O beijo
de Judas
Olavo Bilac
Ouve-se a voz do Mestre
ungida de ternura:
– “Amados, eu vos dou
meus últimos ensinos;
Na doce mansidão
dos
seres pequeninos,
Trazei a vossa vida
imaculada e pura!
O Amor há de vos dar
todos os dons divinos;
Eterna irradiação que
atinge a mais escura
Estrada de aflição, de
dor e desventura,
Raio de eterno sol na
senda dos destinos.
Derramai com piedade a
lágrima terrestre!”
Mas eis que Judas chega
e lhe diz: — “Salve,
Mestre!”
E toma-lhe das mãos,
osculando-lhe a
fronte...
E Jesus abençoando
aquelas almas cegas,
Responde humildemente: —
“É assim que tu me
entregas?”
Vendo as coortes do Céu
nas fímbrias do
horizonte...
Natural do Rio de
Janeiro, o poeta Olavo
Bilac nasceu em 16 de
dezembro de 1865 e ali
faleceu em 1918.
Considerado, ao seu
tempo, o Príncipe dos
poetas brasileiros, foi
sócio fundador da
Academia Brasileira de
Letras.
O soneto acima,
psicografado por
Francisco Cândido
Xavier, faz parte do
Parnaso de Além-Túmulo.