Cosme
Massi, um Espírito que
queira revolucionar a
matemática não o fará
por quem nem sequer sabe
matemática. Espíritos
auxiliam no
desenvolvimento, mas
segundo a lei de
afinidade, daí a
responsabilidade do
médium em estudar para
facilitar a comunicação
com os Espíritos.
Contribuições advindas
do Espiritismo
O essencial é a
vivência. Em termos de
essencial não é
necessário nada novo.
Apesar disso, a Doutrina
Espírita trouxe
contribuições novas:
1. O Espiritismo trouxe
a prova patente da
existência e
imortalidade da alma.
Enquanto nos
comportarmos como
materialistas é mostra
que não temos ainda
certeza quanto à
imortalidade da alma.
2. Pela firme crença que
desenvolve, exerce uma
ação poderosa sobre o
moral do homem; leva-o
ao bem, consola-o nas
aflições, dá-lhe força e
coragem nas provações da
vida e o desvia do
pensamento do suicídio.
3. Descobre-nos a vida
futura e no-la mostra
racional e conforme a
justiça de Deus.
4. Dá a conhecer o que
se passa no momento da
morte; este fenômeno,
até hoje insondável, não
mais tem mistérios; as
menores particularidades
dessa passagem tão
temida são hoje
conhecidas; como todo o
mundo morre, tal
conhecimento interessa a
todo o mundo.
5. Pela lei da
pluralidade das
existências. Lança a luz
sobre as questões mais
árduas da metafísica, da
psicologia e da moral. É
a melhor justificativa
para a ética.
6. Pela teoria dos
fluidos perispirituais,
dá a conhecer o
mecanismo das sensações
e das percepções da
alma; explica os
fenômenos da dupla
vista, da visão à
distância, do
sonambulismo, do êxtase,
dos sonhos, das visões,
das aparições, etc.;
abre um novo campo à
fisiologia e à
patologia.
7. Provando as relações
existentes entre os
mundos corporal e
espiritual, mostra neste
último uma das forças
ativas da natureza, um
poder inteligente e dá a
razão de uma porção de
efeitos atribuídos a
causas sobrenaturais, e
que alimentaram a
maioria das idéias
supersticiosas.
8. Revelando o fato das
obsessões, faz conhecer
a causa, até aqui
desconhecida, de
numerosas afecções,
sobre as quais a ciência
se havia equivocado, em
detrimento dos doentes,
e dá os meios de os
curar.
9. Dando-nos a conhecer
as verdadeiras condições
da prece e seu modo de
ação. Embora Deus seja
onipotente, deu-nos o
livre-arbítrio, depende
de nós querermos que os
Espíritos bons nos
auxiliem, pois estes não
violentam nosso
livre-arbítrio. Por isso
oração não pode ser
prática ritual, tem de
ser a permissão, pedido
de ajuda fundamental.
Deus sabe o que
precisamos mas respeita
nossa vontade.
10. Dando a conhecer a
magnetização espiritual,
que era desconhecida,
abre ao magnetismo uma
nova via e lhe traz um
novo e poderoso elemento
de cura.
Relembrou Cosme Massi a
reflexão de Kardec, para
que saibamos “soletrar o
nosso alfabeto antes de
querer ler correntemente
no grande livro da
natureza. Deus saberá
bem no-lo abrir, à
medida que avançarmos,
mas não depende de
nenhum mortal forçar sua
vontade, antecipando o
tempo para cada coisa.
Se a árvore da ciência é
muito alta para que
possamos atingi-la,
esperemos para voar
sobre ela que as nossas
asas estejam crescidas e
solidamente pregadas,
para não ter a sorte de
Ícaro”.
Em seguida, o expositor
leu a questão nº 643 de
O Livro dos Espíritos,
encerrando o seminário:
643.
Haverá quem, pela sua
posição, não tenha
possibilidade de fazer o
bem?
“Não há quem não possa
fazer o bem. Somente o
egoísta nunca encontra
ensejo de o praticar.
Basta que se esteja em
relações com outros
homens para que se tenha
ocasião de fazer o bem,
e não há dia da
existência que não
ofereça, a quem não se
ache cego pelo egoísmo,
oportunidade de
praticá-lo. Porque,
fazer o bem não
consiste, para o homem,
apenas em ser caridoso,
mas em ser útil, na
medida do possível,
todas as vezes que o seu
concurso venha a ser
necessário.”
À leitura seguiram-se os
aplausos demorados do
público que, em pé,
demonstrava o
agradecimento que lhes
perpassava o íntimo, à
Doutrina Espírita pela
lucidez e conhecimento
que possibilita; a Cosme
Massi pela dedicação
extremada no estudo e
divulgação dos textos
Kardequianos, de forma
tão contagiante
transmitida; à FEP por
oportunizar tão rico
estudo e disponibilizar
em seu site (www.feparana.com.br),
na Biblioteca Espírita
Virtual, a Revue
Spirite em seu
original. O material
multimídia utilizado por
Cosme Massi em todos os
seminários também lá
pode ser encontrado, no
tópico Estudo da
Doutrina Espírita,
material multimídia.
Todos despediram-se na
expectativa de um
próximo encontro, já
agendado para o dia 26
de outubro, durante o 4º
Seminário sobre o
Sesquicentenário da
Revista Espírita, no
Teatro da Federação
Espírita do Paraná.