F. ALTAMIR DA
CUNHA
altamir.cunha@bol.com.br
Natal, Rio
Grande do Norte
(Brasil)
A
educação como
instrumento de superação
do medo
da morte
A morte não é uma
hipótese; é uma certeza.
É um fenômeno natural,
que atesta a finitude da
vida no corpo e nos
convida a profundas
reflexões. Aceitá-la
como resultado de uma
lei, que não podemos
mudar, é passo
indispensável para
vencer o medo a ela
relacionado.
Posto que a vida no
corpo conduza
inexoravelmente à morte,
quem não a aceita poderá
se tornar escravo do
medo e não se ajustar
satisfatoriamente à
vida. Comportando-se
assim como um condenado
à pena de morte,
aguardando o dia da
execução.
Estudos realizados
comprovam a relação
significativa entre o
medo da morte e as
angústias que atormentam
o homem contemporâneo.
Alguns seguidores do
pensamento de Martin
Heidegger (notável
filósofo do século XX)
defendem que as pessoas
que mais temem a morte
são sempre as mesmas que
mais têm medo da vida.
Esta afirmativa não é
desprovida de razão;
pois, sendo a morte uma
etapa inevitável da
vida, temer a morte é
temer a própria vida.
Dessa relação entre o
medo de viver e o medo
de morrer, surge o dever
impostergável de nos
educarmos para a morte.
Precisamos aprender a
conviver com essa
realidade, evitando que
ela se transforme em
obstáculo à nossa
evolução espiritual.
Faremos uma análise
sobre o assunto,
iniciando por alguns
questionamentos comuns:
a) Será a morte
necessária?
A resposta mais
inteligente nos foi dada
pelo Mestre Jesus:
“Na verdade, na
verdade vos digo que, se
o grão de trigo, caindo
na terra, não morrer,
fica ele só; mas se
morrer dá muito fruto”.
(1)
A morte é necessária;
não há justificativa
para a permanência do
Espírito no corpo
físico, após um
determinado tempo,
quando, por força do
processo natural de
transformação da
matéria, o corpo
torna-se inadequado às
suas necessidades.
Retorna, então, o
Espírito à pátria de
origem – a
espiritualidade – onde
permanece pelo período
que se fizer necessário,
preparando-se para uma
nova reencarnação.
b) Sendo a morte
necessária, o que
podemos fazer para
enfrentá-la com
serenidade?
Combater os fatores que
causam o medo da morte.
Até certo ponto o temor
pode ser conseqüência da
lei de conservação; no
entanto, quando
exorbita, causa muitos
transtornos psíquicos e
espirituais. Na maioria
das vezes, é fruto da
ignorância. Quando
conhecermos a verdade a
respeito da vida e da
sua inter-relação com a
morte, cumprir-se-á o
que foi ensinado por
Jesus: “E conhecereis
a verdade e a verdade
vos libertará”. (2)
Analisemos agora,
algumas das principais
causas do medo da morte
e suas influências em
nossas vidas:
– O apego à vida
material:
“Todos sabemos que
morremos, que a morte é
inevitável, mas estamos
tão apegados à vida e
fazemos uma idéia tão
negativa e temerosa da
morte que a rejeitamos
em nossa consciência e a
transformamos num mito,
afastando-a para o Fim
dos Tempos. Mito
assustador, ela
permanece na distância,
envolta em névoas, de
maneira que só a vemos
como figura trágica de
um conto de terror.
Heidegger observou que
só a aceitamos, para os
outros, com a expressão
aleatória morre-se, que
nunca se refere a nós”.
(3)
É bem verdade que
necessitamos, enquanto
encarnados, de vínculos
afetivos e emocionais
com as pessoas e os bens
materiais indispensáveis
à nossa evolução, mas é
preciso que nos
eduquemos para não nos
escravizarmos. Da Terra
não levaremos nada do
que encontramos ao
chegar. Portanto,
assumir a condição de
donos, quando somos
apenas usufrutuários, é
um doloroso equívoco.
A morte funciona como
uma ação de
transferência
compulsória dos bens
materiais; por isso o
apego resulta em medo da
morte, como conseqüência
do medo de perder esses
bens.
Há mais de 2000 anos,
Jesus já ensinava: “Porque
onde estiver o vosso
tesouro, aí estará
também o vosso coração”.
(4)
– A influência de dogmas
religiosos que
apresentam o inferno
como o mais provável
lugar aonde o Espírito
aportará.
Um espaço localizado no
mundo espiritual,
proporcionando
sofrimentos sem fim aos
pecadores; Satanás chefe
supremo do inferno,
habilidoso e astuto, com
poder comparável ao de
Deus. É o mínimo
apresentado por esses
dogmas que destroem
sonhos, geram pesadelos
e, conseqüentemente o
medo da morte. Não
poderia resultar
diferente, quando cada
um, no uso do bom senso,
reconhece que não é um
primor de criatura, e
que se encontra distante
da condição de cumpridor
dos deveres, com relação
à lei de amor ensinada
por Jesus.
Reconhecendo-se assim,
como pecador,
atormenta-se com medo da
morte (na verdade, medo
do inferno).
Quem primeiro cuidou da
Psicologia da Morte e da
Educação para a Morte,
em nosso tempo, foi
Allan Kardec,
codificador da Doutrina
Espírita (2).
É indiscutível a
importância da Doutrina
Espírita não apenas para
confirmar a imortalidade
do Espírito, mas também
para eliminar da morte o
injusto rótulo –
pavoroso e indesejável
fenômeno.
Apenas quando nos
espiritualizamos é que
entendemos que não há
mais como pensarmos na
vida (estágio
transitório no corpo),
sem pensarmos na morte
(fenômeno biológico);
também não há como
pensarmos na morte, sem
pensarmos na vida (vida
espiritual).
Quanto à fantasia
dogmática conhecida como
inferno, interpretamos
como um estado
transitório, reflexo da
avaliação individual do
Espírito culpado, que
transgrediu as leis
universais. Todavia,
quando acontecem as
mudanças necessárias,
identificando-se com a
lei de amor, surgirá o
céu em forma de paz e
felicidade, cumprindo-se
o que Jesus ensinou:
“[...] pois o reino
de Deus está dentro de
vós”. (5)
Portanto, crer na vida
após a morte, extinguir
apegos e vícios, que
tanto nos vinculam à
matéria, sintonizar com
a lei de amor e crer na
justiça Divina são
fundamentos
indispensáveis da
educação para a morte.
Referências:
(1) João
12:24.
(2) João
8:32.
(3) J.
Herculano Pires. In:
Educação para a morte.
(4) Lucas
12:34.
(5) Lucas
17:21.