MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
No Mundo Maior
André Luiz
(Parte
19)
Damos prosseguimento ao
estudo da obra
No Mundo Maior,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier,
publicada em 1947 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Quem amparou
Antonina, evitando que
ela se suicidasse?
R.: Sua mãe e Márcio, um
amigo do passado
longínquo, que se
acercou dela, pousou-lhe
a destra luminosa sobre
a fronte e falou-lhe com
ternura: "Antonina, por
que esse desânimo,
quando a luta redentora
apenas começa?
olvidaste, acaso, que
não somos órfãos? Acima
de todos os obstáculos
paira a Infinita
Bondade. Recusas a
porta estreita, que
nos proporcionará o
venturoso acesso ao
reencontro?" Essas
palavras deram início a
uma longa conversa que
fez com que mudasse por
completo o panorama
íntimo da jovem. (No
Mundo Maior, cap. 13,
pp. 183 a 185.)
B. Que lhe disse Márcio
a respeito das
inquietações do sexo?
R.: Logo depois de
dizer-lhe que as
inquietações do sexo
haviam tomado certo
culto na intimidade
dela, Márcio lembrou-lhe
que não está no sexo a
fonte exclusiva do amor.
"O amor – disse-lhe o
amigo – é sol divino a
irradiar-se através de
todas as magnificências
da alma. Por vezes,
somos privados de
sensações que
ansiáramos, inibidos de
usar as energias
criadoras das formas
físicas, a fim de
buscarmos patrimônios
mais altos do ser; nem
por isso, contudo, tais
percalços nos impedem a
exteriorização do
sublime sentimento."
(Obra citada, cap. 13,
pp. 187 a 189.)
C. Antonina, ao
despertar do sono, pôde
recordar tudo o que
ocorreu naquela noite?
R.: Não. Ela despertou
reanimada e feliz, mas
Calderaro, que a ajudou
a reapossar-se do corpo
físico, cuidou, por meio
de emanações fluídicas
anestesiantes, para que
não lhe fosse permitido
o júbilo de recordar, em
todas as suas
particularidades, a
experiência da noite. A
lembrança integral do
ocorrido provavelmente a
enlouqueceria de
ventura. (Obra
citada, cap. 13, pp. 189
a 191.)
Texto
para leitura
99. A
ajuda espiritual
- Calderaro informou ter
instruções para impor à
jovem o sono mais
profundo, logo depois da
meia-noite. No momento
aprazado, ele começou a
ministrar-lhe aplicações
fluídicas ao longo do
sistema nervoso
simpático. A vasta rede
de neurônios
experimentou a
influência anestesiante.
O Assistente envolveu-a,
mansamente, em fluidos
calmantes. Antonina
adormeceu, como se
tivesse sido levada a
uma hipnose profunda.
Calderaro a manteve
assim, em completo
repouso, por mais de
meia hora. Decorrido
esse tempo, duas
entidades, aureoladas de
intensa luz, deram
entrada no recinto. Eram
Mariana (que fora a
genitora de Antonina) e
Márcio, iluminado
Espírito ligado à jovem
desde séculos remotos.
Mariana inclinou-se
sobre a filha e
chamou-a, docemente,
como o fazia na Terra.
Desligada parcialmente
do envoltório denso,
Antonina ergueu-se
encantada, feliz,
pronunciando o nome
mamãe... Mariana
recolheu-a em seus
braços, dizendo-lhe
palavras enternecedoras.
"Mãezinha, ajude-me! não
quero mais viver na
Terra! não me deixe
voltar ao corpo
pesado... O destino
escorraça-me. Sou
infeliz! Tudo me é
adverso... Arrebate-me
daqui... para sempre!"
Márcio se aproximou e a
moça, abrindo
desmesuradamente os
olhos, ajoelhou-se
instintivamente,
amparada pela mãe.
Parecia esforçar-se por
trazer à lembrança
alguém que ficara em
pretérito longínquo...
Seu pranto estava agora
diferente; tocava-se,
então, de sublime
conforto, de júbilo
místico, que lhe nascia,
inexplicavelmente, das
profundezas do coração.
