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Espiritismo para crianças - Célia Xavier Camargo - Espanhol  Inglês
Ano 2 - N° 73 - 14 de Setembro  de 2008

 

Pagar o mal com o bem

 

Caminhando apressado rumo à escola, Orlando encontrou um grupo de colegas com quem estava tendo problemas. Sem motivo, desde algum tempo, Pedro tomara-se de antipatia por ele e passara a tratá-lo mal em qualquer lugar onde estivesse. 

Por isso, vendo que o grupo se aproximava, Orlando ficou preocupado. 

E não deu outra. Passando por ele, Pedro jogou a mochila de Orlando no chão, numa atitude provocadora, e depois se afastou dando uma gargalhada. 

Orlando, porém, não reagiu. Com tranqüilidade, abaixou-se, apanhou a mochila, e continuou seu trajeto como se nada tivesse acontecido. 

Na escola, enquanto a professora escrevia no quadro-negro, Pedro levantou-se de sua carteira e jogou todo o material de Orlando no chão. 

Ouvindo o barulho, a professora virou-se. Pedro, já no seu lugar, ria disfarçadamente,

acompanhado pelos demais alunos. 

— O que houve, Orlando? — perguntou ela ao ver os cadernos e livros espalhados no chão. 

Recolhendo o material, o menino desculpou-se: 

— Não foi nada, professora. Derrubei sem querer. 

E isso se repetia todos os dias. Pedro encontrava sempre novas maneiras de agredir o colega: no jogo de futebol, na escola ou na rua.         

Orlando nunca reagia, o que deixava Pedro cada vez mais irritado. 

Certo dia, Orlando estava passeando de bicicleta quando viu Pedro e sua turma que vinham em sentido contrário. Tentou se esquivar, mas não teve jeito. Eles o encurralaram de encontro a um muro. 

Orlando desceu da bicicleta, enquanto os garotos o cercavam. Pedro aproximou-se com ar ameaçador. 

— É agora que eu lhe arrebento a cara, seu pirralho! 

E assim dizendo, levantou os punhos cerrados, prontos para espancar o outro. Orlando continuou olhando-o sem dizer nada. 

— Vamos, seu covarde! Lute! 

Mas Orlando continuou calado, embora lágrimas surgissem em seus olhos. 

A turma ria, incentivando Pedro que, cansado de esperar, partiu para cima do menino.

Nisso, um homem que passava viu o que estava acontecendo e correu para socorrer Orlando. O bando, assustado, saiu correndo, mas ainda a tempo de ouvir o homem perguntar: 

— Sabe quem são aqueles meninos? Quer que os siga? 

Enxugando as lágrimas, o pequeno Orlando respondeu: 

— Não. Não foi nada. Eles não fizeram por mal. Deixe-os ir embora, senhor. 

Apesar de admirado, o homem respeitou a vontade de Orlando. E, depois de se certificar de que ele estava bem, afastou-se, aconselhando-o a tomar cuidado porque a turma poderia voltar. 

Na tarde do dia seguinte, Orlando saíra para fazer uma tarefa e viu Pedro que vinha de bicicleta descendo a rua. Certamente estivera fazendo compras para sua mãe, porque trazia uma sacola presa no guidão. 

De súbito, tentando ajeitar melhor a sacola, Pedro não viu um buraco no asfalto. A bicicleta se desequilibrou e ele foi jogado sobre o meio-fio, batendo a cabeça na quina da calçada. Um filete de sangue escorreu pela sua testa. Sentindo muita dor, Pedro gemia. 

Orlando aproximou-se, atencioso: 

— Você está bem? Quer ir para um hospital? Está ferido e precisa de cuidados. 

Surpreso ao ver quem o estava socorrendo, Pedro respondeu meio sem jeito: 

— Não foi nada. Foi só um susto. 

— Graças a Deus! Quer que o ajude a chegar em casa? — perguntou Orlando, recolhendo os tomates e cenouras que estavam espalhados pelo chão.  

Pedro estava perplexo. Não entendia porque Orlando mostrava-se tão bondoso com ele. Pensativo, ficou olhando para o garoto à sua frente. Afinal, não se conteve: 

— Orlando, você tem muitos motivos para me detestar. Trato-o muito mal e não perco oportunidade de desafiar, humilhar e diminuir você perante os colegas. Por que está me ajudando?!... 

— Porque aprendi que não se deve retribuir o mal com o mal — respondeu o garoto com simplicidade. 

Espantado com a resposta do colega, Pedro falou: 

— Agora entendo porque nunca aceitou uma provocação. Mas com quem foi que aprendeu essas coisas? 

— Com Jesus. A professora da aula de Moral Cristã, do Centro Espírita que freqüento, falou sobre esse assunto outro dia. Jesus ensinou que devemos retribuir o mal com o bem. Que se alguém nos bater numa face, devemos apresentar a outra. E, mais do que isso, que devemos amar, não apenas os nossos amigos, mas também os inimigos. É isso.     

Calado, Pedro ouviu as explicações de Orlando. Na verdade, naquele momento se deu conta de que nunca havia conversado com ele, e não sabia como era, nem o que pensava. Agora, ouvindo-o, percebeu que Orlando era diferente dos outros colegas, mais consciente e responsável, apesar da pouca idade.  

Pedro sentiu, naquele instante, que o rancor e a animosidade tinham desaparecido do seu coração.  

— Obrigado! — disse simplesmente, afastando-se.  

No domingo, ao chegar ao Centro, Orlando teve uma grata surpresa. 

Lá estava Pedro, todo sorridente, embora um pouco encabulado, para também participar da aula de evangelização.                              

                                                        Tia Célia  
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita