CHRISTINA NUNES
cfqsda@yahoo.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
Como você se
atreve?!
Há algum tempo
me solidarizei
com algumas
pessoas sobre as
quais se
abateram
tragédias e
fatalidades,
cujas
identidades aqui
não vêm ao caso
para não
expô-las. Não
quero me ater
aqui às
tragédias em si,
mas a algumas
reações
insólitas, às
quais atribuo,
sem nenhuma
margem a
dúvidas, dentre
outras coisas de
peso, o estado
caótico,
desolador no
qual a
humanidade se
encontra.
Alguém virou
para mim em
determinado
momento e disse:
“Você vai é
se meter em
confusão com
este negócio de
se envolver com
os problemas das
pessoas!..."
Confesso: me
encrespei.
Respondi na
mesma hora,
inconformada: "E
por quê?! Qual a
confusão viável
por simplesmente
me importar?!
Por oferecer
solidariedade?!
Calor humano na
hora do
sofrimento?!
Porque, a meu
ver, confusão
tem a ver com
problema de
consciência;
ora, se a
intenção e as
minhas ações são
justamente de
molde a abonar a
minha
consciência,
qual a confusão
possível?!"
E prossegui no
desabafo durante
alguns instantes
com esta pessoa
das minhas
relações, cuja
essência lhes
transmito neste
texto; é que
meus artigos são
assim mesmo.
Este é o meu
estilo:
terapêutico.
Gosto de dividir
vivências com
meus leitores de
modo a despertar
comentários,
reflexões,
debates... Há
crescimento – e
muito! – a
partir disso!
A meu ver é justo este calor humano, do se importar,
destas
demonstrações
sinceras de
solidariedade;
do se estender
as mãos para o
próximo, que a
humanidade
mergulhada nas
expressões do
ódio e do
desamor se
ressente!
Ninguém se
importa nem quer
se importar com
nada; ninguém se
compromete; há o
temor de que,
num simples
gesto ou palavra
de solidariedade
se vá perder
alguma coisa.
Mas perder o
quê?! Tempo?! O
mesmo tempo
gasto nos fins
de semana com
jogos de
futebol,
churrascadas
regadas a
cervejas e
outras
frivolidades?!
Então a
convivência com
o ser humano se
resume a isto:
só se dá de si
quando tudo vai
bem! Na hora das
festas, do
entretenimento,
do convívio no
mais das vezes
forçoso da vida
profissional
durante a
semana,
estaremos
presentes,
integrados. Nos
momentos de dor,
contudo, nem
pensar! Eu, hem,
me meter nisso,
me comprometer?!
Arranjar dor de
cabeça, tomar a
cruz dos outros
quando a minha
já não é fácil?!
Estou fora!
E segue assim a
humanidade
egoísta, deste
modo, em
decorrência
mesmo do que se
vê o mundo como
nunca soterrado
na maior crise
de solidão e de
desamor de toda
a História!
Porque se deu
prioridade aos
progressos
tecnológicos, às
comodidades, às
incompletudes
dos avanços
científicos...
e, ainda assim,
estranhamente,
padece o ser
humano das
mesmas misérias
íntimas de
milênios atrás,
das eras da
barbárie.
Efetivamente,
continua o seu
modus vivendi
egoísta, e nem
por isto é mais
feliz!
Observem que não
quero aqui
significar que
devemos, como
dito, tomar
sobre nós a cruz
alheia!
Isto, de fato, a
ninguém seria de
ajuda, de vez
que para tirar
alguém de dentro
de uma vala não
auxiliará que,
em estendendo a
mão, ao invés de
içá-la, nos
despenquemos
para dentro,
para a mesma
situação
crítica! Não é a
isto que me
refiro, à
assimilação da
negatividade
transitória do
próximo,
resultado das
fatalidades que
vez por
outra o atingem!
Falo de outra
coisa, vital,
imprescindível...
para que a
humanidade
continue digna
de tal
designação; para
que a
desesperança no
ser humano não
reverta
absoluta: falo
de amor. Falo de solidariedade na sua mais
impoluta
acepção, e não
apenas extensa
aos nossos
círculos
consangüíneos,
mas também para
todo aquele a
quem possamos
ofertar com
sinceridade e
compreensão tal
sentimento e tal
atitude... para
além dos portais
estreitos do
nosso recinto
familiar!
O curioso,
todavia, é que o
posicionar-se
assim, pura e
simplesmente,
diante de
determinadas
personalidades,
reveste-se quase
que de uma
arrogância.
Lê-se com
clareza nos
olhares: Como
você se atreve?!
Quem pensa que é
para sair por aí
dando uma de
boazinha, de
salvadora da
pátria?! Quem
você pensa que
é?! Por que não
se mete com seus
próprios
problemas?! Não
é pretensão
demais, não,
achar que pode
fazer alguma
coisa, aliviar
dores,
reconfortar,
principalmente,
pessoas
estranhas?!...
Volto a
confessar minha
perplexidade!
Mais de uma vez
já vivenciei
coisas que
confirmaram
aquele
pensamento
famoso e
recorrente: é
justamente fora
de casa que
encontramos
maior
solidariedade!
Santo de casa
não faz milagre!
Um estranho, em
variadas
ocasiões, é o
irmão
compreensivo, o
pai ou a mãe que
não nos oferece
o reconforto do
qual
necessitamos em
situações
extremas! Fora
de casa, pois, é
que encontramos
o irmão de
espírito,
oportuno,
carinhoso, de
cujo apoio tanto
necessitávamos
na hora de se
resolver
situações
difíceis,
dolorosas!
Já vivi, já
ouvi, já vi
exemplos
múltiplos que
confirmam esta
verdade! E, no
entanto,
persiste esta
coisa de ser
olhada e
tachada, tácita
ou
explicitamente,
de pretensiosa e
arrogante,
justamente por
amor de atitudes
que tanto bem,
comprovadamente,
proporcionam ao
próximo em suas
angústias e
agruras!
– "Eu o
compreendo! Já
vivi, já senti
na pele!
Apegue-se a
Deus, não
desista! Já vivi
algo assim, ou
parecido!"...
Palavras e
gestos
semelhantes
tanto bem
proporcionam aos
irmãos de
jornada neste
mundo, meus
amigos! Quem não
aprecia?! Quem
pode dizer que
não necessitou
ou nalgum dia
não vá
necessitar de
ser assim
reconfortado por
tais amigos
oportunos, que
parecem "cair do
céu" quando
deles mais
precisávamos?!
Que mal há, por
fim, em se
apostar na força
reabilitadora do
calor humano, da
fraternidade na
sua expressão
mais espontânea,
peculiar,
simples de nós
mesmos?! No
anonimato ou
mais
manifestamente,
não importa, por
intermédio da
publicação de um
texto, ou de um
diálogo
carinhoso, o se
buscar o outro,
com o devido
senso de
oportunidade,
para lhe mitigar
ao menos um
pouco a dor,
para estar
presente nela,
para, enfim, e,
ainda que em
silêncio, fazer
calar fundo
nalguma alma
martirizada que
estamos todos no
mesmo barco...
Como você se atreve?!... – os olhares e comentários sugerem, da
maneira mais
insólita...
Querem saber de
uma coisa?!
Chico Xavier se
atreveu. Gandhi
se atreveu.
Jesus, Mahavira,
Osho, Chico
Mendes, Madre
Teresa de
Calcutá...
Francisco de
Assis!...
Estou em boa
companhia. E vou
continuar me
atrevendo!...
Grande abraço!