Márcio acercou-se dela,
pousando-lhe a destra
luminosa sobre a fronte,
e falou com ternura:
"Antonina, por que esse
desânimo, quando a luta
redentora apenas começa?
olvidaste, acaso, que
não somos órfãos? Acima
de todos os obstáculos
paira a Infinita
Bondade. Recusas a
porta estreita, que
nos proporcionará o
venturoso acesso ao
reencontro?" (Cap. 13,
pp. 183 a 185)
100. As vantagens da
solidão - A conversa
franca de Márcio
prosseguiu. Ele disse a
Antonina que, sentindo
de longe o perigo do
suicídio, ali estava,
juntamente com Mariana,
sua mãe, para ajudá-la.
A moça desejava falar,
mas os suaves raios de
luz emitidos por Márcio
cercavam-na toda,
sufocando-lhe a
garganta, no êxtase
daqueles instantes
inesquecíveis. Pouco
depois, ela disse estar
exausta. O amigo
espiritual lembrou-lhe,
contudo, que ela jamais
fora esquecida. Todas as
oportunidades lhe
haviam sido dadas,
inclusive as dores da
experiência humana.
"Ignoras, querida, a
felicidade do
sacrifício, renegas a
possibilidade de amar?",
indagou-lhe Márcio. Ela
passou a contemplá-lo
com maior confiança.
Sentindo-lhe o carinho,
abriu-se com franqueza,
dizendo que sonhava com
a posse de um lar, com
filhos, com um
companheiro que a
ajudasse a levar a
existência... O destino,
contudo, escarnecia de
suas esperanças...
Márcio ouviu-a
fraternalmente,
afagando-lhe as mãos, e,
evidenciando suas altas
aquisições de verdadeiro
amor, acrescentou, mais
compreensivo e mais
terno: "Abnegada amiga,
não permitas que a
sombra de algumas horas
te empane a luz dos
séculos porvindouros".
Ele reconhecia, sim, as
suas aspirações; no
entanto, era da Vontade
Superior que recebesse,
por enquanto, as
vantagens que podem ser
encontradas na solidão.
Há existências
aparentemente isoladas e
desditosas, em que a
criatura humana se
prepara, nas
culminâncias da
meditação e da
renúncia, para novas
jornadas santificadoras.
A Eterna Sabedoria
dá-nos, invariavelmente,
o lugar onde possamos
ser mais úteis e mais
felizes. E, ao contrário
do que supomos, a
passagem do sepulcro não
abre a ninguém as portas
à liberdade. (Cap. 13,
pp. 185 a 187)
101. Devemos cooperar
nas obras que nos cercam
- Márcio lembrou-lhe
ainda que o mundo não é
propriedade nossa. Se
não podemos ter filhos
da própria carne,
podemos ser tutores dos
pequenos necessitados e
sofredores. Todos nós,
filhos do Altíssimo,
fomos trazidos a
cooperar nas obras que
nos cercam, e pesam-nos,
perante o Pai,
inalienáveis deveres de
trabalho, pelo qual,
exercitando os recursos
preciosos que nos
concedeu, alcançaremos,
um dia, a perfeição da
sabedoria e do amor. "As
inquietações do sexo –
disse Márcio a Antonina
– tomaram vulto na
intimidade do teu
santuário, e padeces
longo assédio de
tribulações. Mas...
dar-se-á que presumas no
sexo a fonte exclusiva
do amor? Serás também
vítima desse fatal
engano?" E ele
prosseguiu: "O amor é
sol divino a irradiar-se
através de todas as
magnificências da alma.
Por vezes, somos
privados de sensações
que ansiáramos, inibidos
de usar as energias
criadoras das formas
físicas, a fim de
buscarmos patrimônios
mais altos do ser; nem
por isso, contudo, tais
percalços nos impedem a
exteriorização do
sublime sentimento..." O
amigo espiritual
disse-lhe ainda que é o
egoísmo feroz que faz
com que não saibamos
perder por alguns dias,
para ganhar na
eternidade, ou ceder
valores transitórios
para conquistar os dons
definitivos da vida.
Antonina o contemplava,
embevecida, e ele
continuou a estimulá-la
a prosseguir na
experiência carnal,
conclamando-a à
renúncia. Depois,
aludindo ao noivo
perjuro, que um dia
também conheceria o
desencanto da carne,
propôs: "Se não podes
ser o cântaro de água
pura para o viajor
querido, por que não
ser o oásis que o
aguardará no deserto das
ilusões inevitáveis?",
acrescentando que no
mundo espiritual eles a
aguardavam, ávidos de
sua afeição e de seu
carinho. (Cap. 13, pp.
