EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Ao educador:
algumas
metáforas
(*)
O estudo da
gramática não
faz poetas. O
estudo da
harmonia não faz
compositores. O
estudo da
psicologia não
faz pessoas
equilibradas. O
estudo das
‘ciências da
educação’ não
faz educadores.
Educadores não
podem ser
produzidos.
Educadores
nascem. O que se
pode fazer é
ajudá-los a
nascer. Para
isso eu falo e
escrevo: para
que eles tenham
coragem de
nascer. (Rubem
Alves)
Falo em nome do
educando. Falo
em nome próprio,
pois continuo a
sê-lo. Essa
peculiaridade, a
mais expressiva,
é a itinerância
de cada um. Que
pessoa não é
educanda? No
mínimo, da vida.
Isso me leva a
uma pergunta: o
que é um ser
humano? Um
animal político,
como afirma
Aristóteles? É
sabido: embora o
ser humano seja
também um fato
natural (biologismo),
ele só se
humaniza pela
cultura, pela
alteridade
(humanismo).
Neste aspecto,
se a humanidade
se deve também à
natureza, “é o
homem que gera o
homem”, insistia
o filósofo (é o
homem e a mulher
que geram o
homem e a
mulher, ousaria
complementar).
Sendo assim,
arrisco a contar
sobre a metáfora
do educador.
Educador de
educandos –
sejam eles
meninos ou
meninas,
adolescentes,
adultescentes ou
adultos, pois
aprendemos a
vida inteira. Ou
pelo menos
deveríamos nos
abrir a isso...
O educador é um
companheiro
atento. Deve-se
dizer que, nesse
papel, prova-se
não o rosto como
máscara, mas,
sem medo,
revela-se a
parcela da
própria
inocência – sua
cota de poesia,
de curiosidade e
de
fragilidades...
Diria mais: o
educador não
aprendeu a durar
e suportar, mas
a se encantar e
confiar, pois
dentro dele sabe
que o que
importa é o
caminho e o amor
para dar.
Educar é uma
arte que
liberta. Sim,
pois há ofícios
que extenuam e
aprisionam...
Não sejamos
ingênuos, no
entanto. É o
amor que salva
as múltiplas
tarefas do
educador... Amor
por quem? Pelos
educandos...
Ver e ouvir. O
educador tende a
exercitar a
dupla tarefa de
lançar-se para
fora e voltar-se
para dentro,
pois reconhece o
destino humano
atrelado ao
conhecimento,
porém faz sua
mediação
comprometido com
a interpretação
socrática do
oráculo de
Delfos:
“conhece-te a ti
mesmo”.
É necessário
ver. É sábio
escutar. Para
quê? Sob essas
condições,
entende o
educador, para
fortalecer a
urgência da
reciprocidade do
olhar para que
ganhem espaço,
no mundo dos
homens e das
mulheres,
sujeitos
interlocutórios
(críticos,
sensíveis) e
criativos.
Facilitar o
conhecimento e,
nessa direção,
pretende o
educador
superar, até
mesmo, o ego
enceguecido/ensurdecido
do educando,
clara ou
obscuramente
revelado na
sentença “não
quero nem
saber”. Nesse
caso, o educador
treina sua
atenção para uma
ação amorosa e
eficaz, apta a
retirar o
ego-narciso das
malhas da
autocomplacência
– daquele que se
fecha, de
maneira cômoda,
na ilusória ilha
do “eu já sei”.
O educador opera
na zona do
imprevisto, do
interdito, do
devir.
Reconhece,
intuitivamente,
que há mais para
dar além das
idéias,
conceitos e
essências, pois,
na verdade, o
que importa é a
existência-presença
de o outro,
daquele que
aprende (e
também ensina).
Desse modo, como
tudo deve ser
considerado no
mundo físico,
tudo deve ser
respeitado nesse
universo humano
para que o
processo
educativo tenha
fermento e
expressão,
causando
transformação.
Alinhados ao
educador há o
educando e o
mundo.
Um pensamento,
bem sei, é do
mundo, tanto
quanto as
utopias.
E se há os
horrores do
mundo – guerras
e massacres,
exploração e
intolerâncias –,
há as esperanças
do mundo, há o
bom combate – a
luta pela
justiça é
própria do
homem, as ações
solidárias se
acumulam nos
cotidianos
anônimos. E é
esse o humanismo
que interessa ao
educador...
Conhecimento sem
amor é estéril:
pode deformar.
Conhecimento sem
ética é
indecente: faz
um elogio à
morte, abomina
as vidas. Não é
esse
conhecimento que
cativa o
educador. Ele,
seriamente, o
teme, assim como
teme o trabalho
tomado em si
mesmo e sem
amor.
Como se prepara
um educador?
Rubem Alves
afirma que não
sabe como
preparar o
educador e
talvez, no seu
entendimento,
isso não seja
necessário, uma
vez que o
educador dorme
na figura do
professor.
Bastaria, então,
o despertar
para a
grande tarefa do
educador. E qual
seria esta
grande tarefa?
Nas palavras de
Rubem Alves, “é
dizer ‘está
ali, está ali –
perceba! Olhe!’
– Fernando
Pessoa diz; não
basta não ser
cego pra ver as
árvores e as
cores, há
pessoas que têm
vistas
excelentes e não
percebem nada. É
preciso ensinar
os nossos alunos
a enxergar o
mundo”. (1)
Vigilante, o
educador nos
enreda no tempo
e nos faz
perceber que o
mundo não nos é
dado e, desse
modo, nos
desperta das
nossas visões
sedentárias para
a construção da
nossa própria
autonomia
(segundo a
dinâmica do
ego-alter),
mas somente
desenvolvida (e
amadurecida) por
ações que não
sejam míopes nem
indiferentes...
Há, então,
esperança de
dias melhores.
Saudade do
futuro!
(1) Referência:
Disponível em
http://www.revelacaoonline.uniube.br/a2002/educacao/educador.htm/
(*) Escrevo em
homenagem a três
educadores:
Hélcio Ribeiro,
Márcio Naves e
Patrícia
Bertolin –
profundamente
despertos! A
eles, minha
gratidão.