ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)
Cediças verdades
“Imaturas e
ignorantes
criaturas
desejariam
curar-se sem
remédios,
continuando a
sofrer
indigestões”.
(François C.
Liran.)
Cultores do
menor esforço e
nem um pouco
preocupados com
a reforma
íntima, os
caçadores de
milagres sempre
existiram, como
também nunca
faltaram os
embaidores,
embusteiros,
aproveitadores
da fé ingênua e
quase cega do
povo.
Cidades inteiras
existem nas
quais a
principal
economia é a
“indústria do
milagre”, cujos
“industriais”
estão muito bem
postos
financeiramente,
uma vez que
nunca falta
abundante e
subserviente
clientela.
Tal indigitada
situação
permanecerá
enquanto existir
a credulidade
irrefletida,
aliada da
ignorância, que
estimulam as
criaturas baldas
de bom senso a
buscar os
pretensos e
cobiçados
milagres que
lhes permitam
continuar
confortavelmente
acomodadas nas
cadeiras de
balanço do
marasmo
existencial na
furna da inércia
e da preguiça.
Allan Kardec
afirma:
“(...) Foram
fecundos em
milagres os
séculos de
ignorância,
porque se
considerava
sobrenatural
tudo aquilo cuja
causa não se
conhecia. À
proporção que a
Ciência revelou
novas leis, o
círculo do
maravilhoso se
foi
restringindo;
mas, como a
Ciência ainda
não explorara
todo o vasto
campo da
Natureza, larga
parte dele ficou
reservada para o
maravilhoso.
Expulso do
domínio da
materialidade,
pela Ciência, o
maravilhoso se
encastelou no da
espiritualidade,
onde encontrou o
seu último
refúgio.
Demonstrando que
o elemento
espiritual é uma
das forças vivas
da Natureza,
força que
incessantemente
atua em
concorrência com
a força
material, o
Espiritismo faz
que voltem ao
rol dos efeitos
naturais os que
dele haviam
saído, porque,
como os outros,
também tais
efeitos se acham
sujeitos a
leis. Se for
expulso da
espiritualidade,
o maravilhoso já
não terá razão
de ser e só
então se poderá
dizer que passou
o tempo dos
milagres.
O Espiritismo,
pois, vem, a seu
turno, fazer o
que cada ciência
fez no seu
advento:
revelar novas
leis e explicar,
conseguintemente,
os fenômenos
compreendidos na
alçada dessas
leis. É certo
que esses
fenômenos se
prendem à
existência dos
Espíritos e à
intervenção
deles no mundo
material e isso
é, dizem, o em
que consiste o
sobrenatural.
Mas, então, fora
mister se
provasse que os
Espíritos e suas
manifestações
são contrárias
às leis da
Natureza; que aí
não há, nem pode
haver, a ação de
uma dessas leis.
O Espírito mais
não é do que a
alma
sobrevivente ao
corpo; é o ser
principal, pois
que não morre,
ao passo que o
corpo é simples
acessório
sujeito à
destruição. Sua
existência,
portanto, é tão
natural depois,
como durante a
encarnação; está
submetido às
leis que regem o
princípio
espiritual, como
o corpo o está
às que regem o
princípio
material; mas,
como esses dois
princípios têm
necessária
afinidade, como
reagem
incessantemente
um sobre o
outro, como da
ação simultânea
deles resultam o
movimento e a
harmonia do
conjunto,
segue-se que a
espiritualidade
e a
materialidade
são duas partes
de um mesmo
todo, tão
natural uma
quanto a outra,
não sendo, pois,
a primeira uma
exceção, uma
anomalia na
ordem das
coisas.
Uma vez que
estão no quadro
dos da Natureza,
os fenômenos
espíritas se hão
produzido em
todos os tempos;
mas,
precisamente,
porque não
podiam ser
estudados pelos
meios materiais
de que dispõe a
ciência vulgar,
permaneceram
muito mais tempo
do que outros no
domínio do
sobrenatural,
donde o
Espiritismo
agora os tira.
Baseado em
aparências
inexplicadas, o
sobrenatural
deixa livre
curso à
imaginação que,
a vagar pelo
desconhecido,
gera as crenças
supersticiosas.
Uma explicação
racional,
fundada nas leis
da Natureza,
reconduzindo o
homem ao terreno
da realidade,
fixa um ponto de
parada aos
transviamentos
da imaginação e
destrói as
superstições.
Longe de ampliar
o domínio do
sobrenatural, o
Espiritismo o
restringe até
aos seus limites
extremos e lhe
arrebata o
último refúgio.
Se é certo que
Ele faz crer na
possibilidade de
alguns fatos,
não menos certo
é que, por outro
lado, impede a
crença em
diversos outros,
porque
demonstra, no
campo da
Espiritualidade,
a exemplo da
Ciência no da
materialidade, o
que é possível e
o que não o é.
Todavia, como
não alimenta a
pretensão de
haver dito a
última palavra
seja sobre o que
for, nem mesmo
sobre o que é da
sua competência,
ele não se
apresenta como
absoluto
regulador do
possível e deixa
de parte os
conhecimentos
reservados ao
futuro.
Pois que o
Espiritismo
repudia toda
pretensão às
coisas
miraculosas,
haverá, fora
dele, milagres,
na acepção usual
desta palavra?
Digamos,
primeiramente,
que, dos fatos
reputados
milagrosos,
ocorridos antes
do advento do
Espiritismo e
que ainda no
presente
ocorrem, a maior
parte, senão
todos, encontram
explicação nas
novas leis que
Ele veio
revelar.
Esses fatos,
portanto, se
compreendem,
embora sob outro
nome, na ordem
dos fenômenos
espíritas e,
como tais, nada
têm de
sobrenatural.
Fique, porém,
bem entendido
que nos
referimos aos
fatos autênticos
e não aos que,
com a
denominação de
milagres, são
produto de uma
indigna
trampolinice,
com o fito de
explorar a
credulidade.
Tampouco nos
referimos a
certos fatos
lendários que
podem ter tido,
originariamente,
um fundo de
verdade, mas que
a superstição
ampliou até ao
absurdo. Sobre
esses fatos é
que o
Espiritismo
projeta luz,
fornecendo meios
de apartar do
erro a verdade”,
terminando aí o
império das
cediças
“verdades” tão
ao gosto das
criaturas
obtusas, de
raciocínio
frustro.