187 a 189)
102. Uma outra mulher
- Observando o salutar
efeito de suas palavras
animadoras, Márcio
acariciou os cabelos de
Antonina e aditou: "Por
que razão esperar os
rebentos da carne para
exemplificar o
verdadeiro amor? Jesus
não os teve, e, no
entanto, todos nos
sentimos tutelados de
sua infinita abnegação.
Prometes, Antonina,
modificar as
disposições mentais
doravante? A mulher
digna e generosa,
excelsa e cristã, olvida
o mal e ama sempre..."
Antonina ajoelhou-se de
novo e respondeu
solenemente:
"Comprometo-me a
modificar minha atitude,
em nome de Deus". Nesse
instante, o emissário
espalmou as mãos sobre a
fronte da enferma,
envolvendo-a em jactos
de luz que não tocaram
tão-somente a matéria
perispirítica, mas se
estenderam além, até no
corpo denso, fixando-se
particularmente nas
zonas do encéfalo, do
tórax e dos órgãos
feminis. Logo após,
Antonina, conduzida pela
mãe e por Márcio,
afastou-se para
agradável e repousante
excursão. Na manhã
seguinte Calderaro
incumbiu-se de
auxiliá-la a retomar o
corpo denso. Ele e André
retornaram ao aposento
da moça. Entre seis e
sete horas, Mariana a
trouxe. Antonina
apresentava então na
fisionomia uma ignota e
incompreensível
felicidade. Calderaro
ajudou-a a reapossar-se
do corpo físico,
cuidando, por meio de
emanações fluídicas
anestesiantes, para que
não lhe fosse permitido
o júbilo de recordar, em
todas as suas
particularidades, a
experiência da noite. A
lembrança integral do
ocorrido provavelmente a
enlouqueceria de
ventura. Daí a minutos
Antonina despertou,
como que outra criatura;
ela sentia-se
inexplicavelmente
reanimada, quase feliz.
Um dos sobrinhos
penetrou o aposento,
chamando-a. A generosa
tia contemplou-o,
enlevada. Algo
prodigioso, que ela não
sabia explicar,
religara-a ao interesse
pela vida. Que importava
insignificante malogro
do coração diante dos
trabalhos sublimes que
poderia executar, na
sua posição de mulher
sadia e jovem? (Cap. 13,
pp. 189 a 191)
103. A
bênção da enfermidade
- Calderaro foi
solicitado a atender, a
pedido de um amigo
espiritual, um homem que
estava, de novo, às
voltas com o alcoolismo.
Era Antídio, que o
Assistente já tratara
anteriormente. A sede
escaldante, provocada
pela própria
displicência e pela
instigação dos vampiros
vorazes que o cercavam,
everteu-lhe o sistema
nervoso. A organização
perispirítica,
semiliberta do corpo
denso pelos perniciosos
processos da embriaguez,
povoava-lhe a mente de
atros pesadelos,
agravados pela atuação
das entidades perversas
que o seguiam passo a
passo. O Assistente
estudou o caso em
silêncio e decidiu: se
da outra vez o socorro
consistiu em restituir
Antídio ao equilíbrio
orgânico possível, era
preciso, agora, agir em
contrário. "Convém
ministrar-lhe
provisória e mais
acentuada desarmonia ao
corpo. Neste, como em
outros processos
difíceis, a enfermidade
retifica sempre",
declarou Calderaro. O
benfeitor de Antídio
concordou. Rumaram então
os amigos para o local
onde Antídio poderia ser
localizado. O recinto
era servido de amplas
janelas e abundantemente
iluminado, mas o
ambiente sufocava e
desagradáveis emanações
se faziam cada vez mais
espessas, à medida que
avançavam. No salão
principal do edifício,
algumas dezenas de pares
dançavam, tendo as
mentes absorvidas nas
baixas vibrações que a
atmosfera vigorosamente
insuflava. Uma multidão
de desencarnados
viciosos e conturbados
ali se movia. Os
dançarinos não bailavam
sós, mas correspondiam,
inconscientemente, a
ridículos gestos dos
companheiros
irresponsáveis que lhes
eram invisíveis. (Cap.
14, pp. 192 a 194)
(Continua no próximo
número.)